Capítulo 04
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Ver meu irmão baixar a cabeça e sair de meu quarto calado não era a cena que eu esperava, mas foi o que ocorreu. Tentei argumentar, mas ele não me deu ouvidos, e a mim bastou ouvir o som da porta de seu quarto batendo como se quisesse se isolar do mundo. Não podia culpá-lo, talvez esse também fosse meu desejo.
Levantei-me a fim de tomar um banho, pegar algumas coisas de que eu precisaria e ir embora, não queria ver Bill hoje, eu não aguentaria vê-lo, não aguentaria dizer não a ele outra vez... Amanhã, quando estivéssemos no estúdio, com certeza ele já estaria melhor e eu também.
Saí do banho um tempo depois, joguei as primeiras peças de roupas que achei em minha frente dentro de uma mochila, juntamente de outros itens críticos que precisaria em minha estadia na casa estranha de vidro de Georg. Finalmente dei uma última olhada em meu quarto, procurando por algo que pudesse estar sendo esquecido.
Com tudo pronto caminhei até à sala chamando por Scotty. Não podia deixá-lo, mas o mesmo, assim que me viu carregar uma mala até à porta, se recusou a descer do sofá e apenas me fitou com seus olhinhos úmidos, como se soubesse de tudo que passava em minha vida, como se estivesse sobe o efeito da atmosfera frágil que se instalou naquele apartamento.
Fui até ao sofá buscá-lo. Assim que cheguei perto ele respirou fundo, jogando todo seu peso no sofá. Ele sempre fizera isso quando se mostrava teimoso por algum motivo, mas sempre com Bill e apenas agora comigo.
- Você não quer ir, não é mesmo? – Falei o alisando.
Scotty levantou-se e rapidamente mudou de sofá, deitando de costas para mim, que o olhava estático.
- Tudo bem, eu não o culpo. Também não me sinto feliz por estar indo... Mas eu volto pra buscar você. – Falei virando para a porta.
- Tom? - Ela chamou.
Virei para olhá-la. Até aquele momento eu tinha feito de tudo para evitar vê-la antes de sair, não queria uma despedida. Na verdade, eu queria me certificar que a minha busca por esquecê-la começasse ali mesmo, com minha saída daquele apartamento, mas olhar para ela ali, tão indefesa, encostada na parede, esperando que eu pelo menos fosse dizer adeus a ela, me transformou no cara mais egoísta do mundo. Eu não podia culpá-la por querer apenas isso quando, em minha cabeça, algo tão sujo se passava. Kate não tinha culpa sobre meus pensamentos fracos apenas por senti-la perto de mim, mas eu sabia o quão perigoso era esse contato, e eu não estava a fim de pôr mais isso em risco.
- Estou saindo, ta bom? – Murmurei sem olhá-la, segurando-me na porta, enquanto ela continuava estática, apenas me observando.
- Eu... - respirou fundo levando sua mão até aos olhos, secando uma lágrima que teimava em cair. - Posso te pedir uma coisa?
Ela caminhava lentamente até mim, como se pedisse permissão para chegar perto, enquanto eu continuava imóvel, apenas ouvindo. Não havia som que eu conseguisse emitir e, se houvesse eu não o faria, ou me entregaria ali mesmo, com minha voz completamente embargada pelo momento.
- Promete que vem me ver... Sempre que puder? Promete isso pra mim, Tom? – Pediu ela em tom choroso, acabando com meu coração.
- Cuida do Bill pra mim. - Foi tudo o que eu consegui falar, antes de fechar a porta diante dela, deixando-a para trás com todas as coisas que não disse, com todas as coisas que não fiz e que nunca poderia sequer pensar em fazer.
Chutei a mala para dentro do elevador como se quisesse depositar nela toda raiva sentida por mim naquele momento, me permitindo chorar sozinho enquanto olhava a porta se fechar em minha frente.
E então, após algumas horas, eu já estava em frente à casa de Georg, fitando meu novo endereço, sem que o próprio dono o soubesse...
Georg apareceu na porta, me olhando com curiosidade. Só quando puxei minha mala para fora do carro ele pôde enxergar a mesma.
- Posso ficar aqui? – Pedi o olhando.
- Eu já esperava que viesse. –Ele levantou a sobrancelha rindo.
- Isso é um sim? - Indaguei.
- É, isso é um sim, mas você sabe, minha casa, minhas regras... – Avisou enquanto me apontava com o dedo.
- Ok, eu aceito desde que possa ficar com o quarto maior.
- Ah claro, acho que a casinha do cachorro é enorme, você vai se virar bem lá dentro. - Brincou ele, mudando seu semblante repentinamente. - Mas falando sério agora, como Bill reagiu quando disse que viria pra cá?
Respirei fundo, retirando minha guitarra do carro e voltando a olhá-lo...
- Bom você sabe como ele é, ouve um momento breve de discussão, mas o ponto alto foi ele bater a porta do quarto, ou seja, ele está furioso.
Entreguei a guitarra a ele enquanto pegava minha mala e caminhávamos até ao interior da casa.
- Eu também ficaria, e agradeço por meu irmão não querer roubar minha mulher.
- Mas você não tem um irmão, e muito menos uma mulher. – Eu gargalhei o olhando e ele acertou um tapa no topo de minha cabeça. – Mas eu tenho que avisar você. - Parei e ele me olhou - Eu inventei uma mentira, disse a ele que viria pra cá com você porque queria dar umas festas, inaugurar a casa, sabe coisas assim... - Finalizei.
- Festa é? – ele coçou o queixo e olhou para a casa - Até eu acharia uma desculpa melhor, mas pensando bem, não é tão má ideia assim... Se Sophie ficar sabendo ela vai achar que eu toquei a vida para frente e a esqueci, isso é bom porque ela vai acabar correndo atrás de mim novamente. – Sorriu animado.
- Desculpa, mas ela não está nem aí pra você. - Confessei sem querer - Ontem mesmo ela...
- Cala a boca ou vai ter que achar outro lugar pra ficar... – Ele gritou andando em minha frente.
- Ok, mas... – Continuei.
- Cala a boca. – Gritou novamente. Eu estava certo quanto à minha decisão, ficar afastado por um tempo me ajudaria não só a esquecer, como também me levaria de volta a minha antiga vida.
***
Bill's P.O.V.
Quando finalmente o ouvi bater a porta e me dei conta de que todo aquele pesadelo era verdade, lembrei que havia deixado Kate sozinha.
Cheguei à sala e a vi deitada no sofá, olhando qualquer coisa na televisão... Estava longe... Tão igual a esses últimos dias, mesmo comigo ela sempre estava fora como se não fizesse mais parte desta casa, como se já não fizesse parte de mim.
- Kate. - Olhou-me depois de longos segundos, e ainda assim parecia não estar ali.
- Eu pensei que quisesse ficar sozinho - Sussurrou sonolenta.
- E eu quero. – Afirmei me aproximando.
- Ta bom.
- Quer ficar sozinha comigo? – Segurei sua mão levando-a ao meu rosto, fechando meus olhos, a fim de apenas senti-la.
- É claro. – Ela confirmou movendo a cabeça.
Sentei-me ao seu lado, procurando suas mãos e levando-as ao encontro do meu rosto, secando as lágrimas que ainda restavam nele. Então fiz o mesmo percurso em sua face, enquanto a via fechar os olhos e aproximar-se de mim.
Agarrei-a para mim e a apertei, fazendo-a rir quando mordi seu pescoço. Sentia tudo, menos vontade de rir naquele momento, necessitando chegar com pressa à minha maior perdição em seu corpo... Seus lábios.
Sem precisar pedir, senti sentar-se sobre meu colo, entrelaçando suas pernas em minha cintura, deixando assim que pudesse ver o desejo crescer em seus olhos, procurando meus lábios tal como os meus procuravam os dela... Sentindo tudo como se fosse à primeira vez, seus lábios suaves abraçavam os meus, beijavam, lambiam.
Peguei-a novamente deixando-a escorregar lentamente sobre o sofá, puxando-a para cima de mim. Não queria me afastar dela nem um minuto que fosse. Tornei a beijar sua boca, mordendo a mesma, ela apenas sorriu sussurrando que me desejava ali e já.
- Posso? – Perguntei me afastando um momento apenas para tirar nossas roupas.
- Claro. – Beije-a outra vez – Faça o que quiser. – Respondeu ela.
Logo as peças estavam novamente no chão, tão igual ao que fizemos cedo nesse dia, porém tão diferente... Olhou para mim e riu enquanto se deitava de novo, deixando o caminho livre para que eu pudesse percorrer seu corpo com pequenos beijos, sentindo-a se arrepiar a cada um.
Encontrei seus olhos pedindo para que continuasse e assim o fiz, olhando-a pela última vez antes de penetrar não só o seu corpo como também sua alma, sentindo nossos corações frente a frente em um mesmo ritmo agradável e, claro, meu eterno fetiche... Seu pescoço. Ela sabia bem qual era, deixando a passagem livre para o mesmo, enquanto sussurrava coisas em meu ouvido que me faziam ganhar alma para continuar... Em um momento nossos olhares se encontram, via seu rosto e a cada avanço vindo de mim seus olhos fechavam e abriam em um desespero extasiante, foi então que me suplicou para que não parasse.
Os olhares, os apertões, os gemidos foram o culminar perfeito de todos os desejos daquela noite... A respiração começando a falhar, perdendo forças, dando passagem, como sempre, ao ponto alto, deixando que pudéssemos nos satisfazer finalmente...
Tom's P.O.V.
Outro dia nascera, meu primeiro dia longe de casa, embora Georg fizesse o possível para que eu me sentisse praticamente na mesma. Não era como se eu pudesse acordar e ver meu irmão com seu sorriso bobo logo cedo, ou Scotty correndo atrás de Kasimir pela sala, ou tão pouco ver Kate servindo nosso café como em todos os dias depois do casamento.
Com minha insanidade eu havia perdido minha família inteira, e nem sequer queria imaginar o surto dos meus pais quando soubessem que eu já não morava mais naquele apartamento.
Levantei-me da cama assim que o sol invadiu o quarto, e naquela casa não haveria como lutar contra ele... Fiz minha higiene pessoal e caminhei até à cozinha, avistando Gustav sentado em uma das cadeiras, mexendo em seu notebook, como sempre concentrado de mais para me ver chegar.
- Está morando aqui também e eu não sabia? – Perguntei vendo-o baixar os óculos me olhando por debaixo dos mesmos.
- É claro que não! Eu, ao contrário de você, não gosto de incomodar os outros. - Disse ainda concentrado em seu notebook.
- Quem disse que eu estou incomodando? Georg é apaixonado por mim, na verdade, ele até me ligou e implorou para que eu viesse ficar um tempo aqui com ele. – Gargalhei sentando-me ao seu lado na mesa.
- E eu estou acreditando. – Ele olhou-me sério. Definitivamente, Gustav não tinha senso de humor, pelo menos não de manhã.
- Que lista é essa aí? - Perguntei virando a tela para mim.
- Acha mesmo - Ele retrucou virando novamente a tela para ele - Que dariam uma festa sem que eu soubesse, ou melhor, sem que eu liberasse a lista? – Riu cinicamente.
- Anete não deixaria você vir mesmo. – Falei caminhando até a pia.
- E desde quando ela manda... - Ele bufou. – Ta, eu sei que ela não deixaria, mas eu viria escondido... Quem iria contar a ela? – Riu e então me olhou.
- Ninguém. – Debochei.
- Você não está em condições de entregar ninguém. - Continuava com seu sorriso cínico enquanto falava - Ou esqueceu Kate?
- Como você sabe? – Perguntei virando-me para ele.
- Eu contei. - Georg confessou entrando na cozinha.
- Por que você contou? – Gritei com ele.
- Porque eu não sei guardar segredos... Você sabe bem disso, ou não saberia que eu era apaixonado pela sua namorada na adolescência. – Riu sentando-se ao lado de Gustav.
- Devia ter contado ao Andy. - Retruquei e eles riram.
- Claro que devia, e essa hora você e Bill estariam rolando na lama. – Disse Georg.
- Eu jamais brigaria com ele por ela, Kate é dele e pronto. – Afirmei.
- Que seja, você não vai falar com a Anete e eu fico quieto. Ok, eu nunca falaria com ninguém sobre isso, mas é para o caso de você avisa-la... Mas então, a lista está pronta, só as melhores, alguns caras que conhecemos e são confiáveis, sem Sophie... - Olhou para Georg que bufou. - E para tirar o Tom deste poço sem fim... Jordin. - Riu me olhando.
- Jordin para mim?
- Não recuse, aproveite. - Georg me apontou o dedo.
- Sim, agora eu preciso ir. - Gustav levantou-se saindo - Vejam se arrumam tudo direitinho, ok? Gosto de tudo organizado. - Gritou já do lado de fora.
- É hora de festa, vamos dar um jeito aqui e depois ligar ao David e falar que estamos terrivelmente doentes. - Ge respirou fundo parecendo mesmo doente. – E, por fim, acabar convidando ele para a festa. - Riu.
- É só assim para sermos desculpados.
- Mãos à obra. - Disse ele atirando-me uma garrafa de Wiskey nas mãos.
Mãos à obra, essa era a verdade. Agora eu já estava praticamente em minha antiga vida, álcool, cigarros e, mais tarde, mulheres, mas o engraçado era que eu não me lembrava do momento exato em que meu mundo antigo me fez falta. Depois do casamento, embora não fosse o meu, acabei me acomodando também, permitindo-me sair apenas algumas vezes, em poucas ocasiões em que não pude recusar... E, ainda que fosse estranho para todos, nunca mais ouve ninguém em meu quarto, talvez por respeito, talvez por medo, ou por achar que ninguém além dela merecia estar lá.
Quando já estava tudo praticamente pronto, ouvi um barulho vindo de um carro. Georg só poderia estar brincando, quando tudo já estava no lugar ele resolveu voltar para casa. No mínimo conseguira convencer Sophie a vir, caso contrario só apareceria na hora da própria festa.
Cheguei ao jardim e vi que o carro não era o dele e sim o de Bill. Ele fez o que eu pensava que faria, veio atrás de mim para tentar me obrigar a voltar para casa, bem típico dele... Notei que não estava dentro do carro, no mínimo já estava por aí olhando a casa, curioso como é...
- Oi. – Ouvir sua voz me pareceu tão estranho e surreal que eu jurava estar preso à ela...
Virei-me e encontrei seu olhar triste sobre o meu. Kate estava ali, em minha frente, como todos os dias e como eu sempre quis que estivesse... Parada e completamente vulnerável a qualquer movimento que eu fizesse, como uma louça que se quebra ao mínimo toque, e com seus olhos, que embora secos, ainda mostrassem o vermelho das lágrimas da noite anterior, lágrimas que foram derramadas supostamente por mim.
- Se eu pudesse, eu te abraçava. – Disse, enquanto olhava para minha própria roupa rindo. Não estava abraçável, digamos assim, devido às arrumações que fizera durante o dia.
- Vem cá. – Ela me chamou calmamente abrindo os braços, esperando por um gesto meu. Fui timidamente abraça-la e afastei-me logo a seguir, vendo surgir um sorriso engraçado da parte dela. - Eu esperei por você o dia todo.
- Georg está precisando de ajuda aqui e você sabe como ele é, não gosta de gastar, então eu estou o ajudando... - Ri enquanto ela olhava com curiosidade para minhas roupas. - Bom... Tentando ajudar. - Finalizei rindo também.
- Festa? - Indagou olhando para a casa.
- Ah não... Não. – Menti. - Ele quer reconquistar a Sophie, então vai fazer um jantar romântico para ela, essas coisas.
- Por que não foi me ver? –Virou-se caminhando pelo jardim e eu a acompanhei.
Que resposta dar, essa era a única pergunta que passeava em minha mente, dizer a verdade era completamente inadequado e fora de questão naquele momento.
- Eu... Bom. – Não conseguia balbuciar nada.
- Eu sou uma boba, eu sei. - Disse em tom choroso. - Você saiu ontem de casa e já estou reclamando, mas eu senti sua falta... - Riu dando de ombros e voltando a caminhar. - Nós sentimos a sua falta. - Finalizou olhando para o lago.
- Como ele está? - Perguntei tentando quebrar aquele clima estranho que tinha se imposto sobre nós.
- Você sabe como ele é, ri mesmo não querendo. Eu diria que ele está chorando, mas não quer deixar transparecer isso. - Falou tentando sorrir.
- Eu sei, pretendia falar com ele hoje, mas acho que não vou ao estúdio.
- Ele disse a mesma coisa. - Rimos – Mas, de qualquer forma, ele saiu com o Andy. Espero que volte um pouquinho melhor para casa.
Balancei a cabeça positivamente olhando para ela, me perdendo em seus traços perfeitos enquanto o silêncio tomava conta de nós outra vez.
- Quer entrar? – Perguntei e ela me olhou rindo, parecia animada com meu convite.
- Não... Eu já estou indo. – Olhou para o carro.
- É só um minuto... Vem? – Insisti pegando em sua mão - Quero mostrar a você a incrível casa de vidro do Georg.
- Ta bom. – Aceitou, olhando novamente para mim.
Deixei que entrasse em minha frente, queria vê-la perdendo-se nos detalhes da casa e assim foi, Kate parecia encantada com cada detalhe ali, da lareira à visão indescritível que tínhamos para o lago... Olhando para ele como se estivesse hipnotizada, ela disse...
- É linda.
- Sim. – Concordei mesmo que para mim a visão não fosse da casa e menos ainda do lago, ainda assim era linda.
- Difícil não se apaixonar... Eu o entendo. – Continuou.
- Muito difícil. - Respirei fundo novamente, concordando com ela, que se virou encontrando meus olhos presos nela, e não em uma visão qualquer.
- Tem alguma bebida nesta casa que não seja com álcool? – Bateu com seu pé em uma das caixas de Wiskey que estavam espalhadas pela casa.
- Sim, café... Quer? – Falei indo até o armário pegar duas canecas.
- Sim, obrigada. - Sentou-se, colocando suas mãos sobre a bancada enquanto eu servia nossos cafés.
- Está ruim? – Perguntei sentando-me em sua frente, vendo-a fazer uma careta.
- Imagina. – Riu.
- Na verdade, eu sei que está ótimo. - Debochei.
- Hum, você é muito convencido, isso sim. – Riu socando meu braço.
- Só um pouquinho. – Continuei rindo parando para olhá-la.
Um clima engraçado para um momento triste, digamos que seria assim que eu descreveria se pudesse. Nossas mãos sobre a bancada procuraram praticamente sozinhas uma pela outra, tocando-se como desconhecidos que de certa forma eram. Olhei em seus olhos encontrando os mesmo marejados, assim como acreditava que os meus estivessem também.
- Posso... Posso te contar um segredo? - Olhou-me - Ontem... Quer dizer, hoje de madrugada, eu fui até ao seu quarto... Eu não sei, talvez achasse que você pudesse estar lá e que tudo isso não tivesse passado de um pesadelo... – Suspirou voltando a olhar nossas mãos, apertando-as ainda mais.
- Posso te contar o meu? – Pedi suspirando igualmente ou até mais do que ela - Quando eu acordei hoje de manhã, eu... Lembrei de você... E de todas as manhãs que tomávamos café juntos... - Respirei fundo tentando não deixar minha voz embargada. – Acho que vou passar por isso todos os dias... - Ri enquanto a olhava tocar minhas mãos.
- O quê? – Perguntou timidamente, deixando uma lágrima escorrer por seu rosto.
- Ficar vendo você em todo canto... – Respirei fundo tentando não encará-la .
- Imagina... – Disse levando sua mão até meu rosto, obrigando-me a olhá-la - Pior sou eu que não posso vir correndo te encontrar... - Respirou fechando seus olhos - Sabe... Toda vez que eu ficar com saudades. – Finalizou.
- Vem cá... Vem? – Puxei-a para mim, abraçando-a finalmente como ela merecia, como eu merecia, sentindo-a respirar pesadamente em meus braços, enquanto eu apenas tentava esconder que chorava... Apoiando meu rosto em seu casaco, tentando limpar as lágrimas que teimaram em cair, fui afastando meu rosto de vagar até encontrar o seu perigosamente perto, respirando profundamente, sentindo o seu cheiro tão próximo ao meu, enquanto umedecia seus lábios em um prelúdio para um beijo que jamais poderia acontecer, mas que ainda assim era desejável e extremamente necessário.