Drácus Dementer


Escrita porHels
Revisada por Natashia Kitamura


Capítulo 7

Tempo estimado de leitura: 25 minutos

  Nosso dia de folga já havia passado, e hoje, Wendy e eu precisávamos voltar para a loja de vovó. E como de costume, acordamos cedo e nos arrumamos, mas ao ir chamar vovó, acabamos encontrando-a dormindo; a contragosto, eu a acordei e perguntei se ela não iria para a loja. Nossa avó ficou até tarde na noite passada, por isso, disse que descansaria hoje, e perguntou se poderíamos dar conta de tudo sozinhas, o que não seria um problema para nós.
  Antes de irmos para a loja, Wendy nos fez procurar por seu anel, e mais uma vez, ele parecia simplesmente ter sumido. Não posso acreditar que ela não sabe como ele desapareceu de sua mão desta forma. Eu tentei consolá-la, dizendo que uma hora ou outra nós o acharíamos, que enquanto isso, nós duas poderíamos usar os belos colares de Aíma que ela nos comprou.
  Com tudo pronto, nós seguimos para a loja, a encontrando completamente revirada, com terra até mesmo pelo chão. Eu não sei o que vovó e Sebastian fizeram neste lugar ontem, mas tudo estava um caos.
  – Acho que vamos ter que arrumar essa bagunça antes. – Wendy diz, em meio a uma careta, se aproximando do balcão onde vários tipos de ervas estavam espalhados.
  – Sim. – Suspiro.
  Nós duas colocamos nossos aventais, e depois pegamos tudo que precisaríamos para arrumar esse lugar. Provavelmente, daria um pouco de trabalho e não terminaríamos tão cedo. Nem ao menos sabemos quais são as entregas de hoje, mas não podemos deixar que os clientes vejam essa bagunça, ou não será nada bom para os negócios da loja.
  Com uma vassoura em mãos, eu tentava juntar toda a terra espelhada pelo chão, quando escuto o pequeno sino no topo da porta de entrada, anunciar que alguém havia chegado na loja.
  – Desculpe, mas ainda estamos fechados. – Falo, apoiando as mãos sobre o topo da vassoura, enquanto me viro para ver os clientes dessa manhã.
  Meu cenho se franzo, me deixando completamente surpresa ao ver os dois garotos de peles pálidas e roupas elegantes entrarem na loja, fazendo com que ela parecesse pequena e simples.
  – O que vocês estão fazendo aqui? – Pergunto, enquanto Jimin, que estava ao lado de Hoseok, sorri para mim.
  – Eu vim te ver. – Jimin responde, se aproximando com animação. – Como você está? – Ele toca, suavemente, em meus pulsos cobertos pela fina blusa de mangas longas e soltas.
  Jimin ergue as mangas de minha blusa, deixando a amostra as novas ataduras que troquei esta manhã, antes de sair de casa.
  – Estou bem. Os machucados estão quase curados. – Sorrio, minimamente, sabendo que não deveria deixar Jimin mais culpado.
  – Isso é bom. – Ela sorri outra vez, de forma ainda mais gentil. Era como olhar para um anjo.
  – Então quer dizer que você pode vir com a gente, não é? – Hoseok se aproxima, olhando de Jimin para mim.
  – Ir com vocês? – Pergunto, enquanto afasto meus pulsos de Jimin, e arrumo minha blusa.
  – Nós queríamos que você voltasse na mansão, é um pouco chato quando você não aparece. – Jimin confessa, com uma expressão tímida, talvez.
  Eu sempre vou me surpreender como ele me trata como se fôssemos amigos de longa data... mas ele parece tão sincero agora.
  – Taehyung não vai fazer nada, nós prometemos. – Hoseok se apressa ao falar, erguendo seu mindinho no ar, firmando sua promessa.
  Solto um longo suspiro alto.
  – A loja está uma bagunça. Eu não posso sair e deixar tudo assim. – Confesso, sendo mais que sincera.
  As coisas não são tão simples, e eu tenho as minhas responsabilidades aqui.
  – Se você cuidar da loja durante a manhã, eu posso cuidar durante a tarde, assim, você pode ir com eles sempre que quiser.
  Me viro surpresa, vendo Wendy se aproximar com um sorriso. Ela vinha do pequeno jardim dos fundos.
  Franzo meu cenho, em sua direção.
  – Então está decidido. Nós vamos te ajudar a arrumar a loja e depois você pode vir com a gente. – Jimin diz, completamente animado, tomando a vassoura de minha mão.
  Fico parada em meu lugar, vendo Jimin e Hoseok começarem a se mexer pela loja.
  Olho para Wendy, que sorri enquanto inclina sua cabeça para o lado.
  – O que foi? Será bom pra você passar algum tempo com seus amigos.
  – Por que está fazendo isso, Wendy? Você não me disse pra não voltar mais lá depois do que aconteceu? – Sussurro para que apenas minha irmã escute.
  Ela dá de ombros.
  – Esqueça isso. – Wendy se vira, me dando as costas. – Vocês dois vão precisar de aventais, ou ficaram todos sujos.

***

  Eu não posso acreditar, eles realmente ficaram e nos ajudaram a arrumar toda a loja até que tudo estivesse impecável. E agora, Wendy retirava meu avental para que eu pudesse ir até à mansão com os dois. Realmente não entendo ela. Como toda aquela conversa de viagens de irmãs acabou desta maneira? Talvez eu não tivesse muitas escolhas. Meu corpo pede por um momento de descanso, e espero que não me arrependa disso.
  – Vamos? – Jimin estende sua mão para mim, enquanto se mantém parado na minha frente, com Hoseok alguns passos atrás.
  – Não vou demorar. – Olho sobre os ombros para Wendy, que balança a cabeça e sorri.
  – Não se preocupe, apenas se divirta. – Ela me empurra em direção a Jimin, que pega em minha mão e começa a me puxar para fora da loja.
  Solto outro suspiro assim que saio, sendo recebida pelo vento e pelo céu cinza. Ontem não choveu, mas o tempo fechado e carregado de nuvens escuras permaneceu intacto.
  Nós três caminhamos até a entrada da floresta, depois, pegando o caminho que já fiz algumas vezes. Os dois pareciam bem animados, conversando sem parar sobre todas as coisas que fizeram no dia de ontem, quando eu não voltei para a mansão. Jimin continuou perguntando se eu estava mesmo bem, e depois de tranquilizá-lo pela terceira vez, ele acabou se convencendo de minha resposta.
  A enorme mansão invade nosso campo de visão, como mágica, trazendo um sentimento de deslocamento, como um universo completamente novo. Era essa constante sensação de que estar aqui é como viajar para dentro de um livro fantasioso, e até mesmo o céu parece diferente quando visto deste lugar.
  Os dois me guiam para os fundos da mansão, exatamente onde participei da tarde de piquenique com eles. Nós passamos pela grande fonte, e pelo jardim da frente, onde, agora, reparei melhor nas belas tulipas-negras espelhadas pelas flores distribuídas de forma organizada, elas eram exatamente iguais às que eu coloquei em meu quarto.
  Quando pisamos sobre a grama bem aparada dos fundos da mansão, avisto Hyun sentado no chão, rodeado por bonecas em belos vestidos e bonecos. Seus pequenos olhos curiosos logo notam nossa presença e ele fica um pouco mais agitado com isso.
  Jimin pergunta se eu me importaria de passar algum tempo com ele e Hyun, brincando, e eu respondo que não, eu realmente não me importava. Hoseok se despede brevemente, dizendo que iria caminhar perto do lago que havia aqui por perto.
  Assim que Hoseok caminha para o fundo da mansão, sumindo entre as árvores altas e espessas, Jimin e eu nos sentamos com Hyun que, a princípio, se mostra tímido e relutante diante da minha presença, mas, aos poucos, e com o encorajamento de Jimin, ele me entrega uma de suas bonecas, e passa a fazer um pequeno teatro comigo. Fico grata por Jimin. Hyun era uma criança adorável, e já tem tanto tempo desde que brinquei desta forma, que até me sinto feliz por isso. Chegava a ser engraçado como Jimin e eu parecíamos mais imersos na brincadeira, do que o pequeno garotinho, que vez ou outra ria de nossas encenações exageradas.
  – Acho que você me machucou. – Digo para Hyun, assim que sua boneca bate contra a minha.
  Ele encolhe seus pequenos ombros e sorri, o que é adorável.
  – Vou pedir para Skull preparar um lanche pra gente. – Jimin solta seu boneco, e se levanta.
  – Posso usar o banheiro então? Quero lavar as mãos. – Pergunto, já que ficamos brincando sobre essa grama por bastante tempo.
  – Claro, você pode usar o banheiro do meu quarto. – Jimin faz um gesto para que eu o siga. – Você também deveria lavar suas mãos, Hyun.
  O garotinho ignora o que seu irmão diz e se concentra em brincar com seus brinquedos. Jimin ri, e nega com a cabeça, antes de se virar e começar a andar em direção à frente da mansão.
  Acompanho seus passos, e logo estamos subindo os pequenos degraus que nos levam até a grande porta de entrada. E, uma vez dentro da mansão, passamos pelo hall, e Jimin diz que irá na cozinha e que eu posso subir para o segundo andar.
  Com um aceno de cabeça, me separo dele e vou em direção às escadas do lado esquerdo, subindo os degraus de forma cautelosa, me lembrando que eu poderia encontrar Taehyung no andar de cima, mas, pelo menos, agora eu sei em qual quarto eu não deveria entrar.
  Suspiro quando termino de subir as escadas, e olho para baixo outra vez, vendo tudo vazio. E tomando coragem, volto a olhar para frente, e entro no corredor da esquerda, andando sobre o tapete vermelho e a falta de luz do corredor.
  Sigo diretamente para a porta de Jimin, passando na frente de outra, que estava entreaberta, me fazendo congelar no lugar ao ver pela fresta, Blarie deitada sobre uma enorme cama, com seu vestido roxo-claro, caído até os ombros, enquanto Jungkook estava por cima dela, beijando seu pescoço. Os gemidos que Blarie solta, são muito bem audíveis do corredor, e meu sangue gela por isso, com a mínima hipótese de ser descoberta, então, me apresso ao passar pela porta e ir direto para o quarto do Jimin. E uma vez do lado de dentro, fecho a porta e encosto meu corpo contra ela, ainda me sentindo surpresa sobre o que vi.
  O branco e amarelo do quarto de Jimin me acalma um pouco e, aos poucos, me sinto menos constrangida por isso. Em seguida, me desencosto da porta e caminho até a outra porta que havia no quarto, dando direto para um enorme banheiro limpo.
  Vou até a pia branca, parando na frente do espelho a tempo de ter a impressão de ver uma segunda imagem junto à minha. Me viro exasperada para trás, encontrando nada além das paredes claras. Checo em volta, percebendo que não teria como alguém estar aqui, já que a porta estava trancada. Eu realmente estou atormentada com o que vi.
  Suspiro e abro a torneira, lavando minhas mãos e depois meu rosto, para ver se voltava ao meu estado normal. Me seco em uma felpuda toalha colocada sobre a pia extensa, e deixo o banheiro, passando pelo quarto calmo e organizado.
  Abro a porta para sair, mas dou alguns passos para atrás, me assustando ao encontrar Jungkook parado do outro lado, me olhando daquela maneira que eu não gostava. Seus cabelos estavam um pouco bagunçados, mas sua roupa e postura eram impecáveis.
  Em silêncio, permaneço segurando na maçaneta, enquanto ele estreita os olhos escuros.
  – Não é agradável espiar os outros. – Ele diz, provocativo.
  Desvio meu olhar, olhando para os lados como forma de saída.
  – Eu não estava espiando ninguém. – Falo, engolindo em seco.
  Jungkook fica quieto por alguns segundos, dando poucos passos para ficar bem perto de mim. Arregalo os olhos, e inclino meu corpo para trás, evitando nossa proximidade.
  – Eu deveria fazer o mesmo com você? – Sua voz se torna baixa, mas firme. E seus olhos parecem grudados aos meus, de forma incômoda.
  Seguro com força na maçaneta, me sentindo nervosa.
  Fico em silêncio, e Jungkook aproveita deste momento e passa seu braço direito ao redor da minha cintura, levando meu corpo para perto do seu. Retiro minha mão da maçaneta da porta, e levo até seu tronco, tentando afastá-lo de mim.
  – O que você está fazendo? – Pergunto nervosa, olhando exasperadamente para os lados.
  Ele inclina sua cabeça até meu pescoço, tocando o lugar com a ponta do seu nariz, o que me faz arregalar os olhos.
  – Eu gosto do seu cheiro. – Ele diz, perto de minha orelha e meu corpo se arrepia de maneira ruim.
  Querendo me livrar dessa situação, empurro seu corpo para longe do meu, enquanto eu o encaro incrédula. Ele sorri com escárnio. E tudo que posso fazer agora, é correr para longe, descendo as escadas o mais rápido que consigo.
  Ao pisar no chão do primeiro andar, olho para o topo da escada, vendo tudo vazio. Respiro fundo, ainda me sentindo nervosa sobre o que aconteceu, e por isso, vou direto para o hall, saindo da mansão com o intuito de voltar para o jardim dos fundos.
  O vento gelado me atinge em cheio assim que atravesso a porta de entrada, balançando meus cabelos para todos os lados, de forma agressiva.
  Desço os degraus para entrar no jardim, e atravesso toda a grama bem aparada, indo até os fundos da mansão, onde não tenho vestígios de Jimin, que parecia não ter voltando. Hyun estava sozinho, sentado sobre as pernas, enquanto tapava seu joelho direito com suas pequenas mãos. Seu rosto estava abaixado, com alguns fios de cabelo cobrindo seus olhos.
  Franzo o cenho, achando um pouco estranho esta situação, mas assim que vejo alguns filetes de sangue escorrerem por entre seus pequenos dedos, meus olhos se arregalam e saio correndo até o garoto.
  – Hyun, você está bem?! O que aconteceu?! – Me agacho ao lado dele, que me olha um pouco assustado.
  Ele retira suas pequenas mãos de perto do joelho, me mostrando um mediano corte, que parecia profundo.
  Olho assustada para Hyun, que aponta para um boneco de porcelana que estava ao seu lado. O brinquedo estava quebrado, resultando em algumas partes cortantes que estavam sujas de sangue.
  Completamente preocupada, pego o garoto no colo, que segura em minha blusa com força, e não me importo se ela pode se sujar com o sangue de suas mãos. Olho aflita para todos os lados, encarando as janelas no alto da parte detrás da mansão, eram dos quartos, e isso trazia uma sensação não muito boa de estar sendo vigiada.
  Sem tempo para pensar nisso agora, corro de volta para a entrada da mansão, atravessando o gramado com Hyuns em meus braços. O vento nos acompanhava, criando uma bagunça ainda maior acerca de nós dois, esvoaçando nossos cabelos pelo ar. E, depressa, subo os degraus para a porta da mansão, empurrando-a com força, depois, atravesso o hall com pressa, correndo direto para a cozinha, que estava vazia. Volto para o centro, e corro, agora, para a sala, que também estava vazia. E como última opção, vou em direção às escadas, subindo pelo lado direito, onde posso escutar, de forma suave, uma música tocada em um piano, de plano de fundo.
  – É o Tae. – Hyun diz, me fazendo olhá-lo surpresa.
  O garotinho não tinha nenhum vestígio de dor em seu rosto, e muito menos parecia querer chorar, ele apenas apontava para cima, indicando o teto.
  A música era bonita e calma, contrastando completamente com o meu desespero neste momento. Eu precisava de ajuda.
  Encaro o joelho de Hyun, que continuava sangrando sem parar, e quase sinto a dor apenas por olhar o machucado. Não sei como este pequeno garotinho está tão tranquilo.
  – Elena.
  Me viro de supetão, ficando aliviada por ver Jimin vir do lado esquerdo do corredor.
  – Eu estava te procurando. – Ele diz, enquanto se aproxima calmamente.
  – Jimin, o Hyun se machucou! – Apresso meus passos até ele, que me olha surpreso.
  Jimin pega Hyun de meu colo, examinando seu joelho.
  – Como você fez isso, Hyun? – Jimin olha de forma preocupada para seu irmão mais novo.
  – Um dos bonecos dele quebrou. Acho que cortou o joelho na porcelana. – Explico, me sentindo ainda mais preocupada, querendo apenas ajudar esse pequeno garotinho.
  Jimin suspira, se virando e indo até à escada da esquerda, descendo os degraus com Hyun. Eu sigo os dois, e me sinto surpresa ao ver o mordomo parado no final da escada, já que vasculhei tudo e não encontrei ninguém.
  – Skull, Hyun machucou o joelho, você pode me ajudar com isso? – Jimin desce com pressa, e entrega Hyun para Skull, que assente, antes de carregar o garoto para longe, indo em direção à porta dos fundos, que ficava entre as duas escadas, no primeiro andar.
  Paro ao lado de Jimin, enquanto vejo Skull atravessar a porta de madeira dupla da cor vinho e detalhes dourados.
  – Ele vai ficar bem, Skull saberá o fazer. – Jimin coloca uma mão sobre meu ombro.
  – Como pode estar tão calmo agora?
  Jimin solta uma baixa risada nasalada.
  – Hyun é uma criança, Elena. Ele vive se machucando, por isso, sei que ele vai ficar bem. Agora venha comigo, vamos comer alguma coisa enquanto esperamos Skull trazer ele de volta. – Jimin afasta sua mão de meu ombro, e se vira, indo em direção à cozinha.
  Olho uma última vez para onde Skull levou Hyun, antes de seguir Jimin, encontrando Blarie encostada contra o grande balcão escuro da cozinha. Ela estava ao lado de um prato com biscoitos, e comia um deles.
  – Isso não é pra você. – Jimin se aproxima dela, e pega o prato, trazendo-o até onde eu estava.
  – Não seja egoísta. – Blarie resmunga, de forma descontraída.
  Jimin estende o prato em minha direção, e pede que eu pegue um.
  – Não estou com muita vontade de comer.
  Jimin suspira, e abaixa o prato, se virando e devolvendo ele para Blarie.
  – Se você está tão preocupada com Hyun, eu vou lá ver como ele está. – Com um sorriso compreensivo, Jimin passa ao meu lado e sai da cozinha.
  – Nos encontramos de novo. – Blarie diz, assim que Jimin sai.
  Ela estava comendo mais um biscoito.
  Me aproximo dela, ficando a alguns passos de distância.
  – O que foi? Não está com uma cara muito boa. – Ela levanta suas sobrancelhas, enquanto dá uma mordida no biscoito de chocolate.
  – Não é nada. – Digo, realmente sem saber o que conversar com ela.
  Blarie coloca o biscoito que segurava, de volta ao prato e cruza os braços, me olhando de forma curiosa.
  – Talvez devêssemos falar sobre o que você viu. – Ela sorri fechado, não se importando.
  Meus olhos se arregalam, minimamente, e sinto que meu rosto pode ficar vermelho a qualquer momento.
  – E-Eu... Eu não queria. – Encolho os ombros, me sentindo envergonhada.
  – Tudo bem. – Ela ri. – Eu sei que você não estava espiando.
  Assinto, ainda mergulhada em minha vergonha.
  – Vocês... estão juntos? – Pergunto em tom baixo, segurando minhas próprias mãos.
  Blarie ri outra vez.
  – Não. Nós não somos namorados, se quer saber. – Ela responde calmamente, não se sentindo incomodada com o assunto.
  Assinto, desviando meu olhar para o lado, sem jeito para essa conversa.
  – Você é tão fofa. – Blarie toca a ponta do meu nariz com o dedo. – Me sinto uma pervertia por contar isso pra alguém como você, mas todos nós nos relacionamos muito bem aqui na mansão. Perdemos muito tempo com os negócios da família, então não temos muito tempo para sair como os jovens, por isso, temos que nos virar como podemos.
  Se antes eu senti que meu rosto poderia ficar vermelho a qualquer momento, agora eu tinha certeza que ele estava.
  Então quer dizer que ela e eles...?
  Blarie ri, de novo.
  – Elena, Hyun já está bem.
  Quase salto em meu lugar ao escutar a voz de Jimin. E quando me viro, vejo ele parado na entrada da cozinha com Hyun em seus braços, que tinha um curativo em seu joelho. E eu só espero que Jimin não tenha escutado nada.
  – Preciso ir agora, Hoseok está me esperando perto do lago. – Blarie sussurra ao meu lado, e tenho que conter minha vergonha para que Jimin não perceba.
  Em seus passos elegantes, Blarie se afasta de mim, passando ao lado de Jimin e fazendo um rápido afago nos cabelos de Hyun, antes de deixar a cozinha.
  Jimin se aproxima.
  – Você está bem? Seu rosto está um pouco vermelho. – O garoto de cabelos claros, me olha desconfiado.
  Forço um sorriso e assinto, tentando sair desta situação iniciando uma conversa com Hyun.

***

  Eu definitivamente perdi a noção do tempo. O final de tarde já estava se despedindo, e o começo da noite dava seus primeiros sinais de chegada, muito bem acompanhada do vento gelado e forte que perpetuava pelo clima.
  Eu precisava ir embora, Wendy estava me esperando, mas foi difícil explicar isso para Jimin, que insistia para que eu voltasse no dia seguinte. Disse para ele que não posso ficar vindo aqui todos os dias, já que tenho as minhas responsabilidades na loja. Mas ele usou de toda sua força de vontade para me ter por perto, dizendo que como ele passava muito tempo na mansão, quase não via ninguém, e que agora, eu me tornei uma boa amiga para ele. Mas eu pude resistir, e fui persistente dizendo que não sabia se voltaria amanhã. E com uma expressão triste de sua parte, nós dois nos despedidos na porta da mansão, já que eu disse que ele não precisava me levar, e sim que deveria ficar com Hyun, que estava machucado.
  E com o vento ao meu lado, atravessei todo o grande jardim de belas flores, decorado com a grande fonte de gárgula, e fui direto para o caminho que me levaria até a loja. Admirei toda a bela natureza que cobria os dois lados da passagem, enquanto escutava o barulho de alguns grilos e cigarras por todos os lados.
  Saio do caminho fechado de arbustos, e entro no lugar onde a enorme macieira ficava, e como sempre, o chão era repleto por seus frutos que, vez ou outra, caíam dos galhos. E, mesmo que estivesse escuro pela chegada da noite, era impossível não ver uma silhueta masculina sentada sobre o chão de terra, e encostada contra o largo tronco da macieira.
  – Você continua vindo aqui. – Um tom de voz carregado de escárnio, vem da silhueta sentada. E mesmo que eu tivesse escutado essa voz uma única vez, era impossível não reconhecer.
  O timbre grave e grosso, a entonação imponente, infelizmente, eu sabia que era Taehyung.
  Meu corpo fica tenso, e sinto meu coração se agitar, exatamente da mesma maneira que eu ficava quando via alguma sombra estranha no meu quarto, quando era criança.
  Eu poderia correr para longe, deixá-lo para trás, mas as marcas do que aconteceu ainda estão comigo, enroladas nessas aturaras em torno da minha pele.
  Levo minha mão até meu pulso esquerdo, sentindo uma das ataduras, que me faz criar um pouco de coragem, enquanto meu coração se torna cada vez mais agitado.
  – Eu voltei pelo Jimin. – Minha voz sai mais baixa do que eu gostaria, mas pelo menos ela não falhou.
  Ele ri, se juntando ao som dos grilos e das cigarras. E, em seguida, sua silhueta se levanta, vindo em passos calmos até mim. Prendo minha respiração, segurando com força meu pulso esquerdo coberto pela atadura, já que a cada passo de Taehyung, sua silhueta ficava maior.
  Seu corpo sai das sombras, sendo iluminado pela luz da lua, a única solitária no céu. Seu cabelo acinzentado estava com alguns fios caídos sobre seus olhos escuros, e os brincos que ele usava, pareciam brilhar sobre a luz da lua. Sua pele refletia a ausência de vida da noite, e a camisa de seda que usava, aberta nos três primeiros botões, balançava com o vento gelado.
  Ele caminha em passos lentos e calmos, até que fique parado na minha frente, com sua altura se sobressaindo à minha. E estando assim tão perto, eu podia ver cada detalhe do seu rosto, até mesmo as pequenas pintinhas que ele tinha; uma, no nariz, outra, na boca avermelhada e mais uma, perto da linha d'água de seu olho. Estamos tão perto ao ponto de meus pensamentos concordarem com as palavras de Blarie, sobre Taehyung ser alguém tão bonito. Era inacreditável, eu parecia olhar para um desenho, era como encontrar um personagem de um livro de contos de fadas, um vilão. E eu não estava gostando nada disso, já me sentia arrependida por ter ficado e falado com ele.
  Tento respirar calmamente, estando sobre seu olhar que era incrivelmente intenso e ameaçador.
  – Você não parece tão falante agora. – Ele diz em tom provocativo.
  – Eu vou embora. – Me viro, pronta para correr para longe, adotando minha ideia inicial, mas Taehyung agarra meu pulso, me impedindo.
  Olho sobre os ombros, e ele me puxa para perto, ainda segurando meu pulso direito. Ele abaixa a manga de minha blusa, encarando a atadura entorno da minha pele.
  Suas sobrancelhas se levantam em um movimento sincronizado e, logo depois, ele me encara.
  – Eu deveria pedir desculpas por isso? – Ele curva seu corpo para frente, deixando seu rosto bem próximo ao meu. – Me desculpe, Elena.
  Meu coração salta em meu peito, e tenho medo que possa passar mal a qualquer momento.
  Fico em silêncio, encarando seus olhos escuros que pareciam engolir os meus. E ele permanece assim por mais alguns segundos, até que suas íris escuras desviem, encontrando um ponto mais abaixo. E quando acompanho seu olhar, posso ver um fraco brilho vermelho vindo de dentro do topo da minha blusa, era a pedra de Aíma do meu colar. Ela cintilava debaixo do tecido, ficando em evidência por ser noite.
  Taehyung encara o brilho vermelho-cintilante por mais algum tempo e depois me olha, em seguida, soltando meu pulso. Ele sorri uma última vez e se afasta de mim, indo em direção ao caminho de arbustos, me deixando para trás com meu nervosismo e medo.
  Respiro rapidamente, e começo a correr na direção contrária, sentindo o vento gelado correr ao meu lado. E só paro quando chego na entrada da loja de vovó, onde Wendy fica curiosa sobre o que eu fiz durante a tarde, mas eu não queria conversar sobre nada no momento, apenas peço para que fechemos a loja para voltarmos para casa.
  Nós duas encerramos nosso período por este dia, e voltamos para casa com um caminho silencioso de minha parte, e regado a olhares desconfiados da parte de minha irmã.
  Tudo que eu queria era deitar em minha cama e esquecer tudo que aconteceu nesse dia. Eu apenas inventarei uma desculpa qualquer para explicar o pouco de sangue que estava em minha blusa, causado pelas mãos de Hyun, e depois me trancaria no quarto. Mas as coisas nem sempre são com queremos, e assim que cheguei em casa, encontrei vovó fazendo a janta com Sebastian sentado em uma das cadeiras, ao redor da mesa de jantar. Eles conversavam tão animadamente que quase não notaram nossa presença.
  – Que bom que vocês chegaram, eu preciso mesmo falar com as duas. – Vovó limpa sua mão em um pano de prato e se aproxima da mesa, ficando de pé ao lado de seu amigo. – Acho que nunca falei, mas é Sebastian quem traz ervas e novas flores para mim, ele faz muitas viagens e, por isso, conhece muitos lugares ricos em natureza. Ele estava me contando sobre um vilarejo vizinho, que tem uma grande reserva de ervas, e as nossas estão quase acabando. Nós tentamos fazer algumas com as plantas do jardim, mas ainda estavam muito novas.
  – Por isso a loja estava aquela bagunça toda? – Wendy se aproxima da mesa, apoiando os braços sobre o topo de uma cadeira vazia.
  – Me desculpem. – Vovó sorri culpada.
  – Tudo bem. – Suspiro, e sorrio, me aproximando de Wendy.
  – Sebastian vai viajar para esse vilarejo amanhã e eu estava pensando em ir com ele, mas não queria deixar vocês duas sozinhas.
  – Não somos mais crianças. Podemos nos cuidar. – Wendy ri e vovó a acompanha.
  – Serão por dois ou três dias no máximo, tudo bem pra vocês? – Vovó pergunta de um jeito calmo, mas posso notar a expectativa em seus olhos.
  – Claro, a senhora deve ir nessa viagem amanhã. – Digo e assinto, fazendo vovó sorrir e olhar animada para Sebastian.
  Eu deveria dormir agora, o dia foi longo, e a partir de amanhã será apenas Wendy e eu, sozinhas nessa casa e nesse vilarejo. E eu precisarei lidar com muitas coisas, então é melhor que meu corpo e mente estejam descansados e longe de toda essa agitação.

Capítulo 7
0 0 votos
Classificação do artigo
Inscrever-se
Notificar de
guest
0 Comentários
mais antigos
mais recentes Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários
Todos os comentários (0)
×

Comentários

×

ATENÇÃO!

História NÃO RECOMENDADA PARA MENORES ou PESSOAS SENSÍVEIS.

Esta história pode conter descrições (explícitas) de sexo, violência; palavras de baixo calão, linguagem imprópria. PODE CONTER GATILHOS

O Espaço Criativo não se responsabiliza pelo conteúdo das histórias hospedadas na sessão restrita ou apontadas pelo(a) autor(a) como não próprias para pessoas sensíveis.

Você não pode copiar o conteúdo desta página

0
Adoraria saber sua opinião, comente.x