Capítulo 23
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Eu estava nervosa, realmente nervosa e curiosa, passei a manhã toda pensando se deveria ou não encontrar Jungkook, ainda mais depois de o que aconteceu ontem. Mas e se ele tivesse algo de importante para me contar? Eu duvido muito.
Solto o ar devagar pela boca, fechando os olhos por alguns segundos, tomando alguma coragem para finalmente ir até à mansão.
Eu só espero não me arrepender.
E antes que a minha coragem fosse toda embora, aviso Wendy e me despeço dela, que não dá muita importância, ela estava bem entretida no jardim, cuidando de algumas ervas e flores.
Caminhando para fora da loja e, sobre os raios de sol, vou em direção à floresta, sentindo que meu nervosismo aumenta apenas por pisar sobre o solo de terra e folhas secas.
Como de costume, sempre me recebendo com cânticos, sigo o barulho das pequenas cigarras escondidas pela floresta.
O dia era agradável, realmente agradável para um passeio, e mesmo que eu tenha tido um momento ruim nessa floresta, algo que parecia muito mais um sonho do que, de fato, uma realidade, não posso negar que esse lugar é um dos mais bonitos que já vi em toda minha vida.
Admirar os detalhes da floresta foi algo que me distraiu, me fazendo longe de toda memória ruim que vivi e, por este motivo, mal pude me dar conta de ter chegado tão rápido na mansão.
Agora, aqui estava eu, parada ao centro dos portões abertos, encarando a imensidão que era o jardim bem cuidado. E meus olhos são rápidos ao notarem a figura alta de Jungkook parada de costas para mim e ao lado de um pequeno arbusto.
Seu corpo se vira lentamente, como se sentisse a minha presença, e a brisa suave balança sua camisa branca com mangas cumpridas. Haviam algumas ondulações na gola e nas mangas, assim como no tronco, era algo semelhante a babados, mas não posso dizer se são isso mesmo, de qualquer forma, ele parece um príncipe com essa roupa, enquanto eu estou usando um simples vestido vermelho com um casaquinho amarelo por cima.
Seus cabelos acompanham o movimento da brisa, e então, ele começa a andar com elegância para perto de mim, com uma expressão tão serena quanto a brisa. Particularmente hoje, seus lábios pareciam mais vermelhos e seus olhos mais escuros.
– Pensei que não fosse vir. – Ele diz, parando na minha frente com as mãos para dentro dos bolsos de suas calças pretas, uma mania de família, talvez.
– Por que eu estou aqui? – Pergunto, querendo me livrar desse nervosismo e curiosidade logo.
– Porque eu vou te levar para um encontro. – Ele responde de forma natural, como se me contasse algo sobre o tempo.
A princípio, me sinto um pouco desnorteada com suas palavras, mas, logo depois, fico completamente confusa.
– Um encontro? Por que você quer me levar para um encontro? – Encaro Jungkook com um pouco de assombro.
Ainda com as mãos dentro dos bolsos, ele se curva para frente, abaixando seu tronco para que seu rosto fique na altura do meu. Seus olhos escuros encaram os meus com seriedade.
– O que há entre você e o Taehyung? – Ele repete a mesma pergunta que me fez noite passada, quando estávamos sozinhos no meu quarto esperando por Hyun.
– Nada. – Respondo outra vez, ainda mais confusa.
Jungkook fica por alguns segundos encarando os meus olhos. Depois, ele endireita sua postura e puxa sua mão direta para fora do bolso para, em seguida, segurar uma de minhas mãos.
– Aí está a sua resposta, é por isso que estou te levando a um encontro.
Sem esperar por uma resposta minha, segurando minha mão, Jungkook começa a me guiar para direção contrária da mansão, indo para o caminho onde estivesse com Lydia. E apenas com a simples menção de ir por aquele caminho, meu corpo paralisa no lugar, fazendo Jungkook parar junto comigo. Ele me olha sobre os ombros de sua camisa, e ainda segurando a minha mão, ele usa a outra para apoiar em minhas costas, me impulsionando para frente de forma amena.
Cuidadosamente, de um jeito que não parecia vir dele, Jungkook continua me guiando pelo caminho que fiz com Lydia e, para o meu alívio, ele acaba por fazer um pequeno desvio, onde, no final, nós dois andávamos pela pequena trilha que me lembro de ter feito com Jimin, Hoseok e Blarie.
Em momento algum ele parecia ter pretensão de soltar a minha mão, mesmo quando teve que andar na minha frente para sinalizar o caminho, e isso se tornou tão estranho. Eu não entendo por que ainda estou aqui deixando que ele me leve para um encontro. Isso é louco, aonde ele quer chegar com tudo isso?
Como eu suspeitei desde que entramos nesse caminho estreito de terra, nós acabamos chegando no mesmo vilarejo montado onde vi aquelas pessoas presas em jaulas que, supostamente, estavam fazendo parte de uma encenação.
Semelhante a primeira vez, vi algumas pessoas transitando de um lado para o outro, passando por entre as barracas de madeira que vendiam todo tipo de comida, enquanto uma pequena nuvem de vapor se formava sobre elas.
Ainda sem soltar minha mão, Jungkook começa a andar por entre as barracas, e assim como Jimin e Hoseok, ele é sempre cumprimentado por todos os funcionários que demostram imenso respeito por aquele que seria o seu chefe.
Ele pergunta o que eu gostaria de comer, e mesmo que eu dissesse que estava bem, Jungkook insistiu que nós estávamos em um encontro e que, por isso, eu deveria escolher alguma coisa. E depois de pararmos em algumas barracas, com uma mão ocupada com a sacola de papel, Jungkook nos levou para longe do vilarejo montado, mas não longe o suficiente para nos impedir de ver as pequenas barracas de madeira, elas ainda estavam em nosso campo de visão, um pouco distantes agora.
Nós subimos um pequeno morro de grama que nos levou até o topo de uma queda, algo similar ao que vi com Lydia, mas este era maior. E apesar da altura, o lugar era deslumbrante, nos dando uma vista vasta da floresta colorida e do vilarejo montado.
– Se não quiser cair, é melhor se afastar. – Jungkook diz assim que me aproximo mais da beirada, tentando mensurar a profundidade que tinha.
Com passos ágeis, volto para trás e me viro, vendo Jungkook sentado sobre a grama baixa e seca, com a sacola de papel ao seu lado.
Me aproximo dele e me sento sobre os joelhos, de modo que meu vestido não revelasse nada.
– Já tive quedas demais para uma vida. – Solto um riso sem graça, e encolho os ombros, enquanto Jungkook me encara.
– Como aconteceu? – Seus olhos estavam completamente presos a mim, como se eu fosse algo importante que ele devia olhar agora.
Enrugo minhas sobrancelhas e encaro minhas mãos que estavam sobre minhas coxas, acabando por me relembrar daquele dia tão confuso.
– Eu escorreguei e cai. Não sei como sai ilesa. – Opto por contar o que falei para todos, não acho que ele acreditaria em Lydia, nem mesmo eu acredito.
Jungkook ri nasalado, sem humor.
– Existem pessoas com sorte. E você parece do tipo que se machuca. – Seus olhos vão direto para minha mão que escondia o curativo que fez noite passada, algo que eu nem mesmo me lembrava até esse momento. – Então, deve ter muita sorte.
– Minha sorte, na verdade, foi o Taehyung. – Sorrio fechado, um pouco sem jeito.
A expressão de Jungkook não muda.
– No lugar certo, na hora certa.
O encaro curiosa.
– O que você quer dizer?
Seus olhos desviam dos meus e, pela primeira vez, ele encara a paisagem à nossa frente.
– Se tem alguém que conhece essa floresta, esse alguém é ele. – A brisa passa suavemente por nós, bagunçando seu cabelo castanho.
– E isso te incomoda? – Inclino o corpo um pouco para frente, de modo que possa olhar seu rosto.
– Isso não é uma competição, Taehyung é o meu irmão, Elena. – Jungkook me encara de canto de olho e decido que é melhor não continuar com esse tipo de conversa.
O som da brisa preenche nosso silêncio e, por me sentir um pouco incomodada, seguro na barra de meu vestido, encarando minhas mãos outra vez.
– Coma, isso é seu. – Ele coloca a sacola de papel sobre meu colo, adicionando um novo item à minha visão, que estava restrita as minhas coxas, barra do vestido, mãos e grama.
Abro o pequeno saco marrom e retiro dois pãezinhos redondos e rosas que estavam embalados em plástico.
Estendo um deles para Jungkook, que olha do pãozinho rosa para mim.
– Eu não quero.
Expiro baixo, e Jungkook escuta.
– Isso é um encontro, você precisa aceitar. – Mantenho o bolinho estendido em sua direção.
Jungkook sorri de forma mínima quase que para que eu não notasse, e pega o pãozinho de minhas mãos.
***
Jungkook afasta o arco do violino e afasta o instrumento de seu ombro.
– Você toca tão bem. – Encaro Jungkook completamente pasma com o seu talento.
Violino parecia um instrumento tão complicado e que requer um cuidado muito grande, mas ele consegue tocar com tanta facilidade. Isso era realmente incrível.
– Aposto que usa esse truque para enganar as pessoas.
Jungkook deixa o violino entre suas pernas e coloca o arco sobre seu colo, antes de me encarar e se aproximar perigosamente de mim.
– Eu consegui te enganar? – Ele pergunta com seu hálito quente perto do meu rosto.
Meus olhos se arregalam e meu corpo se curva automaticamente para trás.
– Talvez. – Confesso, e ele ri, mostrando seu sorriso que me lembrava um belo coelho branco.
– Nesse caso, eu deveria te beijar?
Seus olhos nem ao menos piscavam.
– V-Você está me perguntando isso agora? – Sinto todo nervosismo do começo, voltar.
– Estou tentando ser legal dessa vez. – Ele sorri de novo.
Levo uma de minhas mãos até seu tronco, e o empurro suavemente para trás.
– Então, vamos parar por aqui. Nós tivemos um dia agradável, acho que podemos terminar assim. – Falo, sincera.
Jungkook suspira falsamente.
– Ok, se é assim que você quer. – Ele coloca seu violino e o arco sobre o banco que estávamos sentados e, em seguida, se levanta. – Mas não garanto que serei tão legal no nosso próximo encontro.
De pé na minha frente, Jungkook me estende uma mão.
Encaro ele e acabo sorrindo discretamente, aceitando sua ajuda para levantar. E assim, ele me leva até a entrada da mansão, e depois para o jardim, onde caminhamos lado a lado debaixo do céu de fim de tarde.
Enquanto passávamos por entre alguns canteiros de flores, Jungkook aproveita para colher uma das belas tulipas-negras.
– Para que você não se esqueça de mim hoje. – Ele me oferece a flor, que eu recebo de bom grado.
– Obrigada. – Aceno para ele, assim que paramos perto do portão da mansão.
– Você quer que eu te leve até sua casa? – Parecendo completamente mais agradável do que qualquer vez que nos vimos, Jungkook pergunta.
– Não precisa. Tenho que ir para a loja, minha irmã está me esperando. Você pode dizer ao Jimin que estive aqui?
Jungkook passa uma mão das mãos por seus cabelos, jogando os fios para trás, enquanto assente.
– Eu vou indo agora. Obrigada pela tarde, eu aproveitei muito. – Sorrio fechado, erguendo um pouco a tulipa que ele me deu.
Jungkook sorri de volta, me fazendo perceber que era a hora de ir embora, eu já estava o vendo de um jeito diferente.
Nos encaramos uma última vez, antes que fossemos interrompidos por uma risada feminina, que estava se aproximando com passos. E poucos segundos bastam para que a imagem de Amia, agarrada a um dos braços de Taehyung, surja por entre os portões da mansão.
Os dois param assim que nos veem.
Os olhos de Taehyung encontram os meus por poucos segundos, pois logo depois ele encara a tulipa em minha mão e Jungkook.
Sua expressão é indiferente, da mesma maneira como estava ao lado de Amia, mesmo que seus olhos estejam atentos a tudo.
– Vocês estão juntos? – Amia pergunta, me olhando de forma espantada.
Sentindo o peso do olhar de Taehyung - também - em mim, assinto, fazendo Amia arquear as sobrancelhas.
– Nós quatro deveríamos sair juntos. – Amia se prende mais ao braço de Taehyung.
Jungkook fica em silêncio ao meu lado.
– Eu preciso ir agora. – Digo, sem jeito. – Obrigada. – Me curvo rapidamente para Jungkook, que me encara silenciosamente, e depois passo apressada por Amia e Taehyung.
Sem nem ao menos olhar para trás, sigo pelo caminho da floresta, querendo me livrar dessa situação que acabei entrando.
Aperto o caule da tulipa contra o curativo em minha mão, e apresso meus passos, não demorando para chegar até a saída da floresta, percebendo que hoje eu teria um dia com grandes surpresas.
Lydia estava se aproximando da loja, mas para e espera por mim assim que me vê saindo da floresta.
– Olá. – Ela sorri abertamente.
A cumprimento com um aceno de cabeça.
– Vim saber sobre a minha encomenda.
– Minha avó me mandou uma mensagem hoje, ela voltará em dois dias com a sua encomenda. – Forço um sorriso, me sentindo desconfortável por estar perto de Lydia.
– Tudo bem, eu voltarei. – Ela sorri.
Seus grandes olhos azuis permanecem me encarando, até que ela note a tulipa-negra em minha mão.
– Que linda. – Lydia diz, enquanto olha para a flor.
Olho para a tulipa também, sabendo que não posso ficar com ela, já que vovó não gosta do cheiro
– Pode ficar. – Estendo a flor para ela.
– Obrigada. – Lydia mantém seu sorriso e pega a flor.
– Não foi nada. Elas combinam com os seus olhos.
