Capítulo 30
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Fiquei no banheiro por mais alguns minutos, não sei ao certo quantos, mas o suficiente para que eu voltasse ao meu estado normal.
Quando coloquei este vestido, talvez eu pensasse que poderia obter esse tipo de reação de algum dos irmãos, e esse foi justamente o motivo que me fez usá-lo. Não há mais o que esconder, Jimin com certeza percebeu o que eu estava tentando dizer na loja e, por isso, me convidou para essa festa supostamente cheia de vampiros. Ele também entende que o momento finalmente chegou, e usar o vestido nessa ocasião, mesmo que não seja a melhor das ideias, deixaria mais do que claro as minhas intenções para todos eles. Mas, mesmo assim, não pude conter todo o meu nervosismo quando Jungkook se mostrou irritado ao me ver vestida desta maneira. E no segundo em que ele percebeu o que estava fazendo, seu olhar, sua feição e seu jeito mudaram por completo, era como me lançar duas emoções completamente diferentes simultaneamente, então não sei ao certo como ele se sente em relação a tudo isso.
Depois de me ajeitar em frente ao espelho, me certifico de ver se as minhas sandálias estavam mesmo limpas e por último e, com certeza, mais importante, pego a rosa-vermelha que coloquei sobre o assento fechado do vaso sanitário, antes de limpar as sandálias.
Silenciosamente saio do banheiro e do quarto de Jimin, não encontrando ninguém pelo corredor que atravesso com presa, enquanto escuto a música que vinha do andar debaixo. Quase corro ao passar em frente as portas que ficavam do lado direito, torcendo para que não me vissem.
Assim que paro de frente para as escadas que me levariam para o terceiro andar, sinto o meu estômago embrulhar, trazendo toda a ansiedade de volta. Essa seria a primeira vez que eu veria o Taehyung depois... depois do que fizemos. Acho que vou enlouquecer como daquela vez.
Puxo o máximo de ar que posso, e depois solto todo ele pela boca, de forma alta, tentando acalmar os meus nervosos que estavam em completa desordem.
Eu não posso esquecer o que Taehyung é o motivo que me fez vir até essa festa, mas eu simplesmente não posso controlar toda essa ansiedade ruim que está corroendo a boca do meu estômago. Era como sentir milhares de insetos andando de um lado para o outro dentro de mim.
Não gosto de me sentir assim.
Minhas mãos começam a suar quando subo o primeiro degrau, e conforme subo os outros, os insetos dentro de mim se agitam cada vez mais. Quando já estou no terceiro andar, a música que entoava pela mansão se torna mais baixa, mas ainda era bem audível.
Encaro o corredor escuro e quieto, com uma única luz que vinha da última porta - a sala de música - e tenho vontade de correr para longe.
Talvez eu desmaie agora mesmo.
Calma, Elena. Você precisa ficar calma. Você sabe que já viu o Taehyung muitas outras vezes.., mas nunca depois de... depois de...
Coloco as mãos sobre a máscara em meu rosto, sentindo minhas bochechas esquentarem, e torço com todas as forças para que o preto da máscara esconda a minha vergonha.
Vamos lá, você pode fazer isso, eu sei que pode.
Dou o primeiro passo pelo corredor, e de alguma forma, consigo me acalmar um pouco, enquanto penso que me sentir assim era uma grande bobeira. E desta forma, tentando controlar os meus pensamentos, consigo finalmente andar até à sala de música.
Paro ao meio da porta dupla aberta, sendo atingida pela claridade que vinha de dentro da sala iluminada pela luz da lua, através das portas de vidro da sacada que estavam abertas.
E lá estava, de costas para mim, parecendo encarar a grande lua do lado de fora, exatamente como já o vi fazendo antes no jardim.
Ele estava em um terno preto com alguns detalhes brilhantes, em preto também. Suas mãos estavam para dentro dos bolsos como de costume, e eu não podia ver muito bem como seu cabelo estava, mas, com certeza, enxergava o cintilar do seu longo brinco refletido sobre a luz da lua. Havia também uma pequena máscara branca e preta sobre o piano do qual Taehyung estava ao lado.
Ele não demora para sentir a minha presença, e vira sua cabeça para o lado.
– Oi. – Isso é o melhor que consigo dizer, e soa tão idiota que meu rosto esquenta de novo.
Ao reconhecer minha voz, Taehyung se vira em minha direção, e é apenas uma questão de segundos até que seus olhos caiam sobre o vestido que eu usava. Primeiro, suas sobrancelhas se franzem, e depois, seu olhar se torna confuso, uma feição que nunca pensei em ver em seu rosto.
Ele pisca algumas vezes, mas não desvia seu olhar do vestido, como se estivesse hipnotizado pelo tecido vinho e preto.
Passo a segurar a rosa-vermelha com as duas mãos, sentindo que nesse momento, eu era apenas nervosismo e ansiedade.
Envolta pelo silêncio de Taehyung, começo a me aproximar de forma lenta, escutando o barulho dos saltos de minhas sandálias soarem como o responsável por preencher esse momento.
Quando fico a dois passos de distância, os olhos de Taehyung sobem por meu corpo, até encontrarem os meus olhos, e tenho a impressão que suas íris castanhas se tornam mais escuras, igual à noite.
Visivelmente desordenado, seu rosto era impecável como sempre, o que o tornava cada vez mais intimidante todas às vezes que o via de perto.
Afasto minha mão esquerda da rosa-vermelha com um laço amarrado no caule, e uso a direita para tenta colocar a flor solitária sobre o piano, mas a mão de Taehyung é extremamente rápida ao agarrar meu pulso antes que eu conseguisse fazer o que pretendia.
– Onde você conseguiu esse vestido? – Seus dedos com unhas pintadas de preto, apertam com força meu pulso, enquanto seu olhar se sustentava contra o meu de forma intensa e rígida.
Encaro sua mão em meu pulso, sentindo que ele estava aplicando mais força do que deveria, e isso logo seria incômodo.
– Você vai me machucar, como da vez em que nos conhecemos? – Volto a encará-lo, e minha voz soa um tanto quanto melancólica.
Os olhos de Taehyung se arregalam de forma sutil, e só percebo porque estou perto o suficiente para isso.
Ele solta meu pulso, e seus dedos escorregam pela manga do vestido vinho e preto, passando rapidamente pela minha mão e pela rosa-vermelha.
Ainda em silêncio, sua mandíbula se movimenta, como se ele apertasse os dentes.
Os insetos dentro de mim, me mandavam ir embora ou eu enlouqueceria. Às vezes penso que estar perto de Taehyung não me fazia bem.
Sem ser impedida, coloco a rosa-vermelha sobre o piano, ao lado da máscara.
– Feliz aniversário. – Falo baixo, e me viro, caminhando para fora da sala de música.
Passo rapidamente pelo corredor, sem olhar para trás, e desço os degraus com pressa, fazendo o mesmo com a escada que me levou para o primeiro andar. E longe o suficiente de Taehyung, consigo respirar melhor.
Depois de me acalmar, finalmente vou até o local onde tudo parece estar acontecendo. Atravesso o espaço aberto entre as escadas, vendo os primeiros vestígios dos convidados.
Todos os móveis da sala haviam sumido, e aposto que a lareira era a única. O espaço que já era incrivelmente grande com móveis parecesse ainda maior sem eles, fazendo com que muitas pessoas bem vestidas e mascaradas pudessem transitar com tranquilidade pelo lugar.
Os convidados estavam animados enquanto conversavam, riam e até mesmo, dançavam formalmente. Skull e outras pessoas uniformizadas, andavam de um lado para o outro com inúmeras bandejas com taças cheias por um líquido vermelho. Ao meu canto esquerdo, havia uma longa mesa coberta pelos mais variados tipos de comida que enchiam os olhos.
Eu nunca estivesse em uma festa como essa.
– Com licença, senhorita, mas será que poderia me conceder uma dança? – Alguém pergunta atrás de mim, e quando me viro, encontro Jimin em roupas ainda mais elegantes das que ele costumava usar.
Ele sorri para mim, tornando seus olhos pequenos atrás da máscara branca com detalhes em prata que ele usava.
Assinto, e Jimin segura minha mão, me levando para dentro e indo até o centro da sala cheia, onde algumas pessoas dançavam.
Ele segura em minha mão direita, e apoia a outra mão em minhas costas, começando a rodopiar no ritmo da música, e faço o que posso para acompanhá-lo.
– Como me reconheceu? – Pergunto, enquanto continuamos rodopiando pela sala, ao som da música que era alta.
– Eu reconheceria esse belo cabelo em qualquer lugar. Mesmo com o seu cheiro diferente. – Jimin responde. – Talvez esse seja o seu novo perfume? – Ele ergue suas sobrancelhas, fazendo-as saltarem para fora da máscara.
Jimin afasta nossos corpos, e retira sua mão das minhas costas para poder me girar com apenas uma mão, voltando a nos aproximar logo em seguida.
Eu ainda podia sentir aquela essência que Jimin me trouxe quando nos vimos pela primeira vez na floresta... o seu sorriso. Mas os seus olhos já não pareciam mais os mesmos.
– Bonito vestido. – Ele diz, enquanto rodopiamos por entre algumas pessoas que também dançavam.
Seus pequenos olhos observam por alguns segundos o vestido e, involuntariamente, acabo apertando sua mão direita.
– Você não está irritado? – Pergunto, vendo um grande sorriso se abrir em seus lábios cheios e avermelhados.
– Eu estou muito irritado agora, Elena. – Ele finge uma feição brava, e ri.
Jimin para abruptamente de dançar, mas mantém suas mãos em mim.
– Se fosse outra pessoa usando isso, eu estaria muito irritado. – Jimin leva sua mão de minhas costas até o meu queixo, segurando-o entre os dedos de forma suave, enquanto aproxima o seu rosto do meu. – Mas se tem alguém que poder usar esse vestido, esse alguém é você. Ela, com certeza, gostaria de te ver usando ele. – Jimin desliza seu dedo indicador por meu queixo e, por um momento, tenho a impressão de que ele pode me beijar.
Para minha surpresa e alívio, quando Jimin se aproxima perigosamente, ele ergue minha mão direita e rodopia meu corpo, soltando minha mão e me fazendo ir de encontro com outra pessoa, que também segura minha mão e inicia uma nova dança.
– Você está completamente deslumbrante. – Blarie sorri, enquanto começa a rodopiar comigo.
O seu cabelo cor púrpura estava metade preso com alguns grampos dourados, combinando com seu lindo vestido amarelo-claro. E consigo sentir a suavidade do tecido das luvas brancas de Blarie, toda vez que nos movemos.
– Obrigada.
Atrás da máscara dourada, Blarie franze as sobrancelhas.
– O que foi? – Ela pergunta, enquanto continuamos dançando.
Estou chateada, porque pensei que você pudesse ser como uma amiga para mim, mas acho que é só uma vampira.
– Não é nada. Só não estou acostumada com esse tipo de festa. – Forço um sorriso, me sentindo incapaz de ser verdadeira com ela.
Blarie sorri fechado, e continua me rodopiando, parando abruptamente como Jimin fez e, dessa vez, paro de frente para outra pessoa, uma vestida em um longo vestido vermelho, com máscara de mesma cor.
Amia, que tinha os cabelos presos, leva as mãos para a cintura, e sorri ao encarar meu corpo de baixo para cima.
– Eu sabia que ficaria perfeito em você. – Ela me fita, com seus olhos cobertos pela maquiagem marcante relevada através de alguns pequenos furos em sua máscara.
O que eu deveria dizer? Eu sei que ela fez isso para que os irmãos se irritassem comigo, não sou tão ingênua assim.
Alguém exclama um "Oh!” perto de mim, atraindo minha atenção e me livrando de ter que conversar com Amia.
A garota de vestido azul ao meu lado, olhava para algo atrás de mim, assim como todas as pessoas em volta.
Me viro, conseguindo enxergar o motivo de tanta comoção, parado na entrada da sala. Taehyung, que agora usava sua máscara, e tenho impressão que está me olhando.
Como de costumo, meu interior se revira com o pensamento, e quando ele começa a caminhar para frente, vindo diretamente ao meu encontro, todos os insetos que me incomodavam antes, voltam.
Taehyung para na minha frente e me estende uma mão. Por alguns segundos, ele olha sobre os meus ombros, e sinto a presença de Amia se afastar, e sei que ela deve estar me odiando nesse momento.
Ele volta a me encarar, esperando por minha resposta, assim como todos ao nosso redor que nos encaravam, me deixando nervosa. Eu nunca gostei de ser o centro das atenções.
Respiro fundo mentalmente e seguro na mão de Taehyung, dando para ele a resposta que precisava para se aproximar de mim.
Segurando minha mão direita, ele leva a esquerda até as minhas costas, fazendo o meu interior se contorcer por completo. Seus olhos me encaram, e ele espera até que eu coloque minha mão sobre a parte detrás de seus ombros, para começar a se mover lentamente, iniciando a nossa dança.
Para direita e para esquerda, Taehyung começa a me conduzir, assim, dando permissão para que todos os demais ao nosso redor voltem a dançar, nos acompanhando.
Por mais que eu quisesse, eu não conseguia para de encarar seus olhos, e ele não tinha a menor pretensão de quebrar nosso contato visual. Seu rosto coberto por essa máscara preta e branca, de alguma forma o deixava ainda mais bonito, escondendo de mim o que vim descobrir essa noite.
Sua mão escorrega suavemente por minhas costas e se afasta do meu corpo para que ele possa me girar. Sinto os meus cabelos e a barra do meu vestido balançarem, me seguindo.
Quando volto a ficar de frente para Taehyung, ele me puxa para perto, tão perto que nossos narizes quase se tocam. Expiro alto, sentindo os milhares de insetos corroerem o meu estômago, e tudo que eu conseguia me concentra agora, era no som da música tocada a instrumentos clássicos, nas mãos de Taehyung em mim e em seus movimentos que eu conseguia acompanhar com perfeição, como se estivéssemos conectados.
Sua mão esquerda me empurra sutilmente para frente, me fazendo sentir por completo seu corpo, enquanto rodopiávamos pela sala, com os rostos tão próximos que me faz ter vontade de beijá-lo aqui mesmo, mas eu não faria isso, mesmo que sua boca estivesse tão tentadora como nunca.
Para o meu próprio bem, desvio meu olhar do seu quando começo a me sentir zonza. Deixo minha cabeça perto do seu ombro e, por fazer isto, posso colocar minha atenção em outras coisas que não fossem o Taehyung fascinantemente sedutor desta noite.
Apoio a ponta dos dedos no topo de seus ombros, me aproximando de modo que, meu rosto fique entre a curva de seu pescoço, um jeito de evitar contato visual com ele, mas começar um novo com Jungkook, que estava parado em um canto da sala, escorado contra a parede, nos observando enquanto tomava um pouco do líquido vermelho que Skull estava servindo em taças.
Seus olhos adornados por uma máscara preta, seguiam cada movimento meu e de Taehyung, me fazendo sentir como se estivesse no meio de uma linha de fogo, ser ter para onde olhar.
O som dos instrumentos clássicos começam a ganhar lentidão, e a música vai diminuindo para que outra comece. E junto com as últimas notas, minha dança com Taehyung chega ao fim.
Afasto meu rosto da curva de seu pescoço, enquanto olho para baixo. Suas mãos não me abandonam em momento algum, me obrigando a encará-lo logo depois, quase me fazendo suspirar ao fitar suas íris escuras.
– Acho que agora é a minha vez de ter uma dança. – Uma garota de cabelos vermelhos, usando um vestido laranja-escuro com um enorme decote, surge ao nosso lado, me fazendo soltar Taehyung no mesmo instante. – Taehyung, é a minha vez. – Eu mal o solto, e ela o agarra, apertando seu decote contra ele, mesmo sem ele sequer a olhá-la.
– Entre na fila, nós já estávamos esperando. – Outra garota surge, esta com mais três garotas ao seu encalce.
De forma rude, a garota que usava o vestido laranja-escuro, é puxada para longe de Taehyung.
– Deem o fora. Nenhuma de vocês vai dançar com ele. – Amia espanta todas as garotas que estavam ao redor de Taehyung e, em seguida, segura o braço dele de forma possessa, enquanto me encara com uma expressão não muito amigável.
Desconfortável com a situação, olho para a parede, procurando por Jungkook, mas ele já não estava mais lá.
– Vamos, meu amor. Você não vai me deixar esperando a noite toda, não é? – Amia puxa Taehyung para longe de mim, e tudo que posso fazer agora, é sair dessa sala que faz com que todos os meus insetos, me perturbem em nervosismo.
Eu preciso me concentrar, estou aqui por um motivo, e até agora não consegui nada.
