Quinto Capítulo • Broken & Beautiful
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Carregava uma mochila nas costas e duas malas. Afinal de contas ela não sabia quanto tempo passaria fora de casa. Primeiro resolveu que queria ir para algum lugar que tivesse praia. Sua cidade tinha praia, mas ela já conhecia as de lá e queria ver novos mares, pisar em areias diferentes, e sentir o vento de outro lugar bater em seu rosto e bagunçar seus cabelos.
Pegou um táxi e foi para sua pousada. Estava cansada, então pensou em chegar e dormir um pouco para recarregar as energias, depois iria ver o pôr do sol em alguma praia e andar um pouco. Afinal de contas, ela precisava daquilo.
O pôr do sol acalmava %Vivian%, era assim desde que era pequena, ela e seu irmão sempre assistiam, não importava aonde estivessem. O intuito de tudo isso era que %Vivian% pudesse entender melhor e aceitar a morte do irmão. Ela precisava aceitar que agora somente ficariam as lembranças, e precisava conviver com elas em paz, precisava que elas não a machucassem mais, para assim voltar para casa e para sua vida sem todo o sofrimento que isso causava. Ela não queria também perder mais ninguém, então não queria deixar mais ninguém se aproximar, pois sabia muito bem o quão doloroso poderia ser perder mais alguém.
Abriu a porta do quarto, bem simples. Uma cama de casal, pois estava acostumada a dormir em uma, um banheiro, uma televisão, a janela dava direto para o jardim da pousada, ficou ali admirando o lugar por um tempo, fechou os olhos sentindo o vento e o cheiro que a maresia trazia.
Não havia levado o celular, apenas o computador, pois precisava trabalhar pelo menos durante as manhãs. Resolveu mandar um e-mail para o pai e para as amigas para dizer que havia chegado ao seu primeiro destino e informar que estava tudo bem e não precisavam se preocupar. Sabia que as amigas e os pais estavam preocupados, mas pelo menos estava dando notícias de seu paradeiro, então se acalmou quanto a isso.
Resolveu tirar apenas os sapatos e se deitou na cama, fechando os olhos e sentindo o corpo relaxar gradativamente e assim adormeceu.
Acordou assustada, procurando pelo celular sobre a cama e se sentou. Abriu os olhos com dificuldade e se escorou na cabeceira da cama. Lembrou–se de onde estava e que não estava com o aparelho. Olhou as horas no relógio e percebeu que precisava se apressar se quisesse ver o pôr o do sol, então se levantou e tomou um banho. Vestiu–se de um short jeans, seu biquíni preferido e uma regata.
Caminhou pela avenida alguns quilômetros até chegar à praia, tirou os chinelos e colocou os pés na areia, fechou os olhos sentindo seu corpo ser energizado pelo quentinho da areia. Caminhou mais um pouco e sentou–se por ali mesmo em cima de sua canga. Tirou os óculos escuros e vislumbrou a imensidão azul e infinita do mar. Amanhã certamente tomaria um banho de mar, carregando ainda mais suas energias. Pensou no irmão, fechou os olhos, e lembrou deles juntos na praia.
%Vivian% gostava de vê-lo surfar, por horas. Depois os dois se sentavam, assim como %Vivian% estava, e conversavam até o sol começar a se pôr. Ali, ela chorou. Sem barulho, sem escândalo nenhum, sem alarde.
Ali, agora, aquela dor era só dela. Sem os pais por perto, sem os colegas de trabalho, sem as amigas. E ela precisava daquilo, precisava sentir aquela dor para que ela pudesse ir embora, mesmo que aos poucos.
Assim ficou até que o sol começasse a se esconder, vislumbrou a imagem como sempre fazia desde pequena, sentiu o coração apertar, mas de uma forma boa, como se fosse o irmão a tranquilizando. %Vivian% comeu um crepe de um sabor qualquer, afinal de contas precisava se alimentar.
Depois disso resolveu caminhar pela praia, sem rumo algum, só para pensar na vida, em como seria dali para frente. Até que avistou uma fogueira, um grupo de pessoas com violões, cantavam, dançavam, riam, pareciam estar se divertindo. %Vivian% cruzou os braços e ficou os observando, havia algum tempo que ela não se divertia daquela forma. Sentiu uma imensa vontade de se juntar a eles, mas como? Era uma garota estranha, desconhecida, não podia simplesmente chegar e se juntar a eles do nada.
Ficou mais um tempo os observando, até que uma garota de cabelos enrolados e com uma coroa de flores e colar havaiano veio em sua direção. %Vivian% se assustou e pensou que a garota certamente estava indo tirar satisfações com ela por estar bisbilhotando a festa deles.
– Oi! – ela disse acenando com a mão – Vem! O que vocês dois estão fazendo aí parados?
Dois? %Vivian% pensou. E só aí então ela viu um garoto bem alto e magro parado perto dela, ela nem tinha se dado conta. E ele parecia também estar observando o luau assim como ela.
A garota, até então desconhecida, segurou a mão de %Vivian% e do garoto e saiu os levando para onde estava a fogueira e todo o resto do pessoal. %Vivian% sorriu achando engraçado aquilo tudo, mas não se opôs.
A garota disse que eles podiam ficar à vontade, se sentar, dançar, comer e beber. E %Vivian% se sentou na areia perto do fogo, estava com um pouco de frio e havia saído da pousada sem uma blusa de frio, apenas com uma fina regata. Sentiu alguém se sentar ao seu lado. Se atreveu a olhar para a pessoa e viu que era o garoto que foi arrastado para o luau junto com ela, e uau, ele era muito bonito.
%Vivian% pôs–se a observar o rosto do garoto. O nariz, a boca, parou um pouco ali, a boca dele era de um vermelho tão intenso que Vivan podia jurar que ele usava algo para deixá-la naquela cor, e os lábios eram carnudos, os mais bonitos que %Vivian% já havia visto. Os cabelos eram bem pretos e ela reparou que ele era asiático ou descendente dos mesmos. Foi aí que os olhos dele se encontraram com os dela.
Jin sentiu o coração acelerar por debaixo da blusa que usava, e ele simplesmente não conseguia acreditar no que seus olhos viam ali. Ele engoliu seco e sua visão ficou turva, ele achou que ia desmaiar ali na areia da praia. Fechou os olhos, achando que agora a garota além de persegui-lo em sonhos, perseguia–o acordado também em alucinações. Assim que abriu os olhos, ela continuava ali na frente dele, o olhando assustada.
– Tudo bem, moço? – ela questionou.
O que estava acontecendo? Ela era real? Ele não estava alucinando? Como aquilo era possível? Ela era exatamente igual a garota que ele sonhava todos os dias. Jin estava tão perplexo que abriu a boca para falar, mas não conseguiu.
A garota então se aproximou dele, abanando Jin com as mãos, achando que ele talvez estivesse passando mal, e de certa forma ele estava mesmo.
– Moço? – ouviu ela questionar de novo.
Nada. Jin mal respirava e não conseguia reproduzir nenhum som. A menina então pediu para a garota que os levou até ali, pegar água, e ela mesmo não entendendo nada, o fez. %Vivian% entregou a garrafa para Jin, que aceitou e bebeu quase a garrafa toda de uma vez. A menina o olhava, apoiada em seus joelhos, ainda assustada.
Jin passou novamente os olhos por ela, e sim era ela! Ele tampou a garrafa e começou a tentar se acalmar, ou ela acharia que ele era maluco.
– Me desculpe! – ele finalmente conseguiu falar – Acho que minha pressão baixou! Obrigada pela gentileza da água.
Ele entregou a garrafa para ela que pegou e deu um gole. Depois os dois se olharam. Jin ainda não acreditava que estava de frente para a garota dos seus sonhos.
– Imagina! Você está melhor mesmo?
Jin sorriu, ainda nervoso. %Vivian% pensou em como ele conseguia ficar ainda mais bonito sorrindo.
– Estou sim! Muito obrigado, mesmo. – ele passou a língua pelos lábios – Qual seu nome?
%Vivian% já tinha ensaiado todo um roteiro para caso conhecesse alguém pelo caminho que questionasse seu nome. Não estava ali para criar laços, para paquerar, só queria se reconectar consigo mesma, aceitar a morte do irmão, pensar no que fazer dali para frente. Não contaria seu nome de verdade para ninguém.
Jin balançou a cabeça, encantado, com a boca meio aberta. Estava hipnotizado.
– E você? – “Olívia” questionou.
– Pode me chamar de Jin! – respondeu o moreno dizendo a verdade.
%Vivian% sorriu e estendeu a mão, Jin queria abraçá-la e dizer que sonhava com aquilo há meses, mas aí sim a garota o acharia um completo maluco, então ele apertou a mão dela. Os dois sorriam abertamente um para o outro, e engataram uma conversa.
Jin queria saber tudo sobre a garota que invadia seus sonhos todas as noites. O problema é que %Vivian% não havia falado a verdade de basicamente nada. Até que eles resolveram levantar um pouco, dançaram, beberam um pouco. Até que %Vivian% resolveu que precisava ir embora, estava ficando tarde.
– Eu levo você até onde está hospedada. É perigoso!
%Vivian% não queria ter que mentir mais uma coisa para Jin, ela havia gostado dele, ele parecia ser uma ótima companhia, mas realmente era perigoso ir embora sozinha aquela hora da noite numa cidade que não conhecia nada nem ninguém. Então aceitou. Assim que chegassem em alguma pousada perto da sua, ela diria que era lá e quando Jin fosse embora ela caminharia para sua verdadeira pousada.
– Você está sozinha, aqui? – Jin atreveu a se perguntar.
– Estou, vim sozinha! – ela olhou para ele.
Deus, como ele era bonito!
– Eu também vim sozinho. – ele jogou a isca.
%Vivian%, não era boba e percebeu o que ele estava querendo dizer.
– Se quiser, podemos nos encontrar amanhã! – mordeu o lábio com medo se arrepender.
Jin sorriu, como se fosse uma criancinha ganhando um presente.
– Eu posso vir te buscar na sua pousada.
– NÃO! – %Vivian% se exaltou e Jin se assustou.
– Imagina! Você tá longe daqui! Não vou me sentir confortável em te dar esse trabalho. A gente se encontra aqui nesta praia, perto do quiosque onde tava acontecendo o luau e decidimos para onde vamos, pode ser?
– Se você achar melhor, claro! Que horas? Umas nove?
%Vivian% assentiu que sim, e percebeu que sua pousada estava próxima, então parou de andar.
– É aqui! Prontinho, pode voltar para sua pousada. – ela sorriu sem graça por estar mentindo – Muito obrigada!
– Obrigado você também! Bom, então até amanhã! – ele levantou a mão dando um tchau sem saber direito o que fazer.
– Até! – %Vivian% retribuiu o aceno.
Jin não se aguentou e acabou depositando um beijinho rápido no canto da boca de %Vivian% e logo saiu correndo, tal qual mais uma vez como uma criança, e %Vivian% riu. Havia realmente gostado dele.