Drácus Dementer


Escrita porHels
Revisada por Natashia Kitamura


Capítulo 39

Tempo estimado de leitura: 10 minutos

  Bato duas vezes na porta da biblioteca, e só entro quando escuto a voz suave do lado de dentro dizer “entre”.
  Lentamente empurro a porta, e sou surpreendida ao ver que a biblioteca estava um pouco diferente do que eu conhecia.
  As duas poltronas e o carpete, não estavam mais aqui, apenas as estantes se mantiveram no lugar.
  O chão de cimento, estava molhado no certo, em um formato de círculo, e ao redor deste círculo haviam algumas velas acessas.
  – Preparada pra aprender um pouco sobre exorcismo? – Meg me olha animada assim que fecho a porta da biblioteca.
  Ela segurava um pequeno livro de capa preta com uma cruz.
  – Não acho que tenho certeza. – Admito, sentindo meu corpo inteiro se arrepiar ao pensar em como serie esse dia.
  Confesso que de todas as coisas que eu deveria aprender, exorcismo é o que está me deixando mais temente. Sei que a vida não é como nos filmes, mas é impossível não lembrar de cenas como a do filme Exorcista. E isso foi o suficiente para não me fazer dormir à noite.
  – Não se preocupe, vai dar tudo certo. – Meg faz um gesto de mão para que eu me aproxime dela.
  Ansiosa de certa forma, fico ao seu lado, a vendo abrir o seu livro que era escrito em latim, claro.
  – Pelo jeito, Lilu não pegou leve com você. – Meg comenta, encarando o meu rosto que ainda tinha alguns cortes. Eles não doíam mais, mas ainda estavam ali. – Acredite, ela fez isso com a gente também. – Ela ri, e sorrio fechado.
  – Bom, vamos começar então? – Meg pergunta, e eu assinto. – Dentro da nossa prática, os exorcismos têm mais de uma utilidade, e podem ser usados em qualquer criatura.
  – Você quer dizer que existem outras além dos vampiros? – Pergunto, e ela assente.
  – Mas é claro que sim, vampiros, lobisomens, bruxas, e por aí vai, a lista é enorme.
  – Sereias também? – Automaticamente acabo me lembrando dos documentários que Wendy costumava assistir no Discovery.
  – Eu nunca vi, mas quem sabe. Se existe uma criatura que rouba almas, por que não existiria uma sereia? – Ela arregala seus olhos levemente, tentando descontrair o clima.
  Acho que ela seria a mais fácil de se lidar, da minha equipe. Minha equipe... isso ainda soava um pouco estranho.
  – Voltando ao que eu estava falando, um exorcismo tem muitas utilidades. E nós vamos começar pelo exorcismo clássico, aquele que todo mundo conhece um pouco. – Meg dá alguns passos para frente, se aproximando do círculo e das velas. – Pra realizar esse tipo de exorcismo, é preciso colocar a criatura dentro desse círculo que foi feito com água benta. Isso serve para que ele não consiga sair daqui de dentro.
  Me aproximo do círculo, também.
  – Mas as criaturas não podem simplesmente passar por cima? Os vampiros podem virar morcegos e voarem. – Digo, ficando curiosa a respeito disso.
  – E é por isso que nós precisamos dizer a palavrinha mágica. – Meg gesticula com seu dedo indicador, me olhando ardilosa.
  – Que palavra? – Me sinto ainda mais curiosa que segundos atrás.
  – Ignis. – Suas palavras fazem enormes e quentes labaredas, surgirem onde, antes, estava desenhado o círculo com água benta.
  Em reação natural ao susto que levei, dou vários passos para trás.
  – A biblioteca vai pegar fogo. – Olho incrédula para Meg.
  – Não vai. – Ela ri. – Isso é fogo sagrado, ele só queima aqueles que ficarem dentro do círculo, e como não tem ninguém, ele vai se apagar sozinho, veja. – Ela apontada para as labaredas de fogo que, aos poucos, iam perdendo intensidade, diminuindo cada vez mais. – Esse fogo sagrado vai impedir que a criatura dentro dele saia ou ataque alguém, e uma vez presa aí dentro, nós podemos fazer o exorcismo.
  Com passos cuidadosos, me aproximo outra vez de Meg, quando o fogo diminui ainda mais, quase que sumindo tão rápido quanto apareceu.
  – Os exorcismos são feitos em latim? – Pergunto para ela, mas me mantenho atenta ao fogo.
  – Alguns sim. Na realidade, o latim é mais como um código linguístico pra que a população de fora da igreja, não entenda o que fazemos aqui, então meio que se tornou uma tradição aprender latim. Mas um exorcismo tem o mesmo grau de efeito se não for feito em latim, não muda absolutamente nada.
  O fogo finalmente some por completo, não deixado nenhuma fumaça ou resquício no chão; o círculo de água benta continua intacto.
  – Entendi. – Volto a encarar Meg, depois desse pequeno susto.
  – Algo muito importante para saber, um exorcismo nada mais é do que uma invocação daqueles que já morreram.
  Franzo o cenho, ficando completamente atenta as suas palavras.
  – Quando nós da igreja fazemos um exorcismo, estamos invocando os espíritos de antigos membros da igreja para nos ajudar. Por exemplo, vou recitar uma oração exorcista, e posso matar a criatura que estiver dentro desse círculo se eu quiser, mas, na verdade, quem fará isso por mim é o espírito que eu invocar.
  – Podemos ver eles? – Arregalo os olhos como uma criança que acaba de descobrir um grande segredo.
  – Não, mas podemos sentir... bom, na verdade, só um Van Helsing consegue sentir. Nós, meros mortais simples – Meg ri das próprias palavras –, costumamos colocar essas velas perto do círculo do exorcismo, elas são como um catalisador de presença, e o fogo delas vai apagar caso o espírito apareça.
  – Nem sempre isso dá certo. Não é qualquer um que consegue invocar um espírito, até porquê, se todos soubessem, não precisaria existir exorcistas. – Meg ri outra vez. – Eu levei muito tempo pra conseguir fazer isso, mas acho que consigo te mostrar.
  Ela sorri, fechado, e me olha com expectativa, me fazendo entrar em uma onda de ansiedade.
  Em seguida, Meg passa a encarar o círculo a nossa frente, e respira fundo.
  – Invoco-nos agora, todos os meus falecidos irmãos. – Ela diz as palavras de forma calma, e ficamos em silêncio logo depois.
  Os meus olhos atentos, acompanham as cinco velas serem apagadas, enquanto uma sensação completamente nova, atinge meu corpo da cabeça aos pés.
  Viro o meu corpo em todas as direções, quando sinto uma estranha presença me rondar. Eu não conseguia ver nada além de Meg, mas conseguia sentir um calor, algo que indicava que mais alguém estava com a gente, exatamente quando sentimos alguém se aproximando por trás.
  Os meus olhos acompanham a presença como se pudesse enxergá-la e, por mais estranho que pareça, ela não me trazia um sentimento de medo ou qualquer coisa ruim, muito pelo contrário.
  – Infelizmente, nunca sabemos que tipo de espírito invocamos, só que eles são de pessoas que um dia estiveram aqui no nosso lugar, ajudando os humanos. – Meg diz, e eu mal posso prestar atenção em suas palavras, pois, a presença desse espírito era fascinante. – Bom, acho que devemos deixá-lo ir agora. – A encaro, antes que ela continue. – Obrigada por sua ajuda, meu querido irmão. Por favor, descanse em paz agora.
  As palavras de Meg são o bastante para fazer com que a presença suma no mesmo segundo, deixando tudo como estava antes.
  – Quando morrermos, também viramos espíritos que ajudam em exorcismos? – Pergunta, completamente maravilhada com a experiência que acabei de ter.
  – Provavelmente. – Meg responde.
  – Isso é incrível. – Se eu conseguisse ver os meus olhos agora, sei que com certeza eles estão brilhando.
  Meg ri.
  – Os espíritos que invocamos durante um exorcismo, também nos ajudam a imobilizar criaturas, em situações diversas. – Meg volta a explicar. – Nem sempre vamos conseguir colocar uma delas dentro do círculo de exorcismo, imprevistos acontecem e, por isso, precisamos estar preparados pra tudo.
  – Não te mova. Amarro-te agora, immunda spiritus. Quando recitamos essa oração, se você for um exorcista bom, você imobiliza qualquer criatura, os espíritos que invocarmos na hora serão encarregados dessa pequena tarefa. Mas também é importante lembrar que existem criaturas extremamente fortes que conseguem se livrar disso.
  – Não tem problema recitar essas orações assim? – Pergunto, curiosa.
  – E por que teria? Não tem nenhuma criatura aqui, e não estamos exorcizando ninguém, Elena. Então, não vai acontecer nada.
  Assinto, mostrando que entendi.
  – Agora quero te explicar um dos feitos mais importantes de um exorcismo.
  – Certo. – Bato uma palma involuntariamente, mostrando todo o meu intuíamos.
  – Você já sabe como um humano se torna um vampiro? – Meg pergunta, e eu a encaro surpresa.
  – Pensei que eles já nasciam assim.
  – A maioria sim, mas existe os que são transformados, e esses são denominados de vampiros comuns. A maioria vem da descendência Drácus Dementer, mas os humanos transformados, são só vampiros mesmo.
  – Sally me explicou sobre isso. – Digo, ao lembrar da conversa que tive com a garota de cabelos curtos e azulados.
  – Bom, para que um humano se transforme, ele precisa ingerir um pouco do sangue de um vampiro, e depois precisa ser morto com uma estaca no peito, exatamente como um vampiro. Após isso, ele ressurgirá como um vampiro, e o seu corpo entrará em mudança durante as vinte quatro primeiras horas, por isso, elas são de extrema importância.
  – Se antes de completar as vinte e quatro primeiras horas, esse humano for levado até um exorcista, esse exorcista pode exorcizá-lo e trazê-lo de volta a vida humana.
  – Se ele não for levado antes de vinte e quatro horas, se torna vampiro pra sempre? – Pergunto.
  – Sim, ele se torna um vampiro pra sempre.
  – Espero que a igreja consiga trazer muitos humanos de volta. – Falo meio abobada com essa nova descoberta.
  – Eu também.
  – Por que vocês escolheram estar aqui? – Minhas palavras fazem Meg me olhar com curiosidade e sobrancelhas levantadas.
  Sei que já fiz essa mesma pergunta para Alef, mas gostaria muito de saber o que leva pessoas tão jovens, como, elas e eu, a escolherem esse caminho, porque mesmo com minha decisão tomada, ainda me faço essa pergunta algumas vezes.
  Meg fecha o livro que segurava e encara a capa com desenho de cruz.
  – Sally viu a mãe ser morta por vampiro, quando era criança; ela foi criada só pelo pai. E a Lilu cresceu órfã; quando ainda era um bebê, teve a casa invadida por vampiros, eles também mataram seus pais, mas deixaram ela viva. A sorte foi que uma freira da sua cidade natal a encontrou depois de escutar o choro dela. Então, ela foi criada dentro da igreja.
  – E você? – Pergunto de maneira branda, não querendo deixá-la desconfortável.
  Meg sorri, fechado, e me olha.
  – Eu não tive meus pais mortos por vampiros. – Ela suspira. – Mas crescer sabendo que existem criaturas que se alimentam do nosso sangue, é um pouco assustador, não é? Eu só queria acabar com um pouco desse medo das pessoas, porque está na palavra do Senhor: “ajudai-vos uns aos outros.”
  Ela estava aqui pelo motivo certo, pelo mesmo motivo que eu descobri ser o meu motivo de estar aqui também.

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