Vigésimo Terceiro Capítulo • Black Keys
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O ultrassom estava marcado para a parte da tarde, e ela levaria um atestado para o trabalho. Trabalho esse que estava a sugando, já que por causa da gravidez ela estava se sentindo cada dia mais cansada e sonolenta. Sem contar os enjôos que mesmo com os remédios não passavam por nada. Depois de alguns dias pensando no que faria com a situação, %Paloma% resolveu que teria a criança, afinal de contas ela adorava as mesmas e bom, ela sentia que havia sido imprudente e que a criança que carregava no ventre não deveria pagar por um momento de inconsciência dela. Estava há dias tentando contar aos pais que estava grávida, mas nunca sabia como o fazer.
E pensava em Suga todos os dias. Havia decidido com a ajuda de %Jaqueline% que ele precisava sim saber da gravidez, e depois ele que decidisse como lidar com isso, mas %Paloma% estava decidida a criar a criança com a presença dele ou não.
%Paloma% se sentou no sofá do apartamento, sozinha enquanto pensava no quanto sua vida mudaria dali para a frente, ela fechou os olhos imaginando como o filho ou filha seria.
Será que ele teria os traços dela? Ou seria mais parecido com Suga? Ao abrir os olhos novamente, ela pediu mentamente que se Suga não fosse um pai presente, que a criança se parecesse com ela.
%Jaqueline% ia acompanhar a amiga no primeiro ultrassom e elas iam se encontrar lá então ela resolveu que iria preparar um almoço saudável, afinal de contas agora ela não poderia mais viver de fast-food e besteiras. Preparou o almoço com calma, foi interrompida algumas vezes pela sensação ruim do enjôo matinal. E então almoçou, enquanto pensava hora ou outra na vida dali para frente: pensava em como Suga e os pais reagiriam a notícia, pensava em como ela faria para sustentar ela e a criança, mas teria a ajuda da amiga. E quem sabe a de Suga também?
O ultrassom estava marcado para às dezessete então ela resolveu lavar as louças e dormir um pouco. Acordou com o despertador a alertando, então se levantou e foi tomar um banho. Chorou um pouco enquanto colocava a mão sobre a barriga. Não estava mais sozinha e ao mesmo tempo em que aquilo a reconfortava, a desesperava absurdamente. Saber que seria mãe aos vinte e seis anos, sem estar com um emprego estável, sem saber direito quem era o pai da criança e nem como ele reagiria à notícia, sem saber se ele a ajudaria… saber que agora a vida dela nunca mais seria a mesma… Estava apavorada!
Conferiu se estava tudo o que ela precisava dentro da bolsa, pegou alguns papéis restantes e os guardou lá. Pegou a chave do apartamento que estava sobre o balcão, trancou o apartamento e guardou a chave no bolso. Desceu os dois lances de escada e se despediu do porteiro do prédio. %Jaqueline% já estava na clínica, e esperava a amiga com um sorriso cansado no rosto. Ela vinha trabalhando muito e ainda estava sempre a disposição da amiga, ouvindo os choros intensos das madrugadas, mal dormindo também. Amava muito a amiga, e seria eternamente grata à ela por tudo que estava fazendo.
%Jaqueline% acariciou as costas de %Paloma% , cumprimentando-a.
- Como passou? - questionou ela enquanto elas adentravam a clínica -
- Alguns enjoos, mas nada de mais! Até fiz almoço hoje, acredita? Preciso começar a mudar minha alimentação, né?
- Que orgulho! - %Jaqueline% sorriu voltando a acariciar as costas da amiga - Isso aí!
%Paloma% informou à recepcionista o motivo de estar lá e após um rápido cadastro ela pediu que elas aguardassem que logo logo %Paloma% seria chamada.
- Você vai contar hoje pro tal Suga?
%Paloma% se estremeceu ao lembrar da decisão de contar ainda hoje sobre a gravidez para ele.
- Vou sim! Não quero adiar mais isso não, tá me matando por dentro!
- Eu vou com você se quiser! - %Jaqueline% colocou a mão sobre a da amiga -
- Não precisa, %Jaque%! Acho que tenho que fazer isso sozinha e também não pretendo demorar muito!
%Paloma% ouviu seu nome ser chamado e ela e %Jaqueline% adentraram a sala. Como %Paloma% estava com apenas 6 semanas de gestação seria feito um transvaginal, onde o médico ou médica já poderá observar o saco gestacional. Também consegue verificar se não ocorreu uma gravidez ectópica e identificar os batimentos cardíacos do feto. Com seis semanas o feto tem o tamanho de um feijão. Seus grandes olhos, são desproporcionais ao tamanho da cabeça, ainda não tem pálpebras e as narinas começam a aparecer. Enfim, está ficando mais parecido com um bebê. Essas foram as palavras da própria médica.
%Paloma% sabia que aquele ultrassom pouco revelaria, ela somente queria deixar bem claro para Suga que não estava inventando nada, que aquilo de fato era real.
%Paloma% sentiu os olhos marejarem levemente enquanto a médica ia fazendo o exame e dizendo algumas poucas coisas que já eram possíveis de saber. %Jaqueline% sentiu um quentinho no coração quando ela e %Paloma% trocaram um olhar de cumplicidade.
Assim que as duas deixaram a clínica com o exame já em mãos, %Paloma% abraçou a amiga com força.
- Amiga, vai correr tudo bem! To torcendo! Qualquer coisa me liga tá?
- Tá bom %Jaque%! Obrigada mais uma vez, por tudo!
As duas se despediram e %Paloma% entrou no carro que havia pedido. Respirou fundo enquanto sentia as veias da cabeça começarem a dilatar, ela então passou as mãos pelas têmporas. Não sabia direito o que estava fazendo, estava agindo no automático. Havia repassado aquela cena tantas vezes na cabeça, havia ensaiado o que diria em todas elas, mas agora ela estava atônita.
Assim que desceu do carro, ela passou os olhos pela fachada do prédio. Será que ele aceitaria falar com ela? Atravessou a rua, enchendo o peito de ar, tentando tomar coragem. Assim que abriu a boca para falar com o porteiro, ela o vislumbrou caminhando rumo à portaria. O chão parecia ter sumido abaixo de seus pés, e as mãos dela começaram a suar. A boca ficou seca e o medo nunca havia sido tão real quanto agora.
O olhar dele cruzou com o dela, e ele empalideceu. Será que a havia reconhecido? Ele parou de caminhar e estendeu a mão para trás, %Paloma% direcionou o olhar para lá e viu uma moça, provavelmente da idade dela ou menos. Ela tinha a pele negra e os olhos mais brilhantes que %Paloma% já havia visto. O cabelo estava numa trança, e ela segurou a mão se Suga enquanto ria de algo.
Quem seria ela? %Paloma% então passou a língua pelos lábios e saiu da guarita da portaria, esperaria por ele fora de lá. Assim que ela ouviu o barulho do portão bater, deu de cara com os dois.
Suga tinha os olhos arregalados e %Paloma% sentiu vontade de sair correndo. Mas agora parecia um pouco tarde demais.
- Suga? - ela chamou enquanto coçava a nuca -
A moça que o acompanhava, tirou os olhos de %Paloma% e pousou em Suga. Os dois estavam com as mãos dadas. %Paloma% presumiu que ela seria a namorada que havia terminado com ele na época dos fatos. Eles haviam voltado?
- Eu preciso falar com você! A sós se possível! É um assunto um pouco delicado.
%Paloma% voltou a coçar a cabeça. Suga soltou o ar que parecia preso em seus pulmões há dias. A garota que o acompanhava direcionou o olhar para %Paloma%, e então voltou a olhar Suga, que tinha as mãos geladas agora.
- Você a conhece? - ela questionou -
%Paloma% cruzou os braços abaixo dos seios, e olhou para dentro dos olhos de Suga. Ela estava curiosa para saber o que ele diria.
- Conheço! - %Paloma% mordeu o lábio -
- Olha, nós não temos nada para esconder um do outro! Pode falar! Não é,
amor? Suga ainda com os olhos arregalados, assentiu positivamente com a cabeça. O que ela estava fazendo ali na porta do prédio dele, depois de basicamente dois meses? Como ela ainda se lembrava? Tanto dele, quanto do endereço do local? E como era mesmo o nome dela?
- Tudo bem! Suga, eu estou grávida! - %Paloma% cuspiu as palavras enquanto erguia a mão com o envelope contendo os exames - Aí está o ultrassom e todos os exames de sangue que eu fiz comprovando. Tem meu telefone aí também, para quando você processar a informação e resolver tudo com a sua namorada, me ligar, caso queira fazer um exame de DNA, enfim caso queira se inteirar melhor.
A garota agora tinha os olhos mais arregalados que os de Suga, que estava em estado quase de choque com a informação. A cabeça dele fazia barulhos, e sua vista começa a embaçar. Ele não conseguiu nem pegar o envelope, quem o fez foi sua namorada.
- Passar bem! - e ela então pôs-se a caminhar -
A cabeça dela também girava depressa, e ela só queria ir para bem longe dali. Sentia um misto de emoções dentro de si. Uma espécie de alívio por finalmente tê-lo reencontrado e contado tudo, sentia raiva por ele ter voltado com a namorada logo agora, sentia raiva por ele não ter tido nenhuma reação e sentia medo, um medo quase palpável de como as coisas seriam dali para frente, então ela se permitiu chorar.
Suga encarava a namorada, ainda estático e sem saber o que falar. Era muita informação e ele sentia a cabeça doer. A vista ainda estava embaçada.
- Será que você pode me explicar que porra foi essa?
- Não! - ela esbravejou enquanto abria o envelope - Você consegue me explicar? Isso é alguma brincadeira de mal gosto Yoongi? Só pode. Fala alguma coisa!
- Eu não sei Charlotte! - Suga passou as mãos pelo rosto, completamente atônito - Vamos conversar lá em cima, com mais calma!
Charlotte concordou. Já no apartamento do rapaz, ela terminou de analisar os exames, enquanto Suga fumava seu segundo cigarro.
- Você pode por favor me dizer que isso aqui é mentira? - os olhos de Charlotte marejaram -
- Pode ser que seja! Esse filho pode não ser meu! Só um DNA pode nos dizer isso!
- Suga, como assim? Você me traiu com essa garota? Vocês de fato tiveram algo?
- Tá maluca! Faz as contas Charlotte! Nós estávamos terminados, você se esqueceu que ficou uma semana terminada comigo? Você disse que nunca mais era para eu te procurar, e eu te procurei, lembra? E muito! Mas você me bloqueou de todas as redes sociais, você não atendeu às minhas ligações! Você terminou comigo, com todas as letras!
- E aí em uma semana você já estava transando com outra?
Suga fechou os olhos com força.
- Eu estava bêbado e com raiva! E ela também! Eu nem me lembro o nome dela! Ela não tinha significado nada para mim! Foi só sexo!
- E agora você vai ser pai! - Charlotte levou as mãos à boca, incrédula - Yoongi, você percebeu a gravidade dessa situação toda?
- Claro que eu percebi Charlotte!
- E vocês nem usaram proteção, caramba Yoongi!
- Eu estava bêbado Charlotte! Eu mal me lembro do que aconteceu naquela noite! E nós não sabemos se essa criança é mesmo minha! Vamos fazer o DNA!
- E se for sua? - Charlotte o encarou séria, ficando frente á ele -
Suga estava desesperado, mas não deixaria que ela percebesse.
- Yoongi, essa garota não ia mentir uma coisa dessas! Ela não tem motivo nenhum, afinal de contas você é um desconhecido para ela da mesma forma que ela para você! Ela me pareceu confiante demais!
Suga respirou fundo, deu mais uma longa tragada em seu cigarro.
- Como assim vai embora? - ele segurou um dos braços dela enquanto se desfazia do cigarro rapidamente -
- Vou para a casa dos meus pais, eu nunca deveria ter saído de lá!
- Charlotte, por Deus! Você nem sabe se esse filho é meu!
- Indepedente Yoongi! Você me magoou o suficiente já! E outra coisa? Até quando nós dois vamos ficar fingindo que funcionamos juntos?
- Charlotte, do que você tá falando?
- Você sentiu desejo por outra, certo?
- Eu estava bêbado, por Deus! - ele a segurou com força pela cintura - Não significou nada, e eu não traí você!
- Suga, quantas vezes nós já brigamos feio por motivos diversos desde que voltamos? Quantas noites você dormiu no quarto de hóspedes? E agora isso! Nós simplesmente não funcionamos, e saber disso tudo, é demais para mim! Não dá!
Charlotte empurrou Suga com as duas mãos espalmadas em seu peito e foi para o quarto. Ele foi atrás, ainda sem reação.
- Se você sair dessa casa de novo, será de uma vez por todas Charlotte! Chega!
- Sim Yoongi, será! Pode ter certeza! - ela respondeu enquanto arrumava as roupas numa mala - Eu venho buscar o restante depois!
Yoongi balançava a cabeça atônito enquanto andava de um lado para o outro no corredor. Charlotte passou por ele com uma pequena mala nas mãos e ele foi atrás dela.
- Charlotte, isso é loucura! Você está me penalizando por algo que não tem sentido!
- Para mim tem Yoongi! Eu me conheço, não vou conseguir perdoar você!
Yoongi voltou a balançar a cabeça em negativa.
- Escuta! - ela segurou o rosto dele - Me prometa que vai fazer o DNA, e que não vai deixar essa garota cuidar desse bebê sozinha se ele for seu? Não é justo com ela.
- Claro que se esse bebê for meu, eu estarei presente na criação dele! Eu posso parecer não ter coração, mas tenho Charlotte! Eu não vou deixar a garota desamparada se for mesmo meu! E você pode me ajudar!
Ele voltou a segurar a cintura dela, que balançou a cabeça em negativa.
- Resolva todos os seus fantasmas Suga! E seja homem para assumir e lidar com as consequências das atitudes que você tomou, sóbrio ou não! E se puder me dê notícias do bebê!
Ela beijou demoradamente a bochecha dele, destrancou a porta do apartamento e jogou a chave do mesmo sobre o sofá e saiu deixando Suga sozinho.
Yoongi bufou alto enquanto pegava os exames que estavam também sobre o sofá. Vislumbrou os mesmos, leu os laudos, e voltou a jogá-los sobre o sofá. E então pegou o papel branco bem cortado e leu o nome e o telefone escritos no mesmo com uma linda caligrafia. O nome dela era %Paloma%…
Yoongi salvou o número dela no celular e então jogou o papel de volta no sofá. Foi até a cozinha e pegou uma das garrafas de vinho que ele tinha, precisava beber ou enlouqueceria. Estava sozinho outra vez. Se sentia vazio e muito chateado por não ter tido a compreensão da namorada, ou melhor, ex namorada outra vez! Ele não a havia traído, e %Paloma% não havia significado nada! Porque diabos ela não podia passar por cima daquilo e ajudá-lo com toda a situação? Era o que ele esperava. E se esse bebê fosse mesmo dele? O que ele faria? Não se sentia preparado para ser pai. Bebeu um gole da taça de vinho e então balançou a cabeça ainda atônito. Amanhã estaria pensando com mais clareza, e decidiria o melhor momento de procurar %Paloma%.
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