Drácus Dementer


Escrita porHels
Revisada por Natashia Kitamura


Capítulo 22

Tempo estimado de leitura: 24 minutos

  Espero pacientemente até que Wendy feche a loja de vovó, onde finalizamos mais um dia de trabalho. E agora, eu não poderia estar mais ansiosa para a noite que chegaria.
  – Wendy, você pode ir na frente. – Falo assim que minha irmã se afasta da porta trancada e se aproxima de mim.
  – E eu posso saber por que eu tenho que ir na frente? – Wendy franze o cenho, enquanto guarda a chave da loja dentro de sua bolsa de pano.
  – Eu preciso comprar algumas coisas que estão faltando para o jantar.
  – Eu posso ajudar, não tem problema. – Com a bolsa sobre um dos ombros, ela segura na alça, sorrindo para mim.
  – É melhor você ir na frente pra adiantar as coisas, temos muito o que fazer, você sabe. – Tento soar o mais normal que posso.
  Wendy acaba dando de ombros. E assim, nós duas nos separamos, ela indo na frente, para casa, e eu indo atrás do nosso convidado especial.
  Durante todo o caminho até a loja com fachada de madeira e emblemas e letras enigmática, tento me convencer de que é uma boa ideia.
  Quem eu quero enganar com isso? Apenas a mim mesma. Eu nem sei o que estou fazendo, mas algo é certo, eu não posso simplesmente deixar que as coisas fiquem dessa maneira, eu preciso entender o que, de fato, está acontecendo nesse lugar e, por isso, eu tentarei todas as alternativas, mesmo que elas soem patéticas.
  Parada em frente à porta, coloco minha mão sobre o vidro mesclado com a madeira e empurro a porta até que eu tenha passagem para o lado de dentro da loja.
  Habituada ao preto das paredes, procuro pelo dono na loja, que estava ao canto folheando um dos inúmeros livros velhos que haviam na loja. Caleb não demora ao notar minha presença, e seu olhar é completamente desinteressado, provavelmente, cansado de toda a minha ladainha, mas eu serei persistente.
  – Não descobri nada. – Caleb fala, antes mesmo que eu diga qual o motivo que me trouxe até sua loja.
  Seus olhos ficam breves segundos em mim, mas o livro em suas mãos parecia muito mais interessante.
  – Não estou aqui pra isso... você não gostaria de conhecer um vampiro de verdade?
  Sem rodeios, vou direto ao ponto, talvez soando um pouco desconexa, mas atrativa o suficiente para Caleb voltar a me olhar.
  – Você está falando sobre os seus amigos? – Ele fecha o livro e o coloca sobre o balcão ao seu lado.
  – Sim. Eu convidei alguns deles para um jantar hoje à noite, e gostaria que você também fosse.
  – E o que eu faria lá? – Caleb cruza os braços e arqueia as sobrancelhas.
  Me aproximo dele com passos esperançosos.
  – Me ajudar. – Paro na sua frente, torcendo para que isso seja fácil.
  – Eu nunca vi um vampiro, não posso te ajudar.
  – Você pode nunca ter visto um vampiro, mas conhece mais sobre eles do que eu. – Rebato, decidida a só sair dessa loja com um “sim” seu para o meu convite.
  Ele suspira.
  – Você acha que só porque tenho essa loja, eu me torno automaticamente um detector de vampiros? – Seus olhos escuros ficam sérios.
  – Então, qual o propósito de manter essa loja? – Pergunto, e ele estreita os olhos, ficando em silêncio. – Quando entrei aqui pela primeira vez, você me vendeu a história de Upiór, falou sobre vampiros e coisas sobrenaturais.
  Mantenho nosso contato visual, não deixando que ele ganhe nossa conversa.
  Espero por mais alguns segundos, e Caleb continua em silêncio.
  – Você vai? – Me mantenho calma por fora, mas por dentro, sinto um fio de ansiedade por seu silêncio.
  Ele suspira outra vez e desvia o olhar.
  – Vou.
  Sorrio.
  – Obrigada. – Agradeço sincera. – Você pode me emprestar um papel e uma caneta para escrever o endereço?
  Por canto de olho, ele me olha, antes de procurar no meio de seus objetos estranhos, um pedaço pequeno de papel e uma caneta. Rapidamente escrevo o endereço e o horário, agradecendo mais uma vez, antes de deixar sua loja, sentindo que eu finalmente poderia descobrir algo.

***

  Depois de verificar tudo que preparei para o jantar, saio da cozinha e vou para o andar de cima atrás de Wendy, que ainda estava se arrumando.
  Ao chegar no quarto, encontro a porta do banheiro aberta e Wendy parada em frente ao espelho, ajeitando seu longo cabelo loiro.
  – Como estou?
  – Está ótima. – Paro rente ao batente da porta do banheiro.
  – Você também. – Ela sorri. – Mas acho que ficaria mais bonita com um colar, onde está o seu? – Minha irmã coloca as mãos sobre a cintura, enquanto inclina a cabeça para o lado.
  Involuntariamente levo a mão até meu pescoço, sentindo apenas minha pele.
  – Eu tirei ele quando passei alguns dias na mansão e esqueci de pôr de volta. – Respondo. – Mas e o seu? Você também está sem.
  – Nós tínhamos comprado colares iguais pra combinar, você parou de usar o seu, aí eu parei de usar o meu.
  Eu realmente nem me dei conta de que esqueci de por o colar outra vez, mas Wendy é tão boba para essas coisas.
  – Onde está o seu? Nós podemos usar agora. – Wendy sai do banheiro, entrando no quarto.
  – Na minha parte do guarda-roupas. – Respondo, entrando no banheiro para apagar a luz que ela deixou acessa.
  Escuto o barulho de Wendy abrindo as portas de madeira e remexendo no guarda-roupas.
  – Aqui está.
  Saio do banheiro, vendo Wendy segurar os dois colares em sua mão. Ela sorri animada e começa a se aproximar de mim, mas em seu pequeno trajeto, acaba por tropeçar nos próprios pés, soltando ambos os colares que, por serem de pedra, se partem em pequenos pedaços ao se chocarem contra o chão.
  O sorriso de Wendy some, e ela se abaixa no chão, recolhendo com pressa, cada um dos pequenos pedaços vermelhos de aíma.
  – Elena, me desculpe. Eu não queria fazer isso. – Seu olhar culpado se intercala entre me olhar e olhar para os pedaços dos colares.
  – Tudo bem, Wendy. – Me abaixo também, para ajudá-la.
  – Me desculpe, me desculpe mesmo.
  Seguro suas mãos, impedindo-a de continuar recolhendo os pedaços de aíma.
  – Wendy, está tudo bem, eram só colares. Nós podemos comprar outros depois. – Sorrio compreensiva para minha irmã, que relaxa um pouco.
  Eu não estou chateada com isso, o colar já não tem mais utilidade, eu já vi o que ele podia fazer e sei que funciona, isso basta.
  Depois de ajudar Wendy a limpar os restos dos colares, nós duas descemos para o primeiro andar, ajeitando alguns bancos - que encontramos no sótão - entre a cozinha e sala. Hoje teríamos muitos convidados e a mesa de vovó não era grande como a da mansão, por isso, precisaríamos nos virar com o que tínhamos.
  Chequei a hora no visor do meu celular, faltava um minuto para às sete, o horário que marquei para o jantar. Fiquei encarando o visor acesso até que os números mudassem para sete, e nem um segundo a menos de atraso, a campainha soou junto com a troca de números.
  – Uh, eles são pontuais. – Wendy, que estava sentada em uma das cadeiras da mesa, diz.
  Deixo meu celular sobre o pequeno balcão do armário e vou para fora da cozinha, querendo recepcionar nossos convidados, Wendy vem logo atrás de mim. Com calma, caminho até a porta de entrada, a destrancando com a chave que estava pendurada na fechadura. E a primeira coisa que vejo quando abro a porta, é o sorriso animado de Jimin, o primeiro da pequena fila do lado de fora.
  – Boa noite. – Ele me saúda com um rápido abraço.
  – Boa noite. – Sorrio para Jimin, que logo entra na casa de vovó.
  O segundo a entrar é Hoseok, que também faz questão me abraçar, assim como Blarie e, para o meu desprazer, Amia também. Jungkook é o próximo e apenas passa ao meu lado sem se importar. Namjoon e Yoongi entram juntos, com o primeiro me saudando com um sorriso e covinhas, e o segundo entrando de forma relaxada com as mãos nos bolsos.
  Jin surge com Hyung e algumas sacolas.
  – Trouxemos vinho para os adultos e suco de uva para o Hyun. – Jin indica as sacolas.
  – Muito obrigada, não precisava se incomodar. – Me curvo rapidamente.
  – Você já está fazendo o jantar, isso é o mínimo. – Depois que Jin entra com Hyun, vejo Wendy levar todas para a sala.
  E agora, só estava sobrando um.
  – Oi. – Falo, um pouco sem jeito.
  Assim como Yoongi, Taehyung estava com as mãos para dentro dos bolsos, me encarando de forma calma, mostrando que eu sou a única a sentir algo agora.
  – Entre. – Me afasto e dou espaço para que ele passe pela porta.
  Em silêncio, Taehyung entra, e ao passar ao meu lado, sinto o suave aroma de flores vindo dele, quase me fazendo fechar os olhos para apreciar.
  Por Deus, ele estava tão cheiro e bonito.
  Fecho a porta e me viro, pronta para ir até à sala me juntar com todos. Caminho um pouco atrás de Taehyung, admirando a forma elegante como ele andava; tudo sobre ele e seus irmãos parecia tão deslumbrante.
  Nós dois somos os últimos a chegar na sala, onde todos já estavam acomodados pelo sofá ou poltrona e bancos que trouxemos do sótão. Eu nunca vi a sala de vovó tão cheia.
  A lareira estava ligada, deixando o ambiente mais quente e aconchegante.
  Taehyung senta no braço do sofá, ao lado de Blarie.
  – Hum, a comida já está pronta, nós podemos jantar agora se vocês quiserem. – Digo, me sentindo um pouco desconfortável por ter tantos olhares sobre mim agora.
  Hyun, que estava sentado no colo de Jin, ergue uma das suas pequenas mãos.
  – Eu quero ir no banheiro. – O garotinho fala alto, fazendo Jimin rir.
  – Certo. Eu te levo. – Estendo minha mão para Hyun, que sai do colo de Jin e se aproxima de mim. – Wendy, leve eles para a cozinha, nós já voltamos. – Peço para minha irmã, que assente e se levanta de onde estava.
  De mãos dadas com Hyun, nós dois seguimos até a escada, subindo os degraus de forma devagar para que eu acompanhasse o seu ritmo.
  – Eu gostei da sua casa. – O garotinho me encara com seus olhos grandes e puxados, enquanto andamos pelo corredor do segundo andar.
  – Sério? Isso é bom. – Sorrio para Hyun, que acena com a cabeça.
  – O que tem ali? – Hyun aponta para a porta no final do corredor, a única que ficava na parede.
  – O sótão. – Respondo, parando em frente a uma porta aberta. – Esse aqui é o meu quarto, e ali é o banheiro, você pode ir. – Aponto para a porta dentro do quarto, e Hyun solta minha mão, correndo até ela.
  Depois que ele fecha a porta, eu caminho até a janela, afastando a cortina para o lado, contemplando o céu escuro da noite. Olho para as ruas e para a entrada da casa, me perguntando se Caleb demoraria para chegar ou se até mesmo viria.
  Suspiro de forma baixa e solto a cortina, me virando na direção oposta da janela para esperar por Hyun. E acabo por me assustar ao encontrar Jungkook parado na entrada do meu quarto.
  – Se você precisa ir ao banheiro também, tem outro aqui no corredor.
  Sem pressa, Jungkook caminha para perto de mim, parando na minha frente, deixando que poucos centímetros nos separassem. Ele apoia um de seus braços contra a janela atrás de mim, bem no alto da minha cabeça.
  Seus olhos escuros se prendem aos meus, não deixando que nem mesmo as minhas respirações passassem despercebidas.
  Mantenho meu corpo imóvel no lugar, tensa nesse momento.
  – O que há entre você e o Taehyung? – E essas são suas primeiras palavras para mim em dias, já que ele parecia ter mantido algum voto de silêncio contra mim.
  Franzo o cenho, olhando em algumas direções diferentes, tentando entender o que ele queria saber.
  – Nada. – Pisco algumas vezes, me sentindo ainda mais tensa.
  Jungkook arrasta seu braço um pouco para baixo, junto com seu tronco, o que o fez aproximar seu rosto do meu, de modo que seu olhar ficasse próximo, como se ele quisesse enxergar a verdade em minha resposta.
  – Você tem certeza? – Seus olhos bem delineados e redondos, se apertam em um olhar desconfiado.
  Apoio as mãos contra a janela, apertando discretamente as cortinas atrás de mim.
  – Sim. – Aceno, querendo me livrar dessa situação.
  Jungkook sorri fechado, minimamente.
  – Lembre-se que essas são suas palavras.
  Meu coração parece parar por um segundo quando percebo Jungkook aproximar mais seu rosto do meu.
  – O que vocês tão fazendo? – Respiro aliviada ao escutar a voz de Hyun.
  Jungkook me olha uma última vez, antes de se afastar.
  – Esperando você. – Jungkook olha para Hyun, o pegando no colo quando ele se aproxima, saindo do meu quarto em seguida.
  Respiro alto quando fico sozinha, relaxando meus músculos.
  Eu só queria férias calmas com a minha avó, e acabei ganhando uma confusão com esses irmãos.
  Minha avó... Acho que tive uma ideia.
  Rapidamente me afasto da janela e saio de meu quarto, indo em direção ao quarto de vovó. Abro a porta sem tentar fazer barulho, e olho em volta dentro do quarto organizado. Sabendo que não posso demorar e nem deixar que vovó desconfie depois, começo a vasculhar por algumas de suas coisas, como cômoda e guarda-roupas, sorrindo sozinha quando encontro o que finalmente queria.
  Encaro o terço em minhas mãos, prendendo-o ao redor de meu pescoço - onde antes o colar de aíma ficava -, escondendo a pequena cruz no topo de minha blusa.
  Depois de verificar se tudo estava como antes, saio do quarto de vovó e retorno ao segundo andar, encontrando todos na cozinha com conversas altas e animadas. Bem, nem todos, alguns estavam apenas observando os detalhes ao redor.
  – Vamos comer. – Anuncio quando entro na cozinha, e todos me olham.
  Sabendo que tudo era fruto de minha ansiedade por essa noite, sinto como se a cruz escondida dentro de minha blusa, pinicasse ao estar dentro dessa cozinha, implorando para ser exposta a todos os olhares que me encaravam agora.
  – O cheiro está muito bom. – Hoseok fala, como sempre, bastante expressivo em suas feições.
  Sorrio.
  – O segredo é o alho, eu uso bastante. Espero que não se importem.
  – Nós adoramos alho. – Jimin diz.
  A campainha toca.
  – Eu atendo. – Wendy sai de perto da pia e passa por todos, saindo animada da cozinha.
  – Nós podemos ajudar em alguma coisa? – Namjoon se aproxima, parando ao meu lado.
  – Claro, os pratos e talheres estão ali. – Aponto para um canto do armário, onde eu havia separado tudo que usaríamos hoje.
  Jimin e Hoseok se oferecem para ajudar Namjoon a pôr a mesa.
  – Elena, o seu amigo chegou. – Wendy cantarola alto, e quando olho sobre os ombros, vejo Caleb na entrada da cozinha, ao lado de minha irmã. Ele tentava ser discreto ao observar todos que estavam na cozinha.
  Ando até Caleb, sorrindo aliviada ao vê-lo.
  – Fico feliz que tenha vindo.
  – Você não me deu muitas escolhas. – Ele responde baixo e um pouco sério.
  Sinto alguma atenção começar a ser direcionada para nós dois e, por isso, resolvo me afastar de Caleb, antes pedindo que ele fique à vontade.
  Com ajuda, nós separamos todos, já que não daria para todo mundo jantar no mesmo lugar.
  Wendy ficou na cozinha com Jin, Hyun, Jungkook, Taehyung e Amia, enquanto eu fui para sala com Jimin, Hoseok, Blarie, Namjoon, Yoongi e Caleb. Nós sete nos organizamos entre sofá, poltrona, bancos e até mesmo o chão, já que Jimin e Blarie fizeram questão de se sentarem ao meu lado, apoiando seus pratos sobre a pequena mesa de centro da sala. Eu até me sentia um pouco mal por eles estarem em roupas tão elegantes e sentados no carpete de vovó.
  – Isso é tão macio que quero deitar. – Jimin comenta entre um riso, passando a mão pelo carpete marrom-claro.
  – Vocês são amigos faz tempo? – Blarie pergunta para Caleb, que estava sentando em um dos bancos, enquanto apoiava seu prato sobre uma das almofadas do sofá.
  Caleb me olha discretamente antes de responder.
  – Não. Nos conhecemos tem pouco tempo. – Ele tentar soar menos sério. Posso notar seu esforço.
  – E como vocês se conheceram? – Jimin pergunta com a mão em frente à boca.
  – Ela e a irmã compraram alguns colares na minha loja.
  – Oh, então aquele colar bonito que você usava era da loja dele? – Hoseok me olha surpreso. Ele estava de pernas cruzadas e apoiava seu prato sobre o braço do sofá.
  – Sim, foi lá. – Respondo, tentando me ajeitar melhor sobre o carpete.
  – Isso é legal, cara. O que você venda na sua loja? – Foi a vez de Namjoon pergunta, com um semblante bastante interessado. Ele estava sentado entre Hoseok e Yoongi, no sofá, também com uma almofada apoiando seu prato.
  Sinceramente, de certa forma, tudo é engraçado, toda essa família é bem-refinada, entretanto, todos estão tão simples aqui na casa de vovó. Isso não é uma cena que eu poderia imaginar.
  – Eu vendo a história do vilarejo, coisas como lendas ou objetos místicos. – Aos poucos, sinto que Caleb começa a ficar um pouco mais à vontade.
  – Ele tem bastante coisas sobre vampiros. – Comento como quem não quer nada, enquanto encaro meu prato ao mesmo tempo que tento espiar os dois ao meu lado, pelo canto de olho.
  – Isso é uma besteira, vampiros não existem. – Yoongi diz de forma insípida, como se realmente tivesse propriedade sobre o que fala, parecia até a vovó.
  – Você já viu um? – Pergunto, e ele me olha com as sobrancelhas arqueadas.
  – Não.
  – Então como pode falar que não existem?
  Yoongi aperta os olhos, me observando com cautela.
  – Ela te pegou agora, Yoon. – Jimin ri, ao meu lado.
  – Achei que você não acreditasse nessas coisas. – Namjoon comenta, acompanhando o riso de Jimin.
  Dou de ombros, me forçando a rir também.
  O restante do jantar ocorreu normalmente, nós conversamos sobre assuntos comuns, vez ou outra tocando sobre as coisas que Caleb fazia em sua loja. Namjoon realmente parecia ter ficado interessado, e deixando de lado toda essa situação, ele parece alguém que se interessaria por este tipo de coisa.
  Aparentemente, tudo foi bem com a Wendy na cozinha, mas duvido que ela tenha conversado tanto quanto eu, pois sei que os que estavam com ela, não eram do tipo falantes como os que foram para a sala comigo.
  Recebi alguma ajuda para recolher os pratos e tudo que usamos. Pedi que todos se acomodassem na sala e tomassem o vinho. Eu me encarregaria de lavar a louça e Wendy ficaria com eles.
  – Achei um pouco indelicado deixar uma senhorita com todo esse trabalho. – Jin surge ao meu lado, enquanto enxáguo a louça.
  Ele se recosta contra a pia, ficando ao meu lado, e me estende uma taça de vinho, enquanto segura a sua própria taça com a outra mão.
  Desligo a torneira e seco as mãos no pano de prato que estava por perto.
  – Vocês são os convidados. – Pego a taça que ele me oferece, tomando um pequeno gole da bebida doce e acentuada.
  Jin sorri e também toma um gole de seu vinho deixando seus lábios cheios bem avermelhados.
  Ele passa uma das mãos pelos fios escuros de seus cabelos, os ajeitando momentaneamente, e definitivamente percebo que a beleza é algo que vem de herança dentro dessa família. Todos parecem incrivelmente incríveis.
  – Nós não costumamos sair muito, geralmente só quando o assunto são os negócios da família. Passar um tempo assim foi ótimo, obrigado por nos convidar. – Jin sorri outra vez, apoiando uma das mãos contra a pia, fazendo com que sua camisa de botões involuntariamente se abra um pouco mais, relevando um pequeno pedaço de sua pele pálida.
  Por alguns segundos, me sinto perdida em seus pequenos detalhes, era fascinante.
  – Você é religiosa? – Franzo o cenho, e Jin aponta para o meu pescoço.
  Olho para baixo, e retiro a pequena cruz de dentro da minha blusa.
  – Não sou muito, mas achei bonito, por isso coloquei. – Apoio a pequena cruz entre dois dedos, e encaro Jin.
  Ele estende sua mão livre, tocando na pequena cruz, passando seu dedo sobre o relevo para sentir a textura.
  – É bonito mesmo. – Ele solta a cruz e bebe o resto do seu vinho, depois pega o pano de prato que usei para secar minha mão e o joga sobre seu ombro. – Vou te ajudar. – Ele se desencosta da pia e fica ao meu lado, esperando que eu volte a enxaguar a louça.
  Depois de receber a ajuda de Jin com a louça, a cozinha estava organizada outra vez. Eu disse a ele para voltar para sala e aproveitar como uma visita, que logo eu iria me juntar a eles, apenas precisava ir ao banheiro.
  Saio da cozinha escutando a conversa alta vindo da sala e, sem atrapalhar, subo as escadas, indo em direção ao meu quarto.
  Suspiro profundamente ao parar perto da cômoda onde costumava ter um vaso de flor, e começo a pensar que tudo que planejei até agora não está dando certo. O alho e o terço estão fora de cogitação, nada aconteceu e isso é ridículo, eu estou me baseando no que sei sobre lendas e filmes. Mas o que eu deveria fazer?
  Parada de frente para a cômoda, com as mãos apoiadas sobre ela, perto de um par de brincos de Wendy, sinto alguém se aproximar e sei que não estou mais sozinha no quarto.
  Sem que perceba, solto o ar lentamente, observando atentamente quando Taehyung entra no meu quarto e caminha até a cama, se sentando sobre o colchão forrado por um lençol limpo.
  – O que está fazendo aqui? – Pergunto, me sentindo um pouco inquieta por estar sozinha com ele.
  – Você invadiu o meu quarto, esqueceu? Acho que tenho o mesmo direito. – Ele cruza suas pernas de forma elegante e apoia as mãos sobre o colchão.
  – Eu não invadi seu quarto, você sabe, eu apenas me confundi. – Encolho os ombros, e ele ri nasalado, sem humor.
  Ficamos em silêncio, enquanto ele encara os detalhes do meu quarto.
  Talvez estando sozinha com ele, eu descubra alguma coisa. Fiz o jantar com esse intuito, e mesmo que tudo até agora não tenha saído como o planejado, acho que sei de algo que pode funcionar.
  Volto a me virar de frente para cômoda e, de maneira discreta, pego um dos brincos de Wendy que estava aqui, e retiro a pequena tarraxa, usando a ponta do brinco para fazer um corte na palma de minha mão.
  Sinto uma leve ardência em minha pele, e contenho minha feição de desconforto, me virando outra vez de frente para o quarto. Fecho minha mão, sentindo sangue quente minar no corte.
  Tomando coragem para isso, me aproximo receosa de Taehyung, sentando ao seu lado na cama. Ele me observa em silêncio, enquanto eu começo a pensar em como posso fazer isso. E assim como ele, apoio minhas mãos sobre o colchão, sabendo que meu sangue mancharia o lençol limpo.
  Encaro Taehyung de volta, observando cada traço delicado de seu rosto apático. Parecia que toda vez que eu o olhava desta forma, era como um dever descrever cada mínimo detalhe de seu rosto perfeito.
  Ainda em silêncio, aproximo minha mão da sua, até que eu toque sua pele com a palma de minha mão, fazendo assim, no mesmo segundo, Taehyung agarrar meu pulso e virar minha mão para cima.
  – Você se machucou. – Ele diz, enquanto me encara.
  Fico em silêncio, olhando dele para o sangue que minava na palma de minha mão.
  – O que foi? Por que está me olhando desse jeito? Está querendo me perguntar alguma coisa? – Ele estreita seus olhos, não desviando nem por um segundo nosso contato visual.
  – Eu deveria perguntar alguma coisa? – Sentindo o sangue quente formar uma pequena poça em minha mão, sustento nosso olhar, não querendo perder qualquer mudança que ele possa ter agora.
  Taehyung não responde, mesmo que seu olhar fosse tão profundo quanto palavras.
  Escuto alguns passos vindos do corredor, mas Taehyung não solta meu pulso.
  – Nós estamos esperando vocês. – Jimin surge na porta do quarto.
  Quando seus olhos veem meu corte, sua expressão é preocupada e ele se aproxima, se abaixando para ficar à minha altura.
  – Elena, você se machucou? Como fez isso? – Seus olhos pequenos encaram o sangue na minha pele e na de Taehyung, que foi manchada por mim.
  – Eu não sei, acho que quando eu estava lavando a louça.
  – O kit de primeiros socorros está no banheiro? – Jimin pergunta e eu assinto, apontando para a porta dentro do quarto.
  Ele se levanta e vai até lá.
  Taehyung também se levanta e, sem dizer nada, sai do quarto, me deixando para trás e sem uma resposta.
  Jimin retorna ao quarto com uma pequena caixinha branca, me ajudando a colocar um curativo sobre meu corte. Tento observar nele qualquer reação estranha, mas ele estava como sempre.
  Em seguida, nós dois retornamos ao primeiro andar, onde passamos o resto da noite conversando e bebendo vinho. Tive que dar uma breve explicação sobre meu mais novo curativo, mas nada que causasse um alarde.
  Vez ou outra eu sentia os olhares de Jungkook e Taehyung sobre mim, e me surpreendia por não receber um de Amia, que estranhamente estava quieta hoje, sem qualquer coisa que insinuasse seu “relacionamento” com Taehyung. Bem, eu não iriei reclamar, desta forma é bem melhor.

***

  Por volta das onze horas, todos começaram a se despedir, prontos para irem embora, e eu acabei me oferecendo para acompanhar Caleb até sua loja, pois queria ter uma conversa a sós com ele.
  Nós andamos em silêncio pelas ruas de Upiór, e ao chegar em sua loja, perguntei sobre as impressões dele para com todos, e soltei um longo suspiro ao escutar de sua boca que ele não achou nada de estranho em nenhum deles. Eu até que insisti, pedindo que ele tentasse associar tudo que conhecia de seus livros aos meus visitantes, mas Caleb continuou dizendo que não havia nada de estranho neles.
  Sentindo que a minha noite foi um completo fracasso, volto sozinha para casa, pensando se havia mais alguma coisa da qual eu poderia fazer para provar minha irreal teoria sobre vampiros.
  Pelas ruas tranquilas e silenciosas, me torno receosa quando encontro uma silhuetada em frente à casa de vovó, e ao me aproximar com cuidado, percebo ser Jungkook, então relaxo meu corpo.
  Caminho até ele, que estava perto da porta de entrada, sozinho.
  – Alguém esqueceu alguma coisa? – Cruzo os braços, sentindo o vento gelado da, quase, madrugada.
  Fora de qualquer coisa que eu poderia imaginar, Jungkook segura na parte superior do meu braço direito, e me puxa para perto, me dando um beijo completamente desprevenido. Os meus olhos se arregalam em surpresa, mas seus lábios não ficam muito mais contra os meus, ele é rápido.
  – Me encontre no jardim da mansão, amanhã de tarde. – Ele fala próximo de minha boca, me fazendo sentir seu hálito quente e depois simplesmente vai embora, me deixando completamente atônita parada em frente à casa de vovó.
  O que aconteceu essa noite?

Capítulo 22
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