Capítulo 15 • A União Faz a Força
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Um silêncio constrangedor se espalha pela sala.
– Sim? Alguém? – Falo impaciente.
Jack suspira e olha para o lado.
– Você quer a versão resumida?
- Qualquer coisa.
– Bom... Essa boneca aqui, me atropelou com a moto dela, então tive que ir para o hospital, mas o medico me disse que eu estava bem, só que ela era tão linda e parecia tão preocupada comigo que dei uma conta para o medico fingir que eu tinha torcido o pé.
Tento respirar fundo, mas a única coisa que consigo fazer, é ficar parado observando ele falar de uma garota na minha frente, ele nunca fez isso.
– O que é uma puta duma sacanagem, então Soph, olha, ele me enganou e me fez vir aqui com ele, aí quando eu estava em casa já de pijama, comendo um sorvete, ele me liga e diz está sentido uma dor terrível, em seguida pego algumas roupas e saio correndo de pijama feito uma louca para chegar aqui, porque já que o atropelei, me senti responsável, mas quando eu chego, ele me diz que me chamou porque não conseguia alcançar o suco, a porra de um suco! Eu fiquei tão furiosa que joguei o copo nele, só que ele desviou, DESVIOU!! Sem nenhuma careta de dor por causa do pé, então joguei mais coisas nele e ele desviou todas! Aí comecei gritar... Acabamos no sofá e ... – Ela funga constrangida – Sinto muito.
– Kelly, você sabe que faz o que você quiser, só não quero te ver magoada... – Diz Sophia.
– Oh, não, sem problemas, Jack e eu somos apenas amigos com benefícios.
Não percebi que estava segurando a respiração até agora, mas mesmo que doa dizer, estou aliviado por isso parecer temporário.
– Ta, a parte dos benefícios entendi, mas a parte dos amigos, meio que fugiu da minha mente, como assim amigos? Você nem o conhece. – Sophia olha para Kelly levemente espantada.
– Eu conheço o tamanho do pau dele, e vou logo dizendo que é bem...
Ruborizo e me mecho desconfortavelmente... Porra, o que está dando em mim? Eu não sou gay!
Sophia interrompe Kelly.
– Certo, eu entendi e não quero saber o tamanho da rola de Jack, já vi o suficiente da bunda dele, para ter pesadelos por semanas.
– Assim você corta o meu coração – Fala Jack tentando aliviar o clima.
– Então... Esse é o tal Christian-Super-Secreto? – Pergunta Kelly.
Franzo o cenho. – Christian-Super-Secreto?
– É, É, Remédios, traidor, pau caído, ex-namorada piranha, mãe cadela, pai canalha? É você, não é? – Pergunta Kelly.
Abro e fecho a boca como um peixe, olho para Sophia e arqueio uma sobrancelha inquisidora.
Sophia cora.
– Bem... Ela é minha amiga, e eu precisava dividir isso com as minhas amigas.
– Amigas? No plural? – Pergunta Kelly confusa.
– É... Lembra-se de Franciela? – Pergunta Sophia.
– Aquela frigida do ensino fundamental dois e ensino médio que você conheceu? – Pergunta Kelly rispidamente.
– Droga, Kelly. Ela também é minha amiga.
– E o que tem ela? – Pergunto confuso entre as duas.
Sophia suspira.
– É que eu conheço Franciela a mais ou menos dez anos e Kelly morre de inveja da nossa amizade, tipo... A mãe de Franciela morava em Salvador, ai lá, ela conheceu o pai de Franciela, Anton Kuznetsov, que veio passar uns tempos por aqui, ele nasceu na Bulgária, eles tiveram Franciela em Salvador, mas ensinaram as duas línguas para ela e quando ela fez dezoito anos, eles voltaram para Bulgária, por causa do enterro dos pais de Anton e ficaram por lá mesmo. Só que ela continua mantendo o contato comigo, claro.
– E porque Kelly tem inveja dela? – Pergunto.
– Porque ela é uma morena linda, tem vinte anos, estudiosa, tem a pele pálida, é magrinha, um e oitenta de altura, cabelos pretos curtos comuns e lisos de chapinha, o que devo dizer que está estragando seu cabelo natural ,mas tem lindos olhos azuis, mais bonitos que os de Jack, do tipo... Azul brilhante mesmo, como céu sem nuvens ou talvez como um lago cristalino, é uma pena ela ter que usar óculos e esconde-los atrás da lente. Ela está fazendo Jornalismo na Bulgária, porém pelo que ela me disse da última vez que conversamos, ela já juntou dinheiro suficiente para largar essa faculdade, porque ela não gostou e vai vim para São Paulo, em um intercambio de Publicidade. Provavelmente vai chegar ao final do mês... – Responde Sophia eufórica.
– Droga, droga, droga. Sério que ela vai vir pra cá? Logo pra cá? O que eu fiz para merecer aquela magrela-sabe-tudo aqui? E Chris, ignore a Soph, tenho quase certeza que a tal Franciela usa lente de contato. – Fala Kelly mal humorada.
– Certo meninas. Acalmem-se, se Sophia contou a situação para Franciela, é porque ela confia nela tanto quanto confia em você, Kelly. – Diz Jack
– Deixa disso. – Resmunga Kelly. – Agora me conte Soph, você e o Chris aqui já se acertaram?
Sophia pigarra.
– É... Parece que sim, mas mudando de assunto, lembra-se do doutor Robert das experiências?
– Sim, sim, o doutor do mal, que se redimiu por ter sido influenciado a fazer coisas sem saber que eram do mal, o que tem ele?
– Recebi uma ligação dele hoje. – Sophia respira fundo e desvia o olhar – Ele... Ele...
– Morreu, ele morreu. – Completo a frase dela.
Jack arregala os olhos.
– O que?... Como?... Quando?...
– Hoje mais cedo, ele foi assassinado. – Digo o mais friamente possível.
Jack coloca a cabeça entre as mãos e fico tentado a ir até lá conforta-lo.
– Porra... Só... Quem foi o sacana desgraçado que fez isso?
– Olha... Eu não quero envolver você nisso, ou a amiga de Sophia, já tem gente de mais sabendo, vocês podem se machucar.
Jack levanta os olhos e eu posso ver dor e fúria tão claros ali dentro, está sendo mais difícil controlar esses meus estranhos impulsos, que estou lutando contra mim mesmo para não sair do lugar e prometer a Jack que vai ficar tudo bem.
– Há, amigo, você não ouse me deixar fora dessa, eu também conheci ele, odiei ele e o perdoei, se tentar me deixar de fora, irei te dar muita porrada e que se dane o resto.
Engulo minha preocupação e levanto as mãos.
– Certo, Certo, mas não diga que eu não lhe avisei, quando as coisas começarem a ficar perigosas, porém eu tenho uma condição.
– Qual? – Jack me olha confuso.
– Que você, em nome de Deus, coloque uma roupa e logo, porque eu não estou a fim de ver você pelado.
O que é exatamente o contrario, eu quero vê-lo pelado, e me odeio por isso.
Jack me da uma olhada conhecedora e chama Kelly para se vestir também.
Minutos depois e estamos todos sentados no sofá.
– Você está bem com tudo isso, Kelly? Não é muito perigoso para você, não?
Kelly rola os olhos.
– Soph, se você está aqui, eu também estou aqui.
– E... Ellen? Contamos para ela? – Pergunta Sophia.
– Não, Ellen não precisa saber.
– Certo, então vamos começar. Olha, depois que a ligação do doutor Robert acabou, ligamos para Felipe, o advogado dele ou ex-advogado dele, tanto faz, aí as câmeras do escritório subitamente ligaram, porém deu tempo dele nos mandar um anagrama, que o caro Chris aqui, traduziu depois que saímos de lá.
– E o que o anagrama dizia? – Perguntou Jack.
– Me encontre na árvore. – Respondo.
– Hãm? – Pergunta Kelly.
Os olhos de Jack brilham com a compreensão.
– Me encontre na árvore... Não é aquele código que o doutor Robert usava para dizer que você podia dar uma espadinha do internato?
– Exatamente. – Respondo sorrindo, Jack me conhece com a palma da mão. – E nós, eu e Sophia, planejamos ir lá hoje de madrugada.
– Vamos juntos. – Afirma Jack.
Dou de ombros.
– Fazer o que, se você quiser.
Jack pega o celular.
– Bom... Já é dez e quarenta, que tal meia noite sairmos daqui?
– Não, é melhor uma hora da manhã, para dar tempo de dormir um pouco. – Diz Sophia.
– Pode ser. – Responde Jack com o cenho franzido.
– O que foi, mano? – Pergunto.
– Parece que me deixaram uma mensagem de voz.
Arqueio uma sobrancelha.
– E?
– E eu só conheço gente pobre, cara. Eles nunca iriam me deixar uma mensagem de voz.
– Eu não sou pobre e você me conhece.
– O número é desconhecido, dã.
– Hum... Então coloque no viva voz para ouvirmos qual é a onda.
Jack suspira, liga e de repente todos congelamos.
– Jack, aqui é o doutor Robert, eu tenho pouco tempo, então vou ser direto, ajude ao Christian, ele vai precisar de toda a ajuda possível para o que está por vir, Adeus. Três-oito-cinco-quatro-um-dois. Essa mensagem será destruída após sua leitura, me desculpe por ter colocado vocês nisso.
Segundos depois, eu quebro o silencio.
– Que porra três-oito-cinco-quatro-um-dois significa?
– Um lugar? – Oferece Sophia.
– Uma senha? – Oferece Kelly.
– Pode ser, baby, mas uma senha do que? – Pergunta Jack.
– Iremos descobrir mais tarde, já até anotei o número no meu celular para o caso de esquecermos. Mas então... Vamos descansar um pouco agora e meia noite e vinte começamos a arrumar as coisas. – Digo.
– Certo. Baby, vamos para o quarto. – Diz Jack a Kelly.
Sigo Jack com o olhar até a porta do quarto de hospedes. Ele vira o olhar para mim, mas desvia rapidamente.
Franzindo o cenho, olho para Sophia.
– Você está bem? Espera, essa é uma pergunta idiota, não responda.
Sophia sorri levemente.
– Eu estou bem, fisicamente.
– E psicologicamente?- Pergunto arqueando uma sobrancelha.
– Não pergunte.
Aproximo-me e a envolvo em abraço.
– Eu sinto muito por tudo isso, mas não podemos ficar nos lamentando o tempo todo, bola para frente, pedir desculpas não vai mudar nada, mas... Não custa pedir. – Sussurro, acariciando seu cabelo.
– As coisas estão indo tão...Rápidas, eu nunca pensei nisso acontecendo comigo, dizem que quanto mais rápido começa mais rápido termina.
– Quem diabos disse isso? Essa pessoa merece um monte de porrada.
Sophia resmunga alguma coisa e me empurra.
– Quero dormir com Kelly hoje.
Respiro fundo e ignoro o aperto repentino no meu estomago.
– Ta.
Sophia me da um selinho e vai bater na porta de Jack.
– Sim? – Grita Jack
– Kelly, vem dormir comigo, por favorzinho? – Pede Sophia.
– Oh, wow, mas gata, você não é meu tipo. – Kelly responde.
– É serio, dorme comigo hoje.
– Um minuto.
A porta abre e uma Kelly corada e vestida de pijama rosa aparece.
– Vamos. – Diz Kelly arrastando Sophia para o meu quarto.
– Você vai dormir no sofá. – Falo tentando ficar calmo ao ver Jack deitado na cama com apenas uma cueca que não esconde quase nada.
Jack esconde o rosto no travesseiro.
– Porra, cara. Eu to cansadão, eu juro que não faço um movimento.
– Não.
– Eu te empresto meu bebê por uma semana.
Pondero a proposta, porque eu quero dormir perto dele, mas nunca vou admitir isso, nunca.
– Um mês, quero almofadas entre nós e que você coloque um maldito pijama.
Jack ri.
– Agora que você tem um pau, ta se achando. – Jack desdenha.
– Eu sempre tive um pau. – Reviro os olhos.
– Não um que funcionasse.
Pisco para ele e me jogo na cama.
– Posso te abraçar, mama? – Jack brinca.
– Vai sonhando. - Digo e respiro fundo ao imaginar o quão bom seria sentir Jack me abraçando.
Jack se levanta, mexe no armário, pega uma calça folgada, veste e pula de volta na cama.
– Por que você quer dormir comigo, mulher? – Pergunto estranhando.
– Porque eu apostei com Kelly que você e Sophia ainda não tinham transado, e perdi pelo visto.
Ruborizo, droga, porque estou vermelho? Eu tenho o direito de transar com Sophia do mesmo jeito que ele tem o direito de transar com Kelly.
– Sophia já... Deu-te um... Boquete? – Jack pergunta hesitante.
– Hum... B-bem... T-talvez. – Gaguejo com a súbita tensão no ar.
– Hummmmm.
– Eu não acredito que estou deixando você dormir comigo.
– Ei, você vai ficar com meu carro por um mês, estou morrendo internamente por fazer isso. Cuide bem do meu bebê, e aliás, você tem um carro!
– Você tem um Playstation e vive na minha casa usando meu Wii, e eu não digo nada. E o meu carro está grampeado, então só preciso de um mês e toda essa merda será resolvida.
Jack da de ombros.
– Se você está dizendo. Agora vamos dormir, pelo amor de deus, temos uma madrugada cheia pela frente.
– Certo, certo, mas antes me diga qual é o lance entre você e Kelly, porque eu não quero ver Sophia magoada pela sua safadeza. – Secretamente perguntei isso só para meu próprio bem mental.
– Bom... Ela é legal, linda, inteligente, gostosa, muito gostosa e... Estamos iniciando uma amizade colorida, por enquanto.
Respiro meio aliviado.
– Ceeerto, ela é cheia de qualidades incríveis, entendi essa parte, mas Kelly concordou com tudo isso mesmo sabendo que você vai foder tudo que anda enquanto está com ela?
– Bem... Eu não vou, estou bem só com ela, no momento.
– Uau, isso é que é um grande Jack avanço.
Jack sorri.
– Quem sabe? Agora vamos dormir, ruivinha.
– Boa noite, cachinhos dourados.
Acomodo-me na cama, fecho os olhos e começo a pensar em Sophia, no sorriso dela, no gosto dela, segundos depois e estou caindo em um sono profundo.