Drácus Dementer


Escrita porHels
Revisada por Natashia Kitamura


Capítulo 34

Tempo estimado de leitura: 14 minutos

  Wendy não encontrou nada além de tralhas no sótão, e eu não consegui entender absolutamente nada dos livros que estavam escondidos no quarto da vovó. Nem mesmo as figuras puderam me ajudar, aquele tipo de criatura era completamente diferente, não se parecia nenhum pouco com os desenhos dos vampiros ou do Drácula, que eu vi na loja de Caleb.
  Até agora, eu me pergunto, o que é um Drácus Dementer?
  – Você está me escutando, Elena?
  – Hã? – Olho para o lado, vendo vovó parada com as mãos na cintura, me encarando com desaprovação. – Desculpe, a senhora pode repetir?
  Vovó bufa, parecendo um pouco nervosa.
  Estava de noite, e já faziam algumas horas que ela retornou de viagem.
  – Eu disse que você precisa ser mais cuidadosa. Onde já se viu, fazer um machucado desses enquanto cozinha. – Vovó nega com a cabeça e, discretamente, troco um olhar com Wendy, que estava colocando a mesa para o jantar.
  Minha irmã estava visivelmente apreensiva, e acabo desviando o olhar para que ela não fique tão nervosa e acabe nos entregando.
  – Serei mais cuidadosa. – Involuntariamente, seguro em minha mão enfaixada com ataduras.
  Vovó estreita os olhos e faz um barulho nasalado, antes de se afastar de mim para ir até o fogão, onde as panelas fumegantes de sopa de galinha, estavam.
  – Já sabem, vamos conversar sobre a volta de vocês para casa. Eu já liguei para Elizabeth. – Vovó fala, enquanto começa a mexer a sopa com uma colher de pau.
  – Estou com um pouco de saudades de casa. – Wendy diz, e eu a encaro, mas ela se mantém concentrada em colocar as colheres ao lado das tigelas.
  – Logo você vai voltar. – Vovó responde, sustentando sua atenção apenas na sopa.
  O som de leves batidas na porta de entrada, preenche o ar gelado da cozinha.
  Vovó olha sobre seus ombros, com o cenho franzido, e Wendy ignora o barulho.
  – Eu atendo. – Me voluntario, já saindo da cozinha.
  Passo em frente a sala, e sigo pelo pequeno corredor até à porta, enquanto abraçado meu corpo dentro do pijama que eu usava.
  A noite parece ter trazido o frio, levando embora todo o calor que eu senti durante a manhã e à tarde.
  Com os pés cobertos apenas por um par de meias listradas, abro a porta, sentindo que a sensação de frio corre rapidamente por todo meu corpo, ao mesmo instante, em que meus olhos se arregalam.
  – O que você...? – Começando a me sentir aflita, olho sobre os ombros, verificando que ninguém o veria.
  Rapidamente saio da casa de vovó e fecho a porta, sentindo o vento gelado da noite me atingir de uma vez só, me fazendo estremecer no lugar. Mas, talvez, o vento não seja o único a me fazer estremecer.
  – O que aconteceu com a sua mão? – Jimin aponta para minha mão esquerda, enquanto encara as ataduras em volta dela.
  – O que você está fazendo aqui? – Pergunto, sentindo minha aflição se tornar cada vez maior.
  Sem me dar ao trabalho de disfarçar, olho para todos os lados, checando se Jimin não havia trazido nenhuma companhia.
  – Vim te ver. – Meus olhos voltam a encontrar o seus quando ele me responde.
  Eu definitivamente me sentia a pessoa mais idiota do mundo, por já ter caído nessa conversa de falsa preocupação dele, várias e várias vezes.
  – Você pode parar com isso? – Tento controlar a altura de minha voz, mas eu estava tão farta de tudo isso, que parecia impossível esconder o meu amargor.
  Jimin arqueia as duas sobrancelhas, enquanto o vento balança os seus cabelos claros, para o lado.
  – Parar com o que, Elena? – Sua expressão é muito boa em enganar e fingir confusão.
  Encaro minhas meias listradas, enquanto movo minhas sobrancelhas para baixo.
  Por que ele continua com isso?
  – Depois de tudo que você fez com a minha irmã, ainda tem coragem de agir dessa maneira? – Volto a encará-lo, completamente desacreditada.
  – Eu não me alimentei dela, Elena. Pensei que tivesse ficado claro que Amia foi a única que fez isso. – Jimin franze o cenho, ficando um pouco sério agora.
  – Isso não muda as coisas em nada. Você sabia o que a Amia estava fazendo com a minha irmã. E se bem me lembro, todos vocês a hipnotizaram. – Não consigo mais me controlar, e minha voz sai um pouco alta.
  – Eu fiz isso porque preciso me manter informado sobre você. – Jimin também se exalta, e o vento ao nosso redor, fica mais forte, parecendo acompanhar a intensidade da nossa conversa.
  – Se manter informado sobre mim pra quê? Pra se alimentar depois? – Seus olhos se arregalam, e ele fica em silêncio. – Jimin, chega de bancar o bonzinho. Eu vi o Caleb e a Lydia no porão da mansão.
  Estremeço só de lembrar do estado em que os corpos estavam.
  Jimin continua sem dizer nada, apenas franze o cenho de novo e encara o chão.
  – Só vai embora, eu te imploro. Me deixe em paz e eu sumo de uma vez por todas. – Digo, completamente imersa em emoções ruins, me sentindo traída por uma amizade que um dia, acreditei ser verdadeira.
  Jimin volta a me encarar, e sua expressão se torna tão fria como o vento que nos cercava agora.
  – E se eu não quiser ir embora? – Suas palavras fazem as batidas do meu coração se tornarem descompassadas.
  Seus olhos, que ganharam um brilho escuro, me acompanham como se eu fosse um filhotinho indefeso e, talvez, eu seja mesmo.
  Escuto a porta ser aberta atrás de mim, seguida por um barulho de algo que parecia ser destravado ou engatilhado.
  Um objeto reluzente e longo, se posiciona ao lado da minha cabeça, quase tocando minha bochecha direita.
  – Então, eu estouro sua cabeça. – Os meus olhos se arregalam ao escutar a voz de vovó soar atrás de mim.
  Meu corpo inteiro paralisa no lugar percebendo que, o que estava perto do meu rosto, era um rifle.
  Jimin sorri de maneira vil.
  – Você deveria ter queimado a mim e os meus irmãos, quando teve chance, Morgana. Exatamente como fez com nosso pai, em mil novecentos e doze. – O vento balança outra vez os cabelos de Jimin, cobrindo parcialmente seus olhos, tornando seu olhar ainda mais sombrio.
  – Redire ad infernum. – Meu corpo é puxado para trás, enquanto vovó se coloca a minha frente. E se não fosse por Wendy, que estava escondida dentro de casa e acabou me segurando, eu teria caído.
  Vovó aponto o rifle em direção a cabeça de Jimin, que não se intimida.
  Ele solta um riso baixo, e depois deixa os seus olhos encontrarem os meus.
  – Essa não será a última vez que nos veremos. – E dizendo isso, uma pequena cortina de fumaça negra começa a surgir aos poucos ao redor do corpo de Jimin, até que ele seja completamente coberto por ela, dando lugar a um pequeno morcego que voa para longe.
  Vovó fecha a porta com força e solta o rifle que cai no chão. Seu corpo se vira, e um olhar completamente raivoso surge em seu rosto que parecia outro.
  Involuntariamente, me encolho nos braços de minha irmã, que ainda me segurava.
  – Eu sabia. Sabia que havia alguma coisa muito estranha acontecendo aqui. – A voz de vovó sai baixa e carregada, assumindo um tom de voz completamente diferente. – Então, quer dizer que vocês duas estavam metidas com vampiros? – Seu peito subia e descia, mostrando toda sua fúria.
  Me solto dos braços de Wendy.
  – Nós não sabíamos...
  – Não minta para mim, garota! Você acha que eu sou uma velha estúpida?! – Vovó grita, me fazendo dar um passo involuntário para trás, esbarrando no corpo de Wendy.
  Quem era essa mulher? Ela não se parecia nada com a minha avó.
  – Eu vou ligar para Elizabeth agora, e vocês vão embora! Nunca mais pisarão nesse vilarejo! – As veias de seu pescoço saltavam toda vez que ela gritava.
  Seu rosto parecia mais enrugado em uma imagem maléfica; e todas as suas cores se tornaram mais escuros, como o amarelado de seus dentes, que rangiam.
  Eu estava assusta, essa não era a minha avó. Mas eu também me sentia injustiçada, porque, por mais que eu tenha feito algumas escolhas ruins, fui enganada sobre tudo isso, ninguém nunca me contou nada.
  Tentando encontrar algum vestígio de coragem - o que parecia impossível -, dou um passo para frente, ficando mais perto de vovó.
  – A senhora não pode mais decidir as coisas por nós. – Minha voz sai trêmula, mas isso não impede vovó de me encarar com sua fúria. – Você mentiu... – Antes mesmo que eu conseguisse terminar de falar, um tapa absolutamente forte atinge meu rosto, me fazendo cair no chão tamanho foi o impacto.
  Minha mão machucada bate contra a madeira, me fazendo gemer de dor, enquanto meu rosto latejava e meus olhos marejavam.
  Wendy se abaixa e me abraça, e posso escutar o seu choro baixo.
  – Cala essa boca! Tudo eu o que eu fiz foi proteger vocês duas!
  – Vovó, por favor, a senhora está me assustando. – Wendy suplica, me abraçando com força.
  – Eu já mandei calar a boca! Você não deve falar, não é nem uma Van Helsing de sangue!
  Wendy começa a chorar com mais ardor, e era como se meu coração se despedaçasse em migalhas.
  – Não fale assim com ela... Você diz que estava nos protegendo, mas nos protegendo do quê?! Da verdade?! – Ao ver minha irmã em um estado de tamanha fragilidade, não consigo me conter e acabo gritando também.
  Isso é o bastante para vovó partir para cima de mim, enquanto Wendy permanecia ao meio, gritando e tentando afastá-la de perto de mim. E ainda caída no chão, fui acertada algumas vezes por suas unhas, que passava por meus braços e, às vezes, cabelo, tentando me puxar para longe de minha irmã.
  Em poucos segundos, os botões da frente do meu pijama, estouram, e o tecido das mangas, começa a se rasgar, até que meu tronco esteja metade coberto por retalhos rasgados, e metade despido, coberto apenas por um sutiã.
  – O que é isso?! O que é isso em você?! – Vovó grita, e seus olhos se tornam grandes.
  Com força, ela empurra Wendy para o lado e me puxa por um dos braços, me virando de costas para ela.
  – Isso... eu não posso acreditar. – Sua voz sai entre os dentes, antes que ela me force a ficar de pé.
  Em seguida, vovó abre a porta de entrada e me joga para fora de casa. Wendy tentar correr ao meu socorro, mas vovó a empurra para dentro de casa e fecha a porta, a trancando com a chave que antes estava pendurada na fechadura.
  O vento gelado me acerta inúmeras vezes, e todo meu corpo se arrepia de frio.
  Wendy começa a bater na porta fechada, gritando do lado de dentro da casa, mas vovó a ignora, vindo em minha direção e me levantando do chão com um puxão doloroso.
  Em silêncio, ela começa a me arrastar pela rua, enquanto eu chorava e tremia. Eu queria correr e gritar, mas eu estava completamente assombrada com suas atitudes, que tinha medo de tentar alguma coisa e tudo se tornar pior.
  Sentindo todas as lágrimas quentes escorrerem por meu rosto latejante pelo tapa, sou arrastada pela noite escura e sem cor de Upiór. Não havia ninguém do lado de fora, provavelmente todos se protegiam do frio agora e, por isso, não sabiam o que estava acontecendo neste exato momento nas ruas do vilarejo.
  Vovó me leva para a pequena capela de Upiór, me obrigando a parar de frente para a porta dupla fechada, enquanto ela praticamente esmurra a madeira.
  Levam alguns minutos até que a porta dupla da capela seja aberta pelo Padre Abel, que usava um longo pijama branco coberto por um robe de mesma cor.
  Ele nos encara com espanto, e abre um pouco mais a porta, nos dando passagem.
  Vovó me empurra para dentro, e eu caio direto no chão gelado de dentro da capela.
  – Mas o que é isso, Morgana?
  Vovó entra como um furacão na capela, e me obriga a ajoelhar de costas para ela e para o Padre Abel.
  Suas mãos tocam minha pele através das unhas que me arranham, e ela puxa com força o restante da blusa rasgada do pijama que ainda me cobria.
  – Olhe só, Padre! O senhor está vendo essa marca?! Ela não deveria estar aí, mas está! Essa garotinha idiota, ela andou se encontrando com aqueles demônios da floresta! Um deles foi na minha casa atrás dela!
  Ajoelhada, abraço meu próprio corpo enquanto choro em silêncio, sentindo toda a humilhação desse momento.
  – Você deveria morrer pela desgraça que trouxe a esse lugar!
  – Já chega, Morgana! Isso aqui é uma igreja, tenha um pouco mais de respeito!
  – O senhor deveria estar gritando com ela...
  – Vá embora da minha igreja, Morgana! Agora! – As palavras do Padre ecoam como trovões.
  Os passos de vovó batem contra o chão, assim como a porta, fazendo o silêncio momentâneo preencher o interior da capela.
  Sinto um tecido fino ser colocado sobre os meus ombros, e quando olho, vejo que se trata do robe branco e longo, do Padre.
  Ele suspira, e estende uma mão para mim, e espera com paciência até que eu a aceite.
  O Padre me ajuda a levantar, e depois fecha o robe ao redor do meu tronco, tapando minha pele exposta. Em seguida, ele me conduz pelo caminho entre os bancos da capela, e me leva até o pequeno confessionário de madeira. Ele abre a porta onde, geralmente, só os Padres entram, e mexe em alguma coisa do lado de dentro que, segundos depois, faz com que uma das tábuas de madeira das paredes, comece a subir, entrando para dentro da estrutura da capela, revelando uma passagem secreta dentro do confessionário.
  Padre Abel faz um gesto para que eu entre, e um pouco receosa, faço o que ele pede; entro no confessionário e passo para a passagem secreta, que tinha uma longa escada de pedra em um lugar iluminado por tochas nas paredes acinzentadas.
  Depois de fazer o mesmo que eu, fechando a porta do confessionário, o Padre aperta um pequeno botãozinho vermelho que estava acoplado ao concreto da passagem secreta, fazendo a tábua de madeira descer e volta para o seu lugar, fingindo ser apenas uma parede do pequeno armário onde todos entravam para confessar os seus pecados.
  Não sei se posso dizer que estou assustada, na verdade, não sei como eu deveria me sentir. O que era essa igreja?
  Gentilmente, o Padre coloca um de seus braços por meus ombros, em um abraço sutil para me conduzir pelos degraus da escada.
  Depois de descermos um pouco, paramos em um pequeno espaço reto entre os degraus de cima e os de baixo, onde, para o lado direito, havia um corredor com três portas de madeira velha. O Padre abre uma delas e pede que eu entre, me relevando um quarto simples com apenas uma cama, uma mesinha redonda e uma vela apoiada em um pires, encarregada de iluminar o lugar.
  – Descanse um pouco, amanhã iremos conversar sobre tudo isso. – O Padre caminha até a cama simples, e pega a coberta dobrada sobre ela, a ajeitando no colchão. – Por favor, deite-se um pouco, você precisa.
  Ele puxa o topo da coberta para baixo, dando espaço para que eu me deite na cama.
  Fico alguns segundos parada na entrada do quarto, mas acabo indo para perto da cama e me deitando.
  – Agora durma e não se preocupe, o Senhor está do seu lado. – O Padre me cobre e depois se afasta, saindo do quarto onde eu passaria uma noite completamente miserável, escondida em algum lugar da capela de Upiór.

Capítulo 34
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