Terceiro Capítulo • Just One Day
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Adentrou o bar sozinha. O lugar estava lotado, já não haviam mais mesas disponíveis e %Paloma% se espremeu entre as mesas e algumas pessoas em pé, e foi para o balcão. Sentou em um dos bancos e piscou para Jack, amigo de anos que trabalhava na
Bodega de la Ardosa, bar em que se encontrava. Sempre que queria afogar as mágoas e ficar sozinha – isso quando trabalhava na parte da manhã – era para lá que ela corria.
– O de sempre, bebê? – exclamou Jack limpando um copo com um pano de prato.
– Sim, por favor! Eu preciso muito hoje!
O amigo se afastou para preparar a gin tônica de %Paloma% e ela virou seu corpo e rosto olhando as pessoas no bar. Será que todos ali estavam felizes? Ou será que assim como ela todos estavam ali para se distrair e esquecer momentaneamente os fracassos e as frustrações?
Jack voltou com o drink e eles logo engataram uma conversa, parando rapidamente quando ele atendia uma pessoa ou outra. Abaixou a cabeça sentindo a visão começar a ficar turva e resolveu pegar um ar na área externa do bar. Se sentou ao lado de um rapaz, que ela achou que estivesse dormindo, pois sua cabeça estava escorada no assento do sofá e havia tantas garrafas de cerveja por ali que %Paloma% parou de contar na quinta. Ela olhou novamente para o mesmo de canto de olho e pode ouvir ele resmungando alguma coisa, ela resolveu pegar o celular para não incomodar o moço.
O rapaz abriu os olhos, vislumbrou %Paloma% sentada a seu lado pelo canto dos olhos, se ajeitou no sofá. Um dos garçons do bar passou e o rapaz o chamou pedindo mais uma cerveja, e ele então cutucou %Paloma% desajeitadamente com uma das mãos e %Paloma% olhou para ele. Ele era bonito! Tinha o rosto delicado, o nariz pequenininho, a boca também. Os olhos eram puxados, será que ele era daqui?
– Vai querer alguma coisa? – ele perguntou.
– Ah, por favor! Vai? Bebe comigo! Estamos os dois aqui abandonados nesse sofá! Traz uma cerveja pra ela!
%Paloma% franziu a testa e fez uma careta na direção do moço. Ele olhou para ela e sorriu. %Paloma% não aguentou e começou a rir, ele ficou fofo.
– Eu sou o Suga! – ele estendeu a mão.
%Paloma% fitou a mão dele estendida em sua direção, ele se aproximou mais dela no sofá fazendo com que o quadril dos dois se chocassem levemente.
Suga? Que tipo de nome era aquele?
– E eu sou a %Paloma%! – ela pegou na mão do estranho e balançou.
Ficaram um tempo com as mãos dadas e se olhando. Ele realmente era bonito! E Suga pensou a mesma coisa. Ela tinha as bochechas rosadas, usava um batom vermelho. Olhou os lábios da mesma e achou eles incrivelmente bonitos. Quando o garçom voltou com as cervejas, os dois se deram conta que ainda estavam segurando as mãos um do outro e soltaram rapidamente, um pouco envergonhados.
Os dois pegaram a garrafinha long neck e tomaram um longo gole. Depois Suga olhou para %Paloma%.
– Por que você tá aqui sozinha?
%Paloma% resolveu olhar para ele também. Aquela pergunta era muito pessoal, mas ele era um estranho, estava bêbado e eles nunca mais se veriam depois dali.
– Porque quando me sinto um fracasso, gosto de vir para cá sozinha para beber e espairecer.
Suga assentiu dando mais um gole da cerveja.
– E por que você está se sentindo um fracasso? – ele voltou a mirá-la.
Os olhos dele, mesmo fechadinhos eram intensos. %Paloma% sentiu um arrepio correr por sua espinha e bebeu mais um pouco.
– Você quer mesmo saber? – ela perguntou escorando a cabeça no sofá e fechando os olhos.
Suga passou a observar o rosto da garota, os traços fortes do rosto, o nariz arrebitado, um piercing estava preso ali, ele achou bonito.
– Claro que quero! A não ser que você não goste de desabafar com um estranho no bar que provavelmente nem vai lembrar! – ele deu de ombros.
%Paloma% continuou com os olhos fechados.
– Eu me formei há dois anos atrás em Pedagogia, e sempre foi meu sonho dar aulas para crianças, sabe? – ela abriu os olhos para ter certeza que Suga ainda estava lá.
Ele fez uma careta e bebeu outro gole.
– Nossa, crianças são difíceis! – ele balançou a cabeça.
– Não são! – ela se ajeitou no sofá – Você só precisa saber como tratá-las, como brincar com elas! Elas são muito mais fáceis do que nós adultos, cheios de prisões mentais, cheios de exigências.
Suga pareceu pensar no que a garota disse, e fez outra careta.
– Não sei. Pode ser! Mas e aí? O que rolou?
%Paloma% suspirou voltando a se jogar no encosto do sofá.
– Eu não consigo emprego na minha área de jeito nenhum! Eu já tentei de tudo, mas ninguém me dá uma oportunidade. E para completar, meus pais não me ajudam mais e eu só consegui um emprego de garçonete!
Suga soltou uma risada, cuspindo a cerveja que estava em sua boca e assustando %Paloma%.
– Ei! – ela lhe deu um tapa nas costas – Saiba que é um emprego muito digno!
Ele levantou os braços e as mãos, se rendendo.
– Me desculpe, foi muito indelicado da minha parte, mas é que da forma que você falou ficou engraçado. Me desculpe mesmo, %Paloma%!
Suga balançou a cabeça tentando não rir novamente.
– E você? Tá fazendo o quê aqui, sozinho e bêbado como um gambá?
Suga passou a língua pelos lábios – uma mania que ele tinha desde a adolescência – tomou mais um longo gole da cerveja e viu %Paloma% fazer o mesmo.
– Tive uma briga feia com minha namorada, ou melhor, ex namorada e ela saiu de casa.
%Paloma% não sabia o que falar. Nunca tinha tido um namorado sério, nunca tinha se apaixonado de verdade por alguém, então era uma péssima conselheira amorosa.
– E você já procurou ela, desde o ocorrido? – se contentou em questionar. Suga assentiu que sim.
– Um milhão de vezes! Mas ela não me atende e não responde minhas mensagens.
– Já foi na casa dela? – %Paloma% voltou a jogar a cabeça no encosto do sofá preto.
Suga riu, bêbado, e %Paloma% o acompanhou, também já começando a ficar alterada.
– Capaz dela me expulsar de lá com pauladas! – disse Suga também se escorando no sofá, com a cabeça próxima a de %Paloma% e os dois de olhos fechados.
– Foi um vacilo tão sério assim, Suga?
– Acho que sim, eu não entendo!
– Vocês mulheres! – %Paloma% riu – Eu a amo, do meu jeito, mas a amo! E ela acha que não!
Os dois abriram os olhos e se encararam por alguns segundos. Quando se deram conta, os lábios dos dois já estavam grudados, num beijo com gosto de cerveja.
– Espera! – %Paloma% interrompeu o beijo segurando no rosto de Suga – Isso não é, errado?
Suga tomou outro gole da cerveja e fitou %Paloma%. Nunca a mais a veria, e Charlotte não queria mais saber dele, o que tinha de errado?
– Não. Não se nós dois quisermos! – ele deu de ombros.
%Paloma% terminou sua cerveja, olhou para Suga que também terminava a dele.
– Pode ser no meu apartamento? – questionou Suga arqueando a sobrancelha e se perguntando se aquilo não estava sendo tosco demais.
– Sim, eu moro com uma amiga, portanto...
Os dois sorriam, meio bêbados. Um ajudou o outro a se levantar – se é que isso era possível – e saíram bar adentro, escorando um no outro e tomando cuidado para que não se estabacassem no chão.
Suga pegou o celular no bolso, porém deixou o mesmo cair trincando a tela. Os dois começaram a rir, até que estavam se beijando novamente. Era estranho para Suga sentir os lábios e o gosto de outra que não fosse Charlotte, mas era gostoso!
– Deixa que eu peço aqui!
Suga digitou o endereço e logo eles estavam no apartamento do rapaz. %Paloma% avisou %Jaqueline% que não dormiria em casa, e compartilhou a viagem com a amiga. Afinal de contas, ela só sabia que ele se chamava Suga.