Hidamari

  %Flow% está no palco da cidade de Berlin, Alemanha. O público ferve em gritos pela apresentação sempre impecável deles.

  Apesar de estar suando e de sentir uma dor nas costas que não passa, %Kohshi% continua cantando e animando o público com o mesmo entusiasmo do início do show. Ao seu lado, um pouco afastado, está %Keigo%, seu parceiro de canto e amigo. O rapaz é o mais animado no palco, mesmo sentindo dor no joelho.

  — Obrigado, Berlin! — grita %Kohshi%, em %japonês%, ao fim do show.

  Todos os membros da banda vão para frente do palco e se curvam em agradecimento ao incrível show e ao carinho que recebem do público. Saem do palco e vão direto para o camarim. O momento que %Kohshi% e %Keigo% mais esperaram durante todo o show.

  — Vocês parecem duas velhas com dores — brinca %Take%, irmão mais novo de %Kohshi% e guitarrista da %Flow%. — Precisam se exercitar mais — completa ele observando %Kohshi% estirado no sofá, com a cara enfiada nas almofadas, enquanto %Keigo% senta-se na cadeira e estica a perna, sentindo o joelho estalar.

  — Eu me exercito todo dia pela manhã — comenta %Keigo% com certo orgulho de seu lado fitness.

  — Você, eu sei — diz %Take% e vira o olhar para o irmão em seguida —, mas esse aí — aponta para %Kohshi% — só sabe jogar o dia todo de folga.

  — Eu faço o que eu quero na minha folga, %Take%! — a voz de %Kohshi% sai abafada, pois ele ainda mantém o rosto nas almofadas.

  — Não te ouvi, mas sei que está dando uma desculpa desaforada — ele ri e caminha até o irmão. — Quer massagem? — questiona ele. %Kohshi% vira o rosto para encarar o irmão.

  — Com suas mãos de pedra? Não, obrigado — %Kohshi% volta a fechar os olhos e sente as costas reclamarem. Ele geme de dor.

  — Então fique com dor. Ranzinza! — diz %Take%, rindo e volta à mesa de petiscos apanhando uma porção de queijo.

  — Só estou com dor no joelho, normal porque eu tenho uma lesão nele — defende-se %Keigo%, retomando o assunto.

  — Você fala nessa lesão o tempo todo — brinca %Take% falando de boca cheia e sentando-se no chão em frente ao sofá onde %Kohshi% está deitado. — Não cansa, não?

  — Não tenho culpa de ter essa lesão — ele diz.

  — Na verdade, tem sim — %Take% coloca mais um pedaço de queijo na boca. — Se não bancasse o jogador de futebol, nada disso teria acontecido — os demais concordam, rindo.

  — Yah! Mas eu sou jogador, ué — diz %Keigo% e %Take% solta uma gargalhada.

  — Conta outra, %Keigo%! Você enrola mais do que joga.

  — Tenho que concordar com o %Take% — %Kohshi% levanta o rosto e diz, recebendo um olhar fuzilante do amigo.

  — Falou o super atleta — debocha ele, em defesa de si mesmo.

  — O atleta online — %Take% completa o deboche e recebe um cascudo do irmão.

  — %Kohshi%!

  — Vocês têm inveja de eu saber jogar melhor que vocês.

  — De que adianta saber jogar online se você não tem uma namorada? — provoca %Keigo%.

  — E de que adianta ser um pseudo-atleta e malhar todo dia se você também não tem uma namorada? — rebate %Kohshi%.

  — Nenhum dos argumentos faz sentido — fala %Take%. — Vocês dois estão solteiros porque não estão abertos a ter uma relação de verdade.

  — E você está, irmãozinho?

  — Estou — %Take% dá de ombros. — Tanto que estou quase namorando — a revelação dele espanta a todos.

  — Com quem? Ela sabe que estão namorando? — brinca %Keigo%, rindo.

  — Claro que sabe, seu idiota — ofende-se o mais novo e completa: — Ela se chama Aimi.

  — Hm... Aimi-chan, e ela existe mesmo ou é um delírio da sua mente?

  — Cala essa boca, %Kohshi%! — grita %Take%, irritado enquanto todos riem dele.

  — Estamos brincando, %Take% — %Kohshi% dá um tapinha no ombro dele, ainda deitado no sofá. — Estou feliz por você, irmãozinho.

  — Obrigado — agradece ele com um sorriso.

  Nesse momento, o empresário da %Flow% entra no camarim e é cumprimentado por todos os integrantes, o homem tem um semblante contente. Vem notícia boa por aí.

  — Bom que todos estão aqui, tenho uma boa notícia para dar — diz ele, animado.

  — Então fala, Mori-san — diz %Keigo%, ansioso.

  — Lembram do grande evento no Brasil que comentei com vocês?

  — Sim, em Salvador, certo? — questiona %Kohshi%, que ainda está deitado com o rosto virado para o lado, ainda sente muitas dores nas costas.

  — Hai, recebi a ligação dos organizadores do evento e eles confirmaram o interesse no show de vocês nos dois finais de semana! — anuncia ele, animado.

  — Wow, incrível!! — todos dizem fora de ordem e tão animados quanto o sr. Mori.

  — E quando será? — pergunta %Take%.

  — Agora em junho — responde o homem e completa: — Eles avisaram também que fizeram parceria com um grande jornal da cidade para divulgar e cobrir o evento. Designarão dois repórteres para passarem essas duas semanas conosco, passeando pela cidade, fotografando o show e, claro, entrevistando vocês.

  — Adorei! — anima-se %Keigo%.

  — Não tivemos oportunidade de conhecer tanto a cidade quando fomos em 2015, será uma oportunidade incrível voltar agora três anos depois — diz %Take%.

  — Sim, sim — %Kohshi% concorda com o irmão.

  O senhor Mori continua explicando mais sobre o evento e o passeio que farão por Salvador com os repórteres mencionados. Ainda faltam algumas semanas, mas os rapazes não veem a hora de pisar em solo baiano para esse grande e incrível evento.

  Finalmente %Li% consegue chegar à sede da Rede Bahia que nem fica tão longe de onde estava antes, mas, devido ao horário, a moça pega um engarrafamento para atravessar os dois bairros que separam ambos os locais. A jovem sobe de elevador até o segundo andar, onde fica a sala de seu chefe. Lipe avisou que a esperariam lá.

  — Com licença, sr. Medeiros, cheguei — anuncia %Li%, um pouco ofegante ao abrir a porta da sala dele e enfiar a cabeça para dentro dela.

  — %Li%! Por favor, entre! — convida ele, solícito e sorridente.

  A moça entra na sala e fecha a porta. Lipe já aguarda por ela junto com o chefe que está super animado com a nova parceria com os organizadores do Anipólitan e Bon Odori. A cadeira vazia ao lado de Lipe é o lugar que %Li% fica por quase duas horas de reunião que sucede. Nela, Otto Medeiros, redator-chefe do Correio, explica que o evento intitulado de “Bon Anipólitan” acontecerá nos finais de semana de 15 e 16 de junho e 23 e 24 de junho, com a presença garantida de algumas das maiores bandas que interpretam músicas-tema de animes e doramas, dentre elas: a %Flow%. O evento contará ainda com as tradicionais apresentações típicas da cultura japonesa, além dos estandes onde vendem artigos da cultura pop dos animes e doramas. Também não se pode esquecer do concurso de karaokê e cosplayer que são bem disputados.

  — ... a %Flow% irá tocar nos dias 15 e 24 de junho, sábado e domingo, e vão ficar aqui durante duas semanas e meia, direto — termina Otto de explicar.

  — Duas semanas direto? — espanta-se %Li%.

  — Sim e vocês dois, meus amados e competentes profissionais, irão participar da cobertura completa do evento e do passeio pela cidade com a %Flow% — diz ele e completa: — A ideia é fazer imagens tanto para nossa matéria quanto para o documentário que eles farão sobre a vinda à Salvador.

  — A %Flow% fará um documentário do evento aqui?

  — Sim, Lipe e vocês irão registrar tudinho. Lipe, você ficará responsável pelas entrevistas e o roteiro do passeio deles em Salvador.

  — Pode deixar, chefe — Lipe diz, prontamente.

  — E você, %Li%, registrará tudo com fotos e vídeos, sei que, como fã deles, você trará um olhar especial para o público que verá o documentário e nossa matéria. Certamente irão adorar, já que você tem essa sensibilidade através das imagens que registra — ele conclui, rasgando elogios à funcionária que fica envergonhada brevemente.

  — Agradeço pela confiança, chefe — ela diz, emocionada.

  — Aqui está o dia e o horário que eles vão chegar. Obviamente, assim que pisarem em solo soteropolitano, eles serão responsabilidade de vocês dois, ok? — Otto entrega um papel com as informações sobre o hotel e o dia de desembarque da %Flow%.

  — 5 da manhã?! — espanta-se Lipe ao ler.

  — Fuso horário — Otto ri da reação do rapaz.

  — Eu nem vou dormir... — comenta %Li%.

  — Não tenho dúvidas! Ainda vai levar um rádio ligado com as músicas da %Flow% para tocar no aeroporto — brinca Lipe.

  — Excelente ideia, amigo!

  Lipe revira o olhar, arrependido de ter dado essa ideia para a amiga. Findada a reunião, ambos voltam para seus afazeres de fim de tarde. Às 17h, como de costume, eles estão livres para irem para casa. %Li% volta para seu apartamento, no bairro dos Barris, próximo à sede, pensando no super encontro que terá com seus ídolos em algumas semanas, ela mal via a hora. Ela estaciona sua moto na garagem do prédio e sobe dali mesmo para seu apartamento no sexto andar; ao trancar a porta, após entrar, joga sua mochila e chaves em um sofá e se joga no outro suspirando cansada. Que dia! Tantas novidades boas sobre algo que só acontecerá daqui há semanas, mas que já mexe com os sentimentos da moça.

  Onde aperta para acelerar o tempo mesmo?