Girls’ Generation

  Encostado no beiral da janela olhando os carros passando pela rua, logo minha atenção se voltou para a dama em minha cama. Soltei um suspiro fraco, vendo-a se mover entre os cobertores, relutante para finalmente abrir os olhos. %Violet% era delicada e meiga, alguém que merecia receber atenção e carinho adequadamente, algo que talvez não tenha recebido muito bem do meu primo. 

  Uma garota no corpo de uma mulher… 

  E que corpo, sendo honesto com meus instintos…

  Difícil de tocar e mais ainda recusar…

  — Hum… — ela resmungou um pouco, parecia finalmente estar acordando, então, ao erguer seu corpo e enquanto esfregava os olhos, começou a assimilar onde estava. — AAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!!

  Confesso… Não imaginava que uma mulher poderia gritar tanto ao me ver. Bem, não daquela forma, não em tom de susto e pavor, mas isso de fato aconteceu. Mantive meu olhar sereno para ela e sorri de canto, tentei não ser sarcástico, porém sempre é mais forte do que eu. Imaginei o que poderia estar passando pela sua cabeça, levando em conta o que havia ocorrido na noite anterior. 

  Bem… O que quase ocorreu.

  — Não precisa se apavorar — anunciei —, não aconteceu nada.

  — O quê?! — Seu olhar estava desacreditado. — Eu te conheço %Lance% Village, não confio em você.

  — Não se preocupe, %Violet%, apesar de parecer, e da sua mente estar pensando coisas absurdas de mim, eu volto a assegurar que não aconteceu nada. — Retirei a mão direita do bolso e apontei para a cadeira. — Suas roupas estão dobradas ali, chegaram há pouco tempo da lavanderia, você está vestindo uma roupa feminina fornecida pelo hotel, você deve estar com dor de cabeça pela ressaca, não deveria ter bebido tanto ontem.

  — Hum… — Ela se encolheu na cama. — O que eu fiz ontem?

  — Nada que valha a pena se lembrar — assegurei, obviamente mentindo.

  — Eu fiz algo vergonhoso? — indagou ela, com um olhar de criança arrependida.

  — Não. — Sorri de canto, mentindo mais uma vez. — A única coisa que importa é que continua sendo a garota mais pura e casta que conheço.

  — Poderia ter acontecido. — Seu olhar inocente estava ali, algo que fazia meu corpo arrepiar. — %Lance% Village sozinho com uma mulher no quarto…

  — Não sou este monstro… — Ri baixo, imaginando de forma obscura o que poderia ter acontecido em outro tipo de situação com ela sóbria e consentindo meus desejos maliciosos. — Jamais me aproveitaria de uma situação dessas, tenho meus princípios, %Violet%, só me envolvo com uma mulher com ela estando sóbria e de pleno acordo.

  Seu olhar suavizou um pouco e, se enrolando mais nas cobertas, manteve a atenção em mim.

  — Então, o que aconteceu?

  Sorri de canto… Tinha a cena dos acontecimentos viva em minha memória.

  — Então?! — insistiu %Violet% em cima de mim. — Não quer tirar a minha roupa?

  — Te olhando assim, você está um misto de criança e femme fatale. — Sorri de canto e virei meu corpo a derrubando na cama, então desta vez eu é que fiquei por cima dela, controlando meus impulsos. — Entretanto, por mais que eu me sinta atraído por você, não vai acontecer nada, %Violet%. Você merece muito mais que uma noite embriagada.

  — %Lance% — ela sussurrou.

  — Quem sabe um dia, terei a minha chance. — Pisquei de leve, me afastando dela.

  Não foi fácil, e certamente a imagem dela por cima de mim iria me assombrar pelas próximas noites, contudo, era o correto a se fazer. E a deixando deitada na cama, caminhei até a porta e abri para minha funcionária que já aguardava do lado de fora.

  — Agradeço por vir tão prontamente, Isla — disse deixando-a entrar.

  — Estou sempre pronta para servir, senhor. — Ela entrou no quarto. — Quais as ordens?

  — Trouxe as roupas? — perguntei.

  — Sim. — Ela ergueu a sacola.

  — Ajude a senhorita Vidal, ela precisa de um banho, roupas limpas e uma xícara de chá preto, assim pode amenizar o efeito da bebida — ordenei.

  — Mais alguma coisa, senhor? — perguntou ela, atenta.

  — Sabe se meu primo ainda está aqui?

  — Sim senhor, em sua cobertura — assentiu ela.

  — Acompanhado?

  — Não, senhor.

  Eu respirei fundo, agora estava me sentindo o responsável da família. Gostaria de saber quando foi que isso aconteceu. Antes ou depois de eu ambicionar por um sonho que não quer ser meu. Deixei %Violet% aos cuidados de Isla e segui para a cobertura do meu primo, tinha que me certificar se ele também estava mal emocionalmente ou não. 

  Sem pedir licença, digitei a senha da porta e entrei. Foi perturbador ver sua suíte parcialmente destruída e desorganizada, para alguém tão perfeccionista quanto o queridinho da família.

  — %Nickolas%?! — disse em voz mais elevada para que me ouvisse.

  — %Lance%?! — Logo ele surgiu saindo do banheiro, enrolado na toalha. — O que faz aqui?

  — Não foi para ver seu corpo bem definido — brinquei com meu jeito de ser.

  — Ha… Ha… Muito engraçado. — Ele caminhou até a mesa de refeições e pegou o celular, parecia checar suas mensagens. — Como entrou aqui?

  — Minha senha abre todas as portas — disse me gabando dos privilégios de presidente.

  — E não sabe o significado de privacidade? — retrucou ele, não se importando com meu sarcasmo.

  Eu ri de leve.

  — Como está? — indaguei, voltando ao assunto de minha presença.

  — Bem, na medida do possível — ele suspirou fraco. — Não saber onde ela está tem me consumido por dentro.

  — É por isso que não foi para Stanford ainda — presumi o óbvio.

  — Não posso esperá-la para sempre, %Lance% — admitiu ele, num tom de desabafo. — Por mais que eu queira, acho que é hora de seguir em frente por completo.

  Nunca fomos melhores amigos, mesmo sendo primos. Claro que meu passado libertino de doces e travessuras tinha seu papel nisso. %Nickolas% sempre foi o filho modelo, aluno modelo, namorado modelo… Era o que me deixava irritado e me fazia não ligar para os bons modos, tínhamos amigos em comum, entretanto, a companhia feminina sempre me interessou mais. E com uma drástica diferença em nossos estilos de vida, a afinidade seria cada vez menor.

  — Vai desistir da %Milla%? — indaguei.

  — Eu não vou desistir de mim, da minha felicidade, e não posso depender da rainha dos mistérios para ser feliz — concluiu ele, com seriedade e firmeza. — Vou para Califórnia amanhã de manhã… Se tiver que ser a %Milla%, o futuro me dirá.

  — Me surpreendeu agora — confessei.

  — Você é quem me surpreendeu — retrucou ele.

  — Por quê? — indaguei confuso.

  — Saiu no blog da G’G, você e a %Violet% juntos… Então ela resolveu ficar com você? — Por uma leve fração de segundos, senti a amargura em sua voz.

  — %Violet% está passando por um momento em que precisa de apoio dos amigos — expliquei plausivelmente — e não ser deixada de lado.

  — Eu já dei tudo o que podia para ela, mas no final, não foi o bastante. — %Nickolas% me olhou chateado. — Para ser honesto, nossos caminhos nunca se cruzaram, sempre foram paralelos… Eu realmente tentei amá-la como deveria, mas não foi forte o bastante.

  Senti uma frustração vinda dele, pareceu verdadeiro no que disse.

  — Bem, desejo-lhe uma boa viagem e bons recomeço — disse a ele.

  — Cuide bem da %Violet% por mim. — Assentiu ele.

  — Não precisa nem pedir — afirmei.

  Me afastei dele e retornei ao meu quarto. 

  Isla estava lá à minha espera. %Violet% já se encontrava deitada em minha cama dormindo como se nada tivesse acontecido. Meu coração acelerou um pouco ao olhar um sorriso disfarçado formado no canto de seu rosto. 

  Estava mesmo me apaixonando pela dream princess? Era loucura achar isso, mas era real. 

  — Você bebeu muito, %Violet%, foi só isso que aconteceu. — Não iria entrar em detalhes desagradáveis com ela.

  — Acho que preciso ir para casa — disse ela, ainda desnorteada. — Meu voo para Paris é no final da tarde.

  — Vou deixá-la à vontade.

  Eu tinha outros assuntos para tratar, assuntos esses que envolviam saber o paradeiro da mistery queen. Saí do hotel e segui com meu carro até o edifício que ficava no escritório do meu pai. Eu não gostava dos seus súbitos momentos de pai cordial e educado, e por trás de todo gesto bondoso tinha um favor a ser concedido.

  — Me chamou? — disse ao entrar em sua sala.

  — %Lance%, que bom que veio. — Ele permaneceu sentado em sua cadeira presidencial. — Como sabe, nossa luta para o controle total dos Hoteis Royal começou, com a mudança de curso do %Nickolas%, seu tio fica com um a menos em seu time. 

  — Eu sei.

  — Mas quero saber se Daisy realmente está do nosso lado — seu olhar sério era o mesmo, sempre me analisando.

  — Sim, Daisy é nossa aliada, não se preocupe, temos sete a nosso favor na diretoria — assegurei firme.

  — Ainda tenho minhas preocupações, principalmente por seu tio estar furioso — ele riu com ironia. — Eu estou saindo de cena para que você, meu filho, assuma os negócios em meu lugar, espero não ser decepcionado.

  — Não vai, senhor. — Respirei fundo.

  Sabia das minhas responsabilidades e que agora eu teria que me mostrar o homem de negócios melhor que meu pai.

  — E quanto ao pedido que lhe fiz? Conseguiu encontrá-la? — perguntou ele, com olhar de interesse.

  — Vou saber em algumas horas — assegurei. — Não se preocupe, farei o que puder para cumprir o nosso acordo.

  Eu sabia que ficar no lugar do meu pai, à frente da empresa, não me sairia de graça e agora tinha uma missão para cumprir. Assim que saí do seu escritório, liguei para meus contatos e finalmente obtive a localização da pessoa que tanto procurava. Segui para o Moonlight, o tal restaurante recém-inaugurado que pertencia ao Tenebrae mais novo. Algo inimaginável, mas ele tinha a resposta que eu tanto procurava. 

  Um lugar bem decorado e interessante ao meu ver. Reconheci alguns rostos assim que passei do hall da recepção para o espaço de espera. No salão havia bastante pessoas, o que significava o sucesso que nosso novo chef estava fazendo. Logo que a recepcionista transmitiu meu desejo de conversar com o chef a sós, fiquei mais alguns minutos esperando até que me conduziram ao escritório dele.

  — Estou curioso para saber que assunto um Village tem a tratar comigo — disse o homem ao entrar.

  Me lembrava vagamente do seu ar misterioso na White Party. De jaleco branco e olhar sério, parecia não querer perder tempo.

  — É um prazer vê-lo novamente, chef Tenebrae — disse o chamando pelo sobrenome.

  — O que quer comigo? — Direto e preciso.

  Gosto disso.

  — Não quero com você, estou interessado na pessoa que está hospedada em seu apartamento. — Direto e preciso. — Preciso falar com ela.

  — Se você sabe, por que veio diretamente a mim? — indagou.

  — Não posso invadir a casa de um homem — brinquei num tom irônico. — Para ser honesto, tinha minhas desconfianças, mas queria me certificar que realmente ela está com você.

  Ele continuou em silêncio me olhando.

  — Agradeço por me confirmar — sorri de canto.

  — Village, se é só isso que tem a dizer, meu restaurante está cheio e preciso atender meus clientes. — Ele se mostrou impaciente.

  Talvez não tivesse acostumado com este jogo. Se misturar a elite de Manhattan não é fácil.

  — Não vou tomar mais do seu tempo, só quero comunicar que irei fazer uma visita a sua hóspede — assegurei.

  — Não me importo.

  — E nem se ela não estiver mais em casa quando retornar? — instiguei.

  — Já disse, não me importo — ele se virou para sair. — Só espero que não a deixe desconfortável.

  — Suas palavras são de preocupação — ri baixo. — Posso perguntar algo?

  — Você irá embora depois?

  — Prometo que sim — ergui a mão em sinal de juramento.

  — Então pergunte.

  — Como conheceu ela? — Estava curioso.

  — A conheci na noite em que a salvei. — Ele se afastou e saiu.

  — Curioso — sussurrei.

  Comecei a imaginar que tinha muito mais por trás disso. 

  As coisas continuam loucas em Upper East Side e nossa %M% segue desaparecida. Será mesmo o que eu estou pensando e este encantador Tenebrae a está abrigando? Mistério sempre foi o meu forte, e agora estou curiosa até mesmo para saber o motivo de %Lance% querer saber como o chef %Joseph% conheceu sua hóspede. E o que dizer do ex-libertino Village que tem descoberto seus sentimentos mais profundos e se tornado cada dia um lord em nossas vidas.