Drácus Dementer


Escrita porHels
Revisada por Natashia Kitamura


Capítulo 9

Tempo estimado de leitura: 9 minutos

  Durante todo o caminho, Jimin não falou comigo, tentando não me deixar mais chateada do que eu já estava. Eu posso muito bem tomar as minhas próprias decisões, e se eu disse que não viria, tudo que ele deveria fazer, era aceitar. Não sei qual o seu problema em sempre querer me manter por perto desta maneira. Wendy seria alguém muito mais divertida do que eu, e sei que não se incomodaria em fazer isto.
  Tendo a luz da lua como nossa única guia durante a noite, nós saímos do vilarejo e entramos na floresta, passando por todos os caminhos decorados, até que estivéssemos em frente a mansão. E poucas eram as janelas que ainda estavam acessas.
  Carregando a minha mala, Jimin passa na minha frente para que eu o acompanhe. E assim, atravessamos o jardim e subimos os pequenos degraus que nos levaram até a porta de entrada; atravessamos ela e depois o hall, para, em seguida, subirmos as escadas da direita, entrando no corredor que eu ainda não conhecia na mansão. E assim como no lado do quarto de Jimin, este lado também era composto por portas, que penso ser do restante dos outros quartos.
  Jimin para na primeira porta da parede do lado direito e a abre, revelando um quarto quase que inteiramente coberto pela cor vermelha, desde os lençóis da cama, até as cortinas das janelas e do tapete.
  – Esse é o quarto da Amia. Ela está viajando, então você pode ficar. Tem outros quartos no andar de cima, mas acho que você não vai querer ficar sozinha lá. – Jimin coloca minha mala para dentro do quarto, meio sem jeito. – Qualquer coisa, é só atravessar o corredor e me chamar. – Ele aponta para fora do quarto.
  Eu apenas assinto. E, ele, ainda mais sem jeito, sai do quarto e fecha a porta.
  Assim que estou sozinha, solto um longo suspiro, me sentindo completamente cansada desse dia, cansada em todos os sentidos possíveis.
  Encaro a mala deixada ao lado da porta e penso que não devo arrumar minhas coisas nesse quarto se tenho planos para ir embora amanhã mesmo. E, com outro suspiro, caminho até a cama e me sento na ponta dela, observando o quarto em que eu passaria uma noite. Tudo era realmente excêntrico e extravagante demais para mim, e todo esse vermelho vibrante deixava tudo menos confortável.
  Perco uns bons minutos encarando um ponto qualquer do quarto, como se isso fosse ajudar o tempo a passar mais rápido. E sem muitas opções, me levanto da cama e vou até à mala outra vez. Vasculho tudo que Wendy preparou para mim, mas não acho nada além de roupas, nem mesmo meu celular.
  Bufo, um pouco frustrada, e me afasto da mala, com uma nova muda de roupas que peguei para dormir. Vou até o banheiro e me troco, para depois sair do banheiro e deixar as roupas que usei antes dobradas sobre a mala, que, agora, estava ao lado da cama.
  Com os pés cobertos apenas por meias, me aproximo da janela de cortinas vermelhas, as afastando para o lado, tendo uma vista completa do quintal dos fundos da mansão, assim como do caminho de árvores que levava até o lago. E em meio a imensidão do gramado bem aparado, uma única pessoa estava parada no meio do jardim, com as mãos para dentro dos bolsos de suas calças escuras. O vento do lado de fora, balançava os fios de seus cabelos acinzentados levemente e sua camisa parecia acompanhar o balanço dos cabelos. E o brinco em sua orelha, cintilava de longe.
  Era Taehyung. Com certeza era ele parado ali no meio do jardim, encarando as grandes árvores ao redor da mansão. Eu não tenho noção das horas agora, mas, com certeza, já está tarde, então me pergunto o que ele pode estar fazendo ali a essa hora?
  E como se pudesse sentir que eu pensava nele, parte de seu tronco se vira e seus olhos que pareciam ter um brilho diferente nesse momento, como um vermelho cintilante, olham diretamente para a janela por onde eu espiava. E, por um momento, parece que o vidro limpo que me separava da noite do lado de fora havia sumido, me deixando em um estado de vulnerabilidade e nervosismo. Me afasto da janela e coloco a cortina de volta no lugar, sabendo que não adiantaria torcer para que ele não tenha me visto, porque sei que ele viu.
  Eu deveria dormir, descansar e esquecer tudo isso de uma vez. Não acho que ficar espiando Taehyung da janela seja uma coisa boa, ele pode se irritar e já sei muito bem que não gosto dele quando está irritado.
  Respiro fundo, antes de procurar pelo interruptor de luz, deixando o quarto imergir na escuridão da noite, para que assim eu possa ir até à cama e dormir, tendo minha primeira noite de sono na mansão.

***

  – Vamos, querida, acorde!
  Escuto minha própria voz sussurrar, como se fosse um eco por todos os lados. Era suave e calmo, me fazendo sorrir, mesmo que meus olhos estejam fechados.
  – Acorde, Elena Van Helsing!
  Abro os olhos, tendo a vista de um teto completamente branco. Viro minha cabeça para o lado e vejo mais branco nas paredes à direita.
  – Aqui, querida.
  Sinto a pressão de um dedo cutucar meu ombro, e quando olho para o lado, meus olhos se arregalam ao encontrar a minha própria imagem sentada ao meu lado. Não havia o que por nem tirar, essa pessoa era eu.
  Me sento em um movimento rápido, encarando com completo espanto a figura que sorria para mim.
  – Não precisa ter medo, nós somos a mesma pessoa... talvez não sejamos tão parecidas assim, mas tenho certeza que logo seremos uma só. – Minha própria imagem diz, trazendo a sensação como se eu olhasse para um espelho.
  Seus cabelos estavam presos em um baixo rabo de cavalo, e o vestido que usava, era da mesma cor que tudo neste lugar: branco. Como estar no meio do nada, uma grande caixa branca e sem saída.
  Eu devo estar ficando louca, não há outra explicação para isso.
  – Não. Você não está louca, Elena.
  Todo o meu corpo congela.
  – Você não deveria estar surpresa, eu já disse que somos a mesma pessoa. Talvez isso te acalme um pouco... Nós estamos em um sonho, um sonho aqui dentro. – Ela aponta para a própria cabeça.
  Então tudo isso não é real? É só um sonho estranho, um sonho como qualquer outro.
  – Pense como quiser. Nós só precisamos ter uma conversa. – Sua expressão se torna séria.
  E mesmo que isso fosse apenas um sonho, era completamente louco conversar comigo mesma.
  O cabelo, o rosto, o corpo, tudo me formava, mas seus gestos e até mesmo entonação da voz, eram um tanto quanto diferentes. Alguém com mais confiança e seriedade no olhar, talvez, uma irmã gêmea com traços menos contidos que os meus.
  – Para que você entenda o que eu vou dizer agora, pense em mim como um Alter Ego seu... na verdade, é exatamente isso que eu sou. Um Van Helsing costuma ser assim, nós somos pessoas especiais e, por isso, em cada um de nós, existe um Alter ego esperando o momento certo para aparecer. E o meu momento, Elena, chegou agora.
  Franzo meu cenho, não entendendo tudo isso.
  – Você teve algumas dúvidas antes, a respeito do verdadeiro motivo que levou vovó a não deixar que nós e Wendy voltássemos para Upiór, não é? E ainda tem o Jimin e sua adolescência de cem anos atrás.
  – Por que está falando sobre isso? Eu já entendi que foi um engano meu.
  Seu semblante se torna mais sério, uma feição que eu nunca vi em mim, pelos menos não com essa intensidade.
  – Nunca é um engano, Elena.
  – Se não é um engano, então me explique. – Mesmo que isso fosse um sonho estranho, eu quero entender cada pedaço dele.
  – Eu já disse, sou uma parte sua, uma parte que ficará guardada até que você entre em contato com aquilo que me despertará. Não vim do futuro para te dar respostas. Tudo que sei é que sou uma parte diferente de você, uma parte que esteve esperando o dia em que eu fosse despertada pela primeira vez, para que tivéssemos essa conversa, onde eu te faria ir atrás das nossas respostas.
  – Eu não entendo. O que é isso que te despertará? – Suspiro alto, me sentindo cada vez mais confusa.
  – Eu não sei, Elena. Mas nós precisamos descobrir isso juntas. Desde que chegamos na casa da vovó, eu me tornei inquieta, eu acordei do meu longo sono e vi tudo que você viu. Tenho as mesmas dúvidas, mas ao contrário de você, eu não resolvi esquecê-las, apenas sei que quando estou naquela mansão, eu fico completamente descontrolada dentro de você, mas ainda me sinto presa. Por isso, sei que só vou poder ser liberta, quando você descobrir tudo... Elena – Ela segura as minhas mãos de forma nervosa e exasperada. Seus olhos eram suplicantes, encontrando os meus. –, a resposta está na mansão e em todos aqueles que moram lá. Nós não podemos desistir. Eu sei que sua vontade é de voltar para casa, mas fique com eles durante esses três dias e se atente a todos os detalhes. Eles são especiais como nós, eu sinto que são.
  Dentro de meu próprio sonho, me sinto zonza, sinto minha cabeça dar voltas e mais voltas, tudo se embolava em uma grande confusão. Os sentimentos dela pareciam tão reais que eu senti cada um deles dentro de mim, eu realmente sentia. Havia uma grande conexão entre nós duas, me fazendo acreditar que ela era mesmo o meu Alter Ego, minha parte adormecida... até este momento, pelo menos.
  – Como posso descobrir algo que eu nem mesmo sei o que é? – Pergunto, completamente angustiada. E sei que esse sentimento vinha diretamente dela.
  – Nós somos espertas. Já desconfiamos de algumas coisas, mas ninguém irá nos contar a verdade, por isso, precisamos fazer as coisas sozinhas. – Ela solta uma de minhas mãos para levar seu dedo indicador até o meu tronco, pressionando o dedo contra a pedra de aíma do meu colar. – Toda vez que ela brilha, eu pareço queimar, é como se eu estivesse a um passo de ser liberta. Use ela, use esse calor e nós chegaremos na resposta mais rápido.
  Fico em silêncio, absorvendo tudo que escutei, enquanto encaro nos olhos daquela que é a minha imagem, a minha própria angústia. E, sentindo que poderia ser engolida por uma onda de nervosismo compartilhada, assinto para o meu Alter Ego, que expira aliviada.
  – Da próxima vez que nos encontrarmos, já seremos somente uma, Elena Van Helsing.

Capítulo 9
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