Girls’ Generation

  Aquele baile já havia terminado para mim no momento em que minha ficha caiu do que eu tinha feito. Havia revelado a todos que %Milla% era a Allison Sollary e da pior forma possível. Ela era minha amiga. Senti um aperto estranho no peito, talvez meus dois lados estivessem entrando em conflito novamente, afinal até aquele momento estava deixando a razão comandar. Voltei meu olhar para todas as pessoas se divertindo na pista de dança como se nada tivesse acontecido. Me afastei da janela e segui em direção ao hall novamente, precisava saber o que tinha acontecido com ela.

  — Ei… Mal acabou de se vingar e já está arrependida? — questionou %Lance%, ao me parar no meio do caminho. — Logo agora que eu estava gostando da sua versão malvada.

  — Primeiro, eu não me vinguei de ninguém — argumentei, repetindo isso para mim mesma mais umas quatro vezes, bufando de leve. — Segundo, não te interessa o que eu vou ou não fazer.

  — Olha só como ela está agressiva. — Sua voz soou num misto de ironia e sarcasmo que começou a me irritar um pouco. — Está assim pelas mentiras da sua amiga ou é desespero por saber que agora meu primo terá o caminho livre para ficar com ela?

  Eu não conseguia entender o propósito de suas palavras, se não o conhecesse bem diria que ele está com ciúmes de mim.

  — Por favor, %Lance%… Minha vida não gira em torno do %Nickolas% e pouco me importa com quem ele vai transar agora, essa parte não me fere mais e olha só quem fala... — Eu bufei ainda mais revoltada com a sua insinuação. — Durante todo esse tempo você sempre jogou seu charme para %Milla% mesmo sendo rejeitado todas as vezes… Eu realmente não sei o que todo mundo vê nela e quer saber, pouco me importa agora.

  Eu me movi para me afastar dele, porém fui barrada novamente, quando ele se colocou novamente em minha frente.

  — Ao contrário do meu primo, eu não tenho compromisso com ninguém, não beijava uma pensando na outra. — Ele manteve o olhar inexpressivo para mim, mesmo sabendo que suas palavras poderiam me machucar, ele as disse sem a menor empatia. — Mas se quer sabe, com alguém como você, nem mesmo a %Milla% roubaria a minha atenção.

  Sua voz tinha uma entonação incomum e me deixava sem argumentos. Seus picos de honestidade e cavalheirismo me deixavam sem chão, o que devastava parte da minha sanidade mental. Em segundos, nosso celular apitou, uma mensagem da G’G.

  “Flagrada, nossa mistery Queen sendo resgatada por um cavaleiro misterioso sob o céu chuvoso de Upper East Side. Parece que nosso best friend %Nick% chegou meio tarde e sua Cinderela passará a noite sendo amparada por outro.

  Meus olhos ficaram fixos olhando a foto que mostrava %Milla% sendo carregada no colo por um homem. E como dizia na descrição, não era o %Nickolas%. O que fez um sorriso disfarçado aparecer em meu rosto, não que eu desejasse o sofrimento dele, talvez só um pouco. Afinal, eu não sou perfeita e, infelizmente, as influências de %Lance% e Britany instigavam em mim um lado que eu não conhecia.

  — Parece que me preocupei à toa… — sussurrei ao desligar a tela do celular, mantendo minha postura firme.

  Estava convicta comigo que não me deixaria mais parecer fraca diante das pessoas, não seria mais aquela %Violet% que se escondia com medo de não ser aceita por sua timidez. Já havia sido muito magoada pelas pessoas que eu amava, não repetiria meu erro novamente. %Lance% continuou me olhando como se me analisasse.

  — Agora já sabe o que aconteceu com eles, se era isso que queria. — Ele virou seu olhar para a porta, fazendo-me acompanhar. — Olha, parece que meu primo realmente perdeu a viagem.

  — Pare de instigar assuntos que não me dizem mais respeito, eu e %Nickolas% somos apenas amigos agora e não desejo mais ser outra coisa além disso. — Voltei meu olhar para %Lance%, segura de minhas palavras e sentimentos por seu primo. — Aproveite o restante da festa, esta noite já terminou para mim.

  Eu dei o primeiro passo para me retirar.

  — Não vai nem ficar para a coroação? — provocou ele com suas ironias.

  — Eu nunca quis a coroa — respondi convicta. — Este ano Upper East Side não terá uma rainha.

  Me afastei dele e segui para a porta de saída. 

  Liguei para Alfred para que me buscasse. Não demorou muito e meu fiel mordomo, com um guarda-chuva, surgiu pronto para me levar para casa. Desta vez o caminho pareceu mais longo e vazio, talvez pelo silêncio que pairava dentro do carro, ou pela nostalgia das lembranças do ensino médio que, de forma impertinente, tentavam consumir meus pensamentos. Foi difícil controlar as imagens de %Milla% e eu dentro daquele carro em risos e brincadeiras sobre sermos a realeza da cidade, os muitos segredos que trocamos ali e sonhos que compartilhamos.

  — Por que ao mesmo tempo que acho ter feito o certo, eu me sinto tão arrependida? — sussurrei para mim, segurando as lágrimas no canto dos olhos.

  Entrando em casa, percebi que meu pai estava em seu escritório. Deixei minha bolsa de mão em cima da mesa ao lado da porta e dei dois passos em direção à escada. Ao perceber minha chegada precoce, ele saiu pela porta e me olhou com carinho.

  — Querida, o que faz em casa essa hora? — perguntou. — Esta é uma noite especial para você e sua amiga, deveria estar se divertindo no baile.

  — Pai — disse sentindo minha garganta arder um pouco, um grito preso.

  Confesso que estava segurando minhas emoções o máximo que podia. Porém, olhar para o rosto do meu pai me desmontava por completo.

  — Querida — ele veio até mim e já me abraçou com ternura.

  Papai me conhecia muito bem e sabia com clareza todas as tonalidades da minha voz. Eu desabei em seus braços e chorei. Não lutaria mais contra as lágrimas de tristeza, raiva e frustração que continuavam me afogando internamente. Ficamos minutos ali em silêncio. Ele não perguntaria pois era um cavalheiro com relação a espaço. E eu não estava pronta para falar sobre o assunto. 

  A noite se passou e não consegui dormir direito. Muitos pensamentos em minha mente e ainda a preocupação com a universidade. Minha decisão pela Le Cordon Bleu não mudaria, e agora meu foco seria o curso de gastronomia. Apesar de ouvir da maioria das pessoas que eu não sabia fritar um ovo. Na manhã seguinte, acordei cedo e saí de casa inicialmente sem rumo, eu precisava caminhar um pouco para esquecer o desastre que foi o baile de formatura.

  — Nada como um dia após o outro… — disse a mim mesma, suspirando fraco. — Quem falou isso é um mentiroso, me sinto pior do que ontem.

  O barulho de uma moto na rua me despertou a atenção e logo eu percebi que minhas pernas haviam me levado ao restaurante de %Joseph%. Voltei meu olhar para a placa, o letreiro escrito em letra caligrafada, estava apagado.

  — Por que eu vim aqui? — perguntei a mim mesma, confusa pela situação.

  — Eu já ia perguntar a mesma coisa. — A voz do melhor chefe de cozinha de Manhattan soou atrás de mim, me dando um susto.

  — Ah. — Eu coloquei a mão no coração, tentando agir com naturalidade. — %Joseph%.

  — Está tudo bem? — perguntou ele, demonstrando o olhar preocupado.

  — Claro. — Forcei um sorriso, que pareceu não funcionar. — Que não.

  Senti meus olhos lacrimejarem, eu jamais seria forte e audaciosa como minha… Ela ainda era minha amiga?

  — O que aconteceu? — indagou ele, mantendo o olhar fixo em mim.

  — Aconteceu que… Eu sou uma garota má — confessei em um desabafo. — Eu fiz uma coisa cruel com a minha melhor amiga por estar com raiva dela… E agora, me sinto mal por isso.

  — Está arrependida? — perguntou ele.

  — Uma parte sim, a outra está lutando contra… — Eu limpei a primeira lágrima que insistiu em cair. — Mas não importa, eu já entendi que sou uma péssima amiga, há vários meios para se resolver um problema e eu…

  — Pare de se martirizar… — Sua voz manteve a serenidade. — Sabe, ninguém é perfeito, nem sua amiga, nem você, nem eu… A vida é como uma receita de bolo, cheia de erros e acertos, aprendemos com os erros e nos alegramos com os acertos…

  — Me ensina a olhar o mundo com seus olhos. — Brinquei um pouco, era a primeira vez que me sentia bem de verdade após o baile.

  — Um segredo de cozinheiro… Cozinhar é a melhor terapia que possuímos. — Ele estendeu a mão.

  — Mas você disse que não é recomendável cozinhar estando triste — questionei.

  — Não é recomendável, mas quem disse que é proibido? — Ele insistiu, misteriosamente com um sorriso de canto. — Não é todo mundo que tem o privilégio de entrar na minha cozinha, você sabe.

  Eu assenti com um sorriso espontâneo e segurei em sua mão, sendo guiada por ele até o interior do edifício. A cozinha estava toda limpa e à sua espera para mais um dia de trabalho e diversão, segundo suas palavras. Colocamos o avental e higienizamos as mãos. Se da minha primeira vez aprendi sobre as sobremesas, hoje eu veria o chefe Tenebrae em prática comandando sua cozinha, com os preparativos para o almoço. Um misto de adrenalina, precisão e algumas risadas por parte dos cozinheiros que se inspiraram com a minha presença ali e contaram algumas histórias vividas no pouco tempo que o restaurante tinha aberto. Todos demonstrando gratidão pelo sucesso que o Moonlight vinha fazendo.

  — Então? O que achou? — perguntou ele, ao entrarmos em seu escritório.

  — Incrível, é tão mágico como as coisas funcionam e como você conduz tudo — respondi entrando atrás dele, sentindo meus olhos brilharem. — Sempre que eu ia em restaurantes com meus pais, nunca me interessei em saber como era o processo dentro da cozinha, e depois daquela animação e passar aquela tarde aqui e hoje… Não tenho palavras para descrever o que vivi.

  — Como eu disse, a cozinha é nossa terapia. — Ele manteve um sorriso disfarçado no rosto ao encostar em sua mesa de trabalho, colocando as mãos nos bolsos da calça. — Quem diria que você estava triste horas atrás?

  — Tem razão — concordei rindo de leve, durante aquele tempo eu realmente havia me esquecido dos meus problemas. — Muito obrigada, por hoje.

  — Eu que agradeço por inconscientemente ter vindo aqui. — Seu olhar pareceu reflexivo, então se desviou para a porta.

  — %Joseph%… — uma funcionária adentrou o escritório com alguns papeis nas mãos, a princípio ela ficou estática por minha presença. — Me desculpe, não sabia que estava ocupado.

  — Não estou. Algum problema, Allison? — perguntou ele, com tranquilidade.

  Allison?! Esse nome tem se tornado um pesadelo para mim. E curiosamente ela me parecia familiar.

  — Não, é que… — ela olhou para mim, então olhou para ele. — Podemos falar depois, se quiser.

  — Não por mim, eu preciso ir agora, passei o dia fora e já anoiteceu... — voltei minha atenção a %Joseph%. — Mais uma vez, obrigada por tudo.

  — Sempre que precisar, tem um amigo no Moonlight e acesso à minha cozinha. — Ele piscou de leve, sorrindo mais abertamente.

  O que me deixou impressionada com o seu sorriso e olhar. 

  Passar aquelas horas do dia na companhia do meu novo amigo havia me dado outra perspectiva de vida e me motivado a enfrentar de cabeça erguida cada uma das consequências por minhas escolhas, sendo elas boas ou não. 

  Foi incrível e único.

  — Bom dia, %Violet% Vidal. — Olhei meu reflexo no espelho assim que acordei na manhã seguinte. — Hoje um novo ciclo se inicia e novamente você está sozinha.

  — Engano seu, senhorita Vidal — disse Alfred ao entrar com minha bandeja de café da manhã.

  — Bom dia, Alfred. — Eu o olhei. — Mas detesto lhe informar que não irá para Paris comigo, o que me leva a acreditar que estarei sim sozinha.

  — Somente após o verão — retrucou ele, colocando a bandeja em cima da cama.

  — Eu decidi passar o verão em Paris — devolvi a realidade dura e cruel. — Agradeço o carinho, Alfred, mas preciso ficar este tempo sozinha para amadurecer um pouco.

  — Fico orgulhoso por isso, senhorita Vidal. — Ele sorriu com graça.

  — Após o café, me ajude a preparar minha mala, vou levar pouca coisa, pois quero renovar meu guarda-roupa — anunciei me aproximando da cama. — Cidade nova, vida nova, novas perspectivas.

  — Isso lhe fará muito bem. — Ele manteve seu olhar sereno e gentil. — Antes que me esqueça, a senhora Clair Donson lhe convidou para o chá da tarde.

  — Hum… Ela é uma senhora muito gentil, mande uma mensagem dizendo que aceitarei o convite.

  — Como quiser.

  Eu não tinha superado cem por cento tudo o que vivi no baile, e chorar nos braços do meu pai havia sido reconfortante e um alívio para mim. Entretanto, o ponto chave para que eu mantivesse a motivação para dias melhores, foi passar o dia ao lado de %Joseph%. Quem diria que eu ficaria próxima de um antigo colega de classe do meu irmão que certamente teria sido um amigo próximo se não houvessem perdido o contato. 

  Após o café, entrei no closet e comecei a olhar para todas aquelas roupas. Pedi a Alfred que trouxesse algumas caixas e sacolas, estava decidida a reformar aquele lugar, doando algumas coisas que não usava mais.

  — Alfred, se lembra o nome daquela associação que a madrinha sempre doa roupas que sobram das suas coleções? — perguntei ao olhar para um vestido de renda que não usava desde a quinta série.

  — Waldorf New Station — respondeu ele.

  — Ah sim, havia me esquecido que pertencia à família Waldorf — comentei me recordando do fato. — Envie estas caixas fechadas para a associação e quanto às sacolas, são para suas sobrinhas.

  — Agradeço, senhorita %Violet%. — Ele assentiu com gratidão. — Elas vão ficar felizes.

  — Eu vou tomar uma ducha e caminhar um pouco, a manhã está tão linda para ficar em casa — comentei me sentindo animada para aquele dia.

  — Voltará para o almoço?

  — Ainda não sei. — E olhei para a janela, vendo o dia iluminado. — Sabe se minha mãe voltou de Los Angeles?

  — Não, senhorita, e vosso pai já está a caminho das terras britânicas — respondeu prontamente.

  — Pensei que ele fosse adiar por alguns dias e ir comigo, mas sem problema, quando for para Paris, faço uma parada em Londres primeiro. — Analisei minha escala improvisada.

  — O senhor Vidal vai ficar feliz com a surpresa — assegurou ele.

  Alfred se afastou, pegou as caixas que eu tinha separado e se retirou. Segui com meu planejamento e me joguei no chuveiro, o toque da água sobre minha pele fazia-me relaxar um pouco. Até meus pensamentos que fervilhavam em minha mente se acalmaram. Minutos de paz que foram interrompidos por uma mensagem de %Lance% ao meu celular.

  “Dormiu bem, Dream Princess? Sabia que muitas pessoas sonharam com você? Posso dizer que eu fui uma delas.”

  Por mais que eu tentasse, não conseguia definir o que estava sentindo ao ler aquilo, apenas que meu corpo fraquejou ao me lembrar do seu beijo. Fechei os olhos me concentrando, pensando se deveria ou não responder aquela mensagem, então, ajeitei um pouco a toalha ainda enrolada no meu corpo e digitei seu número para fazer uma chamada.

  — Bella %Violet% — disse ele ao atender.

  — Posso entender suas insinuações? — perguntei.

  — Não são insinuações… É uma verdade, só não acredita porque não quer — retrucou ele.

  — Você não tem outras ambições na vida não? — o questionei, ao caminhar até a cama e me sentar.

  — Não… Minha única ambição tem sido você... — Dava para sentir a malícia escorrendo em sua voz. — Mesmo não sendo uma mulher completa… Mas, podemos resolver isso.

  Senti meu corpo arrepiar com o comentário final. Muito provocativo por sinal.

  — Eu não vou cometer suicídio social com você. — Garanti a ele, colocando firmeza em minha entonação. 

  — Saiba que muitas mulheres se matariam por isso — retrucou com ar de orgulho.

  — Eu não sou muitas mulheres. — Respirei fundo, tentando não entrar em surto.

  — É o que me faz ficar ainda mais atraído. — O tom sedutor de sempre. — O que tenho que fazer para que acredite em mim?

  — Não faça nada… E continue vivendo a sua vida de libertino — disse colocando um ponto final na conversa.

  Encerrei a ligação antes que ele pudesse argumentar algo. Já tinha prometido a mim mesma que teria aquele tempo sozinha para encontrar meu ponto de equilíbrio. Então guardei o celular na bolsa e voltei ao closet para me vestir. Sim, o restante do dia foi favorável e mais agradável ainda quando cheguei para o chá com a senhora Donson. Misteriosamente, Charlie iria nos acompanhar. Será que ele sabia que eu estava… Definitivamente solteira?

  — Sua mãe me parece mais saudável agora — comentei enquanto caminhávamos pelo jardim.

  — Sim, ficamos apreensivos com sua doença por algum tempo, mas o pior já passou — assentiu ele.

  — Estou feliz por ela estar melhor, sua mãe sempre foi muito gentil comigo. — Sorri de leve.

  — Ela gosta muito de você — afirmou ele.

  — Eu também gosto muito dela — comentei.

  — E o que sente por mim? — Ele tocou em minha mão, me fazendo olhá-lo.

  Ele me fez ficar de frente para ele e permaneceu me olhando com serenidade.

  — Charlie — sussurrei sem saber o que fazer.

  A quem eu queria enganar com minha pose de mulher forte, se por dentro eu ainda era uma garota tímida que tinha medo de ser rejeitada pelas pessoas? Senti meu corpo estremecer um pouco, ainda era surreal para mim os sentimentos de Charlie, sempre foi, desde o início. A forma como ele me olhava até mesmo quando minha amiga… ex-amiga, seja como for, mesmo quando %Milla% estava perto. Ao contrário de %Nickolas%, Charlie sempre teve olhos somente para mim. 

  Mas o que eu estou pensando? Pela manhã eu estava morrendo internamente com a voz de %Lance% ao telefone e agora estava cogitando algo com Charlie. Não é o momento para um novo relacionamento. Eu precisava definir meus sentimentos e equilibrar minhas emoções antes de qualquer coisa.

  — Eu sei que você e %Nickolas% não estão mais juntos oficialmente — afirmou novamente. — E pelo que percebi, não irão voltar.

  — Sim, nós terminamos, mas…

  — %Violet%, desde o dia em que te beijei não consigo pensar em outra coisa. — Ele deu um passo para mais perto. — Sinto meu corpo arrepiar só de estar perto de você.

  Suas palavras eram mais do que eu esperava ouvir. E de fato não desejava ouvir naquele momento. Bem lentamente, ele foi se aproximando de mim mais e mais até que me beijou, doce e ao mesmo tempo desesperado, que me fez consentir inicialmente, porém me arrependendo depois.

  — Me desculpe, Charlie… — Me retraí um pouco, me afastando dele. — Têm sido dias bem complexos em minha vida, acabei de sair de um relacionamento conturbado e não consigo…

  Ele me interrompeu, agora com um beijo mais suave e sutil. Desta vez, senti uma brisa passar por meu corpo e minhas pernas bambearem. Eu também não havia me esquecido do seu beijo, apesar de não ter me marcado tanto quanto eu gostaria. Se fosse para escolher de forma racional, claro que Charlie teria inúmeras vantagens sobre %Lance%… E por qual motivo estou pensando nisso?

  — Só quero que saiba que posso esperar o tempo que precisar — disse ele com segurança.

  — Obrigada por entender. — Sorri de leve.

  Charlie me levou de volta para casa, onde os próximos dias passei sozinha organizando minhas coisas para Paris. Sem notícias de %Milla% em qualquer lugar, até a G’G estava dizendo que a nova destronada parecia ter virado fumaça após o acontecimento. O que me deixava um pouco desconfiada de %Lance%. Ele parecia calmo demais com todos os comentários e questionamentos, afinal, ele era o portador dos segredos da ex-queen %M%. 

  Será que ele sabia de mais alguma coisa? 

  Era de fato algo a se pensar.

  — Matt?! — disse surpresa ao descer as escadas e vê-lo no centro da sala como se me esperasse.

  — Bom dia, %Violet%. — Sua voz estava estranha.

  — Veio se despedir de mim? — perguntei inocente. — Embarco amanhã à noite a caminho de Paris.

  — Não foi para isso que vim. — Seu tom estava áspero.

  — Então a que se deve sua visita? — Fiquei curiosa.

  — O que você fez com a %Milla%?

  — Ah não. Sério? Outra pessoa para defendê-la e me jogar na fogueira como se eu fosse uma bruxa? — Por essa eu não esperava. Não do meu irmão.

  — Ela era sua amiga, e se a %Milla% fez algo ou omitiu é somente problema dela — retrucou ele, com rispidez. — Todos nós temos segredos na vida e motivos para escondê-los, olha a nossa família, %Violet%.

  — Você quer nos comparar? A %Milla% conviveu com a gente e mentindo todos os dias sem nenhum remorso, mesmo sabendo que podia nos considerar sua família — rebati. — Matt, ela me usou para chegar ao topo e você está defendendo como se eu fosse a vilã.

  — Você tem mesmo andado muito com a Britany, nem percebe mais a entonação das suas palavras. — Ele parecia mesmo muito chateado comigo, o que me deixava ainda pior com relação a esse assunto.

  Minha decepção com sua reação se misturou ao meu lado raivoso e irritado de minha amiga, me fazendo falar sem medir minhas palavras.

  — Ah, é claro que você vai defender ela, já que foi o privilegiado da lista — disse me referindo às muitas noites que ambos passaram juntos. — É muito óbvio, sacrificar sua irmã e salvar a garota com quem dormiu.

  — Meça suas palavras, %Violet%, minha relação com a %Milla% não tem nada a ver com a realidade. — Ele se alterou mais. — Você foi desleal com ela, essa é a questão. 

  — Ah, desleal. — Eu ri de nervoso. — Então ela não foi desleal comigo ao ser bancada pelo meu namorado e não dizer nada? Ou mentir e fingir que está tudo bem? Eu realmente não acredito que está brigando comigo por causa dela.

  Eu senti minha voz alterar um pouco, reprimindo uma lágrima no canto do olho.

  — Pelo menos ela não fez como você, que a expôs ao ridículo. — Era visível seu tom de decepção.

  — E não foi isso que ela fez com a Collins? — O lembrei. — Quando você planta algo, você colhe também.

  — E o que você tem plantado, %Violet%?  — Seu olhar baixou. — Não a reconheço mais, minha irmã não é assim, vingativa.

  Eu permaneci em silêncio enquanto ele se afastava, seguindo para a cozinha.

  — Ah… — Matt me olhou. — A Collins não era amiga dela, você era.

  A verdade às vezes dói, e aquela foi como uma adaga em meu coração. Saí de casa correndo sem direção, não queria ficar ali, e só conseguia sentir a vontade de desaparecer. Todas as motivações que havia reunido naqueles poucos dias estavam escorrendo pelo ralo, e quando me dei conta, estava sentada no banco de um bar bebendo alguma coisa que não sabia, misturado as minhas lágrimas. 

  — Quando me disse, não acreditei, mas vendo agora. — Uma voz conhecida parou ao meu lado. — Agradeço pela ligação, Juan.

  — Não há o que agradecer, senhor Village. — Ouvi o segundo homem se afastando.

  Mantive meu olhar no copo, eu sempre tive um fraco para bebidas e aquela era a minha quarta… Quinta? Ou seria sexta dose? Eu não me lembro bem.

  — Por que será que eu estava contando os dias para ver essa cena? — brincou %Lance%, ao se sentar no banco ao lado. — Não que eu esteja interessado em sua derrota, mas é bem inusitado ver você aqui.

  — Se veio para rir de mim, vá em frente, %Lance% — eu o olhei, forçando a minha visão a não ficar embaçada —, ria o quanto quiser.

  — Não — disse ele num tom sério que me surpreendeu. — Eu vim para te levar para casa.

  — Não quero ir para casa. — Só naquele momento eu senti que minha voz estava estranha.

  Talvez tenha bebido demais. Sim, consideravelmente eu tinha bebido demais. 

  — Vou te levar para o Royal, então. — Ele pegou em meu braço para me ajudar e me apoiar em pé.

  Porém eu me soltei dele, o empurrando e tomei o último gole que tinha no copo. 

  — Me deixa, eu quero ficar aqui e beber até esquecer que existo — disse num tom revoltado.

  — Se fizer isso, entrará em coma alcoólico. — Sua voz permanecia suave.

  — Você não é minha mãe. — Olhei para o barman. — Outra dose, mais forte.

  — Se servir mais alguma bebida para esta dama, vai desejar nunca ter trabalhado aqui antes — ameaçou ele, o homem.

  — Sai daqui, %Lance% — eu o empurrei novamente. — Me deixa.

  — Infelizmente para você, não. — Ele me pegou no colo. — Hoje, eu serei sua consciência.

  — Me solta! — disse em tom elevado, me debatendo um pouco para me soltar, por fim, sem sucesso. 

  Ele continuou seguindo para fora do bar e me colocou em seu carro, estacionado pouco mais à frente, seu cavalheirismo até mesmo o fez encaixar o cinto de segurança. Foi neste momento que minha cabeça rodou e parecia que todo aquele álcool estava em ritmo acelerado dentro de mim. %Lance% me levou para sua suíte no hotel, o melhor quarto que poderia me oferecer, em suas modestas palavras. 

  Utilizando da lógica: Eu não poderia ficar sozinha naquele estado. 

  — Nossa, mamãe, seu quarto é lindo — brinquei ao olhá-lo ligando para a recepção.

  Me afastei um pouco e encontrei o frigobar, dentro tinha algumas bebidas que não me importei de pegar. Abri uma e, aproveitando sua distração momentânea, comecei a tomar até que ele a pegou de mim.

  — Não a trouxe aqui para isso — disse ele, colocando a garrafa em cima da mesa.

  — E me trouxe para que? — Me aproximei dele. — Por que não bebemos os dois?

  Sugeri com um sorriso sapeca.

  — Você está fora de si — disse ele, se afastando, seguindo em direção à cama. — Te aconselho a tomar um banho quente, vou preparar a cama e você vai dormir logo em seguida.

  — Não — fui até ele e o empurrei.

  Assim que %Lance% caiu na cama, me joguei em cima dele e fiquei olhando-o com malícia. Olhos fixos um no outro, respirações sincronizadas, coração acelerado e um desejo reprimido emanando dele, eu conseguia sentir bem o quanto se esforçava para manter-se racional aos meus movimentos.

  — Por que não se rende? — Eu aproximei meu corpo mais do dele, sentindo sua respiração ofegar um pouco e seu corpo arrepiar. — Não era isso que queria? %Violet% Vidal pode ser sua, aqui e agora.

  Pequena %V%.

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  S.O.S. 2.0

  Alguém segura essa garota. Parece que a briga com o irmãozinho Matt foi a gota que faltava para nossa dream princess perder o controle e nem mesmo o dia mágico com nosso chefe %Joseph% conseguiu superar. Será que nosso sedutor, ou melhor, a consciência Village vai conseguir resistir à tentação ou sucumbirá ao desejo Vidal?