O som grave saindo da caixa de som, me impediu de ouvir com clareza o que o rapaz falava e então eu me inclinei para mais perto dele para que pudesse entender. Mas enquanto ele falava, eu só podia pensar no quanto aquela ideia era uma furada tremenda.

  Eu havia começado a terapia há quase uma semana e o conselho que havia recebido do terapeuta era o que deveria me abrir para conhecer novas pessoas. Eu ainda estava desempregada e sem ânimo algum para sair de casa e ir para as baladas que eu frequentava com %Johnny%, sem ele. Mas ali estava eu, arrastada por Minseo e outras amigas, sentada em uma mesa de um pub superlotado de Seul, conhecendo o amigo de um dos peguetes delas.

  Ele era um homem bonito, charmoso, de conversa arrastada, que sempre que tinha uma oportunidade, olhava pros meus lábios demonstrando a vontade que estava de me beijar. O papo dele não era ruim, mas nós dois pareciamos não ter nenhuma única coisa em comum. Eu não sentia aquela vontade de gargalhar das coisas que ele dizia, ou aquela imensa vontade de conversar por horas sobre algo que eu gostava, não sentia aquele calafrio, o estômago revirando em antecipação. Nada disso.

  A verdade é que eu só consegui pensar: e se ele fosse o %Johnny%? O que nós estaríamos fazendo agora? E se fosse o %Johnny% aqui, me pagando uma bebida, conversando sobre Star Wars, ou Senhor dos Aneis e Harry Potter? Provavelmente eu já teria deixado ele me beijar e muito mais.

  Eu concordei com a cabeça quando ele terminou de falar, e sinceramente, não consegui prestar atenção em nada, então só rezei que ele não tivesse terminado o assunto com uma pergunta.

  Minseo e os outros haviam se levantado para dançar naquele instante e eu vi os olhos do rapaz a minha frente se voltarem novamente para os meus lábios.

  Que gosto ele teria? Eu me perguntei encarando os lábios dele de volta. Os lábios de %Johnny% sempre tinham um gosto único, uma combinação que parecia feita sob medida para me viciar. Às vezes, era um toque sutil de menta do chiclete que ele mascava distraidamente. Outras vezes, um leve amargor da cerveja que ele tomava sem pressa. Nos dias frios, havia um resquício de café forte, misturado ao calor do próprio beijo. E, nos momentos mais íntimos, eu sentia o sabor suave da sua pele, o cheiro amadeirado do perfume que se misturava ao dele, deixando-me completamente embriagada.

  Engoli em seco.

  O cara à minha frente ainda me olhava daquele jeito cheio de intenção, mas a única coisa que minha mente fazia era comparar. Ele não era %Johnny%. Seu cheiro não era o mesmo, seu olhar não tinha aquela intensidade que me fazia perder o fôlego, e, com certeza, seus lábios não teriam aquele gosto viciante que eu conhecia tão bem.

  Suspirei e desviei o olhar, levando o copo à boca para disfarçar o incômodo.

  Todos queriam que eu conhecesse novas pessoas, mas como eu poderia seguir em frente se tudo o que eu fazia era procurar traços de %Johnny% em qualquer um que se aproximasse?