Hidamari

  A respiração ofegante de %Li% não é ouvida por %Kohshi% que só consegue ouvir a própria respiração descompassada. Os fones de ouvido usados por ela ainda estão conectados ao seu notebook e o microfone deles está apontado para cima, com isso o homem consegue ouvir ao longe a conversa. Se bem que nem precisaria, já que tanto Léo quanto %Li% estão berrando agora.

  — Como conseguiu entrar no prédio? Eu mandei… — ela tenta argumentar, mas é empurrada por Léo que a segura pelo braço em recuperação dela. — Está machucando, para!

  — A culpa é sua pela minha desgraça, Silveira! — berra Léo, pressionando-a contra parede. — Sabe onde passei os últimos meses?

  — Me solta, Leonardo! — ela volta a reclamar, debatendo-se, seu braço doendo mais e mais de maneira gradativa.

  — Você me denunciou para a polícia, sua filha da puta! Não tem amor à sua vida? Nem a mim?!

  — Por ter amor a mim que eu denunciei você e denunciarei quantas vezes forem necessárias! — rebate %Li%, finalmente conseguindo empurrar Léo com o braço bom e correr para longe dele, mas é facilmente alcançada.

  — Você não sabe do que eu sou… — ele começa a ameaçar, porém é interrompido pela mulher.

  — Você nada, Leonardo! Sai da minha casa ou eu chamo a polícia! — ameaça %Li%.

  — Eu deveria…

  — Me solta! — Léo aperta o braço dela e a joga com força no chão.

  Os acontecimentos a seguir não são vistos por %Kohshi%, apenas ouvidos, e ouvir os gritos de socorro de %Li% é a coisa mais torturante para ele. Desesperado, ele berra sem sucesso de ser ouvido, vendo apenas a parede branca do apartamento de %Li% e parte do corpo de Léo que agora está montado em cima da mulher tentando algo ruim contra ela. A angústia de ter sua amada vulnerável e não poder fazer literalmente nada para ajudar o deixa ainda mais louco de desespero. Quando %Kohshi% consegue ter um fio de lucidez e ligar para Lipe para que o amigo sim faça algo para ajudar %Li%, ele ouve outras vozes e a figura de dois homens puxarem Léo de cima da fotógrafa. Furioso, o homem é levado aos berros ameaçadores para fora do apartamento de %Li% e %Kohshi% percebe um casal entrar no local para amparar a mulher. Eles a ajudam a se levantar e o vocalista grita por ela, mas obviamente não é ouvido. Mesmo vendo que %Li% está segura agora, %Kohshi% resolve completar sua ligação para Lipe e pede para que ele vá até ao apartamento dela conferir pessoalmente se ela está bem.

  %Kohshi% não consegue ver nem ouvir muito o som vindo da call. Apenas o choro de %Li% é nítido mesmo que longe do microfone, ele consegue ouvi-lo, e isso o enlouquece pouco a pouco. Ele não aguenta mais se manter ali. Após desligar a chamada do Skype, o homem se levanta, jogando os fones com força em cima do teclado empurrando sua cadeira para trás, e começa a andar de um lado a outro, muito nervoso, quase quebrando todo seu apartamento para descarregar sua raiva.

  — %Take%… — diz %Kohshi% assim que o irmão atende sua ligação, ele precisa esbravejar. — Onde você está?

  — Estou indo ao shopping encontrar a Aimi — responde o mais novo do outro lado da linha. — Aconteceu algo?

  — A… a %Li%… ela… — ele mal consegue falar o que acaba de presenciar virtualmente.

  — O que tem ela? — indaga %Take% começando a se assustar com o tom de voz usado por %Kohshi%. — Ela está bem?

  — Aquele… aquele ex-namorado invadiu o apartamento dela e… ele machucou a %Li% — a garganta de %Kohshi% está do tamanho de uma ervilha agora, sufocando-o. — Eu vi tudo pela câmera do notebook dela.

  — Por Deus, %Kohshi%! — espanta-se o mais novo.

  — Estávamos conversando por Skype quando tudo aconteceu — o mais velho conclui o pensamento.

  — Meu Deus, %Kohshi% e… ela está bem? Conseguiu falar com ela?

  — Eu não sei — diz ele com o ar cansado, passando a mão livre pelos cabelos. — Ele… eu não consegui ver direito, apenas o vi derrubando a %Li% no chão e ela gritando por ajuda, dizendo que ele estava machucando ela… %Take%… — ele fecha os olhos com força, sentindo as lágrimas surgirem, queimando-os.

  — Calma, meu irmão… — pede %Take%, sentindo o descontrole do irmão cada vez maior apenas em ouvir sua respiração descompassada.

  — Me dá um bom motivo para eu não ir agora mesmo até o aeroporto e pegar o primeiro voo para o Brasil.

  — %Kohshi%… — %Take% se interrompe, tentando achar as melhores palavras para falar. — Eu, eu sei que você gosta muito dela e que está com raiva, mas, por favor, não faça nada precipitado — ele pede com cautela. — Vai demorar muito para você chegar em Salvador e é melhor dar um tempo para a %Li%. Ela deve estar assustada, claro, e precisando de apoio, mas você não ajudaria muito agora — pondera.

  — Eu sei… — %Kohshi% volta a passar a mão livre pelos cabelos, bagunçando-os para frente de seu rosto — Eu quero matar aquele desgraçado.

  — Entendo o seu sentimento, meu irmão — diz %Take% se compadecendo com a aflição de %Kohshi%. — Me diz… você ainda está falando com ela pelo Skype agora?

  — Eu não aguentei ouvi-la chorar, desliguei a chamada quando vi que vizinhos invadiram o apartamento e tiraram aquele imbecil de lá — responde o vocalista.

  — Ok. Faz o seguinte: primeiro se acalma, ok? — %Kohshi% resmunga positivamente. — Depois você manda uma mensagem para ela dizendo que se ela precisar de algo que pode ligar para você — sugere ele. — Creio que ela nem consiga falar nada com você se ligar agora.

  — Tem razão — concorda %Kohshi%. — Eu preciso me acalmar… foi desesperador ver tudo e não poder fazer nada para ajudar — confessa ele, voltando a sentir as lágrimas arderem seus olhos.

  — Sinto muito, cara.

  — Tudo bem… bom, eu não vou mais te atrasar.

  — Não atrapalha em nada, %Kohshi%. Você é meu irmão, ligue sempre que precisar de mim — %Take% sorri do outro lado da linha e o mais velho retribui mesmo sem ver o sorriso do irmão. — Ah, quando tiver notícias da %Li%, por favor, me avisa, tá?

  — Claro que sim. Obrigado por me ouvir.

  — Disponha, cara!

  Eles se despedem e %Kohshi% encerra a chamada. Assim que faz isso, ele procura dentro de seu cérebro palavras para expressar seus sentimentos pelo ocorrido com a %Li% sem parecer tão desesperado, mas também sem demonstrar desinteresse. É difícil achar um equilíbrio para ele.

  Minutos depois, ele encontra as palavras certas.

  %Kohshi% joga seu celular no sofá e se joga nele com o rosto enfiado para baixo. A cabeça dele zonza, pendendo para frente, o fazendo perder o equilíbrio. Um grito abafado é dado pelo homem que ainda tem a ideia de ir até o aeroporto circulando em looping dentro de sua mente.

  Já no apartamento da %Li%, em Salvador, a mulher tenta se acalmar. Lipe está preparando algo para eles comerem, os dois acabaram de chegar da delegacia onde %Li% deu outra queixa de Léo, desta vez por invasão, já que, antes mesmo de ela abrir a porta do apartamento, Léo já havia destrancando-a, pois roubou a chave reserva do local lá da portaria do prédio – isso porque o porteiro havia saído da portaria e Léo teve livre acesso à gaveta da chave mestra. Por conta de mais esse delito e por ter descumprido a ordem judicial que o intima a ficar a, pelo menos, cem metros longe da %Li%, Léo está preso e sem direito a fiança. Irá responder aos inquéritos em regime fechado, o que é um grande alívio para a fotógrafa.

  %Li% lê a mensagem fofa mandada por %Kohshi% e sorri sem jeito com as palavras enviadas por ele. A vergonha por ele ter visto e ouvido tudo o que aconteceu com ela a consome agora e a impede de ligar para agradecer. Mas, ela resolve ligar para %Keigo% que a atende quase que de imediato. Então, ela conta tudo o que houve. %Keigo% escuta a tudo com bastante atenção.

  — Eu sinto muito, %Li%… — diz ele após a finalização do relato de %Li%. — Quer que eu vá aí? Eu posso ir, se quiser…

  — Não precisa, %Keigo% — %Li% sorri sem jeito.

  — Meu Deus, eu queria tanto te abraçar agora.

  — Eu também queria abraçar você, mas não precisa vir para Salvador, está bem? — pede ela. — É um pouco longe — eles riem um pouco.

  — Sim, mas eu iria se me pedisse.

  — Agradeço a disponibilidade, %Keigo%, mas não precisa. Eu ficarei bem, tá?

  — Espero que sim, minha querida… quem está aí com você? — indaga ele, curioso. — Não deveria dormir sozinha hoje.

  — Lipe está aqui comigo.

  — Oh, então eu fico mais aliviado por saber que ele está aí — %Li% sorri novamente, notando o sentimento dele em suas palavras.

  — Bom, eu só liguei para desabafar e para que você soubesse.

  — Agradeço pela lembrança, minha querida — diz %Keigo%. — Vou deixá-la descansar e, qualquer coisa, me liga, ok?

  — Ligo sim, %Keigo%, obrigada novamente.

  Eles se despedem e %Li% joga o corpo para trás, encostando-se no sofá e encolhendo-se no próprio corpo. O peso do cansaço forçando-a a fechar os olhos, nem mesmo a fome que sente a faz ficar acordada. E então, ela adormece.

  Os meses passaram muito rápido e várias coisas mudaram e outras continuam as mesmas. Léo continua preso em regime fechado, no aguardo do julgamento dos processos abertos por %Li%; a fotógrafa está a cada dia mais entrosada com ambos os vocalistas e pensa cada vez mais nos dois; já %Keigo% e %Kohshi%, além de pensarem nela todos os dias, tiveram seus sentimentos intensificados nesse período; outra coisa que também está diferente é a amizade entre os vocalistas, isso porque eles não se falam direito nem durante os ensaios e entrevistas nem durante os shows – onde se ignoram em cima do palco. Isso, claro, já foi percebido pelos demais integrantes e pelo staff que trabalha com a banda.

  Hoje é aniversário da %Li%.

  Ela está de folga hoje, coincidentemente é sexta-feira e ela aproveitará também uma folga estendida no final de semana. A fotógrafa, apesar de recuperada totalmente da cirurgia no braço, faz exercícios físicos moderados para fortalecer a musculatura do local e não causar lesões que prejudiquem seu desempenho no trabalho. Desde o ocorrido com Léo, onde %Kohshi% presenciou todo o caos que foi aquele dia, que nem ele nem ela comentam sobre. O mesmo acontece com %Keigo% que segue com suas orientações de malhação todos os dias, agora mais do que nunca. Porém, faz três dias que %Keigo% não dá notícias e isso preocupa %Li% que resolve ligar para ele, mas é surpreendida por uma chamada de vídeo do homem.

  — Oi, sumido! — brinca ela ao atender e ouve a risada fofa de %Keigo%.

  — Oi, %Li%! Tudo bom? — diz ele, risonho.

  — Estou bem, estou me sentindo abandonada por você, senhor %Keigo% — ela usa um tom falso de indignação. — Não liga mais para dar notícias?

  — Perdão, %Li% — responde ele, sem jeito. — É que eu tive um pequeno imprevisto — ele abaixa a câmera de seu celular mostrando sua perna engessada. %Li% solta um som espantado.

  — Meu Deus, %Keigo%, o que aconteceu com sua perna?!

  — Tive um pequeno acidente enquanto jogava futebol, mas já estou em recuperação após a cirurgia que fiz, por isso não consegui te ligar e nem falar direito com você. Eu estava no hospital e sem meu celular, já que os médicos me proibiram de usá-lo — ele explica.

  — Não sabia que jogava futebol…

  — Sim, eu jogo às vezes! — %Keigo% sorri. — Infelizmente eu tive uma lesão grave no joelho, vou ficar algumas semanas sem poder praticar e sem as nossas aulas toda manhã — lamenta-se ele.

  — Oh, que pena, %Keigo% — ela usa o mesmo tom de lamento.

  — Mesmo que não possamos malhar, será que posso te ligar para te ver malhando? — sugere. — Não quero que pare de malhar por minha causa.

  — Ah, que droga, eu já tinha uma excelente desculpa para não malhar! — diz %Li%, rindo em seguida.

  A brisa gostosa do verão baiano toca o corpo de %Li%, refrescando um pouco o calor escaldante que faz na cidade hoje. Fevereiro é o mês, digamos, “menos quente” do verão, mas, mesmo assim, bastante abafado. A grande sorte realmente é o fato de Salvador ser uma cidade litorânea e com altos e baixos em sua formação, o que facilita a circulação do vento por toda a cidade. %Li% e Lipe estão no topo do Forte de São Marcelo, um dos mais famosos pontos turísticos de Salvador, onde há um pequeno museu que conta parte da história daquele ambiente, ainda na época do Brasil-Colônia. Nessa parte de cima, há os canhões que, naquele tempo, eram usados para atacar os inimigos que se aproximavam pela Baía de Todos os Santos. Nesse exato momento a moça admira a vista maravilhosa do local, que é totalmente cercado pelo mar, e seu celular toca, vibrando no bolso de sua calça. Antes de atender a chamada de vídeo, ela vê o rosto de %Kohshi% e sorri.

  — Olha só que resolveu aparecer depois de mais de 24h sem dar notícias — brinca ela ao atender e ouve a risada de %Kohshi% do outro lado.

  — Olá, sunshine! Nossa, que vista bonita! — admira-se ele ao ver a moça e, não menos importante, a vista do mar de Salvador atrás dela.

  — Está falando de mim ou do mar? — instiga.

  — De ambos — responde %Kohshi%. — Bom, eu tive um bom motivo para não ligar para você antes — diz ele e vê %Li% ajeitar os óculos escuros em seu rosto.

  — O que houve?

  — Ontem, durante o show, eu fui atingido por uma garrafa jogada por alguém da plateia — explica e %Li% arregala o olhar.

  — Você está bem? — ela tira os óculos escuros do rosto e protege a tela do celular para fazer sombra, assim enxergando melhor a imagem do %Kohshi%. — Deixa eu te ver, %Kohshi%. Espera, está escuro… — ela aumenta o brilho do celular. — Está machucado? Não minta para mim!

  — Calma, mocinha — ele ri do desespero dela que se mantém séria. — Não era uma garrafa de vidro, ok? Mas a força com que foi arremessada machucou meu rosto um pouco — ele se aproxima da câmera de seu computador e mostra o lugar onde foi atingido. — Ficou um pouco vermelho…

  — Está roxo, %Kohshi%! — enfatiza ela. — Mas que… quem foi o idiota que fez isso com você? Onde já se viu, jogar coisa no palco! Poderia ter te machucado mais gravemente…

  — %Li%, eu estou bem — ele sorri. — Está preocupada comigo — um sorriso bobo.

  — Claro que estou, você é importante para mim… — há uma breve pausa na fala dela que logo é completada. — Você é meu ídolo, né? Prezo por sua integridade física e mental — ela apressa-se a explicar, sentindo o rosto ruborizar levemente.

  — Entendi…

  — Por que está sorrindo assim? — %Li% percebe o sorriso vaidoso dele e semicerra o olhar. — Não seja convencido, %Kohshi%!

  — Eu não disse nada! — defende-se, rindo abertamente dessa vez.

  — Bobo…

  — Ah, tenho outra coisa para te mostrar — diz ele e %Li% o vê procurar algo na mesa de seu computador, ao encontrar ele volta a ficar totalmente visível. — Feliz aniversário, minha querida!

  — Oh! Que lindo, %Kohshi%! — o vocalista exibe um pequeno vaso com girassóis muito lindos, um arranjo tão lindo quanto o que %Keigo% deu a ela. — Adorei!

  — Vou guardar aqui para quando você vier para o %Japão% — informa. — Espero que seja em breve — finaliza ele com um sorriso esperançoso.

  — 2020 eu estarei aí, se Deus quiser! — diz %Li% também sorrindo. — Muito obrigada pelo presente, %Kohshi%, guarda direitinho que eu vou aí buscar em breve.

  — Aguardarei ansioso por esse dia…

  Os dois continuam a conversa e %Li% aproveita para mostrar novamente o mar para %Kohshi% que admira mais a imagem da mulher do que a vista da cidade. A saudade da presença dela é forte no vocalista.

  O documentário gravado a mais de um ano para a %Flow% já havia sido entregue, dentro do prazo estimado pela produção da banda, mesmo assim %Li% quis fazer um documentário só dela, uma espécie de edição de fã e é nele que ela trabalha agora. Hoje é um sábado à noite e a moça está cansada, sem ânimo para sair, sem contar a irritação por conta de certa foto que ela viu, mas isso é outro assunto.

  Mexendo em seus arquivos pessoais, aqueles que ela havia descartado da edição principal, %Li% acha bastante material para fazer sua edição que já está com quase uma hora de material. No canto da tela de seu notebook aparece uma notificação de chamada no Skype, uma notificação não muito comum.

  — %Take%? — diz a moça assim que atende a chamada e o homem do outro lado abre um largo sorriso ao vê-la.

  — %Li%! Quanto tempo! — comemora ele, animado, estendendo a última vogal do nome dela. — Como vai?!

  — Estou bem, %Take%! — ela ri com a reação. — Que surpresa você me ligar, confesso que realmente não esperava — diz ela.

  — Ah, eu tive muita vontade de te ligar mais vezes durante esse tempo, mas soube que a senhorita andou ocupada com jogos e exercícios… — zomba ele, risonho.

  — %Take%… — %Li% não aguenta e acaba rindo, desmanchando sua feição brava. — Tem sido proveitoso.

  — Hmmm, entendo, entendo — responde %Take% com simplicidade. — Eu queria falar uma coisa que acho que é importante, %Li%. Por isso liguei.

  — O quê? Sua cara está me preocupando — comenta ela ao ver que ele ficou sério de repente.

  — É, creio que é para se preocupar realmente — diz.

  — Então, me diz logo o que é, por favor — ela se ajeita no sofá, onde está deitada, e abre a tela do Skype por completo.

  — É sobre o %Kohshi% e o %Keigo%…

  — O que tem eles? Eles estão bem?

  — Calma, eles estão sim. O caso é que eles, bom, eles não estão se falando — %Take% profere e %Li% faz uma careta confusa.

  — Como assim não estão se falando? Eles brigaram? — indaga ela de maneira óbvia.

  — Sim e o motivo creio que seja você…

  — Eu? — espanta-se.

  — Creio que saiba que os dois têm sentimentos por você, né?

  — Sim… bom, eu sei sim. Então foi esse o motivo da briga deles?

  — Exatamente — confirma o óbvio e completa: — Já adianto que eles não saíram no tapa, mas foi por muito pouco. Eu e os caras não deixamos.

  — Meu Deus do céu… — ela leva as mãos à boca e solta o ar com força.

  — Mas eles não se falam direito e lançam olhares bem irritados um para o outro. Está insuportável presenciar — ele revira o olhar apenas ao lembrar-se das cenas que presenciou.

  — Duas crianças, né?! — conclui ela e %Take% concorda com um gesto de cabeça.

  — Muito! Eu estou quase colocando eles de castigo — ela não segura a risada. — É sério, se estivesse aqui, você faria o mesmo — %Take% também ri.

  — Obrigada por me contar, %Take% — agradece.

  — Achei que você tinha o direito de saber e, quem sabe, você consiga convencer os dois patetas a se falarem de novo.

  — Dois patetas! Ah, %Take%, você é demais! — eles riem novamente.

  — Você que é… e oh, saiba que eu não tenho lado nessa história — apressa-se ele. — Claro que eu gostaria que você fosse minha cunhada, mas eu também considero o %Keigo% um irmão. No fim, dá no mesmo — conclui.

  — Ai ai, %Take%… — %Li% continua rindo, mas fica envergonhada com o lembrete dos sentimentos que envolve a relação dela com os ídolos.

  — Siga seu coração, cunhadinha — incentiva o guitarrista. — Sei que qualquer um dos dois irá saber te amar como você merece.

  — Obrigada, %Take%, muito obrigada — ela volta a agradecer e completa: — Pode deixar que eu vou falar com eles.

  — Força, cunhadinha! — ele volta a incentivá-la.

  Brincadeiras à parte, %Take% sabe que no fundo ele torce pela felicidade de seu irmão mesmo que isso signifique a possível tristeza de seu melhor amigo. Mas, nessa história não tem como os dois saírem satisfeitos, um deles irá padecer e sofrer com a felicidade do outro. Não há como evitar.

  %Li% se despede do ídolo e, sem perder tempo, resolve ligar para os dois para tirar tudo a limpo, aproveitando para esclarecer sobre a maldita foto.