Capítulo 1 • A Balada
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Eu não sei por que ainda venho à balada, as únicas coisas que encontro aqui me deprime mais ainda, mulheres bonitas, vadias e casais na fase "lua de mel", porém meu bom e velho amigo Jackson, que odeia o nome dele e prefere ser chamado de Jack, acaba sempre me arrastando com ele para cá, a fim de encontrarmos a mulher que vai fazer meu pau funcionar novamente, mas isso nunca acontece.
Sou subitamente interrompido dos meus devaneios, pela voz animada de Jack:
– Chris, acorda homem! Olhe ao redor e veja quantas "chicas" estão te dando o maior mole.
Olho e faço uma varredura do local, tem as luzes brilhantes piscando, a música Scream de Usher tocando nas alturas, o escuro, as pessoas dançando, o cheiro de suor e cerveja barata no ar, então meu olhar para em uma provável vadia ruiva, com um cinto no lugar do short, vindo em minha direção. Faço uma contagem mental de 1 até 10 até que escuto a voz pingada de sedução barata:
– Olá, gostosão, um homem como você não deveria ficar sozinho a noite toda.
Rolando os olhos, respondo secamente:
– Não vai rolar.
Ignorando a minha informação, ela desliza no meu colo e passa a mão no meu jeans.
– Pra você eu nem vou cobrar.
Frustrante, serio.
– Olha, moça...
Fui interrompido com o som do meu zíper sendo aberto e ela enfiando a mão na minha box procurando meu pau, que está flácido, claro, mas ela não precisa dessa confirmação.
Puxo sua mão e digo friamente:
– É melhor você ir embora, ou chamarei os seguranças.
Ela me lança um olhar tremulo e sai correndo como se o próprio diabo estivesse atrás dela.
Enfim paz.
Procuro Jack para xingá-lo até os miolos dele estourarem e o encontro saindo com duas loiras peitudas, ignoro a súbita pontada de ciúmes que a visão me dá. Nossa, maravilha de amigo aquele sacana é.
Suspiro e de repente sinto um cheiro maravilhoso, hum? Olho para o lado e vejo uma morena com curvas, peito acentuado e cabelos negros cacheados, porém não sinto nenhum desejo.
Balanço a cabeça e grito para o barman:
– Vodca dupla, com gelo.
– Eu quero um gim com tônica e duas cervejas geladas, por favor.
Que voz linda, com certeza é encantadora de homens. Resolvo quebrar o silêncio.
– Gim com tônica? Em São Paulo? É tão raro quanto uma morena na região sul.
Olhos cor de avelã piscam surpresos em minha direção, mas ao invés de fazer uma avaliação minha, ela diz:
– Eu vim de Salvador. E você está pedindo vodca e mora na região sul, cada um com suas preferências, não?
– Desculpe, eu estou tentando ser amigável aqui. - Levanto as mãos em sinal de rendição.
– Desculpe também, não queria parecer rude. Estou aqui para comemorar meu novo emprego, e o gim é porque eu curto bebidas chiques.
Sorrio.
- Eu também curto bebidas chiques. Você disse que veio de Salvador? Lá não é o lugar dos pagodeiros e desordeiros?
– Você fala como se ser pagodeiro fosse um crime. Eu não julgo as pessoas antes de conhecê-las, você deveria tentar fazer o mesmo, porque isso pega muito mal. - Eu pareço tê-la irritado.
– Não quis ofender, desculpe novamente. Espera, acabei de reparar que nos conhecemos a mais ou menos cinco minutos e eu já te pedi desculpas mais vezes do que a qualquer um em toda a minha vida. - Começo a rir - Depois dessa, pelo menos deixe me apresentar, chamo-me Christian e você é?
- Sou Sophia. - Ela sorri. Hu? Ela está curtindo uma com a minha cara? Resolvo entrar na brincadeira.
– Ha! Que decepção, pensei que seria a minha Anastásia. - Coloco a mão no coração, fingindo sofrimento.
– E você tem algum quarto vermelho?
– Felizmente não, sinto muito aos fãs de "Cinquenta Tons de Cinza", mas eu não gosto de cinza ou de chicotes. Só que respeitar o gosto dos outros é essencial. Você é uma apreciadora da obra?
– Eu acho CG lindo e tudo mais, só que prefiro o estilo do livro Amos e masmorras ou Belo desastre, embora claro que eu tenha algumas restrições próprias.
– E quais são essas restrições? - Eu estava verdadeiramente curioso.
– São secretas... - Ela sussurra.
– Hu, hu. Vá curtir seu novo emprego. Eu ficarei aqui com a minha bebida.
– Noite difícil?
– Vida difícil. E além do mais, meu suposto melhor amigo acabou de me trocar por duas loiras. - Respondo fingindo estar profundamente magoado, ou talvez não totalmente fingindo.
– E você deve estar profundamente ferido com isso, mas veja pelo lado, ele vai ter uma boa transa.
– E qual é o lado bom disso? - Franzo o cenho preocupado.
– Você ficar sabendo dos detalhes mais tarde, dã. - Ela faz parecer como se isso fosse para ser óbvio.
– Não, eu não quero saber os detalhes das transas de Jack.
Fico inquieto só de imaginar.
– E se for os detalhes de outras transas?
- Estou aberto a possibilidades. - Pisco para ela.
– Legal. Sabe, você não parece um paulista, fala direitinho, sem sotaque.
– Você também não tem sotaque baiano.
– Já me disseram isso, é péssimo, eu sei. E ei... Você lê livros? - Ela me olha chocado.
– Não fique me olhando com essa cara de espanto não, eu leio às vezes, apenas me jure não contar para ninguém.
– Juro, embora não ache nada errado em um rapaz como você ler livros. Então você já leu o livro "Cinquenta Tons"?
– Primeiro, eu não sou um rapaz, tenho vinte e sete anos. Segundo, eu tive que ler o livro "Cinquenta Tons", já que vivo rodeado de piadinhas com o meu nome.
– Ah, eu pensei que você fosse mais novo. Eu tenho vinte e um anos. E sinto muito, deve ser trágico para você, viver sob a sobra de um personagem literário.
– Ra ra, muito engraçado. De qualquer jeito, eu não ligo mais para minha aparência, então tanto faz.
– Como? – Ela diz perplexa.
– Como o que?
– Como você não liga mais para a sua aparência, você é muito bonito, desculpa dizer.
Gosto de saber disso. Não me leve a mal, eu sei que sou bonito, só não me importo mais com isso, já que o meu pau deu pau.
– Não importa. Conte-me... Você tem vinte e um anos, ainda está na faculdade?
– Hum... Sim, estou cursando psicologia, mas também fiz um curso técnico de administração... E não sei por que diabos estou dizendo tudo isso a um estranho.
– Ei, eu não sou mais um estranho, já nos apresentamos, já brigamos, já nos desculpamos e fique tranquila, seus segredos estarão a salvo comigo.
Ela de repente arregala os olhos e diz:
– Meu deus, minhas amigas devem estar pensando que fui sequestrada ou algo assim!!
– Acalme-se, elas também podem estar pensando que você achou um encontro quente. - Lhe dou uma piscada - Me passe seu celular.
– Isso é um roubo? Porque se for, eu tenho que dizer que você é um péssimo ladrão.
– Se eu fosse um ladrão, eu não roubaria você, mas já que eu não sou um de qualquer jeito, quero seu celular para colocar meu número nele e você pode fazer o mesmo com o meu. Precisamos manter contato.
– Precisamos?
– Claro, agora deixa de enrolar.
Trocamos os nossos números e ela pergunta:
– Olha, você quer que eu te apresente a alguns amigos meus?
Franzo o cenho e digo:
- Como é que é? - Segundos depois, compreendo - Oh, não, eu não sou gay, desculpe decepcioná-la.
Ela cora. CORA!! Quem ainda faz isso hoje em dia? Tão malditamente doce.
– É... Então... Sinto muito. Agora preciso mesmo ir, até logo, garotão.
– Até muito logo se depender dos meus serviços.
Ela pisca para mim, pega seu pedido, joga dinheiro no balcão e se mistura a multidão.
Suspiro, ela pode ser uma boa amiga, eu curiosamente gosto seu jeito.
Tomo o resto da minha bebida, pago, me levanto e vou para o estacionamento pegar a minha moto. E meu último pensamento antes de pisar no acelerador, é sobre como começar uma amizade com a doce Sophia.