Capítulo 4
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"When I was sorry it was too late to turn around (turn around) and tell you so: there was no reason, there was no reason. Just a foolish beat of my heart."
%Johnny%’s POV:
Meus olhos varreram o salão em busca dela e Taeyong colocou uma das mãos sobre os meus ombros.
— Você sabe que nós não precisamos de confusão hoje, não é?
Eu assenti com a cabeça, tentando manter as batidas do meu coração ritmadas. Mas a verdade é que eu já podia sentir todo o meu corpo me traindo, se ela realmente estivesse com alguém, eu não sei exatamente o que seria capaz de fazer.
— Relaxa, cara — Taeyong apertou meu ombro antes de soltar um suspiro impaciente. — Você tá parecendo um animal enjaulado.
Meus olhos continuavam vasculhando cada canto do pub, e então eu a vi.
%Hyeri% estava sentada em uma das mesas mais afastadas, os longos cabelos soltos sobre os ombros e uma expressão indecifrável no rosto. Mas o que realmente fez meu sangue ferver foi o cara sentado à frente dela. Ele se inclinava levemente, olhando para ela como se já imaginasse o gosto dos lábios dela nos dele.
Meus punhos se fecharam automaticamente, e antes que eu pudesse pensar em qualquer consequência, já estava dando um passo na direção deles.
— %Johnny%! — Taeyong segurou meu braço com força. — Eu falei pra você não fazer merda.
— Eu só vou tomar um ar — menti, arrancando meu braço da mão dele.
Minhas pernas se moviam sozinhas, o coração martelando dentro do peito. Eu sabia que tinha perdido %Hyeri%, que tinha fodido tudo, mas ver outra pessoa no meu lugar? Alguém que, porra, provavelmente não sabia que ela amava Harry Potter e detestava café sem açúcar? Que não sabia que ela adorava dormir agarrada, mas ficava emburrada se eu mexesse demais no cabelo dela?
A ideia de que outro cara pudesse tocá-la como eu tocava me fez perder completamente o controle.
Me aproximei o suficiente para ver a expressão dela mais de perto. Ela não sorria, não parecia minimamente interessada no babaca que tentava impressioná-la. Talvez isso devesse me confortar, mas tudo o que eu queria era pegá-la pela mão e tirá-la dali.
Então, como se sentisse minha presença, %Hyeri% ergueu os olhos e os nossos olhares se encontraram.
E, naquele instante, eu soube.
Ou pelo menos, queria acreditar que era.
Taeyong estava ao meu encalço, eu podia senti-lo atrás de mim, mas isso não me parou.
Sem cerimônias eu estendi minha mão na direção de %Hyeri% enquanto me aproximava mais ainda de onde ela estava. Levei meus lábios até a altura de seus ouvidos e chamei:
— Vamos embora %Hyeri%. — Eu a vi se afastar um pouco, como se isso pudesse conter o arrepio que eu sei que passou por sua espinha.
— Eu estou aproveitando a minha noite %Johnny%, não vou embora agora, muito menos com você.
Eu estreitei os olhos, mantendo minha mão estendida enquanto a observava de perto. %Hyeri% tentava parecer firme, inabalável, mas eu a conhecia bem demais para cair nesse teatro barato.
Ela desviou o olhar por um instante, levando o copo aos lábios, e foi aí que eu soube.
Os olhos dela sempre a entregavam. Eu via através daquela pose indiferente, via o desconforto na forma como suas mãos apertavam a borda da mesa, na maneira como ela evitava me encarar por muito tempo. Se estivesse mesmo aproveitando a noite, não teria afastado o corpo quando sussurrei em seu ouvido. Se estivesse mesmo curtindo a companhia desse cara, não teria sentido aquele arrepio que percorreu sua espinha quando me aproximei.
Apenas não queria admitir.
— Aproveitando? — perguntei, forçando um sorriso de canto, deixando meu olhar deslizar lentamente sobre ela. — Porque, pra mim, você parece entediada pra caralho.
Os dedos dela apertaram o copo um pouco mais forte, e eu soube que acertei em cheio.
O cara à mesa olhou de mim para ela, como se tentasse entender o que estava acontecendo, e aquilo só me irritou mais. Ele não pertencia a essa conversa. %Hyeri% e eu éramos um campo de guerra onde só nós dois sabíamos lutar.
Me inclinei mais uma vez, a voz baixa, para que apenas ela ouvisse:
— Para de fingir, %Hyeri%. Você e eu sabemos que você não quer estar aqui.
— Olha cara, eu acho que você pode deixá-la em paz. Ela está acompanhada, você não viu?
Me endireitei lentamente, desviando o olhar para o cara que finalmente resolveu abrir a boca. Ele me encarava com um ar de desafio, tentando se afirmar na situação, como se fosse algum tipo de ameaça para mim.
— E você acha que isso significa alguma coisa? — perguntei, cruzando os braços.
O cara franziu a testa, sem saber como responder. Eu me virei de novo para %Hyeri%, que agora mantinha o olhar fixo no copo, como se quisesse desaparecer.
— Me diz, %Hyeri%. Você quer que eu vá embora? — minha voz saiu baixa, mas carregada de intenção.
Ela engoliu em seco, mas sustentou o olhar. Eu a vi hesitar. Ela podia dizer que sim, que eu devia deixá-la em paz, mas não disse. Porque nós dois sabíamos a verdade.
— %Johnny%… — ela começou, mas sua voz falhou por um instante.
— Você só precisa dizer, baby. — Me inclinei mais uma vez, deslizando os dedos pela lateral do seu braço, sentindo seu corpo reagir ao meu toque.
O cara ao lado dela bufou, impaciente.
— Eu já disse pra você dar o fora!
Antes que ele pudesse fazer algo estúpido, voltei meu olhar para ele, frio e calculista.
— E eu já disse que isso não. Vamos embora %Hyeri%.
— Ela não vai a lugar nenhum com você. Ela não está disponível para você hoje, aliás ela não está disponível para homem nenhum, está comigo e me deve respeito. Não é %Hyeri%?
O homem se levantou abruptamente, a arrogância estampada em seu rosto. A tensão entre nós crescia a cada segundo e eu pude sentir o seu desejo de confronto no ar, como uma corrente elétrica prestes a se soltar. Ele não esperava a minha reação.
— Você está dizendo isso como se ela fosse sua propriedade, cara? — eu perguntei, a voz calma, mas cortante. Eu sabia que precisava manter o controle — Você acha que está no controle da situação, mas não sabe onde está se metendo, sabe?
Logo em seguida ele riu, como se minha pergunta fosse a coisa mais engraçada que ele já tivesse ouvido.
— %Hyeri%? — Ele olhou para ela, que agora parecia mais desconfortável do que nunca. — Nessa noite, ela é minha acompanhante. Eu não vim aqui para nada, não vou simplesmente perder meu tempo, nós vamos embora daqui para algum lugar interessante, ela será minha essa noite e você vai sair do caminho agora.
Ele ergueu a mão em direção a ela, fazendo aquele movimento tão familiar de tentar dominá-la com um gesto, como se ela não tivesse voz própria. %Hyeri% o olhou com os olhos vazios por um segundo, e me senti em um dilema interno, me preparando para qualquer coisa que fosse acontecer.
— %Hyeri%… — O cara chamou novamente, e eu vi um brilho estranho nos olhos dele, como se estivesse certo de que ela iria se levantar e segui-lo.
Mas eu não podia deixar isso acontecer. Não mais. Eu já sabia que ela estava em pedaços, mas isso não significava que eu iria deixá-la ser tratada como se fosse qualquer coisa.
Olhei para ela uma última vez, tentando entender se ela ainda estava comigo, se ela ainda sabia que não poderia deixar que ele a levasse para qualquer lugar.
Mas então, ela se levantou, depositando o guardanapo sobre a mesa e ajeitando a bolsa no ombro, a mão dela se levantando bem devagar para ir de encontro a do homem que me desafiava e eu não deixaria aquilo acontecer, nem morto.
Segurei a mão dela, antes que ela alcançasse a dele e então comecei a andar, puxando-a comigo. Eu ouvi o babaca que achava estar acompanhando-a reclamar algo e sussurrei para Taeyong:
— Cuide desse imbecil para mim.
Eu a puxei com mais força, ignorando o olhar surpreso dela, e continuei caminhando rapidamente em direção à saída. O barulho da reclamação do babaca atrás de nós ficou cada vez mais distante, mas eu não estava preocupado com ele naquele momento. Só me importava com ela.
Quando chegamos ao estacionamento, abri a porta do meu carro de uma forma quase agressiva, sem parar para olhar para ela. Eu sabia que precisava ter o controle total da situação, e o controle incluía levá-la para longe dali.
A empurrei para dentro do carro, no banco de trás, e, antes que ela tivesse a chance de reagir, fechei a porta com um estrondo. Minha respiração estava pesada e, por um momento, eu só fiquei ali, parado, tentando controlar o que estava acontecendo dentro de mim.
Olhei através da janela do carro e vi Taeyong trocando algumas palavras com o babaca, que parecia estar com medo, mas o que importava era que ele tinha ficado para trás. Agora, só restávamos eu e %Hyeri%.
Virei para o banco de trás, onde ela ainda estava, com o olhar distante, confusa e talvez até um pouco assustada. Não era a reação que eu esperava, mas sabia que seria assim. Ela devia estar se perguntando o que havia acontecido, por que eu a havia arrastado para fora daquela maneira.
Sentei ao volante, sem olhar para ela de imediato. Estava me segurando para não gritar, para não deixá-la sentir ainda mais a confusão que havia se formado entre nós. Não queria parecer que estava apenas jogando mais gasolina no fogo.
Quando finalmente olhei para ela, meu tom foi baixo e mais calmo do que eu imaginava que seria.
— Não vou deixar nenhum homem te tratar assim, %Hyeri%. Nunca mais.
— Assim como? Como você me tratava? — ela fingiu um riso e eu pude ver pelo retrovisor ela cruzar os braços abaixo dos seios, na defensiva.
Aquelas palavras me atravessaram com navalhas afiadas, cortando minha carne.
— Eu amo você %Hyeri%. — foi o que eu consegui dizer — Você nunca foi um objeto para mim.
Aquelas palavras saíram da minha boca com um peso que eu não esperava, mas mesmo assim, era o que eu sentia. Quando dei partida no carro, o som do motor preenchendo o silêncio, eu percebi que ela estava mais distante do que nunca.
Eu tentei olhar para ela pelo retrovisor, mas ela desviou o olhar, e o gesto de cruzar os braços não me passou despercebido. Ela estava protegendo a si mesma, como se se fechar fosse a única coisa que ela podia fazer para não se ferir ainda mais.
— Não, %Johnny%! — ela protestou, a voz firme, quase desafiadora. — Você não pode simplesmente sair puxando as pessoas para dentro do carro e achar que tudo vai ficar bem. Você não tem o direito de fazer isso.
Fiquei em silêncio por alguns segundos, a mão apertando o volante com força. Eu sabia que aquilo não era a maneira certa de lidar com as coisas, mas não conseguia entender por que ela estava tão contra mim agora.
— Eu sei que você está brava, mas você não entende. Eu só... eu só não podia deixar aquilo acontecer, %Hyeri%. Eu não ia deixar você sair com aquele cara.
— E quem é você para decidir o que eu posso ou não fazer? — ela rebateu, virando o corpo para me encarar. — Isso não é sobre proteção, %Johnny%. Isso é sobre controle! Você não tem mais o direito de me controlar, entende?
Eu sabia que ela estava certa. Mas, porra, era difícil ouvir isso. O que mais eu podia fazer se não tentasse impedir que ela se perdesse, que ela se machucasse de novo?
— Eu só estou tentando fazer o que é melhor para você, %Hyeri% — respondi, a voz mais suave agora, mas ainda cheia de frustração.
Ela soltou um suspiro cansado e olhou pela janela do carro, o silêncio entre nós ficando ainda mais pesado. Eu sabia que ela não ia acreditar em mim agora, mas eu precisava continuar tentando. Eu não podia mais perder ela. Não de novo.
🍀🍀🍀