Epílogo
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Qual era o significado do tempo?
Sete meses, é essa a pergunta que me faço, sete meses longe de Kate, meses me perguntando se meu sentimento por ela havia mudado com a distância. Sete meses em que via meu irmão vagar dia e noite de casa para o estúdio sem um sentido maior à sua vida.
E me pergunto durante este tempo se fiz a coisa certa, se não devia ter deixado o pedido de Bill de lado e partido em busca de Kate. Mas assim que o vejo me olhar e conversar animadamente comigo outra vez, sinto, pela primeira vez, que ela tinha algum tipo de razão. Eu tinha meu irmão de volta, e ele a mim. Éramos nós dois novamente, sem brigas ou decepções, e o melhor de tudo, sem ressentimentos; ao menos era isso que Bill deixava claro sempre que eu tentava voltar ao assunto.
Dias depois de minha volta para casa nossa vida começou a voltar à mesma rotina de antes: trabalho, casa, nossos cachorros e, em meu caso, algumas saídas noturnas com garotas diferentes a cada dia. Nada de envolvimento, como sempre. De fato, eu não havia mudado em nenhum aspecto.
Georg finalmente havia conseguido voltar para Shopie e sua companhia em festas tornava-se a cada dia mais difícil. Mas isso não o impediu de dar uma última festa em sua estranha casa de vidro, antes de vendê-la.
Quando perguntei à ele quem a havia comprado, Georg não soube informar, e eu sabia que havia perdido ali as chances de ter aquela casa como uma última lembrança de Kate para mim.
Então, poucos dias depois de nossa última festa, enquanto fazia o caminho de volta para casa direto do estúdio, visualizei a pequena placa entre as árvores na estrada que nos levara tantas vezes para a antiga casa de Georg, e por um momento, enquanto parava meu carro no acostamento, cogitei que minha ideia de ir até a mesma não fosse boa. Mas as lembranças que me restavam de Kate estavam naquele lugar. E, por segundos, eu queria a sensação de tê-la por perto de volta.
Faço o recuo com meu carro e entro na estrada de chão, estamos no outono, o que torna o caminho um pouco mais agradável. Folhas coloridas traçam o caminho até a casa, e é nela que penso enquanto admiro a paisagem. Porque sei que esta era sua estação do ano favorita.
Quando vejo a casa em minha frente, entro em uma trilha de árvores, escondendo meu carro, porque não quero que o novo dono se assuste com minha presença. E porque quero poder voltar e observar a casa sempre que tiver vontade. Sempre que a saudade for maior que minha sanidade.
Um sopro de ar frio passa por mim assim que abro a porta do carro e encosto-me sobre o mesmo. Eu observo a fumaça sair pela chaminé da casa e desaparecer no ar gelado de outono que começa a se espalhar.
As cortinas estão fechadas, tornando a vista do interior do imóvel impossível. Então volto meu olhar para o lago em volta da casa e lembro-me do olhar radiante de Kate sobre ele e também de suas palavras para descrever aquele lugar.
Respiro profundamente sentindo o ar gélido entrar em meus pulmões e ensaio voltar ao carro, mas, assim que me mexo, ouço o barulho da porta ao lado da casa abrindo.
Quando me viro novamente, lá está ela, e em nenhum momento penso estar enganado, porque eu a reconheceria em qualquer lugar. É Kate e está de costas para mim, e sei que de onde estou jamais conseguiria me ver.
Eu a observo ao longe, parada frente ao lago. Kate senta-se no banco branco e então empurra as folhas secas para o chão. Penso em ir até ela, em abraçá-la e pedir para que volte, mas assim que avanço um pouco, ouço novamente o barulho da porta abrindo e então imagino que, depois de tanto tempo, ela já não estivesse mais sozinha. Talvez, um outro amor... Quem sabe...
Mas assim que vejo a figura de meu irmão indo até ela, meus sentimentos passam por um turbilhão de emoções em segundos.
Bill caminha até ela e senta-se ao seu lado. Kate o olha e então encosta sua cabeça sobre o ombro dele. Mais do que nunca me pego querendo ir até lá e perguntar a eles por que esconderam isso de mim, e caminho por entre as árvores, cortando caminho para pegá-los de surpresa. Repentinamente, vejo que a surpresa é completamente minha.
Entre as árvores, ao lado deles, entre o cobertor que envolve o corpo dela, vejo Bill acariciar a barriga de Kate, enorme e voluptuosa. Eles entrelaçam os dedos sobre a mesma e assim ficam durante um tempo, em meio a sorrisos e suspiros tristes.
E é os observando que afasto de mim todos os sentimentos ruins que me permiti sentir minutos atrás.
Eu comecei a entender, de repente, o sentido de tudo. Comecei a entender o que o amor significa de verdade e cheguei à conclusão de que Bill, apesar de todo seu sofrimento, achou uma forma de proteger a todos nós. E concluo o que há muito tempo já pensava: ele era e sempre seria uma pessoa muito melhor do que eu.
Sento-me ao chão, fazendo menos barulho possível, porque quero tempo para observá-los, porque quero absorver a pequena felicidade de ambos, porque não quero pensar e agir de uma forma errônea. Como tantas vezes fiz.
Começo a rir de repente enquanto os observo, pensando que nem tudo está perdido e que desta vez posso fazer a coisa certa, como uma segunda chance que a vida acabara de me dar. Então eu paro assim que a ouço perguntar à ele quanto tempo ainda acha que levará para estarmos todos juntos de novo. E o ouço responder...
– Logo, logo estaremos juntos outra vez.
– Como sempre foi. – Ela diz segurando a mão dele.
– Como deve ser. – Bill responde sorrindo esperançosamente.
Então ele levanta e ajuda a fazer o mesmo. Ela abre o cobertor e ele a abraça por debaixo do mesmo, e assim caminham para dentro de casa novamente.
Volto para meu carro e faço o caminho de volta até nossa casa, pensando novamente no tempo e em suas formas de cura. Assim como nas estações, quando algo que morre no inverno acaba renascendo na primavera, acredito que, na vida, haverá um tempo pra tudo.
Haverá principalmente um tempo certo para estarmos todos juntos novamente.