Capítulo 06
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Eu nunca tive certeza de nada em minha vida e por mais que eu esperasse um dia ouvir Kate dizendo essas palavras para mim, o que mais importou no momento foi saber que o amor era meu para dar a ela e não ao contrario. Isso era tudo que eu tinha no momento, um sentimento sem restrições ou expectativas.
- Eu sei e também amo você, Tom!
Sorrindo, apenas sorrindo tristemente, ela respondeu e eu imediatamente tive a certeza de que ela não sentia o mesmo... Que suas últimas palavras não carregavam o mesmo significado das minhas.
- Não precisava dizer... Eu só... Eu não espero que seja recíproco... Não foi por isso que eu disse. - Fechei meus olhos, lamentando ter dito que a amava. - Me desculpe, mas... - Eu hesitei por um momento - Você não tem ideia de quantas vezes eu simplesmente quis te dizer isso.
Enquanto eu tentava não chorar, não me permitindo ser um fraco perto dela, Kate aproximou-se de mim, me envolvendo em um abraço que desde sempre desejei.
- Tudo vai ficar bem, Tom... - Disse enquanto eu tentava gravar em minha memória aquele momento com ela.
- Como?
- Eu não sei. – Ela respondeu calmamente.
Kate então se afastou de mim, mas suas mãos continuaram em meu rosto. Peguei-me pensando por um momento no quanto a amava e me dei conta de que ter dito a ela foi a melhor coisa a se fazer.
Segurei sua mão e a olhei por um momento, levantei minha cabeça obrigando-me a encará-la e então novamente reprimi minha vontade de beijá-la, mesmo sendo totalmente difícil pensar em outra coisa naquele momento. O que eu sabia era que estava de mãos atadas e jamais conseguiria fazer alguma coisa... Talvez em outra vida, ou em outros tempos, mas neste momento, pela primeira vez, eu não sabia o que fazer. E antes que eu pudesse ter a chance de decidir, vi Bill entrar na sala rapidamente em direção a Kate, segurando-a no pescoço e a encostando à parede fria do corredor. Ele estava matando-a e, ainda assim, eu não conseguia me mover para impedir.
Bill's P.O.V.
Quando finalmente abandonei minha sanidade, junto com os minutos torturantes que se passaram desde que meu irmão entrou pela porta, caminhei rapidamente até Kate, deixando que minhas mãos escorregassem violentamente até seu pescoço.
Empurrei-a até a parede, ouvindo um barulho próximo devido ao choque repentino de suas costas na mesma. Eu tinha certeza que a havia machucado, mas ainda assim não conseguia parar e muito menos largá-la.
- Bill... – Eu a ouvi implorar.
Estava a machucando e sabia disso. Sabia também que apesar de ver seus olhos vermelhos cobertos por lágrimas, estava gostando de vê-la sofrer.
- Está doendo? – Perguntei insanamente sabendo que sim.
Levei minha outra mão ao seu rosto, segurando enquanto a sufocava. Ela estava chorando.
- Você já amou tanto alguém a ponto de mal conseguir respirar? – Perguntei, cravando ainda mais minha unha em seu pescoço, tanto que quase podia ver seu sangue próximo. - Consegue sentir agora o que eu sinto enquanto vejo você com meu irmão?
- Por favor... - Ela suplicou com a voz falha.
- Dói, mas é tão bom. - Eu sussurrei próximo ao seu ouvido, cheirando sua pele como um maníaco a quem eu mesmo desconhecia.
- Bill! - Ele gritou, segurando minhas mãos; parecia ter saído do transe em que se encontrava.
Eu a joguei no chão e só quando a olhei pude notar que ela havia caído com a cabeça sobre a mesinha de canto na sala. Kate havia desmaiado, pelo menos era isso que eu achava.
- Kate? - Tom gritou correndo até ela e virando seu corpo para cima. Sua cabeça e pescoço sangravam e eu havia feito isso com minhas próprias mãos.
- Sai de perto dela! - Gritei, mas fui ignorando, visto que Tom sentou-se ao lado dela, colocando sua cabeça entre as pernas dele.
- Ela está morrendo, Bill! - Disse desesperado.
- E o que importa? - Eu gritei. - Ela vai me deixar! Você vai me deixar!
- Não... - Tom fechou os olhos tentando recuperar o fôlego - Ela...
- Ela disse que o ama... Eu ouvi. - O interrompi gritando, jogando qualquer coisa que havia achado em minha frente.
- Disse que gosta de mim, disse que me ama, mas é de uma forma completamente diferente. - Ele sugeriu em tom choroso.
Só então eu parei para vê-lo segurá-la no chão, Tom estava em meu lugar, eu devia estar cuidando dela e não tê-la machucado.
Que espécie de pessoa eu havia me tornado... Isso é o amor ou pura fraqueza diante dele? Eu não saberia dizer no momento, quando tudo o que eu queria era abraçá-la e curar suas feridas enquanto repetiria o quanto a amava e confiava nela.
- Por que fez isso, Tom? - Perguntei me aproximando deles - Qual era a sua pretensão quando resolveu dizer isso a ela? Se ela o aceitasse iria fugir e me deixar aqui como um idiota? - Gritei mais com ele, puxando-a para perto de mim, enquanto deitava ao seu lado.
- Não... Não era essa a minha intenção... Eu nunca quis magoar você, nunca quis ver Kate sofrer deste jeito... - Tom acariciou-lhe a face aproximando-se dela.
- Mas foi o que fez... - Eu sussurrei.
- A culpa é minha, Bill, só minha, e agora lembrando tudo que aconteceu nestes últimos dois dias, eu tenho certeza de que era tudo uma invenção criada por mim.
- Ela foi ao seu quarto, foi atrás de você... - Eu o olhei, culpando-o mais uma vez.
Tom e eu estávamos deitados no chão e apenas o corpo de Kate nos separava, talvez se ela não estivesse ali, naquele momento, estivéssemos rolando no chão, tentando matar um ao outro como sempre fazíamos quando queríamos resolver nossos problemas tolos.
- A culpa é minha! – Ele falou novamente. - Na próxima vez que quiser fazer isso é melhor que faça em mim, Bill...
Quando ele acabou, eu estava rígido de raiva, tentando imaginar se ele já a havia tocado e onde tinha o feito, mas o pouco de sanidade que me restava me mandava sinais de que eu ainda devia confiar nela e, possivelmente, nas palavras dele.
Mas, ainda assim, não conseguia achar palavras para descrever meus sentimentos naquele momento. Era com certeza uma mistura de raiva, amor e tristeza... E, apesar das lagrimas, olhei seu rosto e sorri, sentindo-me um idiota, culpado por ter feito tudo aquilo e, possivelmente, por estar perdendo Kate.
Tom havia fechado os olhos com a cabeça encostada ao ombro dela, não pude ver, mas acreditei que estivesse chorando.
No silencio eu pensei na coragem que ele havia mostrado ao contar, não só hoje, como em todos os dias em que permaneceu sofrendo apenas para si.
E então eu também chorei, sentindo-me culpado, como de fato era por ela estar assim entre nós.
Fiquei observando-a durante um tempo, dando-me conta do quanto a amava. Segurei sua mão junto ao meu coração, sentindo a frieza de seus dedos e, naquele momento, eu tive a certeza de que a havia perdido.
Até ela apertar a minha mão...
Poucas horas depois tudo que conseguia ver em minha frente eram rostos desconhecidos, alguns tentando salvá-la e outros apenas tentando entender o que havia acontecido.
O que eu poderia dizer? Sinceramente eu apenas me mantive em silêncio e Tom fez o mesmo.
Gostaria de saber o que pensavam enquanto tentavam fazer com que Kate voltasse à vida. Será que perceberam que eu estava perdendo tudo o que importava para mim? Ou estava eu, mais uma vez, sendo completamente egoísta, mesmo sabendo que a culpa de toda dor que ela estava sentindo era apenas minha... Eu não saberia responder, porque naquele momento meu mundo estava correndo rápido demais.
Kate logo foi levada para o quarto e novamente foi atendida por uma equipe de enfermeiros e médicos que, assim que me viram no quarto, pediram que eu me retirasse. Comecei a chorar, com a certeza de que ela estava morrendo e em algum canto pude notar que Tom também chorava sozinho. Essa era a primeira vez em anos que eu podia simplesmente ver isso sem que ele escondesse ou apenas omitisse... Não sei, mas por algum motivo desta vez eu sabia que as lagrimas tão cedo não cessariam.
Longas horas se passaram desde que ali chegamos e tudo que eu podia fazer era olhar para uma janela cinza a minha frente. E isso era totalmente estranho, principalmente quando meu irmão estava ali ao meu lado o tempo todo, como se segurasse a minha mão, como se me apoiasse de qualquer forma e mesmo sabendo que ele estava ali por ela, era assim que eu gostaria de sentir e pensar.
- Quer tomar alguma coisa? – Ele perguntou, levantando-se da cadeira ao meu lado.
- Não, mas obrigado por perguntar.
- Vou pegar um café e já volto. – Avisou saindo.
- Senhor Kaulitz? – Levantei meu rosto e encarei a médica que há pouco havia entrado no quarto de Kate.
- Sim. Como... Como ela está?
- Sua esposa está dormindo agora... – Falou ela calmamente. – Ela ficará bem.
- Obrigado! – Foi tudo que eu consegui dizer depois de respirar profundamente.
- Sei que o senhor é uma pessoa publica e não gostaria de incomodá-lo com esses perdures, mas são normas do hospital.
- O quê? Do que está falando?
- Sua esposa chegou muito machucada. - Ela começou a falar naquele tom totalmente estranho que só os médicos carregam – E, obviamente, o senhor sabe que ela mesma não conseguiria fazê-los sozinha. – Finalizou, esperando uma resposta supostamente convincente vinda de minha parte... Mas infelizmente não havia nenhuma.
E enquanto ela falava as memórias voltaram como uma avalanche, todas elas. Notei o quão estúpido eu fui e o quanto ainda estava sendo mantendo toda mentira por medo. Enquanto Kate sentia toda dor sozinha, sabia que havia cometido um erro em me manter em silêncio, mas fiz isso simplesmente porque era impossível esquecer o assunto, mesmo tentando me concentrar na conversa.
- Estou bem... Como já havia dito foi apenas um acidente, Bill não estava em casa quando aconteceu.
Olhamos para a cama assustados e lá estava Kate acordada, tentando me defender e, de alguma forma, tentando fazer com que a mulher acreditasse em suas palavras, mesmo que isso fosse totalmente inútil devido aos vários hematomas por seu corpo.
- Bem, senhora Kaulitz, o hospital irá inve... – A mulher continuava a insistir.
- Não será preciso. – Kate falou com total segurança. – Obrigada!
Por um longo momento nenhum de nós se moveu, até que a médica contrariadamente decidiu deixar o quarto e então eu pude finalmente olhá-la nos olhos.
- Oi – Eu disse enquanto me aproximava de sua cama.
- Fico feliz que esteja aqui. – Ela sorriu, erguendo sua mão para alcançar a minha.
- O que eu posso dizer ou fazer pra você, porque, sinceramente, acho que me desculpar nunca será o bastante. – Perguntei ridiculamente, pois sabia que nada apagaria a dor que causei a ela.
- Você está aqui, isso é o bastante pra mim. – Murmurou.
- Como pode não ter medo... Nojo ou raiva de mim depois de ontem?
- Eu não tenho medo porque você é tudo que eu tenho... – Ela sorriu brevemente.
- Eu quase matei você... – Falei indignado, sentindo raiva de mim mesmo ao me lembrar de tudo.
- Estou bem... - Sua expressão adquiriu compaixão espontânea – Não quero que se culpe por algo que não aconteceu.
De repente ela abriu um sorriso largo e cheio de prazer enquanto curvava-se, tentando sentar-se. Movi meus braços para ajudá-la, mas assim que a toquei seus braços me envolveram em um abraço e eu freneticamente pedia que aquele momento não terminasse nunca.
- Me desculpe... Sei que isso não basta, mas me desculpe. – Eu pedia enquanto repousava minha cabeça em seu colo.
- Você não precisa se desculpar... Não há razão para estar arrependido. – Ela disse passando a mão por meus cabelos.
- Do que está falando? – A encarei encolhendo meus ombros relutantemente.
- Acho que sei o que estava pensando naquele momento... E sei que se fosse eu no seu lugar teria feito exatamente o mesmo. - Ao observá-la dizer aquilo senti uma súbita secura na garganta.
- É claro que não!
- Na verdade não - Ela deu um sorriso irônico. - Mas eu entendo... Porque eu sei que não era você.
- Está me perdoando? É isso? Depois de tudo?
- Deite aqui comigo. – Ela disse como se não estivesse me ouvido.
Inclinou-se para o lado da cama, dando passagem para que me aconchegasse ao seu lado e assim o fiz, tentando deixá-la o mais confortável possível, apesar de saber que ela não se importaria com isso. Apoiei minha cabeça em seu peito, sentindo seus batimentos cansados e sua respiração falha e, de repente, a noite passada começava a voltar em minha mente...
- Me diga o que fazer, Kate... Eu não sei o que aconteceu e como viemos parar aqui... Eu simplesmente acordei e descobri que meu irmão estava apaixonado pela minha mulher... E eu nunca me imaginei vivendo esta situação... Não sei o que fazer, eu estou apavorado.
- Calma. – Pediu ela.
- Só quero ficar aqui... Com você e de alguma forma ajudar meu irmão. – Eu disse relutante.
- Eu sei. - Ela olhou para mim e respirou fundo algumas vezes.
- Vocês dois são tudo que importa pra mim e mesmo que eu pense no que seja certo a fazer, eu não sei... Não consigo descobrir.
- Eu amo você... E você sabe. – Ela balbuciou.
- Eu sei. – Apesar de tudo senti meu coração saltar.
- Mas não posso permitir que se afaste de Tom. - Ela levantou os olhos e encarou os meus.
- Eu não quero isso. – A alertei assustado apenas em pensar nesta possibilidade.
- Eu sei que não. - Ela se calou cansada demais para continuar naquele momento.
Seu sorriso era estranhamente triste e, por instantes, nenhum de nós disse nada. Até que ela ressaltou a última frase...
- Mas você precisa me ajudar... – Ela pareceu estar cansada, mas após longos segundos tentando recuperar seu fôlego continuou... – Precisa me ajudar a te esquecer...
Finalmente, depois de alguma hesitação, respirei fundo a fim de conseguir forças para poder conversar com ela sobre isso. Eu sabia exatamente onde Kate queria chegar e, sinceramente, eu não estava ansioso para este momento.
– Ajudar você a me esquecer? - Perguntei calmamente – Por que eu faria isso?
– Porque esta seria a melhor forma de acabar com o sofrimento de todos nós. - ela respondeu mecanicamente.
E olhando seu rosto naquele momento, tudo que eu conseguia pensar era que, de alguma forma, Kate tentava brincar de propósito com minhas emoções... Como um castigo, talvez.
– Um tipo de troca? – Falei já em tom alterado, assustando-a de início - Você me esqueceria, e em troca eu também estaria esquecendo você?
– E se isso for o certo a ser feito? – Ela questionou.
–Aí está o problema... Isso não é certo e não há nenhuma chance de chegarmos a essa conclusão. – Gritei com desprezo.
Ficamos em silêncio durante algum tempo, porque simplesmente estava sem palavras, e me sentia exausto. Ela estava me fazendo sofrer pelo que eu fizera, mas pelos meus cálculos, de certa forma, eu já tinha pagado.
– Bill? – Virei minha cabeça para trás para olhar para ela e a encontrei me observando calmamente.
– Sim.
– Lembra quando eu falei a você sobre meu irmão? – Ela perguntou empalidecendo.
– Sim, mas por que está tocando neste assunto agora? – Disse confuso com a repentina mudança de conversa.
– Tay estava apaixonado por uma garota quando morreu. – Ela continuou ignorando totalmente minha pergunta. - Ela não o quis, não sentia o mesmo por ele... - Kate sorriu sem graça e eu pensei em pedi-la para não continuar, pois sabia que tocar no nome do irmão não era fácil para ela. - E então ela ficou noiva e partiu para outro lugar... – Ela continuou, fazendo gestos com as mãos, tentando me explicar. - Nós achávamos que ele fosse superar, mas não foi o que aconteceu.
– Então ele... – Fechei meus olhos pedindo para que ela não continuasse.
– Sim... – Ela suspirou, fechando os olhos – Tay se suicidou.
Disse enfim, e então eu corri para perto dela, segurando sua mão, acreditando que naquele momento, pela primeira vez, Kate fosse se entregar a mim totalmente, como nunca, até agora, havia feito.
Mas como sempre, com seu suspiro profundo, ela também levou as lágrimas junto com o ar, e eu começava a notar o quão forte ela era, ou ao menos tentava ser.
– E você acha que Tom... – Claro... Eu pensei... Tudo fazia sentido agora e, ao olhar para ela, notei que ela podia ler meus pensamentos.
– Eu sei que não, Bill... Não é o que eu quero dizer. – Ela disse.
– Eu não entendo - Perguntei, saindo do meu estado de choque. - Aonde quer chegar?
– Foi por isso que eu não me afastei do Tom... Eu precisava cuidar dele... E eu fiz isso por você. – Confessou.
– Cuidar dele?
– Eu fiquei com medo, Bill, vi meu irmão morrer e não estou falando na hora em si, mas de todos os dias que a antecederam. – Ela suspirou, continuando... – Eu vi o quanto ele sofreu.
– Acha que Tom estava perto de um sentimento como esse? - Eu finalmente digo com a voz trêmula. – Não conhece meu irmão. – Concluo ligeiramente nervoso.
– Não foi o que eu disse. – Ela diz de mansinho.
Eu inspiro fundo e espero todo o ar sair. Posso sentir os primeiros traços de raiva de verdade tomando conta de meu rosto, mas ainda assim tento me manter calmo.
– Ontem... Ontem à noite você disse que o amava. – Falo tentando tirar de minha mente o fato de que as horas que ela tinha passado com meu irmão não eram nada mais que amizade.
– Sim... E eu estava falando sério. – Ela responde abertamente e isso me deixa um pouco abalado.
– Mas é por que você tem nele a lembrança do seu irmão? – Eu pergunto temeroso, por que é exatamente nisso que quero acreditar.
– Não... Não totalmente. – Ela diz, e eu posso ver o quanto está se culpando.
– Você queria ajudá-lo porque ficou com medo de que ele fosse tão fraco quanto seu irmão foi. – Tentei novamente, não querendo chegar a nenhuma conclusão precipitada.
– Não... Você não entende... Tay não foi fraco, ele estava doente. – Ela diz rancorosa.
– Tom não está doente. – Gritei.
– Eu nunca disse que estava... – Ela me olhou assombrada – Eu apenas quis me certificar de que isso não fosse acontecer.
– Você acha mesmo que é a pessoa mais indicada para isso?
– Não. - A culpa estava escrita claramente no rosto dela.
– Pare de mentir.
– Não estou mentindo... - Ela disse com os olhos completamente abatidos. - Eu só queria que entendesse que fiz isso por você... Porque queria trazê-lo de volta e queria que ele aceitasse que, na verdade, não me ama.
– Ele ama você, ou talvez ele apenas esteja confundindo. - Eu não conseguia esconder a raiva em minha voz.
– Talvez, e é por isso... Exatamente por isso que quero que entenda, Bill... Eu não posso mais ficar aqui, não posso ficar com você.
– Não quer dizer isso... Você não tem que ir embora por isso, é minha esposa.
– Eu não sou ninguém... Não sou ninguém. - Sua honestidade fez com que ficasse dolorosamente claro que ela acreditava no que estava dizendo.
– Por que está dizendo isso? - Eu fecho meus olhos, ciente de que a hora da verdade chegou. - O que quer dizer com isso?
– Exatamente o que você entendeu. - o silêncio foi repentino.
– Kate? Não está falando sério... Está? – Perguntei já completamente apavorado em pensar nesta possibilidade.
– O que espera que eu faça? – Perguntou com a voz vacilante.
– Que não me peça para escolher. – Eu pedi.
– Não há o que escolher, Bill... Você tem que ficar com seu irmão. – Ela falou e, por mais que isso me doesse, sabia que ela tomaria essa posição.
– Está me deixando? - Eu mal conseguia ouvi-la - É isso?
– Sim. – Disse ela baixinho, sem me olhar.
– Não pode estar falando sério. – Supliquei.
– Só estou dando a você a chance de não ter que escolher... - Sussurrou.
E naquele momento, olhando para ela, eu me dei conta de que tinha razão, e que mesmo que eu não quisesse ou pensasse assim, chegaria o momento em que eu teria de escolher; os fatos me levariam à isso e Kate sabia exatamente qual seria minha decisão. Essa era a primeira vez que eu podia sentir o abismo entre nós...
Tom's POV
Não poderia descrever as longas horas esperando uma notícia e tão pouco mencionar a sensação ruim que tive ao ver meu irmão cruzar a porta daquele quarto de hospital.
Eu podia ver lágrimas correndo por seu rosto, e o fato de que ele estivera chorando tão silenciosamente me fez doer, principalmente porque sentia que a culpa de tudo isso era apenas minha.
– Você ouviu... Não foi? – Ele me encarou ao fechar a porta.
– Sim. - Não é algo de que eu possa me orgulhar de dizer, mas sim, eu estava ouvindo atrás da porta.
– Sei o que está pensando agora, Tom, e embora eu também esteja culpando você, não acho que isto seja totalmente verdade. – Ele faz uma pausa e limpa seu rosto, mas logo volta a me olhar. - A culpa foi minha também.
– Bill... – Tento conversar, mas ele não parecia estar disposto a me ouvir.
– Eu... Vou até a nossa casa pegar algumas coisas e irei para casa da mamãe.
– Como ela está? – Pergunto e ele apenas solta uma risada triste, e então me olha apreensivo.
– Pode levá-la para casa? – Pediu. – Eu sei que ela não pensa em ficar lá, mas eu quero que ela se recupere antes de ir embora. - Tanta me explicar, mas parece estar completamente perdido em suas palavras, e eu tento entender como ele pôde estar me pedindo isso e mesmo depois de tudo, confiar em mim... Eu não confiaria. – Pode fazer isso, Tom?
– Claro. - Eu confirmo – Vou fazer isso, prometo.
– Obrigado.
E então vejo Bill caminhar rapidamente pelo corredor do hospital, até sumir de meu campo de visão.
Viro-me para frente e encaro a porta do quarto de Kate; lanço minha mão instintivamente, a abrindo sem fazer barulho, tomo fôlego e caminho até sua cama, tentando mentalmente controlar meus sentimentos, mas fica completamente impossível assim que vejo seu rosto.
Sinto meu coração parar, e então ela me olha, e posso ver que está sorrindo; mesmo depois de tudo, ela ainda consegue. Talvez sorrir seja a defesa dela, gosto disso, gosto de imaginar que mesmo depois de tudo Kate ainda consiga ser otimista em relação à tudo que está acontecendo em nossas vidas.
Caminho com passos lentos até sua cama e começo a notar todas as marcas da noite anterior, não somente em seu corpo, mas em toda exaustão presente em seu rosto. Sento-me ao seu lado na cama e a vejo se endireitar, ficando com o rosto na altura do meu, podendo assim me olhar nos olhos.
– Oi. – Falei tentando manter minha respiração normal, o que era praticamente impossível quando estava perto dela.
– Oi. - Ela fala mantendo seu sorriso acolhedor.
– Como está se sentindo? – Pergunto me aproximando dela.
– Estou bem... – Ela responde, obviamente mentindo. - Obrigada.
– Eu ouvi vocês e... Não quero que faça isso, você não precisa...
– Tom... Não vá por aí... – Ela pede sorrindo, e isso me faz sorrir também.
– Desculpa.
– Vem aqui... Vem? – Ela me chama e então me sento ao seu lado.
– Eu não queria isso... – Comecei com a voz embargada. - Não desejei que isso...
Enquanto eu tentava falar, ela me interrompeu, pedindo que eu não continuasse.
– Não... Não fala nada não, só fica aqui quietinho. – Kate encosta sua cabeça em meu ombro e fecha os olhos enquanto eu apenas a observo.
Ficamos em silêncio durante um tempo, ambos lutando com nossos próprios pensamentos. Até ela sussurrar em meu ouvido...
– Eu amo você, Tom.
– Eu sei... - Sei exatamente o que ela quer dizer e de que forma quer que eu entenda.
– Não sei o que eu faria sem você ao meu lado. – Segura minha mão e encaixa seus dedos nos meus, perfeitamente, e por um momento me faz pensar que poderíamos ficar assim para sempre.
– Eu não vou sair do seu lado – Aperto sua mão na minha – Vou estar sempre perto de você... Até você cansar de mim. – Sussurro para ela.
– Eu nunca vou me cansar de você. - Ela ri, fazendo desenhos na palma da minha mão e só agora posso notar a aliança brilhando no dedo esquerdo. Essa visão foi como uma ducha de água fria, um choque de realidade.
Levantei-me rápido de seu lado, dando-lhe a desculpa de que iria ligar para Bill e não esperando sua resposta, saí do quarto, fechando a porta.
Algumas horas depois, quando mais calmo, entrei novamente em seu quarto. Ela já estava de pé perto da cama ouvindo algumas recomendações da médica ao seu lado.
– Pronta pra ir? – Perguntei interrompendo a conversa.
– Eu não... – Ela parou, dando-se conta de que não estávamos sozinhos.
E enquanto permanecíamos em silêncio, a médica pareceu se dar conta de que estava sobrando. Despediu-se de Kate e então saiu do quarto sem me olhar.
– Pelo menos por hoje. – Eu voltei a falar. – Ele me pediu para fazer isso.
– Tudo bem. – Diferente do que eu imaginava, aceitou rápido, cansada de discussões, eu presumo.
O caminho de volta pra casa foi em completo silêncio, nenhum de nós falou... Ou ao menos tentou esboçar alguma expressão. Ela passou o tempo todo olhando pela janela do passageiro, com os braços cruzados. Eu poderia ficar preocupado, mas nada em sua expressão denunciava que aquela preocupação tinha a ver comigo, então a deixei sozinha com seus pensamentos.
Quando entramos em casa, estava tudo em seu devido lugar novamente, a não ser por tudo que foi quebrado, e eu não estou falando de cacos de vidro.
Kate caminhou até a mesinha, a tocando, sentindo como se nada daquilo tivesse acontecido; um pesadelo, talvez. Eu não sei, mas em certos momentos ela parecia perdida.
– A sala está arrumada. - Ela falou olhando para todos os lados.
– Sim, acho que Gert levou um susto hoje de manhã. – Ri pensando em Gert, nossa empregada, entrando para limpar nosso apartamento – Deve estar achando que eu aprontei. – Concluí.
– Pode apostar. - Sorri com sua resposta. Não pude evitar.
– Então... – Eu comecei, tentando tornar o clima mais fácil para ambos.
– Então... Vou pegar algumas coisas e ir, não quero dar mais trabalho à você.
– Não... Não pense assim, e também, você não pode ir, eu prometi a ele que a deixaria aqui para se recuperar, não quero desapontá-lo ainda mais. Já bastou tudo que aconteceu ontem.
– Ontem acabou, Tom... – Ela disse - Hoje é diferente.
Olhamos nos olhos um do outro por um momento antes de eu desviar os meus.
– Desculpa, mas não parece diferente pra mim. Eu posso ver uma sala maquiada na tentativa de apagar o que aconteceu, meu irmão mal fala comigo, e você... – Caminhei até ela, tocando seu rosto, tocando cada marca e hematoma que ali estavam. – Você, Kate... Está assim.
– Logo eles irão sumir... – Sabendo do que eu estava falando, ela afastou-se – Assim como eu.
– Não quero que faça isso. – Digo em voz alta.
– Já está feito, Tom. - Ela não deu importância.
– Não está, você ainda está aqui, é só... Droga, Kate. – Fiquei em sua frente obrigando-a a me encarar. - Qual é a pior coisa que pode acontecer se você ficar?
– Vai doer. – Ela diz.
– Já está doendo.
– Então pra que deixar isso ainda maior? – Ela diz baixinho, sem me olhar.
Instantes se passam. O intervalo tem um som, como se algo muito pequeno houvesse se partido. Aproximo-me dela e a abraço, afundando meu rosto em seu pescoço, sentindo seu cheiro, sentindo respirar perto de mim.
– Eu amo você. – sussurro com raiva em seu pescoço. – É a pior dor da minha vida, mas é o que eu sinto.
Ouvi minha própria voz sair como se tivesse vontade própria e me dei conta do quanto era difícil manter isso dentro de mim.
– Você não ama porque você não conhece esse tipo de amor. - Ela me empurra e se afasta, posso ver que está chorando e não posso fazer nada quanto a isso.
– Não se atreva a dizer que eu não sinto. - Grito com ela; essa é a primeira vez e meu coração está aos pulos.
– O que você quer que eu faça? - Ela grita também. – O que quer de mim?
– Eu não sei.
Sento-me ao sofá e minhas mãos cobrem meu rosto. De alguma forma sinto-me envergonhado, e por várias vezes me pergunto mentalmente por que eu fiz isso, por que contei, eu faria isso de novo? Sou sempre eu quem estraga tudo.
– Eu não posso dar nada a você, Tom. – Ela me olha e respira fundo algumas vezes, tentando se recuperar - Não há nada que possa ser oferecido.
– Por favor, vá descansar – Peço e ela parece se dar conta de que eu precisava desesperadamente de um momento sozinho. - Por favor, Kate, me deixe sozinho. - Em um minuto ela já não estava mais lá, e então, observando o apartamento vazio, começo a pensar em Bill.
Ele era, e eu comecei a acreditar nisso há muito tempo, um homem muito melhor do que eu jamais serei. Eu sempre usei mulheres, me permiti ser usado e sempre mantive meus sentimentos pra mim mesmo. Não é fácil para eu admitir certas verdades, e é isso que me faz simplesmente enlouquecer.
Minutos mais tarde, quando estou cansado de pensar e refletir, levanto-me e caminho em direção ao quarto dela, mas ao invés disso paro em frente ao bar, e este me parece bem convidativo... Começo a pensar novamente, mas desta vez me pergunto se estou perto de virar alcoólatra. Espero que não, porque não sou a melhor pessoa do mundo quando estou bêbado. Na verdade, eu sou a pior pessoa do mundo mesmo estando sóbrio. Nenhum ser humano no mundo pode ser considerado digno quando se está apaixonado pela mulher do irmão. Então posso presumir que sou um idiota que está virando alcoólatra.
Caminho até o bar e sirvo uma dose de Everclear misturada com Absinto. Se Andy estivesse aqui agora, com certeza perguntaria se estou tentando cometer suicídio, o que não me parece uma má ideia no momento.
Empino o copo e deixo o líquido escorrer por minha garganta, queimando por onde passa, e me dou conta de que realmente eu seria um péssimo barman: minha mistura não funciona, ainda estou vivo.
Que ridículo, pensamentos ridículos, tudo é ridículo, sou um alcoólatra que não serve para barman, estou apaixonado pela minha cunhada, meu irmão me deixou, aquele estúpido confiou em mim mesmo depois de tudo. E, para piorar, nem meu cachorro me quer... Definitivamente, essa bebida merece fazer efeito. Bem, talvez ela já esteja, pois não costumo ter pensamentos idiotas durante muito tempo, muito menos sentimentalistas.
Levanto minha cabeça rapidamente do balcão onde estava apoiada e sinto meus olhos ficarem embaçados. Curvo-me mais uma vez tentando enxergar e sinto que ela está me observando quieta... Não sei quanto tempo está ali, mas creio que seja o bastante para estar assustada com meu comportamento.
– O que está acontecendo com a gente? – Ela pergunta afastando meu copo e todas as bebidas para longe.
Puxo seu corpo para frente do meu e a encosto no balcão; não consigo vê-la, mas sei que está apavorada.
Prenso-a junto de mim e a encaro de perto, posso ver seus olhos vermelhos e sei que estava chorando. Não me importo muito por estar sofrendo, eu também estou. Bill está. Não é justo, mas nada disso importa agora que ela está ali nos meus braços.
– Eu quero você. – Digo a ela.
– O que está dizendo? - Eu percebo uma mudança no tom da sua voz.
– Você perguntou o que eu quero, e a minha resposta é essa... - Aproximo-me rapidamente de seus lábios sem dar chance a ela de fugir. – Eu quero você, Kate.
Ela me olha com uma expressão tão séria que imediatamente agarro seu rosto e lhe beijo. Seus lábios são macios e ela tem um cheiro bom, isso é tudo que consigo pensar enquanto ainda consigo raciocinar como uma pessoa normal.
Tudo havia sumido, não existia mais nada, e eu nem ao menos conseguia me lembrar de quem éramos ali, tudo que eu podia pensar era no quanto eu queria aquilo, não só agora, mas sempre.
Eu não sei, talvez estivesse louco demais pra saber em que momento ela cedeu, mas não me lembro de ter sentido qualquer tipo de resistência.
Em nenhum momento no bar, enquanto eu a beijava... E muito menos agora enquanto eu a carrego para meu quarto...
Tarde demais para sentir medo...
Tarde demais para voltar atrás...
E então eu acordei...
Dando-me conta de que, pela primeira vez, sinto medo de estar acordado... Medo de olhar para o lado e ver que esse novo dia a tenha carregado para longe de mim, medo de um vazio inexistente. Sinto medo de não poder nunca mais tocá-la... Sinto um grande medo de não poder ver os mesmos olhos que ontem me guiaram...
E, ainda que eu tenha perdido tudo isso, eu consigo ouvir sua respiração, ainda consigo sentir cada traço de seu corpo sobre meus dedos... Ainda me lembro de tê-la desenhado em minha memória com cada toque, com cada suspiro que absorvi, com cada gota de suor derramada sobre seu corpo...
“Ergueu a mão e deixou seus cabelos deslizarem de seus dedos devagar, acariciando meu rosto, roçando em meus lábios, flutuando macios e pesados em meu pescoço e ombros, enquanto eu escorregava meus dedos, depositando-os como penas em cima dos seus seios... A ponta da minha língua tocando a linha dos lábios de Kate, com suaves beijos nos cantos. Ela não se mexia, rígida, a não ser por seus dedos, que se curvavam sobre meu peito.
- Vamos, Kate... Você sabe o que eu quero – sussurrei bem acima dos lábios dela.”
Balancei minha cabeça negativamente, tentando afastar minhas memórias da noite anterior como se pudesse me sentir menos culpado sem isso, mas era impossível e eu tinha plena certeza disso.
Nunca em minha vida esqueceria um único momento de nossa primeira e última noite juntos, sempre olharei para trás e relembrarei do quanto fazer amor com ela foi arrebatador e guardaria essa lembrança comigo sempre, como uma joia inestimável, insubstituível, mas que de fato nunca me pertenceu.
Mais tarde, quando enfim ganhei um pouco de coragem para olhar para o lado, como imaginava, ela não estava mais lá. Não havia marcas suas muito menos seu perfume em meu travesseiro... Foi como um sonho apenas, real demais para arcarmos com as consequências que ele nos traria.
Levei minhas mãos até meus olhos, tentando acordar realmente, já que tudo ainda parecia bastante nublado pra mim.
Quando sentei em minha cama, pude me dar conta de que minhas roupas ainda estavam em meu corpo; estranho, pois não me lembrava de tê-las vestido outra vez.
Levanto-me e caminho pelo corredor, segurando as paredes do mesmo; meus olhos fraquejam o tempo todo e eu mal consigo enxergar um palmo à frente dos mesmos.
– Kate? – Eu chamo, sem conseguir enxergar nada.
– Eu confiei em você. – Ouço a voz de Bill ao fundo, mas logo ele se aproxima e me faz cair sentado no sofá.
Começo a ouvir sua voz alta gritando, mas as palavras que não eram dirigidas a mim não faziam qualquer sentido. Pertenciam à realidade de outra pessoa.
E só quando pude vê-lo, percebi que está quieto, esperado minha resposta em silêncio, mesmo que pra mim ele estivesse gritando.
– Quanto tempo está aqui? – Eu pergunto levando a mão aos meus olhos, tentando limpá-los.
– Eu estava aqui o tempo todo. – O som do choro dele acionou uma reação repentina, como se estivesse guardando aquilo há muito tempo.
– Eu não sei o que eu fiz. – Digo apenas, e embora pareça estar mentindo e ainda tenha memórias da última noite eu não sei até onde tudo isso é realmente realidade.
– Você não sabe? – Ele grita e começa a jogar coisas sobre mim, não consigo desviar, ou talvez não quisesse fazê-lo... Você sabe... No estado em que eu estava, o melhor era que ele me acertasse logo; eu faria, se pudesse.
– Bill, eu... – Levo as minhas mãos ao meu rosto tentando cobri-lo. – Não estou bem. Sinto meus olhos fraquejarem mais uma vez, e também começo a ouvi-lo gritar de novo. Não é possível que isso seja a porra de história de gêmeos outra vez, não me lembro de ter avançado tanto a poder ouvir os pensamentos dele... Embora isso pereça realidade no momento.
– Está se sentindo culpado? – Ele se aproxima. - Quer se desculpar? – Grita em meu ouvido.
– Quer mesmo que eu fale? – Eu grito, levantando-me, e nos afastamos. – Por que eu ficaria aqui tentando me desculpar se você viu tudo? – Pergunto curioso. Afinal, por que ele teria deixado Kate sozinha comigo se não confiava em mim? – Você diz que confia em mim, mas na verdade estava me testando.
– E você caiu. – Ele confirma minha suposição. – Os dois caíram!
Eu fecho meus olhos, ciente de que a hora da verdade chegou. Eu limpo a garganta. Molho os lábios e me detenho por um último instante... Não posso mentir a ele, então, ao invés disso, eu fecho meus olhos, pensando que, se ele puder ler minha mente, assim como eu estou lendo a dele, eu não preciso seguir a diante com essa confissão.
– Bill?
Viramos em direção à porta do corredor e lá estava ela parada, olhando tudo de longe, completamente assustada com o que estava acontecendo. Bem, ao menos era o que parecia...
– Como você está? – Bill caminha em direção a ela e seus pensamentos não são nada bons – Dormiu bem?
– Sim. - Ela o olha com medo e começa a se afastar instintivamente – Dói um pouco, mas consegui dormir.
– Dor? – Ele cerra os punhos e esforça-se para não perder o controle. – É eu a ouvi gemer durante a noite. – Diz blasfemando enquanto me encara, e em seus pensamentos ele me pergunta o quanto foi bom estar em seu lugar... Quer mesmo saber? Seria ainda melhor se eu não estivesse tão bêbado e pudesse lembrar agora.
– Você estava aqui? – Ela pergunta calmamente e eu não consigo entender como ela consegue manter-se assim, apesar de tudo.
– O tempo todo. – Ele tentou encontrar algum sentido em sua pergunta.
– Parece um pouco triste. - Ela o olhou dentro dos olhos e levantou ambas as sobrancelhas...
– Eu tenho motivos. Não tenho? - Bill olhou para o lado oposto da sala, e seus olhos encontraram os meus.
– Não foi uma boa ideia eu ter vindo para sua casa. – Ela percebe a minha reação, e acima de tudo percebe que Bill está da mesma forma que estava quando bateu nela.
– Aonde você vai? – Ele grita quando a vê se afastar.
– Eu vou embora. – Ela caminha em direção ao quarto.
– Não, você não vai. – Ele gritou e seus olhos ficaram ainda mais apertados.
Tento chegar perto dele, impedi-lo de fazer qualquer bobagem, mas, involuntariamente, meus pés não me obedecem; não consigo andar, nem tão pouco falar... E ao longe tudo que ouço é um sinal tocando pequeno e prolongado... Um bip, talvez.
Olho para os lados, tentando encontrar o barulho insuportável, mas não há nada lá, pelo contrário, minha cabeça parece querer rodar e, enquanto isso acontece, vejo pequenas cenas como se fosse um filme... Imagens que relampejam através de mim.
Cenas em que apenas Bill e Kate estão presentes, cenas em que eu nem ao menos presenciei de longe... Acredite em mim, não é como se eu estivesse em um sonho, é mais como um pesadelo.
– Pode me soltar. – Ouço Kate pedir à ele e então estou na sala novamente.
– Por quê? – Bill grita apertando seu braço. – Está com medo que eu sinta o cheiro dele na sua pele?
– O que disse? – Ela pergunta com a voz falha.
– Estou cansado de jogos, Kate... Só preciso que me conte a verdade. - Por um instante ela não tinha certeza de ter ouvido direito – O que fez ontem à noite?
– Você estava aqui, não estava? - Ela o forçou a parar e observá-la. – Eu estava dormindo.
– Não foi o que eu vi. - Ele balança a cabeça e leva a mão ao rosto dela, mas para assim que escuta a porta se abrir.
– Bom dia, meninos – Mamãe entra batendo a porta atrás de si e noto que Scotty voltou com ela pra casa. – Kate.
– Mãe? – Bill sai em direção a ela para ajudá-la com as muitas sacolas que carregava, mas não sem antes me encarar, pedindo mentalmente para que eu pareça normal aos olhos dela. – O que faz aqui?
– Eu e Kate planejamos há dias fazer um jantar está noite. – Ela entrega as sacolas a ele e logo se vira para Kate, que está acuada em um canto da sala. – Você esqueceu Kate?
– Sim, me desculpe. – Kate diz com os olhos baixos, mas mamãe rapidamente corre até ela, segurando seu rosto entre as mãos.
– O que aconteceu com você? – Ela pergunta e Kate se afasta. – Seu rosto, ele...
– Não se preocupe, estou bem. – Ela responde e logo vai em direção às compras, ainda falando, mas tentando de alguma forma mudar o foco do assunto. – Ontem à noite eu acabei caindo e...
– Você já foi ao hospital? – Mamãe pergunta enquanto caminha novamente em direção à Kate.
– Sim, Bill me levou, está tudo bem. – Kate o olha e ele parece rir com a situação. – De verdade. – Sorri, mas ainda assim mamãe não parece conformada com a resposta.
– Se quiser podemos deixar o jantar para outro dia. – Pergunta e Kate segura suas mãos.
– Não... Será hoje, como planejado.
– Tem certeza de que Kate está bem? – Mamãe pergunta, mas desta vez olha para Bill, que caminha em direção à Kate, puxando-a pela cintura.
– Ela está ótima. – Ele a beija e os olhos dela se enchem de lágrimas – Não é, amor?
– Sim, estou bem. - Sua voz saiu tremida enquanto observava o rosto fechado e irritado de Bill.
Eu olho para ele, absorvendo seus pensamentos e sei que não posso impedi-lo... Só posso encontrar uma maneira de resolver o que eu mesmo comecei.
Encontrando uma forma de não levar a ideia de Bill em matar Kate adiante...