Nonagésimo Nono Capítulo • Love Maze
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- O que mais você acha que nós precisamos comprar?
- Mas tem que tomar cuidado com as velas Yoongi! Você mora num apartamento!
- Mas precisamos ter velas! O ritual não é o mesmo sem as velas!
- Tá certo! Vamos guardar essas compras lá no carro e a gente volta aqui para o shopping para achar as velas!
E assim %Paloma% e Suga guardaram as compras no porta malas do carro dele e de mãos dadas eles voltaram para o shopping em busca das velas. Hoje era o aniversário de morte da mãe dele, e conforme a cultura coreana, ele queria fazer o ritual de aniversário de morte da mãe exatamente da forma que a cultura de seu país natal exigia.
%Paloma% não entendeu muito bem quando ele explicou meio por alto sobre o tal ritual, mas o apoiou e disse que sim, participaria com ele. Então ele a buscou na casa dos pais e os dois foram ao shopping para comprar as comidas, frutas e tudo o mais que fosse necessário.
Já no caminho para casa, %Paloma% observava Suga dirigindo calado, ela sabia que ele estava triste. Passou as mãos pelos cabelos negros dele e então sentiu ele relaxar um pouco. Já no apartamento dele, os dois se encararam.
- Você quer que eu faça a decoração?
- Sim! Que aí eu vou cozinhar e preparar os pratos! Você se importa?
- Não! Eu só não sei direito como a sua mãe gostaria que fosse a decoração!
%Paloma% coçou a cabeça. Suga sorriu enquanto se aproximava dela, puxando-a pela cintura para colar o corpo dos dois.
- Minha mãe era uma mulher simples! Muito simples! Uma decoração qualquer já deixaria ela feliz, e emocionada…
%Paloma% balançou a cabeça para ele enquanto envolvia os braços em volta do pescoço de Suga.
- E aonde você quer que eu monte esse santuário? Você tem que pegar as fotos dela para mim, ou me dizer onde estão! Não tem que ter fotos dela?
Suga assentiu para ela que sim e então de mãos dadas os dois caminharam para o quarto de Suga. Ele abriu o guarda roupas e então retirou de dentro dele, lá bem do fundo uma caixa plástica, pequena.
Ele entregou para %Paloma%, que pegou a caixa com as duas mãos enquanto Suga se sentava sobre a grande cama de casal do quarto. %Paloma% o acompanhou logo em seguida.
- Eu não tenho muitas fotos dela, nem muitas fotos da infância! Não tínhamos muito dinheiro, as fotos que tem aí eu me lembro de terem sido tiradas por um dos patrões ricos da minha mãe, que gostava muito da gente!
%Paloma% assentia para ele, prestando atenção em todas as palavras que saíam de sua boca. Suga umedeceu os lábios e então entrelaçou uma mão na outra.
- Eu não tive uma infância fácil, muito menos uma adolescência! Eu saí de casa aos dezesseis, sem ter para onde ir e com pouquíssimo dinheiro, dinheiro esse que minha mãe me deu escondido do meu pai.
- Porque você nunca fala dele?
- Porque eu nunca o amei e nunca fui amado por ele! O meu pai era um doente! - Suga balançou a cabeça em negativa - Ele era alcoólatra e mantinha minha mãe presa num relacionamento completamente abusivo! Ela sustentava a casa sozinha, trabalhava o dia todo praticamente e quando chegava em casa, apanhava muito!
- A maioria das vezes sim! - Suga voltou a engolir seco - E eu fui crescendo com uma sensação de impotência muito grande, eu não tinha afeto dentro de casa, a minha noção de família era totalmente distorcida! Eu cresci sem acreditar no amor até conhecer a Charlotte, e depois você!
- Mas como eu disse para você, o meu senso desses sentimentos me fizeram errar muito no primeiro relacionamento! Eu nunca soube como demonstrar o que sentia e ainda não sei direito! Porque eu nunca recebi demonstrações claras de afeto durante muitos anos!
- O seu pai batia em você também? - %Paloma% colocou uma das mãos sobre a dele -
- Muito pouco! O problema dele era mais com a minha mãe! Eu amava a minha mãe!
%Paloma% viu os olhos dele marejarem pesadamente.
- E eu vi todo o sofrimento dela de muito perto sem poder fazer nada! E o meu pai sempre me dizia que homem não chorava, não sofria, que homens não podiam demonstrar fraquezas e todo aquele papo de masculinidade tóxica e frágil, então eu tenho muita dificuldade para chorar, para sentir de uma forma geral… Porque sempre que meu corpo quer demonstrar alguma fraqueza eu me lembro das palavras dele, me lembro da minha mãe!
Ele respirou fundo, como se estivesse engolindo o choro.
- Você sabe que não precisa mais segurar suas emoções comigo por perto, não é? Eu sei que é um processo difícil de ser quebrado, que é algo programado no seu cérebro por anos, mas eu sou sua companheira! Não vou julgar você por demonstrar suas emoções, isso não é uma fraqueza, é inclusive necessário para todos nós!
Suga apenas assentiu para ela.
- Eu sei! E te agradeço por isso! Mas eu realmente não sei se consigo ainda! - %Paloma% subiu a mão para o rosto bonito dele - Eu sinto muita falta da minha mãe e é como se eu me culpasse todos os dias por nunca ter tirado ela de lá! E eu me culpo por ter crescido assim, me culpo por tudo!
- Eu queria que adiantasse alguma coisa eu te dizer que não é sua culpa! Mas sei que por enquanto não vai adiantar, não é?
Suga voltou a assentir positivamente para ela.
- Eu não quero mais sentir isso! E não quero mais deixar todos esses fantasmas atrapalharem a gente!
- Você estar disposto a isso, já é um grande passo Yoongi! - %Paloma% acariciou o rosto dele -
- Eu achei que você fosse me deixar!
- Depois de você me contar tudo isso?
- Sim! - ele segurou a mão dela retirando-a de seu rosto -
Apertou a mão delicada de %Paloma% na sua com força.
- Não é fácil se relacionar com alguém com um passado como o meu!
- Você não tem culpa de nada do que aconteceu no seu passado Suga! O seu pai é o único culpado por tudo o que aconteceu e por todas as cicatrizes deixadas no seu peito! E eu estaria sendo injusta se deixasse você por causa disso! Não agora que sei o porque de você ser do jeito que é!
Os dois se abraçaram logo que %Paloma% depositou a caixa com as fotos sobre a cama dele. Suga fechou os olhos com força e inalou o cheiro bom que vinha dos cabelos castanhos dela. O peito dele subia e descia e %Paloma% passava as mãos pelas costas dele, tentando acalmar o coração dele. Ela entendia agora todos os porquês, todas as atitudes ou falta delas… o peito dele era um peito machucado.
- Eu estarei ao seu lado, se eu não puder encontrar a cura, vou consertar você com meu amor! Não importa o que você sabe, ou o que os seus traumas te dizem, vou consertar você com meu amor! E se você disser que está bem eu vou curá-lo mesmo assim! Prometo que serei a cura…
A ponta do nariz de Suga tocou a ponta do nariz dela e então os dois se beijaram bem devagar, com as línguas se encostando uma na outra. %Paloma% agora segurava o rosto dele entre as mãos enquanto Suga a apertava com delicadeza na cintura. O beijo continuava lento enquanto ela acariciava seu rosto. Quando os lábios se separaram, Suga grudou a testa na dela.
- Não quero perder você! - voltou a lhe apertar a cintura -
- Não pensa em nada disso agora! Não vai me perder! - os dois assentiram um para o outro enquanto voltavam a se beijar -
%Paloma% observou as fotos que haviam dentro da caixa enquanto Suga saia do quarto. Ele não se parecia em nada com a mãe, e sim com o pai. O que fez %Paloma% pensar que isso certamente só fazia os fantasmas na mente dele o perturbarem ainda mais a cada vez que ele se olhava no espelho. %Paloma% encheu os olhos de água ao pensar em toda dor que ele deveria sentir ao se comparar com o pai por ser parecido com ele.
Ela levou as poucas fotos que encontrou para a sala, em três fotos ela estava com Suga e havia apenas uma da mãe dele sozinho. Montou uma espécie de altar improvisado na sala do apartamento dele enquanto ele preparava o almoço. Assim que ficou pronto ela começou a acender as velas, fazendo um caminho com elas, que passava por basicamente todo o apartamento dele.
- Tem que tomar cuidado com essas velas! - ela observou o caminho formado pelas velas com as duas mãos na cintura -
- Pode deixar! Vou tomar cuidado! To quase acabando aqui, me ajuda a montar a mesa com as frutas?
Os dois montaram a mesa e então Suga foi até a sala e viu o altar improvisado que %Paloma% havia montado. O coração dele acelerou dentro do peito de saudades da mãe.
- Do que ela morreu? Você sabe?
- De causas naturais! - ele deu de ombros - Era o que estava na certidão de óbito quando eu a peguei! Eu só soube da morte dela porque uma das vizinhas me ligou quando aconteceu! O meu pai ficou um dia inteiro com o corpo dela em casa, sem se dar conta que ela havia morrido! - Suga balançou a cabeça em negativa, cerrou os punhos com raiva - Ele nunca serviu para nada além de nos causar sofrimento!
- Desculpe! Eu não devia ter perguntado isso! - %Paloma% passou as mãos pelas costas dele -
- Não tem problema! - ele olhou para ela - Hoje são quatro anos sem ela! Apesar de não ter convivido com ela da mesma forma dos dezesseis para frente eu sinto falta!
Os dois se sentaram perto da mesa de centro onde estava o tal altar e então Suga respirou fundo.
- O que a gente faz agora? - %Paloma% olhou para ele - Você faz isso todos os anos, para ela?
- Faço! - ele olhou para %Paloma% de volta - Mas esse ano eu tenho você!
- E a Charlotte? Ela não participava?
- Ela não sabia de nada! Eu nunca contei para ela! Ela só sabia que minha mãe tinha morrido e que eu não tinha nenhum contato com o meu pai! Nada do que você sabe, ela soube!
%Paloma% arregalou os olhos com a informação e então olhou para as fotos da mãe de Yoongi. Ela não fazia ideia do quão longe Yoongi havia a permitido entrar… apertou uma das pernas dele.
- Obrigada por confiar em mim dessa maneira!
- Eu já disse que amo você! Amo você!
%Paloma% encostou a testa na dele, tinha medo de se precipitar ao dizer que o amava de volta…
- E eu sei que você também me ama! Mas eu espero você se sentir pronta o suficiente para dizer em voz alta!
%Paloma% sentiu as bochechas se esquentarem e então Suga lhe beijou a ponta do nariz.
- Eu não sou um homem de muita fé, não sou de fazer orações, mas se você quiser fazer! - ele voltou a olhar para o altar - Eu costumo ficar alguns minutos em silêncio, então se quiser fazer alguma oração nesse período!
%Paloma% assim o fez enquanto Suga apenas olhava para as fotos da mãe em silêncio. Depois Suga começou a conversar com a mãe, como se estivesse há anos sem vê-la. Ele contou para ela como havia conhecido %Paloma%, contou de quando ela reapareceu para contar sobre a gravidez, contou para ela sobre como os dois resolveram ter o bebe, sobre quando descobriram sobre a complicação da gravidez, sobre o período que moraram juntos, sobre Hyuk, sobre a perda do filho… Nesse momento %Paloma% encheu os olhos de lágrimas outra vez. Suga conversava com a mãe como se ela estivesse lá, fazendo uma visita depois de muito tempo sem contato. Aquilo fazia o peito de Suga arder, mas ao mesmo tempo o confortava por dentro.
Ele segurou uma das mãos de %Paloma% e então apresentou a mesma para mãe, a enchendo de elogios. Aquilo era algo novo para %Paloma% e ela não sabia como agir, então apenas encarou Suga.
- Não precisa falar nada! Tá bom? - ele sorriu sem mostrar os dentes para a namorada - Não é sua cultura, é normal que você ache estranho e não precisa participar ativamente. Só de você estar aqui já é o suficiente.
Depois Suga contou para a mãe sobre os amigos novos, sobre o acampamento e sobre ter se reaproximado de Hoseok. Falou sobre o trabalho e sobre os planos de ampliar a clínica com os sócios. Em momento algum ele tocou no nome do pai e em momento algum ele falou sobre o passado ou sobre qualquer assunto que pudesse trazer dor.
Depois de conversar com a mãe, os dois se levantaram - ela com a ajuda dele - foram almoçar. Suga explicou que os pratos do almoço eram os preferidos da mãe e perguntou se %Paloma% comia todos eles depois de explicar os ingredientes contidos nos mesmos, e %Paloma% não se opôs a nenhum dos pratos. Suga montou um prato para a mãe e então depositou lá sobre a mesa, junto ao altar. %Paloma% sorriu, achando a cena incrivelmente bonita. Depois os dois almoçaram em silêncio, apenas sentindo a vibe do momento.
Os dois lavaram as louças juntos depois de comerem algumas frutas - e Suga levar alguns pedaços para o altar é claro - e então Suga observou as velas e o aroma que elas exalavam. Olhou para %Paloma% que agora passava as mãos pelas teclas do piano.
- Há quanto tempo você não pratica?
- Desde que saí daqui! - os dois se olharam -
- Ainda se lembra do que aprendeu?
Os dois se sentaram no banco de madeira escura que havia no piano e então Suga pediu que %Paloma% lhe mostrasse o que se lembrava e ela delicadamente o fez, morrendo de medo de errar na frente do namorado. Suga acompanhou os dedos delicados e finos de %Paloma% dedilhando as notas no piano e depois observou o rosto concentrado dela. Ele sorriu, deixando a gengiva aparecer, satisfeito em perceber que de fato %Paloma% não havia se esquecido. Ele se juntou a ela nas notas e juntos eles tocaram a primeira música que Suga havia ensinado para ela. Depois os dois praticaram mais um pouquinho, Suga aproveitou para ensinar novas coisas a ela, que parecia encantada. Suga se lembrou que todas as vezes que eles iam praticar, ela fazia aquela mesma carinha de encanto, e sorriu por gostar de ver a namorada se apaixonando pela mesma coisa que ele.
O celular de %Paloma% vibrou sobre o balcão e ela terminava de enxugar as mãos quando viu que era uma mensagem de %Jaqueline%. Hoje %Paloma% não trabalharia, havia ganhado uma folga, mas amanhã ela entraria no turno do almoço e teria a noite livre. Pelo horário, %Paloma% percebeu que a amiga já tinha o resultado do processo seletivo e provavelmente já sabia que se havia consigo o cargo novo ou não… Antes de ler a mensagem, %Paloma% fechou os olhos e pediu que a resposta fosse positiva! A amiga precisava de pelo menos uma notícia boa na vida, já que andava bem cabisbaixa.
-A %Jaque% conseguiu! - %Paloma% sorria para a tela do celular -
%Paloma% e Suga se abraçaram, comemorando pela amiga.
-Eu não tinha dúvidas que ela ia conseguir! O projeto que ela fez ficou incrível! Inclusive, o que virou dela e do V? Eles nunca mais se viram depois daquele dia do notebook dela?
-Não! Nunca mais se viram e nem se falaram! A %Jaque% diz que tá bem, que entende que o melhor é realmente os dois se afastarem, mas eu sei que ela ainda tá destruída por tudo que aconteceu, por ter perdido a amizade e o amor dele!
%Paloma% balançou a cabeça em negativa.
-E se a gente tentasse ajudar? - Suga deu de ombros - Porque eu acho que ele ainda gosta dela!
-Eu também acho! Mas sei lá, ele tá bem machucado ainda!
-Mas a gente pode tentar!
-E como a gente vai dar uma de cupidos? Tem alguma ideia?
Os dois se encararam por alguns segundos.
-A gente pode fazer algo parecido com o que ela fez pro Seokjin e para a %Vivian% no acampamento! Um jantar aqui em casa amanhã, mas um não pode saber do outro até eles chegarem aqui!
-Para de ser pessimista, %Palominha%! Poxa! É cinquenta por cento de chance de dar errado e cinquenta por cento de chance de dar certo! Para ela a gente dá a desculpa de que é para comemorar a promoção! E na verdade a gente pode mesmo comemorar!
-Eu invento qualquer coisa! O importante é os dois virem! E a gente pode inventar desculpas para deixar os dois sozinhos!
%Paloma% gargalhou com a ideia de Suga e especialmente com a empolgação do namorado. Concordou com a ideia dele e ficou responsável por chamar %Jaque% e ele por chamar V.
Depois de terminarem com as louças, os dois desfizeram o altar e Suga ficou um tempo observando a foto da mãe. %Paloma% se perguntou o que se passava pela cabeça dele enquanto ele observava a mãe.
-Espero que não esteja se culpando! Você sabe que ela não gostaria disso! Hoje não é o dia para se comunicar com ela, para agradá-la, para dizer coisas boas? Nada de pensamentos ruins Yoongi!
-Você falou que nem ela agora!
Os dois se encararam e Suga gargalhou, fazendo %Paloma% o acompanhar.
Depois, os dois apagaram as velas, %Paloma% recolheu as mesmas do chão e então as jogou fora. Os dois passaram o resto do dia agarrados no quarto de Suga, vendo TV. Quando começou a anoitecer ele falou para ela que a levaria para casa para que ela pudesse descansar, já que trabalharia no outro dia!
-Eu não estou cansada! - ela fez um bico nos lábios e suga o apertou - Eu não posso ficar aqui?
-Dormir aqui, você diz? - %Paloma% viu os olhos dele brilharem -
-É! Você tinha dito que eu dormiria aqui todos os finais de semana!
Suga riu com a forma em que ela falava, parecendo uma criança que estava sendo contrariada pelos pais.
-Eu só achei que talvez você preferisse dormir em casa por ter que trabalhar amanhã cedo! Mas você pode dormir aqui todos os dias se quiser… essa casa é sua também!
Ele depositou um beijo demorado na testa dela. %Paloma% terminou de se ajeitar na cama dele e então Suga passeou os olhos pelo rosto limpo dela.
-Segura a minha mão… - ele pediu e %Paloma% assim o fez, desviando o olhar para ele - Não solta nunca!
Ela riu para ele, pensando que agora ele parecia uma criança.
-Nós estamos tomando conta um do outro.Eu sempre penso, mesmo que a eternidade seja difícil eu quero fazer isso, vamos ser para sempre!
%Paloma% voltou a gargalhar e então grudou os lábios nos dele.
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