Drácus Dementer


Escrita porHels
Revisada por Natashia Kitamura


Capítulo 8

Tempo estimado de leitura: 22 minutos

  Nesta manhã, como vovó teria que se preparar para sua viagem com Sebastian, ela não iria para a loja, deixando essa responsabilidade comigo e com Wendy.
  Para minha felicidade, não precisei de novas ataduras hoje, pois a pasta de Erva-Laranja que vovó havia feito para que eu passasse em meus pulsos, curou cada um dos meus machucados, por sorte, não deixando nenhuma cicatriz. Era como mágica.
  Como já era de costume, e como já aprendemos, minha irmã e eu fomos direto para a loja, debaixo do sol fraco mas quente o suficiente para ser agradável. Os dias estavam ficando cada vez mais estranhos, o calor e belos dias ensolarados de quando chegamos estavam se despedindo aos poucos, deixando a atmosfera mais nebulenta.
  Wendy me informou sobre as vendas do dia anterior, e disse que hoje não teríamos nenhuma encomenda, pois as ervas estavam quase acabando e as pessoas não costumam comprar flores todos os dias.
  – Você não acha estranho que a vovó sempre esteja com o Sebastian? – Wendy pergunta detrás do balcão, limpando a superfície amarela com um pano.
  Paro de espanar os pequenos potes de vidros com ervas, que estavam colocados nas prateleiras, e olho para minha irmã.
  – Não acho, Wendy. Nós ficamos um bom tempo sem voltar pra Upiór depois que o vovô morreu, então é normal que a vovó tenha ficado mais próxima do amigo dela. Agora deixe de inventar coisas.
  Wendy para de limpar o balcão, mantendo sua mão sobre o pano.
  – Sabe qual o seu problema? – Segurando o pano, ela aponta para mim. – Você é muito inocente, Elena.
  – Inocente? – Estreito meus olhos, encarando-a com seriedade.
  Wendy assente e dá de ombros.
  – Não vou pegar no seu pé porque você só tem dezoito anos. Mas deveria aproveitar melhor a vida. – Descontraída, Wendy volta a limpar o balcão.
  – Nossos conceitos de "aproveitar melhor a vida" são bem diferentes. – Nego com a cabeça, enquanto rio com o jeito de minha irmã.
  Não sei porque ainda me impressiono, Wendy sempre foi assim, ela é o meu completo oposto, nós não nos parecemos em nada, talvez a cor de nossos cabelos seja a única coisa que nos ligue desta forma.
  – Toc-toc!
  Duas leves batidas na porta acompanham uma voz grave e calma.
  Olho para a entrada da loja, tendo uma espécie de déjà-vu ao encontrar dois visitantes inesperados, desta vez sendo Namjoon e Jungkook.
  O primeiro, mais velho e mais alto, tomava a frente. Namjoon era quem havia batido na porta aberta da loja. Ele tinha um bonito sorriso em seu rosto, enquanto olhava admirado para todos os detalhes da loja. Desta vez, ele não estava de óculos, deixando seu rosto completamente livre para minha visão.
  O segundo garoto, este mais novo e com uma expressão menos animadora, estava atrás de Namjoon, não parecendo tão contente em estar aqui. Mas Jungkook parecia ser deste tipo, de qualquer maneira. Talvez todos os garotos mais novos dessa família tendem a ser um pouco ríspidos.
  – Bem-vindos... hum... o que fazem aqui? – Me viro para o lado, encarando-os com um pouco de confusão.
  – Nós viemos te buscar. – Jungkook diz e um sorriso provocador surge em seus lábios avermelhados.
  Ele passa na frente de Namjoon, vindo em minha direção.
  Seguro o espanador em frente ao meu corpo, pronta para usá-lo se fosse necessário.
  Com as mãos dentro dos bolsos, ele para na minha frente, quase me fazendo prender a respiração, enquanto tentava me mexer o mínimo possível.
  – M-Me buscar pra quê? – Pergunto, tentando me manter séria, mas tudo que tenho é meu nervosismo.
  Olho, rapidamente, por cima de meus ombros, procurando por Wendy, que estava com os cotovelos apoiados no balcão e o rosto apoiado na mão direita.
  – Jimin está preparando algo especial pra você e pediu que viéssemos te buscar. –Volto a olhar para frente, encarando Namjoon com espanto.
  Algo especial? Por que ele faria isso? Jimin tem levado as coisas muito a sério, e às vezes me sinto mal por apenas ir na mansão, nunca retribuindo essa amizade que ele tem por mim.
  – Se vocês forem aparecer aqui todos os dias atrás da minha irmã, é melhor começarem a comprar. – Wendy diz detrás do balcão. E mesmo sem vê-la, sei que sua expressão deve ser de petulância, assim como suas palavras.
  – Me desculpe, não tenho dinheiro comigo agora. Mas prometo que da próxima vez comprei algumas flores. – Namjoon acena com a cabeça, se desculpando.
  Solto um suspiro, pensando em negar tudo isso e dizer que não posso ir, mas se Jimin realmente está fazendo alguma coisa, seria muito descaso da minha parte negar.
  Olho outra vez para Wendy, que faz um gesto de mão para que eu vá com eles. Mas às vezes me sinto desconfortável com isso, já que enquanto eu vou na mansão quase todos os dias, ela fica aqui na loja trabalhando.
  – Oh!... aquilo é um jardim? – Namjoon pergunta, inclinando seu corpo para o lado, tentando ver através da porta escondida atrás do balcão.
  – Sim. Quer dar uma olhada? – Wendy pergunta, e ele assente, indo até onde ela estava. E assim, os dois vão para o jardim dos fundos.
  Fico em silêncio, encarando a porta aberta, sabendo que havia alguém, neste momento, me encarando, mais perto do que eu gostaria.
  Receosa, vou desviando os meus olhos da porta, até que eles encontrem a imagem de Jungkook, que permaneceu parado perto de mim, com seus grandes olhos castanho-escuros me encarando.
  – Você não quer ir ver o jardim com eles?
  – Não.
  Agarra o espanador com as duas mãos, me sentindo nervosa de novo e de novo.
  Jungkook desvia seu olhar do meu e o sobe em direção às prateleiras atrás de mim. Ele ergue um de seu braço direito até um dos potes de ervas, me fazendo ir, automaticamente, para trás. Encosto minhas costas contra a prateleira, e Jungkook ergue seu braço esquerdo também, e sei que ele não está verdadeiramente interessado nas ervas, e sim em me colocar em uma situação constrangedora.
  Ele solta os potes de vidro, mas não afasta suas mãos das prateleiras, me deixando entre elas, mesmo que ambas estejam muito acima da minha cabeça. Em seguida, seus olhos voltam a me encarar, enquanto ele aproxima seu corpo do meu.
  – Você não quer soltar isso? – Com um discreto movimento de cabeça, ele indica o espanador que eu usava como barreira entre nós dois, para que ele não pudesse se aproximar mais.
  – N-Não. – Expiro falho, me sentindo ainda mais nervosa.
  Ele sorri fechado e fica em silêncio, antes de curvar seu corpo, aproximando, aos poucos, seu rosto do meu. Meus olhos se arregalam, e o nervosismo me faz apertar o espanador com mais força. Penso em usar o objeto para afastá-lo, mas meu corpo estava congelado no lugar e até mesmo o meu sangue parecia frio neste momento.
  Jungkook ia aproximando seu rosto do meu até que eu sentisse sua respiração contra a minha pele que, provavelmente, ganhou um tom rubro.
  – Vocês não têm Erva-De-Sangue aqui? – Ele pergunta, puxando um dos potes de vidro, e se afastando de mim, como se nada tivesse acontecido.
  Solto todo o ar de meus pulmões de uma vez, tentando relaxar meu corpo tenso.
  – N-Não... não temos. – Clareio minha garganta, deixando minha voz menos falha.
  Ele apenas acena com a cabeça e devolve o pote para a prateleira, depois se virando e indo em direção ao balcão.
  – Vou chamar o Namjoon, pra gente ir. – Ele diz, antes de passar pela porta que dava para o jardim.
  – O que diabos foi isso? – Levo uma mão até minha testa, enquanto suspiro pesadamente.

***

  Depois que Jungkook foi chamar Namjoon, nós três seguimos para a floresta que, posteriormente, nos levaria até a mansão. E durante nosso pequeno percurso, Namjoon tentou ser o mais agradável que podia, falando sobre as espécies de flores que ele viu no jardim da loja; ele realmente parecia gostar disso. Já Jungkook seguiu em seu silêncio, olhando apenas para o caminho de árvores e matos à nossa frente.
  Ainda tenho alguns resquícios de meu nervosismo e me sinto um pouco inquieta pelo que aconteceu. Esse tipo de situação não é algo comum para mim, e Jungkook não foi do tipo gentil quando nos conhecemos, e agora tem todas essas provocações dele. Eu deveria tê-lo espantado com o espanador.
  Assim que chegamos nos portões da mansão, Namjoon nos conduziu até os fundos, dizendo que deveríamos entrar em outro caminho de árvores altas. Eu me lembro de ter visto Hoseok seguir por ele no dia anterior, quando ele disse que iria caminhar perto de algum lago.
  Com os barulhos dos pequenos insetos, e debaixo dos fracos raios de sol, nós caminhamos por entre mais árvores que, aos poucos, iam nos revelando uma bela paisagem cristalina, acompanhada por um som contínuo e suave de água e risadas.
  Meus olhos se arregalam, minimamente quando, em meu campo de visão, uma bela paisagem é pintada com as mais variadas cores naturais. Um extenso e sem fim visível lago de água cristalina e limpa, corria na parte detrás da paisagem. E, à beira do lago, uma grande toalha quadriculada estava posta sobre a grama e terra com folhas. Muitas comidas estavam distribuídas sobre a tolha branca e vermelha, assim como todos aqueles que conheci na mansão, estavam sentados e distribuídos pela toalha também.
  – Elena! – Hoseok grita, mesmo que eu estivesse perto o suficiente para escutá-lo. Ele abana sua mão de um lado para o outro, se tornando animado ao me ver.
  Jimin, que estava sentado na direção aposta de Hoseok e ao lado de Blarie, sorri ao me ver, me fazendo retribuir o sorriso. No final das contas, eu gostava de estar perto dele.
  Ele faz um gesto para que eu me aproxime e sente entre ele e Blarie, que logo me dá algum espaço quando paro rente à toalha. E, com cuidado para não pisar nas diversas comidas, me coloco ao meio dos dois.
  – Que bom que você veio. – Jimin diz, sorridente.
  Assinto, com um sorriso agradecido.
  – Já faz algum tempo desde que nos vimos, Elena. – Jin, que estava do outro lado da toalha, sorri para mim, enquanto Namjoon se sentava perto dele e Jungkook perto de Jimin.
  – Sim. Obrigada por me receber. – Aceno, agradecendo.
  – Não seja tão formal. Uma amiga do Jimin também é nossa amiga. – Jin diz, ajeitando Hyun, que estava ao seu lado, entre suas pernas, de maneira que ele possa ajudar o garotinho a tomar o suco do copo que ele segurava.
  Olho para o joelho do pequeno garotinho, mas suas calças me impedem de saber qual era o estado de seu machucado.
  – Agora que ela chegou, nós podemos comer?
  – Sempre tão cortês, Yoongi. – Hoseok, que estava ao lado do garoto que era o mais pálido entre todos e tinha os cabelos brancos, diz, de forma sarcástica.
  – Nós já podemos comer, sim, Yoon. – Jimin ri ao meu lado.
  O final da manhã e o começo da tarde passou agradavelmente, me proporcionando algumas risadas durante esse longo piquenique que tivemos. Todos eram muito educados e tinham inúmeras histórias para compartilhar, e até mesmo Jungkook aproveitou seu tempo sem qualquer tipo de provocação. Era curioso e, de certa forma, até intrigante observar toda a maneira como essa família se comportava quando estavam juntos. Eles com certeza têm vivido por muitos anos juntos, já que tudo fluía naturalmente de forma amistosa e descontraída. Talvez Hyun fosse uma exceção, já que estava mais interessado na comida do que nas conversas que, para ele, sem dúvida eram desinteressantes.
  Essa companhia me fazia mais leve, mesmo que do meu jeito retraído, mas a bela paisagem me ajudava a relaxar. Um cenário digno de histórias bonitas. Passar um tempo nesse lugar com certeza era como encontrar um pouco de paz, apenas a natureza e o barulho dos insetos. E esse belo lago, claro, que daria até pena de entrar, de tão limpa e brilhante que a água dele era.
  – Nós passamos quase a tarde toda aqui. Estou começando a ficar cansado. Você precisa vir aqui menos vezes, Elena, eu não consigo acompanhar esse tipo de evento. – Yoongi diz, com sua voz calma.
  Ele estava deitado de lado, sobre a a toalha, com o rosto apoiado sobre sua mão direita, que estava apoiada por seu cotovelo.
  – Você pode vir aqui todos os dias se quiser. Não ligue pra ele. – Hoseok fala, com seu grande sorriso. Ele realmente era como o sol, alguém quente e animado, acho que não consigo imaginá-lo em um dia ruim.
  – Você sempre tem esses acessórios bonitos. – Namjoon, sentado de pernas cruzadas, aponta para o meu pescoço.
  Olho para baixo, vendo a pequena pedra de aíma brilhando por debaixo da minha blusa, como ontem.
  – Minha irmã comprou pra mim. Acho que está brilhando por causa do sol. – Puxo a pedra vermelha para fora de minha blusa, mostrando a todos, que a observam com atenção.
  – É bonita. – Jimin fala, ao meu lado, sorrindo.
  Assinto, agradecendo.
  – Bom, agora vamos levar tudo isso pra dentro. Acho que já aproveitamos bastante nosso tempo aqui fora. – Jin se levanta, com Hyun no colo. – Elena, volte quando quiser. – Ele sorri para mim e sai de cima da toalha.
  – Você vai pedir para o Skull vir pegar isso? – Blarie pergunta para Jin, apontando para os pratos e copos vazios espalhados pela toalha de piquenique.
  – Sei que podem ser mais educados do que isso. Vocês vão levar tudo pra dentro, e Skull vai cuidar do resto. – Jin estreita os olhos, rindo para as expressões de desgosto de todos.
  E mesmo que resmungassem, a autoridade de irmão mais velho que Jin tinha era incontestável, e todos acabaram obedecendo seu pedido. Eu até tentei ajudar, mas Jimin me impediu, dizendo para esperar ele aqui, que logo ele voltaria.
  Jungkook foi o único que ficou no lago, talvez para o meu nervosismo, mas ele se comportou tão decentemente durante o piquenique, que eu acho que posso ficar alguns minutos sozinha com ele... pelo menos até Jimin voltar.
  Ele continuou sentado no mesmo lugar, sobre a toalha agora vazia. Jimin era o único entre nós, antes, por isso, a distância é pouca.
  Jungkook fica me encarando sem dizer nada, e mesmo que apenas isso, não me sinto completamente à vontade com a nossa situação. Talvez eu pudesse esperar Jimin no jardim dos fundos, assim seria melhor.
  Determinada a sair desse silêncio incômodo, me levanto pronta para deixar a tolha e o lago, mas ao passar em frente a Jungkook, ele puxa meu pulso para baixo, fazendo meu corpo cair em direção a ele, que em um gesto rápido e ágil, me beija, me deixando completamente atônita.
  Eu não sou a pessoa mais experiente do mundo quando o assunto são relacionamentos, só estive em um até hoje, mas sei muito bem o que ele está fazendo agora, e mesmo que seja apenas um beijo superficial, sem um aprofundamento, não deixa de ser algo que eu não gostaria de ter feito com ele, eu acho.
  Afasto minha boca da sua e o encaro com completo espanto. E tudo que ele faz é sorrir daquela maneira de sempre, quando quer me provocar.
  Puxo meu pulso de sua mão e me afasto dele, correndo para longe entre as árvores altas. Sinto todos os nervosos do meu corpo aflorados, enquanto meus pensamentos se embolam. E assim que saio no jardim dos fundos da mansão, encontro Jimin voltando.
  Como se ele pudesse saber o que aconteceu, olho nervosa para todos os lados, até mesmo para as janelas altas que ficavam na parte detrás da mansão, o que me causava uma sensação ainda mais estranha, como se alguém estivesse me vigiando através de uma delas.
  – Jimin, eu preciso ir embora.
  – Por quê? Aconteceu alguma coisa? – Ele franze o cenho e para de andar.
  Nego com a cabeça.
  – Eu já fiquei bastante tempo. Preciso ajudar Wendy na loja. – Engulo em seco, forçando meu corpo a voltar ao normal.
  Jimin, mesmo que visivelmente desapontado, sorri compreensivo e diz que vai me levar até a loja, e desta vez não o proíbo de fazer isso.
  O garoto parado a minha frente ergue sua mão no ar, sorrindo mais abertamente.
  – Jungkook, Elena já está indo embora. – Jimin fala com alguém atrás de mim. E sem que ele perceba, tento respirar fundo.
  – Até qualquer dia, Elena. – Passando ao meu lado com as mãos nos bolsos e uma expressão descontraída, sem me olhar, Jungkook diz.
  Em passos calmos, ele caminha até a parte da frente da mansão.
  – Vamos? – Jimin se inclina, me olhando com as duas sobrancelhas levantadas.
  Assinto algumas vezes seguidas, antes de começar a caminhar com Jimin, me sentindo mais calma quando nos afastamos da mansão. Respiro aliviada por ter apenas Jimin comigo, que andava absorto de tudo ao seu redor.
  – Hm, Jimin... por que Taehyung não participou do piquenique? – Pergunto, quando estávamos quase chegando na entrada da floresta.
  Jimin me olha surpreso.
  – Você está preocupada com ele agora? – Jimin sorri esperto.
  Franzo o cenho, e abano minhas mãos em negação.
  – Eu só fiquei curiosa, já que ele foi o único que não apareceu.
  Jimin ri de meu desconcerto.
  – Eu acho que ele era um morcego na sua vida passada, porque só vive enfiado naquele quarto escuro. Às vezes eu vejo ele saindo, mas só quando todo mundo já está dormindo. Você não sabe como é difícil tirar ele daquele quarto, nós já brigamos muito por conta disso. – Jimin bufa, quase me fazendo rir de sua feição séria, era adorável para alguém tão gentil como ele.
  Eu até posso entender Taehyung, já que Wendy age da mesma maneira comigo. Mas eu nunca diria isso em voz alta.
  – Parece que chegamos. – Jimin avisa, assim que saímos da floresta e avistamos a pequena loja em cor rosa, no meio do fim da tarde.
  Jimin segura em minha mão, me levanto até a entrada da loja, onde encontramos Wendy atrás do balcão amarelo, olhando para as prateleiras de forma entediada. Expressão essa que logo muda ao nos ver passar pela porta.
  – Até que enfim! Estava só esperando você voltar pra gente fechar a loja. – Minha irmã diz, saindo detrás do balcão e vindo até nós dois. – Oi, Jimin.
  – Oi, Wendy. Desculpe por te fazer esperar. – Jimin acena com a cabeça, em um pedido de desculpas.
  – Tudo bem. – Minha irmã sorri.
  – Por que você já quer fechar a loja? – Pergunto e Wendy arqueia as sobrancelhas.
  – Esqueceu que hoje a vovó vai viajar? Por isso, seria melhor se fossemos mais cedo, assim podemos ajudar ela, se ela precisar. – Ela dá de ombros.
  – Você tem razão, eu já tinha me esquecido disso. – Contorço o rosto em uma carreta de desgosto com o meu próprio esquecimento.
  – Sua avó vai viajar? – Jimin me olha de forma curiosa.
  – Sim. – Assinto. – Ela precisa pegar mais ervas, acho que ficará fora por uns três dias.
  Um grande sorriso surge nos lábios cheios e avermelhados de Jimin, que segura minhas mãos em um gesto rápido.
  – Então você deveria ficar três dias na mansão comigo. – Ele sugere, de forma empolgada, me fazendo olhá-lo com espanto.
  – Como assim ficar três dias na mansão, Jimin?
  – Aproveite que sua avó vai viajar e passe alguns dias lá. Nós podemos nos divertir muito. – Seus olhos quase brilhavam, me olhando me maneira hipnótica.
  Solto minhas mãos das mãos de Jimin.
  – Eu não posso. Wendy vai ficar sozinha.
  – Não seja por isso, eu não me importo. Posso te visitar todos os dias lá. – Wendy passa um de seus braços sobre os meus ombros.
  – Isso! Está decidido então? – Jimin pergunta, com expectativa.
  Encaro os dois como se eles fossem completos loucos, já que essa ideia era louca. Eu mal conheço Jimin e sei que estamos nos tornando bons amigos agora, mas eu não posso simplesmente passar três dias naquela mansão. Não, eu não posso.
  – Me desculpe. – Falo, vendo a expressão de Jimin se tornar triste, enquanto seu sorriso some.
  Encolho os ombros e me viro, indo em direção à porta e saindo da loja, querendo tomar um pouco de ar do lado de fora.
  Eu sinto muito se Jimin ficar chateado, mas eu não posso fazer isso.
  Alguns poucos minutos depois, Jimin sai da loja com Wendy, ele ainda tem um semblante triste, mas não tanto quanto antes. Ele pede desculpas, e depois se despede de Wendy com um aceno de cabeça e uma troca de olhares sérios, que chegava a ser estranho.

***

  Assim que voltamos para casa, vovó já estava terminando de arrumar suas coisas, por isso não demorou até que Sebastian viesse a buscar e eles partissem em uma carroça de mercadorias, antes, claro, com vovó nos dizendo que deveríamos ligar para ela, caso alguma coisa acontecesse. Ela tirou uns bons minutos para nos instruir e dizer tudo que achava necessário.
  Quando ficamos sozinhas, resolvi que faria o jantar, já que vovó não estaria aqui para fazer isso por uns dias, e sei que minha irmã não sabe cozinhar. Eu tive um grande momento de paz na cozinha e de certa forma, me senti surpresa por Wendy não ter ficado no meu pé, insistindo que eu fosse passar uns dias na mansão. Desta vez ela parece ter respeitado a minha decisão e me sinto grata por isso.
  Depois de um jantar calmo e com muita conversa jogada fora, Wendy, sendo quem é, deixa toda a bagunça para eu arrumar, enquanto ela vai para o andar de cima. Eu não sei o que ela fez, mas eu podia escutar ela correndo de um lado para o outro, barulhos de coisas caindo, uma completa bagunça. Eu até cheguei a gritar da escada, mas Wendy respondeu um simples "não estou fazendo nada".
  De qualquer forma, eu já havia terminado lavar louça e estava pronta para ver o que ela aprontou no andar de cima. Eu só preciso terminar de dobrar este pano de prato molhado, que vou deixar no canto da pia.
  O andar de cima fica em silêncio, mas alguém começa a bater na porta, não era forte, foram apenas batidas suaves, mas contínuas.
  Dobro o pano de prato com mais rapidez, para poder ir até à porta de entrada. O que faço em poucos segundos, me tornando completamente confusa e surpresa ao ver Jimin parado do lado de fora, com seu costumeiro sorriso que fazia seus olhos pequenos, quase fechados.
  Não digo nada, apenas fico o encarando de maneira confusa, até que ele resolva dizer o que veio fazer.
  – Aqui! Tudo pronto!
  Escuto a voz de Wendy e me viro, a vendo descer as escadas do segundo andar com uma mala em mãos. Ela fazia um pequeno esforço para trazer a mala para o andar debaixo.
  Wendy arrasta a mala pelo chão de madeira e para ao meu lado, entregando a mala para Jimin, que agradece com um aceno de cabeça.
  – O que é isso? – Pergunto, olhando pra ela com desconfiança.
  – Sua mala. – Ela sorri. – Cuide bem da minha irmã.
  – Eu vou cuidar. – Jimin também sorri.
  – Agora vai logo, Elena. – Wendy faz um gesto de mão para que eu saia da casa.
  Me sinto embasbacada com tudo que estava acontecendo, mas não faço nada do que Wendy sugere, pois me mantenho firme em meu lugar.
  – Eu já disse que não vou. – Falo, séria.
  – O quê? Eu não consigo te escutar. – Wendy força uma careta, colocando suas mãos nas minhas costas e me empurrando para fora. Em seguida, ela fecha a porta e a escuto trancá-la logo depois.
  Seguro na maçaneta, tentando girá-la para destrancar a porta, mas, como imagino, ela não abre.
  – Você não tem escolha! Se não for com ele, vai dormir na calçada, Eleninha. – Wendy diz do outro lado da porta, fazendo sua voz soar abafada. Depois, posso escutar seus passos na escada de madeira.
  Bufo alto e me viro, encarando Jimin, que força um sorriso.
  Sem dizer nenhuma palavra, passo por ele, sabendo que não teria escolha a não ser passar a noite naquela mansão, mas apenas por hoje, já que amanhã eu com certeza voltaria. Até penso em dormir na loja de vovó, mas as chaves dela estão dentro de casa com Wendy.
  – Não fique brava. – Escuto os passos apressados de Jimin, atrás de mim.
  – Jimin, eu estou brava.
  Eu mal podia esperar para esse dia acabar de uma vez. Tudo parece ter saído do controle em algum momento. Essas férias não estão sendo como eu imaginei. Onde está toda a tranquilidade de Upiór?

Capítulo 8
0 0 votos
Classificação do artigo
Inscrever-se
Notificar de
guest
0 Comentários
mais antigos
mais recentes Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários
Todos os comentários (0)
×

Comentários

×

ATENÇÃO!

História NÃO RECOMENDADA PARA MENORES ou PESSOAS SENSÍVEIS.

Esta história pode conter descrições (explícitas) de sexo, violência; palavras de baixo calão, linguagem imprópria. PODE CONTER GATILHOS

O Espaço Criativo não se responsabiliza pelo conteúdo das histórias hospedadas na sessão restrita ou apontadas pelo(a) autor(a) como não próprias para pessoas sensíveis.

Você não pode copiar o conteúdo desta página

0
Adoraria saber sua opinião, comente.x