Capítulo 21
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Vovó já estava na estrada com Sebastian. Eles partiram cedo na carroça de madeira, ambos em busca da encomenda de Lydia, que nem em um milhão de anos me convenceria com aquela desculpa de que as ervas seriam para seus trabalhos artísticos. Dez dúzias? Isso era um absurdo, como vovó não consegue perceber?
– Está na hora. – Um pequeno buquê de lírios-brancos é colocado contra meu rosto, tão perto que as pétalas tocavam minha pele.
Abandono meus pensamentos e encaro Wendy, que estava parada na minha frente com uma mão na cintura sobre seu avental, enquanto a outra segurava o buquê.
– Eu não sei se quero fazer isso. Estou me sentindo patética, Wendy.
Minha irmã arqueia as sobrancelhas, mantendo as flores estendidas.
Nem de longe ela parece a mesma Wendy preocupada de ontem. Depois que todos nós nos acalmarmos, pensamos com mais clareza. Eu tive que manter a mentira de Lydia, pelos menos, até eu descobrir toda a verdade dela.
– Por que você seria patética? Está apenas agradecendo. Você não disse que se perdeu e ele te ajudou a achar a mansão? Não há nada de errado com isso. – Wendy balança as flores em frente ao meu rosto, quase me fazendo engolir algumas pétalas.
Minha irmã suspira.
– Você precisa parar de se remoer pelo que aconteceu, pensei que quisesse uma trégua. Agora vá depressa, antes que se arrependa, Eleninha.
Encaro os lírios e depois Wendy, soltando um suspiro e pegando as flores, o que faz minha irmã sorrir.
– Você vai voltar hoje?
– É claro, Wendy. – Respondo séria.
– Se você demorar muito, eu vou pra casa. – Ela dá de ombros e vai para o jardim da loja.
Eu me pergunto como alguém pode ser desse jeito? Sinceramente, Wendy é única.
Retiro meu avental e, com o buquê em mãos, caminho para fora da loja, sentindo o ar quente do fim da tarde, menos quente que ontem, mas ainda sim, quente.
Preciso de algum tempo para conseguir entrar na floresta, temendo que tudo pudesse se repetir. Estou fazendo isso para agradecer, seja lá o que aconteceu, eu estou viva e bem graças aos irmãos da mansão, e quando estive de cabeça cheia, saí correndo da mansão e não os agradeci de forma educada. Isso era o mínimo que eu deveria fazer.
Sempre olhando para frente e evitando espiar os lados, tendo um único objetivo, respiro aliviada ao passar do lado da macieira e não encontrar ninguém. O trajeto pelo caminho de arbustos foi tranquilo, mas admito que parei por alguns segundos para encarar a entrada que me levaria para noite passada.
Entro no caminho que me levaria para mansão, onde vejo duas pessoas paradas no meio do enorme jardim, Namjoon e Hoseok.
– Elena! – Hoseok acena sua mão de um lado para o outro quando me vê. E ao me aproximar, ele sorri. – Veio ver o Jimin? – Ele pergunta, observando as flores em minhas mãos.
Encolho os ombros, me sentindo um pouco sem jeito.
– Na verdade, eu vim ver o Taehyung. O Jimin me disse que foi ele quem me encontrou na floresta... eu só queria agradecer. – Diminuo o tom de minha voz à medida que falo.
– Taehyung adora flores. – Namjoon sorri, tendo as mãos para dentro dos bolsos.
Ainda sem jeito, fico em silêncio.
Hoseok entrelaça seu braço ao meu, e começa a me guiar para a entrada da mansão.
– Taehyung está na sala de música. – Ele explica enquanto subimos os cinco degraus que nos levavam para porta de entrada. Namjoon vinha logo atrás.
Nós três passamos pela porta e depois pelo hall, parando em frente as suas escadas para o segundo andar, onde escutamos um piano suave entoar pelos cantos da mansão.
– Você sabe onde fica sala de música? – Namjoon pergunta e eu assinto.
– Se ele for ruim, você só precisa gritar. – Hoseok afasta seu braço do meu.
– Não dê ouvidos ao Hoseok. Nós estaremos aqui embaixo. – Namjoon sorri mostrando suas covinhas, e acena, antes de ir para a sala.
– Vou procurar Jimin e avisar que você está aqui. Ele saiu mais cedo com o Hyun e uma amiga.
Franzo o cenho.
– Uma garota de olhos azuis? – Pergunto, e Hoseok me olha surpreso.
– Sim, como você sabe?
– Já vi ela antes. – Forço um sorriso e ele acena, parecendo engolir minha desculpa.
Quando Hoseok volta pelo hall, vou em direção às escadas do lado direito, subindo os degraus com ansiedade. Encaro os lírios-brancos que estavam amarrados com um fino cordão de sisal, e me pergunto se ele vai gostar disso.
Respiro fundo e termino de subir as escadas, entrando no corredor e passando rapidamente pelos quartos, pois sei que o de Amia fica desse lado e não quero vê-la agora.
Subindo a segunda escada, me sinto ainda mais ansiosa à medida que o som do piano se torna mais alto. Tento não apertar muito os lírios e não descontar o meu nervosismo nas pequenas flores.
Ao chegar no terceiro andar, a música que vinha da última sala preenche tudo ao meu redor, deixando meu corpo mais leve, enquanto mascara meus passos. Meu coração começa a bater tão rápido que chega a ser incômodo em meu peito, por isso, enquanto ando, fechos os olhos e vou respirando fundo, até que eu estivesse de frente para a sala de música.
A sala clara e repleta de instrumentos, era iluminada pela fraca luz do fim de tarde, sombreando o enorme piano e a pessoa que o possuía neste momento. Completamente envolvida pela emoção da música, me aproximo silenciosamente da figura de Taehyung, que vestia uma camisa de seda preta e calças de mesma cor. O longo brinco em sua orelha direita, cintilava sobre a luz, e até mesmo os fios claros de seus cabelos, pareciam brilhar agora.
Encantada com a forma que ele tocava, paro ao seu lado, vendo que Taehyung mantinha seus olhos fechados enquanto dedilhava as notas do piano com perfeição. Ele parecia tão entregue agora que não queria interrompê-lo, por isso, esperaria até que ele terminasse, já que eu não me incomodaria nenhum pouco em escutá-lo tocar desta forma.
Como de costume, os botões de sua camisa estavam abertos, menos que dá última vez. Assim como seus cabelos estavam levemente bagunçados menos que dá última vez. Vê-lo desta forma, sentado de frente para o piano, o deixava ainda mais bonito do que parecia possível.
A intensidade das notas musicais se tornam lentas e baixas, e com mais alguns toques, Taehyung finaliza a canção com maestria, me fazendo pedir por mais internamente.
Seus olhos cobertos por alguns fios de cabelos, se abrem, me tendo como primeira imagem. Seu rosto não esboça nenhuma emoção e seus dedos continuam parados sobre as teclas do piano.
Sinto meu rosto esquentar, e sei que minha vergonha está se externalizando agora. E com todas as minhas entranhas se revirando por dentro, estendo o pequeno e simples buquê de lírios-brancos em sua direção.
Taehyung olha as flores e depois a mim.
– O que é isso? – Ele pergunta com seu tom de voz grave.
– Flores. – Engulo em seco, olhando, vez ou outra, para os lados.
Taehyung arqueia as sobrancelhas parcialmente cobertas por seu cabelo.
– Eu sei que são flores. – Seu olhar sempre parece tão intimidador que queria correr para longe.
– Elas são para vocês. – Revelo, de maneira baixa, enquanto desvio meu olhar. – Jimin me contou que foi você que me encontrou na floresta... obrigada.
Meu coração dá outro salto. E com muito esforço, volto a encarar Taehyung.
Ele olha mais uma vez para as flores, e se levanta do banco do piano, ficando de frente para mim. Em silêncio, ele segura um de meus pulsos e me puxa para perto, passando seu braço direito ao redor da minha cintura. Preciso controlar meu corpo para que ela não trema em nervosismo, pois eu já podia imaginar o que viria. E mesmo sempre cheia de confusões quando se trata de Taehyung... talvez eu queira isso.
Sua mão livre vai até o meu rosto e, diferente das outras vezes, ele não tenta prolongar o que faria. Seus lábios avermelhados encontram os meus, que vibram como se estivessem com saudades desse toque.
Os meus olhos se fecham lentamente, enquanto deixo que meu corpo se entregue a essa sensação de tê-lo desta maneira. Passo meu braço direito ao redor de seu pescoço, ainda segurando o buquê de lírios; enquanto minha mão esquerda repousa sobre o lado esquerdo de seu tronco.
Nossas línguas e bocas se movimentam de um jeito diferente do de costume, com mais fervor e, por um momento, fico espantada com isso, mas incapaz de parar. Suspiro entre o beijo e sinto que o corpo de Taehyung me empurra para trás, até que eu sinta a lateral do piano de cauda. Em seguida, suas mãos abandonam meu corpo, para segundos depois, tocarem a parte traseira de minhas coxas, me impulsionando para cima de modo que eu ficasse sentada sobre o piano.
Acabo soltando o buquê de lírios sobre o piano, para poder tocar Taehyung com mais intensidade. Eu nem mesmo posso explicar isso, ou dizer que seria uma coisa que eu faria normalmente, era louco, mas eu simplesmente não podia parar agora.
Suas mãos repousam na parte superior de minhas coxas, fazendo com que eu sinta o calor delas sobre minhas calças.
Em busca de ar, Taehyung interrompe nosso beijo, encarando minha boca de um jeito que causa arrepios por toca minha espinha. E sem criar um contato visual, seu rosto se inclina em direção ao meu pescoço, onde sinto a ponta de seu nariz roçar minha pele.
A mão direita de Taehyung vai até minhas costas, puxando meu corpo para frente de modo que ele fique entre minhas pernas. Já sua mão esquerda sobe pela lateral do meu corpo, alcançando a barra de minha regata fina e solta e, de forma lenta, a ponta dos dedos de Taehyung começam a subir um lado do tecido, enterrando seus dedos para dentro da regata. Seu nariz toca mais uma vez meu pescoço para, em seguida, eu sentir seus lábios molhados e quentes selarem um beijo na pele livre, me fazendo fechar os olhos e respirar fundo.
Os dedos de Taehyung continuam subindo, parando abaixo do meu sutiã, deixando um lado de minha barriga completamente à mostra. Com isso, deste mesmo lado, a alça de minha regata e de meu sutiã deslizam por meu ombro.
Os beijos de Taehyung descem por meu pescoço, chegando em meu ombro, onde, segundos antes, eram ocupados por duas alças. Seus dedos apertam a pele abaixo do meu sutiã, e sou incapaz de ficar quieta, apertando também meus dedos contra sua nuca e fios de cabelos que deslizam por minha mão de forma suave.
– Taehyung!
Toda e qualquer onda de tensão entre nós dois, é quebrada com o grito que vem do corredor.
Taehyung se afasta de mim.
Saio de cima do piano, ajeitando minha roupa.
– Finalmente te achei. – Amia resmunga alto, entrando na sala, mas para assim que me vê.
Blarie entra logo depois, e torço para que elas não descubram o que aconteceu.
– O Jin está te esperando no escritório, negócios, você sabe. – Mesmo que Amia esteja falando com Taehyung, seus olhos estão em mim.
Sem dizer uma palavra, Taehyung se aproxima e eu congelo meu corpo no lugar. Ele pega o buquê que eu trouxe e sai da sala de música.
– Blarie, você poderia pedir para o Skull preparar alguma coisa para a nossa convidada? – Amia se vira para a garota de cabelos cor púrpura.
– Não precisa. – Digo.
– Sem problemas, eu posso fazer isso. – Blarie sorri gentilmente para mim, sendo a próxima a sair da sala de música.
Amia volta a me olhar e sorri, caminhando em suas botas pretas e vestido longo para perto de mim.
– Foi você que trouxe as flores? – Ela para na minha frente, apoiando uma das mãos com unhas pintadas de vermelho sobre o piano.
– Sim.
– Você é uma gracinha, querida. Mas não acho que seja correto um homem comprometido receber flores. – Ela sorri fechado, me olhando de cima a baixo.
– Taehyung me contou que vocês não namoram. – Mesmo que eu ainda me sinta nervosa pelo que aconteceu minutos atrás, tento soar calma.
Amia arqueia suas sobrancelhas, com uma expressão desafiadora.
– Nós havíamos brigado, mas já estamos bem. Mas me diga, querida. – Amia sai de perto do piano e anda ao redor do meu corpo, tocando uma das mechas de meu cabelo. – Vocês costumam conversar muito? – Ela para atrás de mim.
– Não. – Respondo simples, e ela solta meu cabelo.
– Melhor irmos agora. – Amia sai de trás de mim, e caminha para fora da sala de música.
Sempre ando atrás dela, pois não posso confiar em suas ações. Nós duas descemos para o primeiro andar, onde encontramos Jimin, Hyun e Hoseok na cozinha, junto de Blarie e Skull, que preparava algum tipo de massa em uma tigela azul de porcelana.
Mesmo com a presença de Amia, tento aproveitar a companhia de Jimin, me desculpando por ter saído daquela maneira na noite passada. Dendo compreensível como é, Jimin me deu um de seus incríveis sorrisos e ficou perguntando a todo momento se eu estava bem.
Hyun parecia querer um pouco de atenção, então tentei ser o mais gentil que pude. Hoseok e Blarie, como sempre, conseguiram fazer todos mais leves e até mesmo Amia parecia mais tranquila.
Tentei não demorar muito, mas quando percebi, a noite já havia caído. Dessa vez não recusei o pedido de Jimin para me acompanhar até à loja que, por sinal, já estava fechada.
– Tem certeza que não quer que eu te leve? – Ele pergunta gentilmente.
– Tudo bem, daqui eu ficarei bem. – Agradeço com um sorriso.
– Certo. E o que vamos fazer amanhã?
– Jimin, eu preciso cuidar da loja. – Aponto para a construção rosa.
Ele leva as duas mãos até o meu rosto, apertando-o de leve.
– Elena, você está de férias. Não pode ficar nessa loja todos os dias.
Suspiro, vencida por seus olhos pidões.
– Venha jantar na minha casa amanhã, você pode trazer todos. A minha avó está viajando, Wendy e eu estamos sozinhas
O meu convite faz sua expressão surpresa, acompanhada de um grande sorriso.
– Nós iremos. – Jimin solta meu rosto. – Até amanhã então! – Ele acena animado, antes de voltar para a entrada da floresta.
Sorrio para Jimin, esperando seu corpo sumir no meio das árvores.
Eu tenho muitos planos para esse jantar, ele foi uma ideia repentina, mas sei exatamente o que tenho que fazer.
