Drácus Dementer


Escrita porHels
Revisada por Natashia Kitamura


Capítulo 27

Tempo estimado de leitura: 10 minutos

  As coisas têm estado tensas por aqui, o clima está longe de ser o melhor, mas penso que todos entendem o porquê disso.
  Acabei não dormindo noite passada, pois passei a madrugada inteira pensando sobre tudo, tentando juntar mais alguns pontos sobre essa bagunça. E me pergunto: se Wendy foi mesmo hipnotizada, quando exatamente isso aconteceu?
  Esta é definitivamente a pergunta.
  E se vovó vai nos mandar para casa quando voltar de viagem, então não tenho muito tempo parar descobrir como, de fato, tudo isso começou. Sei que as minhas respostas não estão aqui, e sim na grande mansão que fica dentro da floresta, por isso, é para lá que vou mais tarde.
  Precisei de uma boa desculpa, já que vovó não viajou hoje e, pelo que nos contou, demoraria ao menos um dia até que Sebastian preparasse sua carroça para que eles pudessem viajar, então só iriam amanhã. Vovó tomou a decisão de cabeça quente e acabou esquecendo deste detalhe.
  Mas o mais importante foi que eu consegui convencer vovó a me deixar ir para a loja sozinha, com a desculpa de que eu queria ajudá-la, pois sabia que as coisas por lá deveriam estar bem bagunçadas. E como vovó já está cheia de coisas para resolver sobre sua viagem, ela não acabou desconfiando das minhas reais intenções quanto a isso.
  Wendy permaneceria em casa, usando a mentira sobre um resfriado. Era o melhor a se fazer, não podemos correr o risco de minha irmã ser supostamente hipnotizada outra vez.
  Depois de me arrumar e esperar a garoa fina passar, vou até à loja de vovó, tendo a impressão que o clima tenso não estava limitado apenas à casa de vovó. Parecia que Upiór estava imerso nesse sentimento desagradável e, não sei ao certo, talvez o tempo cinza esteja contribuindo, ou a falta de pessoas nas ruas.
  Com as mãos para dentro dos bolsos da minha blusa de moletom, caminhei pelas ruas de ladrilhos até que estivesse de frente para a fachada rosa com placa de madeira.
  Por um momento, olho em direção à entrada da floresta, fazendo meu estômago se revirar ao imaginar como seria a minha visita de hoje. Mas, antes, eu realmente preciso ajeitar a loja para que vovó não desconfie, e fazer isso vai me ajudar a tomar um tempo para pensar sobre o que eu vou fazer quando for à mansão.
  Puxo para fora do meu bolso a chave da loja, e destranco a porta que, uma vez aberta, mostra o caos que estava do lado de dentro. Não parecia a mesma loja. Era como se um furacão tivesse passado por esse lugar.
  Suspiro alto e entro na loja, andando sobre o chão sujo de terra e restos de fuligem trazidos do jardim, pelo vento.
  O jardim...
  Com passos agora mais rápidos, caminho até à porta - aberta - que levava para o jardim, ou, neste caso, o que um dia foi um jardim, já que as únicas cores que cobriam a terra e os restos de ervas e flores, era o preto e o cinza. Até mesmo a pequena cerca branca que separava o jardim da floresta estava queimada.
  – Wendy fez isso? – Era difícil de acreditar.
  Quando os pequenos pintos da garoa retornarem, saio do jardim e volto ao interior da loja, indo em busca de um avental e alguns produtos de limpeza que me ajudassem a dar um jeito nessa bagunça.
  E desta maneira, passei o restante da minha manhã varrendo o chão, limpando as prateleiras e colocando em sacos de lixo, tudo que estava queimado, assim como os restos da madeira dos caixotes que vovó e Sebastian trouxeram na última viagem.
  A garoa alternava, ora forte, ora fraca, e isso me impossibilitava de limpar o jardim.
  – Eleninha!
  Parada atrás do balcão e perto da porta, encarando o jardim, viro minha cabeça para trás, espiando sobre meus ombros.
  Wendy e Jimin entravam juntos na loja, ambos com guarda-chuvas e com minha irmã segurando uma sacola à parte.
  – Vim trazer seu almoço. – Wendy ergue a sacola no ar, depois de fechar seu guarda-chuva e colocá-lo escorado contra a porta aberta da loja. Jimin faz o mesmo também.
  Meu corpo fica tenso com a presença de Jimin. Pela primeira vez, desconfortável por ele estar no mesmo ambiente que eu.
  Os dois caminham para perto, parando do outro lado do balcão amarelo.
  Fico em silêncio, encarando Wendy de maneira séria.
  – Quando eu estava chegando, ele estava saindo da floresta. – Minha irmã força um sorriso, claramente entendendo o meu descontentamento.
  – Obrigada. Você já pode ir. – Pego a sacola da mão de Wendy.
  Jimin franze o cenho, não entendendo, e Wendy assente sem jeito, antes de se virar e caminhar para porta, pegando seu guarda-chuva e saindo da loja.
  Eu não gosto de ser rude com a minha irmã, mas eu não quero ela perto de nenhum deles.
  – Você está bem? – Jimin pergunta, me fazendo olhá-lo.
  – Estou bem. – Aceno com a cabeça, enquanto coloco a sacola que Wendy me trouxe sobre o balcão.
  – Vim ver como seu machucado está. Era pra eu ter aparecido ontem, mas estava um pouco ocupado. – Jimin sorri e, agora, nem mesmo seu sorriso pode de me trazer um sentimento bom.
  – Já está tudo bem, minha avó tem um remédio pra isso. Não precisava se incomodar.
  – Nós somos amigos, é claro que eu precisava me incomodar.
  – É, somos. – Eu não pretendia soar tão seca, mas é algo que está fora do meu controle nesse momento.
  – Você está mesmo bem? Se quiser, eu posso ir. Entendo se essa não for uma boa hora. Eu só estava preocupado, você foi embora antes que eu voltasse. – Seu sorriso some, e ele aponta sobre os ombros, para a porta da loja.
  – Você encontrou alguma coisa? – Ignoro sua pergunta, não sabendo se conseguiria fingir por mais tempo. Eu vi o que minha irmã passou, e isso é tudo que importa.
  Jimin suspira.
  – Não. Infelizmente nós não encontramos nada. – Ele passa uma das mãos por seu cabelo claro.
  Assinto e, em seguida, solto uma risada nasalada.
  – Você sabia que ele sumiu logo depois daquele jantar na casa da minha avó? E ninguém viu ele. Estranho, não? É como se algo soubesse a hora certa de atacar, quando ninguém estivesse por perto, sem testemunhas.
  Jimin franze o cenho de novo, e sorri de maneira confusa, inclinando minimamente a cabeça para o lado.
  – O que você quer dizer com isso? – Jimin estreita os olhos, me encarando com muita atenção.
  – Nada. Só que tudo isso é muito estranho. Já tem dias que ele sumiu e ninguém encontrou uma pista sequer. – Dou de ombros.
  – E você acha que tem mais alguém envolvido nisso?
  – Não sei, você acha que pode ter mais alguém? – Cruzo os braços sobre meu avental.
  Jimin fica alguns segundos em silêncio.
  – Talvez. – Com um olhar completamente diferente do que já vi antes, ele responde.
  Era como encarar os olhos de outra pessoa.
  Jimin se afasta de mim, e se aproxima das prateleiras, observando os frascos de ervas e as flores que sobreviveram ao incêndio da loja
  – Amanhã é aniversário do Taehyung, e sempre fazemos uma festa. Mas essa será fora de data. – Seus dedos deslizam sobre a superfície da prateleira. – A festa seria amanhã, mas fiquei sabendo de algo que me fez mudar ela para o sábado.
  Vovó vai viajar amanhã, e sábado Wendy e eu estaremos sozinhas em Upiór.
  Jimin retira um dos pequenos frascos da prateleira.
  – Você deveria ir. Vai ser bem legal. – Ele coloca o pequeno pote de vidro sobre o balcão, e sorri. Um sorriso inteiramente inédito ao que ele deu quando chegou.
  E pela primeira vez, ele me deixou ver através do seu rosto, quem ele realmente era.
  – Por que não? – Sorrio de volta.
  – Isso é ótimo. – Jimin apoia uma das mãos sobre o balcão amarelo e se inclina para frente, levando sua mão livre até o canto de sua boca, como se fosse me contar um segredo. – Esteja lá às dez. Você é alguém muito importante pra todos nós. – Ele sussurra.
  – Sábado às dez, eu estarei lá com certeza. – Sinto meu coração acelerar com o convite que finalmente me levaria para o caminho da verdade.
  – Eu preciso voltar agora, mas vou levar isso. – Ele pega o frasco sobre o balcão e me entrega.
  Encaro o nome “Erva-Amarelo” escrito no frasco, e depois encaro Jimin.
  – Pode levar. Presente de um amigo para o outro. – Sorrio, fechado.
  – Obrigado, Elena. Você sempre sendo gentil. – Jimin se afasta do balcão, se virando e indo para perto do seu guarda-chuva.
  Parado perto da porta de entrada, ele me olha uma última vez.
  – Te vejo no sábado. – Ele sorri e sai da loja.

***

  Não precisei ir na mansão, meu encontro com Jimin foi bem esclarecedor. Ele não é bobo, definitivamente percebeu o que está acontecendo, assim como eu também percebi. Por isso, no sábado não existirá mais motivos para mentiras.
  Depois de comer o almoço que Wendy me trouxe, eu finalmente consegui limpar o jardim. E não sei como vovó irá plantar nesta terra danificada, provavelmente levará um bom tempo até que ela ajeite o solo para que ele volte ao normal.
  Após passar metade da minha tarde na loja, estava decidia a voltar para casa e descobrir se Wendy falou alguma coisa para Jimin, pois o fato dele mudar a festa do Taehyung justamente para um dia que vovó não esteja no vilarejo, me soou muito estranho.
  Mas, talvez, Upiór esteja tentando me dizer alguma coisa, enquanto tenta me manter presa na loja de vovó, visto que, neste momento, tenho mais um convidado passando pela porta de entrada da loja, ao mesmo tempo, em que carrega uma grande caixa quadrada.
  Em seu longo vestido escuro e sobre saltos que fazem barulho contra o chão da loja, Amia caminha em direção ao balcão amarelo, depositando a grande caixa branca sobre ele.
  Suas mãos com unhas pintadas em roxo, repousam sobre sua cintura, enquanto ela sorri para mim.
  – Jimin nos contou que você vai à festa surpresa que estamos preparando para o Taehyung. É verdade?
  Arqueio as sobrancelhas, surpresa.
  – Sim, é verdade.
  O sorriso de Amia se torna maior.
  – E é por isso... – Ela coloca sua mão direita sobre a lateral da caixa quadrada e puxa a tampa para cima. – que eu te trouxe esse lindo vestido, que foi da mãe dos meninos. Ele estava guardado há tanto tempo na mansão, que já estava empoeirado. Mas quando Jimin nos contou sobre você, eu logo pedi para Skull limpá-lo. – Seus dedos deslizam sobre o tecido vinho-escuro com preto.
  – Por que você me trouxe esse vestido? – Pergunto, enquanto encaro o vestido dobrado dentro da caixa.
  – Imaginei que você não tivesse uma roupa apropriada pra festa. Além do mais, se me lembro bem, a mãe dos meninos tinha um corpo bem parecido com o seu. – Amia aperta os olhos, e leva sua mão até o queixo, me analisando. – Acho que vai ficar muito bem em você.
  Observo outra vez o vestido, antes de respondê-la.
  – Certo, eu vou usar. – Digo, confiante, fazendo Amia sorrir em seu batom escuro.
  – Pelo visto, meu trabalho por aqui já está feito. Irei voltar pra mansão então, eles precisam de mim. Só passei aqui pra te entregar o vestido. Aproveite muito bem, Amélia estava usando-o quando conheceu Henry pela primeira vez.
  Amia se curva rapidamente em minha direção, antes de virar e sair da loja, me deixando sozinha com o vestido de Amélia.

Capítulo 27
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