Drácus Dementer


Escrita porHels
Revisada por Natashia Kitamura


Capítulo 44

Tempo estimado de leitura: 19 minutos

  Assim que nossos pés tocam o chão lamacento da floresta, ficamos em completo silêncio, deixando apenas a chuva e os pequenos animais preencherem a atmosfera ao nosso redor. Nossos olhos precisavam ser tão bons quantos os de um falcão, porque acabamos de entrar no território inimigo, e eu podia sentir o ar tão gelado que quase tremia.
  Com o rifle aposto rente ao mesmo rosto, eu mirava em todas as direções, andando como se a qualquer momento, alguma coisa fosse saltar sobre mim. Eu não podia errar, eu sabia disso. Os meus olhos tentam enxergar entre as grosas fileiras de água que caiam do céu, e os relâmpagos que surgiam junto da tempestade nos deixavam espiar por meros segundos, tudo que estava escondido por entre as sombras das altas e largas árvores.
  – Inferno! – Escuto a voz de Lilu gritar, e me viro apressada em direção a ela, vendo-a caída no chão apontando seu fuzil de balas de prata para cima. – Maldito inferno! Eu odeio barro! – Resmungando, Lilu se levanta com metade de seu corpo coberto pelo barro que a chuva formava na terra da floresta. – Agora estou toda suja. – Irritada, ela sacode um dos braços, tentando se livrar da sujeira.
  – Pare de blasfemar e de gritar, você quer que eles nos encontrem? – Sally a repreende, tendo um olhar sério.
  – Tarde demais. – Alguém ri atrás de mim, fazendo todos os pelos do meu corpo se arrepiarem por debaixo do sobretudo preto.
  Apressada, me viro para trás, vendo um garoto alto surgir por entre as sombras das árvores. Seus olhos vermelhos podiam ser vistos antes mesmo de seu corpo deixar as sombras.
  – Quatro porquinhos indefesos. Acho que vou soprar, e soprar, e soprar, até derrubar sua casinha. – Ele diz, enquanto passa sua língua pelas presas longas.
  – Vá em frente, lobo mau. – Meg o provoca, fazendo um grande sorriso perverso surgir em seus lábios, antes que ele corra em nossa direção. – Não te mova. Amarro-te agora, immunda spiritus! – Meg grita, fazendo o corpo do vampiro ficar imóvel. – Agora, a água benta!
  Sally se apressa e retira de dentro do seu casaco preto, um pequeno frasco com água benta, que ela usa para fazer um círculo desajeitado e apressado, em volta do vampiro, o fazendo rugir como se fosse um leão quando o fogo de labaredas altas, o rodeia.
  – Eu, Margareta Scott, condeno a tua alma ao sofrimento eterno. – Meg dá um passo para trás quando o vampiro ruge furiosamente. Percebo que uma de suas pernas falham. – Quima-te eternamente, criatura imunda. Os teus dias... – Mais um passo para trás, e o vampiro mexe quase que imperceptivelmente um dos braços. – Os teus dias... – Meg cai de joelhos no barro, e o vampiro consegue mexer com mais força um dos braços.
  – Meg. – Corro até ela, e me agacho para ajudá-la a levantar, percebendo que seu nariz estava sangrando. – Meg, você precisa parar, ele é muito forte. – Encaro o círculo de fogo, vendo que o vampiro conseguia se mexer mais, como se se desprendesse de algo invisível.
  – Eu consigo... consigo. – De pé, ela limpa o nariz, e segura no crucifixo em volta do seu pescoço. – Quero que vocês três sigam caminho.
  – O quê?! Não vamos fazer isso! – Lilu diz apreensiva, e Sally concorda.
  – Vou estar bem atrás de vocês, vou cuidar do jardim. Agora, por favor, vão de uma vez, não podemos perder tempo, só temos uma chance. – Ela diz, e seu nariz volta a sangrar à medida que o vampiro rugia e gritava de raiva dentro do círculo de fogo.
  Meg retira de seu cinto uma pequena faca e me entrega.
  – Pegue, você vai precisar dela mais do que eu. – Quando pego a faca de sua mão e a guardo no cós detrás das minhas calças, o exaspero toma conta do meu corpo, mesmo sabendo que Meg estava certa. Não podemos perder tempo.
  – Você promete que irá nos encontrar depois? – A encaro aflita.
  Meg sorri, enquanto a chuva limpava o sangue que escorria do seu nariz.
  – Eu prometo.
  Permaneço parada ao seu lado, até outro grito do vampiro me despertar.
  – Vamos! Vamos agora! – Grito para Sally e Lilu, que com olhares aflitos, acabam me seguindo e deixando Meg para trás com o vampiro.
  Escutando os gritos da criatura, nós três corremos por entre as árvores, escorregando algumas vezes no barro do chão. E, quando finalmente entramos no caminho de arbustos fechados, meu coração começa a bater rapidamente enquanto minhas veias bombeavam apenas ansiedade e adrenalina.
  Nossas botas pegajosas e lamacentas só pararam quando os grandes portões da enorme mansão se materializam em nosso campo de visão. Agora, mais sombria do que nunca, com todas as luzes apagadas, a mansão parecia abandonada, uma velha construção largada ao meio da floresta, abrigando uma famosa lenda sobre vampiros.
  Em silêncio, mas com as respirações descompensadas, Sally e Lilu me encaram, esperando por algum sinal.
  – Como combinamos. Andar um, andar dois... – Aponto para cada uma delas. – e andar três.
  Elas assentem, com olhos atentos e nervosos, eu sentia isso.
  Lado a lado e tomando cuidado para não fazermos barulho, caminhamos juntas, entrando e atravessando o jardim com tulipas-negras. De frente para os cincos largos degraus que nos levariam até à porta de entrada, elas deixam que eu tome a frente, e quando paramos perto da grande porta de madeira, olhamos uma última vez para o jardim, conferindo se ninguém havia nos seguido.
  Respiro fundo, e encosto minha mão direita na porta, enquanto uso a esquerda para segurar o rifle. Faço força contra a porta, tentando-a empurrar para dentro e, como esperado, ela se abre em um baixo rangido, revelando a escuridão do interior da mansão.
  Olho expressivamente para Sally e Lilu, que entendem e assentem. Logo depois entro na mansão, sentindo o ar gélido do hall.
  – Não feche a porta. – Sally sussurra para Lilu.
  Lilu assente e se afasta da porta, e juntas, outra vez, começamos a andar pelo hall de entrada.
  Caminhos até víssemos o final hall, e paramos assim que entramos no espaço vazio, onde se dava para ver as duas escadas para o segundo andar e a porta entre as escadas.
  – O primeiro andar leva para o porão, não se esqueça de olhar lá. – Sussurro para Sally, que se aprontava para ser a primeira de nós, a se separar.
  Ela assente.
  – Não importa quem seja, mate todos. – Falo, engolindo em seco quando um arrepio corre meu corpo.
  Com mais um aceno positivo de cabeça, Sally começa a se afastar indo em direção à sala, e esse era o sinal para que Lilu e eu continuássemos.
  Em apenas duas, seguimos adiante indo até à escada do lado esquerdo, subindo todos os degraus com atenção e cuidado, sempre olhando em todas as direções.
  Quando chegamos no segundo andar, Lilu para de frente para mim, mas sempre prestando atenção a tudo.
  – Vou para aquele lado. – Aponto para o lado que estávamos, pois sabia que esse era o corredor que levava para o terceiro andar.
  Lilu assente.
  – Vou começar por aqui então. – Ela aponta na direção contrária, mantendo seu fuzil de balas de prata, bem próximo ao seu corpo.
  Expiro pesado e a encaro com preocupação.
  – Boa sorte. – Sussurro, quando ela começa a se afastar.
  Lilu sorri.
  – Vai dar tudo certo, vamos conseguir. – Ela se vira em seus cabelos curtos e loiros, e caminha em direção ao corredor dos quartos dos vampiros mais novos.
  Engulo em seco, sentindo meu coração acelerar outra vez. Me viro e começo a andar para longe de Lilu, passando por entre as portas fechadas dos quartos dos vampiros mais velhos. Quando paro de frente para as escadas que me levariam até o terceiro andar, consigo escutar as batidas de meu coração martelando nos ouvidos, acompanhando o barulho da forte tempestade do lado de fora.
  A adrenalina faz meu corpo esquentar, e acabo retirando o grande sobretudo preto do meu corpo, ficando apenas com uma blusa preta de mangas longas que revelava meus ombros. Depois de jogar o sobretudo no chão do segundo andar, começo a subir os degraus da escada, pisando na ponta dos pés para que minhas botas não fizessem barulho.
  Assim que alcanço o terceiro e último andar, um relâmpago ilumina o final do corredor, e o clarão veio da única porta que estava aberta, a sala de música.
  Quando dou o primeiro passo no corredor do terceiro andar, minhas pernas fraquejam e minhas entranhas se reviram. Por alguns segundos, fecho os olhos e afasto minha mão direita do rifle para poder segurar o crucifixo de para cheio de Erva-Marrom, preso no meu pescoço.
  – Que o Senhor me guie e me proteja, amém. – Sussurro para mim mesma e abro os olhos, soltando o crucifixo e voltando a segurar o rifle com as duas mãos.
  Respiro fundo em silêncio, e começo a andar pelo corredor, passando em frente a cada uma das portas fechadas que me deixavam mais perto do meu destino. Mais um relâmpago, mais um clarão e mais um trovão. Meu coração parece que vai parar a qualquer momento de tão rápido que estava batendo.
  A apenas três passos da sala de música, minhas mãos começam a suar, misturando-se a água da chuva que escorria pelo meu corpo molhado.
  Fecho os olhos.
  Um passo.
  Mais um trovão.
  Dois passos.
  Entranhas se revirando.
  Três passos.
  Viro meu corpo para o lado, ergo o rifle, respiro fundo e abro os olhos, sentindo meu corpo inteiro se arrepiar quando um novo relâmpago ilumina por completo a sala de música.
  Eu não estava sozinha... não estava mais sozinha.
  O alto e masculino corpo estava parado de frente para as portas de vidro da sacada da sala de música, enquanto o vento da tempestade entrava e balançava suas roupas brancas, assim, como, seus longos cabelos brancos que passavam de sua cintura. Suas longas unhas pintadas de preto estavam para fora das mangas largas de sua blusa branca.
  Encarando-o além da mira do meu rifle, não consigo controlar minha respiração acelerada que enchia a sala de música, acompanhando as batidas do meu coração.
  As gotas da chuva que me molhavam, escorriam lentamente por minha pele, pingando no chão, e isso soava como se fossem pedras pesadas, nesse momento.
  Lentamente, o corpo magro e bem-vestido se vira em minha direção, até que ele esteja de frente para mim, fazendo minhas pernas fraquejarem outra vez.
  Os longos brincos em suas duas orelhas, se perdiam em meio aos longos fios de brancos que desciam por seus ombros. Seus olhos incrivelmente vermelhos, cintilando mais do que a própria luz, me encaravam através dos finos fios de cabelo, que caiam em frente a eles.
  Seus lábios avermelhados como o sangue estavam em uma linha reta, sem demonstrar nenhum tipo de emoção, tal como sua expressão.
  Ele era infernalmente lindo, exatamente como um presságio ruim de morte.
  – Tem certeza que quer fazer isso, Elena? – Sua voz grave e rouca, como os trovões da tempestade, me estremece.
  Pisco algumas vezes, enquanto minhas mãos tremem, me fazendo perder a mira do rifle.
  – Sim, eu tenho certeza... Drácula. – Engulo meu nervosismo em seco, e aperto o gatilho do rifle, disparando o primeiro tiro.
  Seu corpo se movimenta tão rápido, que antes que eu consiga fazer algo, Taehyung estava na minha frente, me encarando de perto com seus olhos vermelhos.
  Espantada, dou um passo para trás.
  Taehyung puxa o rifle de minhas mãos com facilidade, e o jogo para qualquer canto da sala de música, me deixando desarmada.
  Com a respiração pesada, tento pegar a faca escondida no cós de minhas calças, mas ele segura meu pulso, me puxando para perto de seu corpo, me obrigando a olhar para aquelas duas íris cintilantes.
  Totalmente aflita, consigo pegar a faca com a outra mão, usando-a para golpeá-lo no braço, fazendo Taehyung soltar meu pulso. Aproveito o momento e corro para dentro da sala de música, indo em busca do meu rifle, mas, antes mesmo de ter chance de alcançá-lo, sinto algo pontudo me atingir nas costas, me fazendo parar de andar e envergar o corpo para trás, enquanto uma dor queimante subia dos meus pés até minha cabeça.
  Caminho até à parede mais próxima e me apoio contra ela, enquanto sinto o sangue quente escorrer no local que latejava. Olho para Taehyung, que estava parado na entrada da sala de música, com um dos braços manchando sua roupa branca de sangue.
  Em meio a dor e com um pouco de dificuldade, viro meu braço para trás, tentando alcançar o que estava preso na minha pele. E quando sinto o cabo da faca que antes usei para machucá-lo, a puxo de uma fez, deixando um pequeno grito de dor escapar dos meus lábios.
  Encaro a lâmina suja de sangue, e acabo soltando-a no chão quando minhas mãos tremem.
  Taehyung começa a se aproximar lentamente outra vez, e a aflição me enche de uma vez só.
  – N-Não te mova. Amarro-te agora, immunda spiritus! – Grito, mas nada acontece, ele continua se aproximando.
  Suas sobrancelhas parcialmente cobertas pelo cabelo branco, se arqueiam, enquanto ele sorri para mim.
  – Parece que você não é muito boa nisso. – Suas palavras saem de maneira zombeteira, me fazendo amaldiçoá-lo aos céus, milhares de vezes.
  Ele estava tão perto agora que fazia o meu machucado nas costas doer ainda mais ao imaginar o que poderia acontecer.
  Engulo em seco e respiro fundo de novo e de novo, tentando me concentrar em tudo que aprendi nesses últimos seis meses.
  Colocando em segundo plano qualquer tipo de dor, deixo que Taehyung se aproxime o suficiente para pensar que me encurralou, e quando ele ergue suas mãos em minha direção, me jogo no chão, assim como fiz com Lilu, e depois rolo para longe, me levantando e correndo até o meu rifle. E sabendo que ele tentaria me impedir, destravo o rifle e viro meu corpo, ao mesmo tempo, em que atiro na direção contrária, conseguindo atingir seu corpo que estava tão próximo do meu.
  Acerto três tiros em seu tronco, e me apresso a pegar mais munição na tira pregada ao rifle, mas meu corpo voa para longe da arma, caindo sobre o pequeno banco do piano, fazendo minhas costas partirem a madeira em várias partes.
  Fecho os olhos quando o corte em minhas costas, pega fogo, queimando como se eu estivesse no inferno.
  Respiro pesado e abro os olhos. Mesmo com dor, tento não perder tempo e me levanto do chão, apoiando meu corpo contra o piano, o que faz um alto barulho desafinado quando meus dedos tocam as teclas pretas e brancas.
  Taehyung se aproxima outra vez, e olho em volta em busca de algo que pudesse me ajudar, e o pequeno violino apoiando por perto, é o que uso para acertar seu rosto. Sua cabeça pende para o lado, fazendo o cabelo longo cobrir sua feição quando os pedaços do violino voam por todos os lados.
  Permaneço segurando o que sobrou do violino, respirando pesado e alto.
  Taehyung vira sua cabeça para frente. Ele mexe sua boca que escorria sangue, e toca seu maxilar, me encarando logo em seguida. Seus olhos se estreitam, e ele me olha irritação.
  Sua mão com unhas longas toca meu braço, apertando o local com força, fazendo as pontas das suas unhas machucarem minha pele. E sem pensar duas vezes, acerto seu ombro com que sobrou do violino, fazendo as partes pontiagudas da madeira entrarem em sua pele, manchando ainda mais sua blusa branca.
  Taehyung grunhe, enquanto puxa o violino quebrado para fora da pele, o arremessando na parede contrária.
  Tento correr para onde deixei minha faca cair, mas Taehyung surge na minha frente, me assustando e me fazendo dar alguns passos para trás, onde, acabo tropeçando nos próprios pés e indo parar no chão. E tão rápido quanto apareceu na minha frente, ele coloca seu corpo em cima do meu, me prendendo entre ele e o chão.
  Suas mãos agarram meus pulsos, me impedindo de mexer, e seus longos cabelos brancos caem um pouco em cada lado meu rosto. Tento me debater embaixo dele, mas era inútil, sua força se sobressaia à minha.
  Taehyung inclina sua cabeça para baixo, e começa a aproximar seu rosto do meu, fazendo as batidas do meu coração se acelerarem pele milésima vez nesse dia. Suas íris vermelhas desviam das minhas, e passam a encarar o meu pescoço, onde ele realmente aproximava seu rosto. Seus lábios vermelhos, tocam a pele do meu pescoço, e todo meu corpo se arrepia enquanto engulo em seco. Em seguida, Taehyung afasta seus lábios e seus dentes roçam na minha pele, antes que eu sinta uma aguda fisgada no meu pescoço, quando suas presas entram na minha carne.
  Nenhuma gota quente de sangue escorria, porque eu o sentia sugando cada uma delas.
  Aperto os olhos com força, quando as fisgadas ficam mais fortes em meu pescoço. Taehyung solta um de meus pulsos e leva sua mão até a lateral livre do outro lado do meu pescoço, me mantendo mais perto de suas presas.
  Engolindo a dor, me mexo com dificuldades debaixo do seu corpo, tentando alcançar minha bota. Meus dedos roçam na borda da bota, enquanto tento curvar meu corpo para tentar enfiar a mão dentro dela.
  Taehyung me aperta mais contra sua boca, sugando uma grande quantidade do meu sangue. Começo a me sentir levemente tonta, e um calafrio corre minha espinha. Eu não posso me render agora. Inspiro e expiro alto, e consigo curvar meu corpo um pouco para o lado. Enfio os dedos dentro da bota e toco o topo da estaca escondida. Mordo meu lábio inferior e continuo tentando me curvar, até conseguir puxar a estaca de prata para fora da bota.
  Solto um gemido de dor, ao mesmo tempo que, minha visão começa a embasar e meu corpo esfriar.
  Ergo o braço e o enfio entre meu corpo e o de Taehyung, e com alguma força, empurro a ponta da escada contra seu peito, fazendo, instantaneamente, ele tirar suas presas de dentro da minha pele.
  Lentamente, ele afasta seu rosto do meu pescoço, até que eu consiga o enxergar. Taehyung encara a estaca enfiada em seu peito. A forço mais fundo contra sua pele, e ele segura minhas mãos, tentando me impedir de continuar. Seus olhos voltam a me encarar, e o líquido vermelho que sujava sua boca, cai sobre a minha boca, em uma mistura do que era o meu sangue e o sangue dele.
  Tento forçar a estaca mais uma vez contra Taehyung, mas ele empurra minha mão para trás, deixando só a ponta da estaca dentro de sua pele.
  Com a respiração descompassada, forço meu corpo para o lado e consigo derrubar Taehyung, ficando por cima dele agora, tendo um pouco mais de apoio para tentar empurrar a estaca contra seu peito.
  Mais um pedaço se enterra contra sua pele, fazendo um barulho horrível que me obriga a fechar os olhos. E quando os abro novamente, vejo algumas gotas de água, pingarem sobre o rosto de Taehyung, mas não era a água da tempestade que me molhou antes, essas pequenas gotas eram quentes e escorriam dos meus olhos.
  Céus, por que estou chorando?
  Respiro com dificuldade e engulo meu choro, enquanto o rosto de Taehyung se contorce em uma feição de dor. Aos poucos, eu sentia que sua força diminuía, ele estava igualmente machucado.
  Minhas mãos quase vacilam quando minha visão volta a embasar, como se uma grande camada de fumaça me atrapalhasse a enxergar. E quando meus pulmões puxam aquele ar pesado que me faz querer tossir, tenho certeza que a fumaça realmente está aqui.
  Um ar incrivelmente quente atinge meu corpo, me fazendo olhar para trás assustada, vendo uma cortina cinza vir do corredor.
  Fogo.
  Isso era fogo.
  Os meus olhos se arregalam, e minhas mãos se afrouxam em torno da estaca quando lembro das palavras de minha avó há alguns dias. Mas ela não seria capaz, ela não coloria fogo na mansão sabendo que eu estou aqui, não é?
  Ficando completamente atônita, Taehyung consegue afastar minhas mãos da estaca. Ainda tendo alguma força, ele se levanta, me levando junto, para depois, me carregar nos braços até à sacada da sala de música.
  – O que você vai fazer, Taehyung?! – Pergunto desesperada, quando ele estende meu corpo para fora da sacada. – Taehyung, eu estou falando com você! – Grito, enquanto tento me agarrar contra sua blusa suja de sangue.
  As lágrimas que inutilmente tentei segurar, não paravam de rolar por meu rosto.
  Taehyung me encara uma última vez, e o vermelho de seus olhos vai desaparecendo, dando lugar a sua cor natural, que era cercada por um brilho diferente. O sangue escorre pelos cantos de sua boca, indo em direção ao seu pescoço, e o vento da tempestade molha e balança seus longos cabelos brancos.
  – Taehyung... – Sussurro seu novo e me corpo treme em seus braços que me soltam para fora da sacada.
  E despencando do terceiro andar, consigo ver Taehyung arrancar a estaca de prata do peito, enquanto seu corpo cai no chão da sacada que era engolida pela fumaça cinza. Um grito desesperado rasga minha garganta, seguido pelos poderosos trovões que abafam o som dos meus ossos se partindo quando encontram o jardim dos fundos da mansão; me levando direto para a escuridão, enquanto dou meu último suspiro de dor debaixo da lua de sangue.

Capítulo 44
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