Drácus Dementer


Escrita porHels
Revisada por Natashia Kitamura


Capítulo 6

Tempo estimado de leitura: 22 minutos

  "Elena!"
  "Elena!"
  "Elena!"
  Expiro profundamente, enquanto mexo meu corpo sobre a cama, sentindo a coberta fina se embolar no meio das minhas pernas.
  "Elena!"
  - O que foi Wendy? - Sem abrir os olhos, pergunto.
  "Elena!"
  Suspiro, chutando a coberta para baixo.
  - O que você quer, Wendy? - Me sento sobre a cama, com o corpo ainda preguiçoso.
  Em minha visão um pouco embaçada, vejo Wendy sair do banheiro segurando uma escova de dentes, enquanto sua boca está completamente cheia de pasta.
  - Me chamou? - Ela pergunta com a boca cheia, quase deixando a espuma da pasta cair para fora de sua boca.
  - Você quem me chamou. - Espreguiço meu corpo, erguendo os braços no ar, antes de colocar os pés para fora da cama.
  - Não chamei. Estou escovando os dentes. - Wendy aponta para sua boca, e depois se vira, voltando para dentro do banheiro.
  Nego com a cabeça, sabendo que Wendy deve estar fazendo uma das suas brincadeiras.
  Quando sinto meu corpo bem acordado, checo meu celular, que estava jogado ao pé da cama. Respondo algumas mensagens e deixo o aparelho sobra a cômoda, ao lado do vaso com flores. Aproximo meu rosto das flores, inspirando seu cheiro doce, que deixava o quarto, de alguma forma, mais agradável.
  Caminho até à janela, puxando as cortinas para o lado, para poder espiar o dia limpo do lado de fora. Não havia sol hoje, mas não era como um dia frio.
  Perco algum tempo observando a visão oferecida da janela, e acabo suspirando ao recordar da noite anterior. Eu estava carregada de dúvidas, queria entender as coisas, mas me lembro de ficar confusa e acabar com muito sono, foi repentino, mas eu apenas acabei dormindo. Acho que minha cabeça cheia acabou cansando meu corpo.
  "Elena!"
  Olho para trás, me vendo sozinha no quarto.
  "Elena!"
  Vou em direção ao banheiro de porta aberta, vendo minha irmã enxaguar sua boca suja de pasta.
  - Muito engraçado, Wendy. - Falo, em tom irônico, enquanto abro o espelho/armário, e pego minha escova de dentes.
  Wendy me olha de rabo de olho, com uma expressão confusa no rosto, mas sei que ela está apenas fingindo.
  Depois que Wendy parou com suas brincadeiras, nós duas nos arrumamos para ter um longo dia na loja de vovó. E prontas, descemos até o primeiro andar, onde encontramos vovó e Sebastian conversando na cozinha. Vovó disse que hoje seria nosso dia livre, e que deveríamos aproveitar pela cidade, já que cuidamos da loja sozinhas para ela durante alguns dias. Ela também disse que Sebastian a ajudaria na loja, e precisei conter a língua de Wendy antes que ela soltasse algum comentário impertinente a respeito disso.
  Wendy sugeriu que passeamos um pouco, para lembrar de como Upiór era, já que a última vez que estivemos aqui foi durante o enterro de nosso avô, logo depois, sendo proibidas de voltarmos nesse vilarejo.
  Minha irmã voltou para o segundo andar, indo atrás de uma bolsa que pudéssemos levar em nosso passeio, enquanto vovó trocava as minhas ataduras. E tenho uma grande surpresa ao ver que os cortes em meus pulsos estavam quase curados, agora eram apenas arranhões que logo sumiriam.
  Com uma bolsa de pano sobre um dos ombros, Wendy retornou pronta. Nós duas nos despedimos de vovó e Sebastian, e seguimos para fora da casa, logo depois parando na calçada, enquanto pensávamos em qual direção tomar, tendo em vista que não conhecíamos direito a nova Upiór. Mas minha irmã decide tomar a frente, nos guiando por ruas de ladrilhos, onde muitas pessoas transitavam. Wendy andava confiante, como se já conhecesse o lugar, e isso me faz querer rir de certa forma, mesmo se estivéssemos perdidas, ela agiria como se tudo estivesse no controle, com sua grande confiança.
  Debaixo do céu limpo, mas sem sol, nós encontramos uma pequena feira repleta de barracas com os mais variados tipos de comidas e frutas. Meu estômago ronca apenas com o cheiro agradável de cada uma das barraquinhas, e Wendy ri, dizendo que deveríamos procurar algo para comer.
  - Você pode nos dar dois desses, por favor? - Wendy fala com a gentil senhora atrás da barraca branca de doces.
  - Eu não tenho dinheiro, só o meu cartão... mas acho que esqueci ele em casa. - Faço uma careta, e suspiro.
  Wendy estreita os olhos.
  - Eu não acho que eles usem cartões em Upiór, Elena. - Com as mãos na cintura, ela diz. - Sorte a sua que tem uma irmã mais velha que pensa em tudo, não é?! - Wendy tira a bolsa de pano de seu ombro, e começa a vasculhá-la. - Eu trouxe dinheiro suficiente pra nós duas, não se preocupe. - Ela sorri, puxando sua carteira amarela para fora da bolsa.
  Aceno, positivamente, por um momento, sentindo que sou a irmã mais nova.
  Wendy paga por dois bolinhos de nozes, que tinham aparências muito apetitosas. E enquanto comíamos, atravessamos toda a feira, parando vez ou outra para comprar algumas frutas ou comidas diferentes que gostaríamos de experimentar depois.
  - Olhe aquela loja! Vamos lá! - Wendy segura minha mão, me puxando em direção à fachada de madeira com emblemas e letras que eu não conseguia entender.
  Ao passarmos pela porta aberta, o preto das paredes me surpreende. Muitas gravuras e quadros enfeitavam o lugar, assim como os balcões de vidro que carregavam livros velhos e objetos estranhos.
  - Boa tarde! - O dono da loja, um garoto de cabelos curtos e pele bronzeada, nos saúda.
  - Do que exatamente é essa loja? - Wendy pergunta, enquanto passa perto dos balcões, admirando cada um dos itens postos sobre os vidros.
  - Eu vendo a história do vilarejo.
  Franzo o cenho, me aproximando de onde o dono da loja estava.
  - História do vilarejo? - Pergunto, confusa.
  Ele assente.
  - Sim. Tudo relacionado às lendas e histórias de Upiór, você pode encontrar aqui. - Ele empurra em minha direção, um pequeno livro aberto que estava por perto.
  Desenhos rústicos de criaturas com asas e dentes estavam por toda a página, assim como pequenos morcegos ao fundo em segundo plano do desenho principal.
  - E isso é verdade mesmo? - Wendy se junta a mim, espiando o livro sobre os meus ombros.
  - Não estou aqui para dizer o que é verdade ou não, vocês devem acreditar por conta própria. - O dono da loja cruza os braços, nos olhando com seriedade.
  Fascinadas pelos desenhos, viro a página e a próxima figura que surge é a de um homem de dentes afiados, unhas pretas e pontudas, longos fios de cabelo que iam até à cintura, e olhos vermelhos-cintilantes.
  - Isso é um vampiro? - Levo meu dedo até o desenho, prestando atenção em cada detalhe.
  O dono da loja puxa o livro para perto de si, e volta uma página.
  - Isso é um vampiro comum. - Ele diz, nos mostrando a página com morcegos e criaturas de asas.
  Ele volta a virar a página, agora, retomando o desenho de antes.
  - E isso, é o Drácula.
  Todos ficamos em silêncio, e eu olho para Wendy, que dá de ombros.
  - Certo, você ganhou. Vamos levar aqueles colares ali. - Com sua voz descontraída, minha irmã se afasta, e vai até o outro balcão, puxando duas cordas finas e pretas para cima, revelando pedras vermelhas.
  - Isso é um colar de aíma. - O dono da loja logo acompanha Wendy. - Dizem que ela brilha toda vez que se aproxima de um vampiro.
  Os olhos de Wendy se arregalam de forma maravilhada, e sei que ela acreditou em tudo que o dono da loja nos disse até agora. Se você quer vender, precisa de uma boa história, e ele está fazendo um bom trabalho aqui.
  - As verdadeiras pedras de aíma foram extintas há muito tempo, isso são apenas réplicas que eu encontrei quando era criança, cavando no quintal de casa. Sempre acreditei que fossem verdadeiras, mas depois de saber que não existem mais, resolvi vender como cópia. - Ele explica.
  - Vou levar esses dois. - Wendy puxa de sua carteira algumas notas. - São bonitos, não são, Elena?! - Ela se vira, segurando os colares pelos cordões pretos.
  Assinto, realmente concordando que as pedras eram bonitas.
  Wendy guarda os colares em sua bolsa de pano, e nós duas nos despedimos do dono da loja antes de sair.
  - Acho que vai chover de noite. - Minha irmã para de andar assim que alcança o lado de fora da loja, e olha para cima.
  O céu limpo da tarde, começava a ser pintado por algumas nuvens cinzas.
  - Wendy, agora falando sobre toda essa bobeira de vampiros e coisas estranhas, eu acabei me lembrando de uma coisa que gostaria de conversar com você. - Despertada por tudo que vi na loja, resolvo compartilhar com minha irmã o que encheu minha cabeça de dúvidas.
  - O que foi? - Seus olhos escuros, desviam do céu e encontram os meus olhos.
  O vento, que chegava sorrateiramente, balança os longos fios de cabelos em tom de loiro de Wendy.
  - Você se lembra quando eu disse que o pai do Jimin morreu quando ele ainda era um adolescente? - Sinto o vento me atingir também, me deixando ansiosa apenas por falar sobre isso.
  - Sim. Você falou que ele se meteu em uma briga por território aqui, não é?
  Assinto.
  - Ontem, na igreja, acho que você não escutou, mas eu conversei com Sebastian sobre isso. A princípio, eu pensei que essa briga por território pudesse ser o motivo da vovó não ter nos deixado voltar pra Upiór, mas Sebastian me disse que essa briga aconteceu há cem anos. Então, como Jimin podia ser um adolescente nessa época? - Sinto que as batidas do meu coração, ficam descompensadas sem motivo.
  Apenas por querer entender essa história, me torno inquieta por dentro.
  Wendy arqueia as sobrancelhas.
  - Você não entendeu errado, Elena? - Ela pergunta, e eu nego com a cabeça.
  Wendy suspira, antes de sorrir.
  - Não encha sua cabeça com essas coisas, você deve estar apenas impressionada com o que te aconteceu. - Ela aponta para as ataduras em meus braços. - Sabe o que eu acho? Que você não deve voltar mais naquele lugar, isso te deixará melhor. Eu farei das nossas férias, férias de irmãs. - Wendy segura minha mão de forma terna, enquanto acaricia a superfície de minha mão com seu polegar.
  Ela deve ter razão, não há motivos para me preocupar com algo tão pequeno. Jimin pode ter se enganado, e no fim, toda essa história não tem ligação alguma com vovó, depois que nosso avô morreu, ela ficou muito triste e precisava de um tempo, e essa deve ser a explicação de tudo.
  - Finalmente achei você!
  Escuto uma voz feminina, atrás de mim. Wendy olha sobre meus ombros, um pouco confusa.
  Solto a mão de minha irmã, e me viro, tendo a surpresa de encontrar a garota que estava na mansão, e sei disso, porque em meio dos óculos escuros, chapéu e lenço preto, eu conseguia ter vislumbres de seu cabelo cor púrpura.
  Franzo o cenho, a encarando incerta sobre o que ela poderia querer comigo.
  - Hum...
  - Blarie. - A garota completa, assim que percebe que não sei seu nome. - Acho que não tivemos tempo de sermos apresentadas. - Ela diz, jogando parte de seu lenço sobre os ombros.
  Ela estava inteiramente trajada de preto, desde seu vestido até os acessórios, completamente escondida na ausência de cor.
  - Por que está vestida assim? Por acaso está fugindo de alguém? - Wendy se aproxima, parando ao meu lado.
  Eu realmente acho incrível a capacidade que ela tem de não controlar a língua para o que pensa.
  Blarie sorri.
  - Estou com um pouco de frio. - Ela responde.
  - Por que está aqui? - Pergunto, ainda intrigada com esse repentino encontro.
  - Jimin me mandou ver como você estava. - Ela olha em direção aos meus pulsos. - Ele achou que você não iria querer vê-lo outra vez, por conta do que Taehyung fez, por isso, me pediu que viesse atrás de você.
  Me sinto um pouco mal por Jimin, eu percebi como ele estava ontem. Não o culpo por seu irmão, mas naquele momento eu realmente queria ficar longe daquela mansão, mas meu intuito não era preocupá-lo.
  - Eu andei umas três vezes por esse vilarejo, atrás de você. Minhas pernas estão até cansadas. - Blarie ajeita seus óculos escuros.
  - Você quer tomar um chá na nossa casa? É o mínimo que posso oferecer depois do seu esforço pra me achar. - Suspiro.
  - Se não tiver Erva-Verde, eu aceito. - Blarie se inclina para frente, colocando a mão coberta pela luva de renda preta, ao lado da boca, como se me contasse um segredo. - O gosto não me agrada muito.
  - Tudo bem, sem Erva-Verde. - Sorrio, apreciando seu jeito descontraído.
  E assim seguimos, Wendy segurando em meu braço, e Blarie ao nosso lado, até que chegamos em casa outra vez. E todo o caminho foi silencioso, sendo preenchido apenas pelo vento que se tornava forte, anunciando a chegada da chuva, que provavelmente viria de noite.
  Por conta dos óculos escuros, eu não conseguia ver os olhos de Blarie, mas ela parecia muito concentrada em todo nosso caminho, sempre virando sua cabeça para acompanhar todas as pessoas que passavam por nós.
  - Chegamos. - Wendy anuncia, assim que paramos em frente a porta da casa de vovó.
  Minha irmã solta meu braço e vasculha dentro de sua bolsa de pano, retirando a chave logo em seguida. Ela coloca o objeto prata na fechadura e destranca a porta, abrindo-a e nos dando passagem.
  Permaneço parada, esperando que Blarie entre, afinal, ela é a convidada, então poderia fazer isso primeiro, mas ela apenas continua em seu lugar, olhando para o interior da casa, revelado pela porta aberta.
  - O que foi? Não vai entrar? Por acaso você é uma vampira e nós precisamos te convidar? - Wendy pergunta, descontraída, e eu a encaro séria.
  Ela não deveria falar assim com as pessoas.
  - Gosto do seu senso de humor. - Blarie aponta para Wendy, antes de entrar em nossa casa.
  Sou a segunda a entrar na casa, seguida por Wendy, que após fechar a porta, grita algumas vezes por vovó, que não responde, nos mostrando que estávamos sozinhas. Ela ainda deve estar na loja, mas como já é fim de tarde, ela deve retornar logo.
  Nós três seguimos até a cozinha, e eu acabo por de acomodar ao redor da mesa, junto com Blarie, enquanto Wendy, que se voluntariou, faz o chá. E ao se sentar em uma das cadeiras, Blarie retira seus óculos, ficando apenas com o chapéu e lenço. Ela era como alguém muito elegante, e sua imagem ficava completamente desconexa dentro desta casa simples, diante de sua presença.
  - Hum, você disse que Jimin acha que eu não quero vê-lo outra vez? - Tento começar uma conversa, enquanto Wendy anda de um lado para o outro pela cozinha.
  Blarie assente.
  - Não leve as coisas a mal, eles são em oito irmãos, e cada um tem uma personalidade bem diferente da outra. Jimin costuma se culpar muito pelas coisas que Taehyung faz, ele se sente assim, provavelmente, porque é mais velho. E Taehyung, sendo um dos irmãos mais novos, ele é um pouco... - Blarie para sua fala, apertando os olhos enquanto pensa sobre o que deveria dizer.
  - Imaturo? - Pergunto, e ela aponta em minha direção, assentindo.
  - Acho que podemos dizer que ele é imaturo.
  - Jimin me disse que ele ficou assim depois que a mãe morreu. - Confesso, e Blarie arqueia as sobrancelhas, um pouco surpresa.
  - Como eu disse, eles têm personalidades muito singulares, e cada um dos irmãos reagiu de uma forma diferente a morte da mãe. Menos Hyun, ele era muito pequeno para se lembrar dela.
  Concordo com um aceno, escutando, ao fundo, a chaleira começar a apitar dentro da cozinha.
  - Você mora com eles? - Pergunto, sabendo que essa era uma das coisas que mais gostaria de saber sobre essa garota.
  - Sim. Minha família era muito próxima da família deles, era como uma parceira de negócios, por isso, conheço eles desde pequena. Mas meus pais acabaram morrendo em uma briga aqui em Úpior.
  - A briga por territórios.
  Blarie me olha surpresa de novo, e depois estreita os olhos, como se me analisasse, enquanto assente.
  - Sim... a briga por territórios. - Ela sorri, fechado. - E como eu era amiga da família, acabei indo morar com os irmãos, assim eu não ficaria sozinha. Então, Amia e eu moramos na mansão também.
  Franzo o cenho no mesmo instante em que Wendy coloca a xícara fumegante na mesa, bem a minha frente, fazendo o mesmo com Blarie, logo depois.
  - Quem é Amia? - Pergunto.
  Wendy se senta ao meu lado, com sua xícara de chá.
  Blarie leva a xícara em direção aos lábios pintados de vermelho, bebericando um pouco da bebida quente.
  - Você não a viu ainda porque Amia está viajando a negócios da família dos irmãos. Mas a família dela também fazia parte dessa parceria de negócios e, infelizmente, os pais dela também morreram.
  - Todos vocês têm histórias bem parecidas, não é? - Wendy diz, ao meu lado.
  Blarie assente, tomando, agora, um longo gole do chá.
  - Acho que podemos chamar isso de destino. Nós todos nos tornamos bons amigos com o passar dos anos, apesar de Amia dizer que é a namorada do Taehyung. - A garota de cabelo púrpura, solta uma curta risada.
  Não consigo conter meu rosto, que se contorce, minimamente, em uma feição de desgosto.
  - Não posso entender como alguém gostaria de estar em um relacionamento com o Taehyung. - Encolho os ombros em meu lugar.
  Blarie afasta a xícara de sua boca, a deixando sobre a mesa.
  - Taehyung é melhor do que parece, você apenas teve a infelicidade de conhecer o lado imaturo dele. - Blarie faz um gesto de cabeça, frisando bem a palavra que eu havia sugerido antes. - Ele também é bem bonito, então eu posso entender o lado de Amia.
  Fico em silêncio, sem ter qualquer coisa para dizer. Eu não conheço Taehyung e, na verdade, nem quero, por isso, saber sobre ele não é algo que me desperte interesse.
  - Ele é um idiota de qualquer jeito. - Wendy diz, enquanto bebe seu chá.
  Blarie assente, sem dizer nada.
  - E vocês, moram aqui com quem? - A garota de pele pálida entrelaça os dedos cobertos pelas luvas de rende preta, apoiando os cotovelos sobre a mesa, e o rosto sobre as mãos entrelaçadas.
  - Com a nossa avó. Na verdade, só estamos de passagem, moramos na capital. - Respondo, dando meu primeiro gole no chá, que já estava morno.
  - E qual o nome da sua avó? Talvez eu conheça ela, já moro um bom tempo nesse lugar. - Blarie sorri, parecendo bastante interessada em nossa conversa.
  Ela era agradável, sua voz era suave e sua fala calma. Não era do tipo que nos deixaria desconfortáveis, a não ser por sua figura elegante que certamente nos fazia sentir um pouco pequenas. Isso era algo que exalava dela.
  - Morgana.
  Blarie levanta as sobrancelhas, e assente.
  - Acho que já ouvi esse nome antes.
  - Ela tem uma loja de ervas e flores bem na divisa do vilarejo com a floresta, o lugar onde você tem que passar pra vir até aqui. - Wendy diz e a repreendo com o olhar. Ela precisa aprender a distinguir com quem pode e não pode falar desta maneira.
  - Eu posso ser um pouco distraída às vezes, me perdoem. - Blarie sorri, tornando seu rosto de traços delicados, ainda mais gentil.
  - Não se preocupe com isso. - Digo, sincera.
  - Bem, eu preciso ir agora. Jimin deve estar roendo as unhas de ansiedade para saber se você está bem. - Ela ri, pegando seus óculos escuros enquanto se levanta da cadeira. - Mas antes, será que você poderia me dar um absorvente-higiênico? Estou sentindo algumas dores. - Ela leva sua mão até a parte inferior de sua barriga.
  - Claro, venha comigo, vou te dar um. - Digo, me levantando também.
  Sem pressa, saio da cozinha com Blarie, deixando Wendy para trás tomando seu chá.
  Nós duas subimos as escadas para o segundo andar, e depois andamos até o meu quarto. E assim que entramos, vou direto procurar nas minhas coisas por um absorvente-higiênico, não demorando ao encontrá-lo. E com ele em mãos, me viro para entregar a Blarie, que estava parada ao lado da cômoda, admirando o vaso de flores.
  - Isso são tulipas-negras? - Ela olha em minha direção, tocando de leve as flores pretas-avermelhadas.
  - Eu não sei, Wendy e eu encontramos elas na entrada da floresta. - Respondo.
  - O nome dessa flor é queen of the night, é um tipo muito raro. Ela só nasce na mansão, mas acho que o vento pode ter espalhado algumas sementes. - Blarie sorri, enquanto me olha. - Taehyung gosta muito de flores, um dia ele voltou pra mansão com uma tulipa-negra, e pediu para Skull plantar. Por isso, só vemos essa flor na mansão. Você é muito sortuda por ter encontrado uma tulipa-negra em outro lugar.
  Não consigo esconder minha surpresa ao descobrir que Taehyung gosta de flores. Isso não parece nada certo com seu jeito rude e agressivo.
  - Por ser uma flor rara na maioria dos lugares, dizem que quando você encontra uma tulipa-negra, significa que algo especial está prestes a acontecer na sua vida. E que enquanto a flor exalar esse perfume delicioso, as coisas especiais continuarão acontecendo na sua vida, por isso, mantenha sempre elas aqui. - Blarie aproxima seu rosto das pétalas escuras, inalando o cheiro que perfumava o quarto inteiro.
  É uma bela história para uma bela flor. O cheiro é realmente agradável, e deixa o ambiente muito mais bonito com sua peculiaridade de cor. Eu com certeza as deixarei aqui.
  Aceno e sorrio para Blarie, antes de indicar para a garota de cabelo púrpura, a porta do banheiro. Ela agradece e se afasta do vaso de flores sobre a cômoda, indo até o banheiro.
  Aproveito do momento para ir até à janela, arrastando as cortinas para o lado, e encontrando o céu completamente nublado do lado de fora. As nuvens pareciam carregadas demais, como se estivem prestes a explodir em uma forte tempestade.
  Arrumo as cortinas de volta ao seu lugar, e me afasto da janela, deixando o quarto logo depois. Passo pelo corredor e desço as escadas, indo de volta para a cozinha, onde Wendy terminada de lavar a louça de nosso chá. Vou até o armário e pego um pano de prato limpo, me juntando a minha irmã, de frente para a pia.
  - Deixa que eu seco. - Digo para Wendy, que sorri agradecida.
  E com Wendy assoviando, nós duas trabalhos lado a lado, sendo interrompidas apenas por um rápido barulho que veio do andar de cima. Olho para minha irmã, que dá de ombros, pegando o pano de prato de minhas mãos para secar as suas mãos.
  - Eu vejo. - Ela se voluntária, saindo de perto de mim e da cozinha.
  Permaneço em minha tarefa, arrumando cada coisa em seu lugar até que tudo estivesse como antes.
  Dobro o pano de prato e o deixo na pia, esperando Blarie e Wendy voltarem. Elas não demoram, e Wendy diz que Blarie acabou esbarrando na cômoda, e por isso escutamos o barulho. Pergunto se ela se machucou, e ela diz que está bem. E depois disso, a levamos até a porta, onde ela agradece mais uma vez, e se despede, indo embora.
  Wendy e eu passamos o resto da tarde procurando pelo anel dela, que disse que tirou para lavar a louça e que agora não o encontrava em lugar nenhum. Eu até poderia repreendê-la, mas sei que esse anel significa muito para nós duas, já que era um presente de nossa mãe. E mesmo depois de revirar a casa inteira, nós não achamos o anel, então acabei sugerindo que procurássemos ele no dia seguinte, já que estava ficando tarde e pelo jeito, teríamos que fazer a janta, já que vovó demorou para voltar.

Capítulo 6
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