Drácus Dementer


Escrita porHels
Revisada por Natashia Kitamura


Capítulo 20

Tempo estimado de leitura: 9 minutos

  Com todos os meus sentidos em fervor, me levanto de uma vez só, respirando de forma ofegante e alta. Meus dedos agarram com força o lençol branco que cobria minhas pernas. Pisco os olhos freneticamente, tentado afastar todas as imagens ruins que passavam como flashes em minha mente.
  – Até que enfim você acordou, já estava na hora.
  Olho assustada para o meu lado direito, vendo Amia sentada na ponta da grande cama. Ela estava muito bem arrumada, como sempre.
  – Amia? O que você está fazendo aqui? – Pergunto, enquanto tento estabilizar minha respiração.
  – Estou cuidado de você, querida. – Ela sorri.
  Sem entender o que estava acontecendo, toco algumas partes de minha cabeça, a procura de algum machucado, mas tudo estava em ordem. Depois, levanto o lençol que cobria minhas pernas, vendo que a pele da minha coxa, que estava em perfeita condição. Eu não tenho uma explicação para isso, mas a dor era tão real que eu estou capaz de revivê-la.
  Sinto o colchão macio em que estava se mexer e, ao finalmente olhar prestar atenção ao redor, percebo uma terceira pessoa no quarto.
  Sentado em uma cadeira almofadada vermelha e dourada, com os braços sobre o colchão e a cabeça sobre os braços, Jimin parecia dormir, pelo menos, até aquele momento.
  Seus olhos pequenos e puxados se abrem lentamente, e aos poucos ele levanta seu tronco, espreguiçando o corpo. Sem demora, ele olha em minha direção e seus olhos se arregalam, e como o vento, ele vem para perto, segurando as minhas mãos com força, enquanto me olha da maneira mais preocupada que já vi.
  – Ainda bem! Eu estou tão aliviado em te ver acordada. – Ele quase suspira. E sua feição é completamente emotiva.
  – Jimin... o que aconteceu? – Pergunto, me sentindo confusa.
  Ainda segurando minhas mãos, Jimin responde:
  – Você se machucou na floresta, caiu de uma altura perigosa. Graças aos céus o Taehyung te encontrou e te trouxe para cá.
  – O-O Taehyung? – Eu nem precisava ver minha expressão nesse momento para saber que era coberta de incredulidade e surpresa.
  – Sim. – Jimin assente.
  – E a outra garota, Jimin? Como ela está? – Pergunto assim que um flash ruim do corpo ensanguentado e sem movimento retorna em minhas memórias que pareciam pesadelos.
  – Que outra garota? – Jimin me olha confuso.
  – Ela bateu com a cabeça, é normal que esteja confusa. Nós não deveríamos importuná-la agora. Querida, você tem que descansar. – Amia diz ao meu lado direito, cruzando as pernas.
  – Que horas são?
  – Dez. – Jimin responde.
  – Dez da manhã? – Pergunto surpresa.
  – Sim. Você dormiu a noite toda, e a madrugada também.
  Em um salto, saio da cama, percebendo só agora que uma camisola branca cobria meu corpo. Jimin nota minha confusão e, por isso, se afasta da cama e caminha até seu guarda-roupa, pegando de lá de dentro, algumas roupas dobradas e limpas, que identifico como sendo as que usei noite passada.
  – Haviam alguns rasgos, mas Skull cuidou de tudo, nem dá pra perceber. – Jimin me entrega as roupas.
  Em silêncio, pego as roupas e vou para o banheiro, onde perco alguns bons minutos para tentar assimilar tudo. Quando termino de me trocar, aviso que preciso ir embora, mesmo com Jimin insistindo para que eu fique mais um pouco e descanse. Eu não posso, Wendy e vovó devem estar preocupadas e nem sei como irei explicar isso.
  Depois de recusar o convite de Jimin para me acompanhar, agradeço por tudo e, praticamente, fujo da mansão, querendo ficar longe do lugar. Eu não sei como, mas eles cuidaram de mim ao ponto de todos os meus machucados – que eram graves – sumirem como mágica, e isso não pode ser normal.

***

  Corro floresta adentro, sem olhar para trás, tentando afastar todas as memórias horríveis que tive aqui. Só paro quando chego na loja de vovó, onde encontro Wendy parada atrás do balcão, com um olhar extremamente assustado. E quando seus olhos amedrontados encontram os meus, era como se uma onda de alívio corresse por seu corpo. Ela sai de trás do balcão e vem até onde estou, me abraçando tão fortemente que tenho dificuldades para respirar.
  – Você voltou! Você soltou! Você voltou! – Seus braços tremem ao redor do meu pescoço, e sua voz falha.
  Wendy desfaz nosso abraço e me olha com pesar.
  – Você sumiu.
  Mesmo sem culpa, sua expressão me faz sentir culpada.
  – Eu sei, me desculpe. – Seguro uma de suas mãos, apertando ternamente.
  Era tão bom poder olhar para o rosto da minha irmã outra vez, poder estar aqui nessa loja, de pé, sentindo o ar entrar por meus pulmões.
  – O que aconteceu? – Wendy pergunta, me puxando para dentro da loja, nos tirando na entrada.
  – Eu estou bem, Wendy. – Decido que aqui não era o lugar certo para ter essa conversa, minha irmã está muito nervosa, se eu contar, tudo irá piorar.
  – A vovó está uma fera. Eu disse pra ela que você resolveu sair depois que fechamos a loja.
  – Você fez bem, Wendy. – Solto um suspiro mental de alívio.
  – Ela quer conversar com você.
  – A vovó está em casa? – Pergunto, e Wendy assente.
  – Você vai conversar com ela agora?
  – Vou. Não se preocupe, está tudo bem, eu estou bem. Agora fique aqui na loja, não quero que ela acabe se chateando com você também. Eu prometo que volto depois que conversar com ela.

***

  Durante todo o caminho que fiz até a casa de vovó, minha cabeça se encheu de pensamentos e dúvidas sobre todo esse pesadelo. Eu estou aqui agora, viva e sem machucados, encontrada por Taehyung, e curada milagrosamente pelos irmãos. A garota de olhos azuis sumiu, e eu nem sei se está mesmo morta. Tudo é uma loucura, e sinto que não posso mais carregar isso comigo, pelo menos, não sem entender.
  Cogito várias vezes na hipótese de contar a verdade para vovó, sobre tudo que desconfio e que vivi, mas temo que ela me ache louca. Talvez vovó soubesse de algo, afinal, ela nunca nos quer na floresta, e planta uma erva que faz mal para vampiros, seria impossível que ela não soubesse sua utilidade, certo? Eu não sei, realmente não sei. Vovó já nos disse que vampiros não existem, mas e se for mentira? Essa também é uma hipótese válida, então eu acho que irei contar, talvez esse seja o melhor caminho.
  Respiro fundo uma, duas, três vezes, quando percebo que estou parada em frente à porta de entrada, encarando a madeira enquanto me preparo para despejar toda essa confusão em vovó.
  Não estando nenhum pouco confiante, seguro na maçaneta da porta, a girando lentamente, nem querendo fazer isso. Contando mentalmente, abro a porta, dando meu primeiro passo receoso para dentro. Encosto a porta devagar, e respiro fundo outra vez.
  – Vovó? – Chamo, ficando no silêncio por um tempo.
  – Aqui na sala. – Sua resposta me faz ficar ansiosa.
  Enquanto começo a caminhar em direção a sala, repenso sobre contar tudo isso ou não. A verdade é que eu sou uma covarde e, ao mesmo tempo que quero respostas, eu tenho medo delas.
  – Nós precisamos conversar.
  Paro de andar abruptamente, mas não pelo tom de voz sério de vovó, e sim pelos olhos azuis que me observavam.
  A garota de olhos azuis estava sentada no sofá de vovó, com uma xícara de chá em mãos.
  – Eu estive preocupada com você a noite toda, e você na casa da sua amiga. Poderia ao menos ter me avisado, Elena. – Com as mãos na cintura, vovó me encara seriamente.
  Atônica, encaro hesitante a garota de olhos azuis, que acena.
  – Do que a senhora está falando?
  – Não precisa mentir, Lydia já me contou tudo. Eu sei que você passou a noite na casa dela. Eu conheço a família de Lydia, mas, mesmo assim, você deveria ter me avisado. – Vovó explica e, outra vez, encaro a garota de olhos azuis.
  – Eu preciso ir agora, Morgana. Muito obrigada pelo chá, estava ótimo. – A garota se levanta do sofá, com o corpo em perfeitas condições, e me sinto vendo um fantasma que ressurgiu de sua morte. – Por favor, não brigue muito com ela. Nós duas fizemos mal em não avisar. Prometo que não acontecerá de novo. – A garota de olhos azuis se curva.
  Vovó suspira.
  – Elena, acompanhe sua amiga até a porta.
  A garota de olhos azuis, ou Lydia, passa ao meu lado, fazendo meu corpo se mover automaticamente. Ela anda na minha frente, enquanto eu tento identificar em todas as partes visíveis de seu corpo, qualquer machucado, arranhão ou algo que explique nossa queda.
  Lydia abre a porta, e antes que possa sair, eu agarro seu pulso, a impedindo.
  – O que você está fazendo? – Pergunto para ela, que me olha sobre os ombros.
  Agora, perto dela, me sinto desesperada por algo.
  – Te ajudando. – Ela me encara de maneira confusa.
  – Onde estão os seus machucados? – Aperto meus dedos ao redor de seu pulso, e ela me dá um sorriso de despedida, puxando seu pulso para longa de minha mão, indo embora com todas as minhas respostas.
  Transtornada, fecho a porta quando seu corpo some pela calçada.
  Sabendo que não poderia contar nada para vovó agora, procuro por ela em silêncio, a encontrando lavando algumas xícaras na cozinha.
  – Lydia me falou sobre a encomenda. – Vovó diz, de costas para mim.
  – A senhora não achou estranho a quantidade? – Pergunto da entrada da cozinha.
  – O pai da Lydia era um ótimo freguês, eu a conheço desde pequena, e sei que ela sempre gostou de pintar. – Vovó responde, e eu não digo nada. – Estava pensando em chamar Sebastian para ir comigo atrás da encomenda dela. A cidade que visitamos antes vende caixotes de ervas, isso será ótimo. E com a carroça de Sebastian, facilitamos tudo.
  – Quando a senhora vai?
  – Estava pensando em ir amanhã, será como um favor pelo pai dela ter sido um cliente fiel por anos. Tudo bem para você? – Depois de desligar a torneira, vovó me olha.
  Completamente cansada do dia que mal havia começado, só tenho forças para assentir, sabendo que tudo isso estava longe de acabar.

Capítulo 20
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