O suspiro demorado que saiu dos meus lábios foi  suficiente para Minseo arregalar os olhos preocupada. Aliás não só isso, eu sabia que estava quase num estado deplorável: pálida, com olheiras, havia perdido algum peso e meus olhos estavam sempre opacos, sem brilho. Meu cabelo, antes sempre arrumado e sedoso, agora vivia preso de qualquer jeito, como se eu não tivesse energia nem para cuidar de mim mesma. As roupas que eu escolhia eram largas, desleixadas, um reflexo perfeito do caos interno que eu tentava esconder.

  A verdade era que, desde que deixei %Johnny% para trás, tudo parecia ter perdido o sentido. Meu apetite se foi, as noites de sono eram interrompidas por pensamentos que eu não queria ter, e cada manhã parecia mais difícil do que a anterior. Mesmo tentando seguir em frente, algo dentro de mim ainda doía, ainda sangrava silenciosamente.

  — %Hyeri%… — Minseo chamou meu nome baixinho, como se tivesse medo de me assustar. — Você precisa parar com isso. Olha só para você! Você tá… — ela hesitou, procurando as palavras certas.

  Mas não precisava terminar a frase. Eu sabia. Eu estava um desastre.

  — Eu marquei terapia, mas não sei se devo ir mesmo. O que eu vou falar pro teraupeta?

  — Que você precisa se livrar urgentemente da sua dependência emocional do %Johnny%… isso tá destruindo você. Ou então… — Minseo pareceu parar para pensar antes de prosseguir — Volta para ele.

  — Voltar para ele? — eu repeti as palavras Minseo para mim mesma enquanto encarava um ponto qualquer da cafeteria.

  Voltar para ele implicava tantas coisas… aceitar suas mentiras, aceitar que talvez nunca fosse a única na vida dele, aceitar a vida que ele levava.

  — Eu não sei se suportaria… — minha voz saiu num sussurro, como se eu estivesse confessando o meu maior medo. — Aceitar as mentiras dele, aceitar que talvez eu nunca tenha sido a única… aceitar esse mundo sujo que ele escolheu para viver.

  Minseo suspirou, cruzando os braços sobre a mesa.

  — E sem ele? Você acha que tá melhor? %Hyeri%, olha pra você… você se perdeu completamente.

  Desviei o olhar, encarei a xícara de café à minha frente, mas a verdade era que as palavras dela ecoavam na minha mente. Porque, sim… eu estava no fundo do poço sem %Johnny% também. Por mais que ele tivesse me machucado, mentido, por mais que tudo indicasse que eu deveria seguir em frente, algo dentro de mim me puxava de volta. Como se meu coração pertencesse a ele, não importava o quanto minha mente gritasse o contrário.

  — Eu só… — passei a mão pelos cabelos, frustrada. — Não sei o que fazer, Minseo. Se fico longe, morro aos poucos. Se volto, me destruo de outra forma.

  Ela segurou minha mão sobre a mesa, seu olhar carregado de compaixão.

  — Então talvez a resposta não seja voltar pra ele ou continuar longe, mas sim encontrar um jeito de se encontrar primeiro. Antes de qualquer coisa, você precisa saber quem é a %Hyeri% sem o %Johnny%.

  Quando voltei para casa do encontro com Minseo, preparei uma salada de frutas rapidamente na cozinha, já que as frutas eram a única coisa que meu estômago estava aceitando e me sentei de frente ao notebook.

  Eu precisava procurar um emprego, já que como um efeito dominó eu havia perdido o meu quando deixei %Johnny%. Me peguei pensando que tipo de efeito era aquele que eu estava vivendo, como se minha vida estivesse completamente desequilibrada com ele, mas ainda pior sem tê-lo comigo. A perda de %Johnny% havia afetado até áreas que não tinham nada a ver com ele.

  Enquanto o notebook ligava eu levei a colher com algumas frutas até meus lábios e meus pensamentos me traíram: onde ele estava? Porque não havia me procurado depois do término? Ele sempre vinha atrás de mim quando brigávamos e nos afastávamos, e aquela era a primeira vez que ele simplesmente não lembrava da minha existência.

  E no fundo, pensar nisso agora, com essa visão, doía.

  A colher parou no meio do caminho até meus lábios, e por um instante, me peguei encarando o nada. O silêncio do apartamento parecia mais pesado do que nunca, como se a ausência dele ecoasse em cada canto.

  Balancei a cabeça, tentando afastar aqueles pensamentos. Isso era exatamente o que Minseo estava falando. Eu não podia continuar vivendo à sombra de Jhonny, esperando que ele viesse me buscar. Mas, ao mesmo tempo, não conseguia ignorar a dor sufocante de ser esquecida por ele tão facilmente.

  Será que ele já tinha seguido em frente? Será que outra mulher estava ocupando o lugar que um dia foi meu?

  Senti meu estômago embrulhar. Larguei a colher de qualquer jeito dentro da tigela e me forcei a olhar para a tela do notebook. Empregos. Era nisso que eu tinha que focar agora.

  Digitei algumas palavras-chave no navegador e comecei a procurar, mas os anúncios e descrições das vagas pareciam embaralhados diante dos meus olhos. A verdade era que minha mente estava a quilômetros dali, imaginando %Johnny% em algum lugar da cidade, vivendo a vida dele como se eu nunca tivesse existido.

  Odiava isso. Odiava a forma como ele me fazia sentir pequena, descartável. Como se o nosso amor tivesse sido só mais um capítulo qualquer na história dele.

  Fechei o notebook de repente, respirando fundo.