Drácus Dementer


Escrita porHels
Revisada por Natashia Kitamura


Capítulo 18

Tempo estimado de leitura: 19 minutos

  Balanço as mãos de um lado para o outro de forma automática, enquanto seguro o cabo da vassoura. Percebo que já estou fazendo isso a tempo demais e em apenas um ponto específico. No final das contas, não estou limpando nada.
  Minha cabeça parece estar distante demais hoje, e mal posso me concentrar em coisas simples, como varrer o chão da loja de vovó.
  Solto um suspiro alto, sentindo todo o meu corpo cansado como se eu não dormisse há muito tempo, isso era realmente ruim. Tudo o que eu tenho feito nessas férias se resumia a cuidar da loja e, às vezes, ir na mansão, mas, mesmo assim, sinto como se toda minha vitalidade estivesse dando um rápido adeus.
  Paro de varrer o pequeno espaço no chão e retiro uma das mãos do cabo da vassoura, levando-a até o pescoço, onde faço uma pequena massagem.
  – Você vai sair hoje? – Sobressalto em meu lugar quando escuto a voz de Wendy.
  Olho para minha esquerda, a encontrando apoiada contra o balcão amarelo.
  – Você me assustou. – Afasto a vassoura, colocando-a apoiada na parede atrás de mim.
  – Eu já estou aqui há um bom tempo, mas você parecia em outro mundo e nem me notou. – Wendy ri e depois aponta para algo além de mim; quando me viro, percebo que ela estava apontando para a blusa de frio preta dobrada e escondida entre umas das partes do balcão.
  – Acho que vou levar ela pro Jimin logo, antes que a vovó veja. – Respondo sua primeira pergunta.
  – Certo. Então faça isso agora, e quando você voltar, nós podemos ir embora. Hoje eu estou morrendo de fome, aqueles bolinhos de arroz que compramos mais cedo não fizeram um bom trabalho. – Wendy se desencosta do balcão, levando uma mão até à barriga.
  Assinto e desato o nó que dei em meu avental florido, o dobrando e colocando sobre o balcão.
  – Estou indo. – Aviso e passo ao lado de Wendy, saindo de trás do balcão.
  – Não está esquecendo nada?
  Olho sobre os ombros de forma confusa e Wendy estende a blusa preta de Jimin.
  – Está muito distraída hoje, cuidado para não se perder. – Ela me entrega a blusa e tudo que faço é acenar com a cabeça, antes de deixar a loja e caminhar para a entrada da floresta, debaixo do dia ensolarado que deixava o ar seco.
  Passando por entre as árvores altas e sobre a terra seca, escuto as cigarras me rodearem, anunciando o dia quente. Sigo o seu barulho como se fosse um cântico que me guiaria até meu destino, com o vento nos acompanhando, balançando meu vestido e meu cabelo para trás.
  Em meus passos sem pará-los, por um momento, fechos os olhos na tentativa de molhá-los, pois sinto-os ficarem secos pela falta de umidade no ar.
  Alguns dedos de minha mão começam a suar um pouco, e os aperto contra a blusa de Jimin. Algumas folhas secas caídas no chão, esbarram contra os dedos de meu pé, levantando uma pequena e fina camada de poeira seca.
  O vento passa de maneira mais forte por meu corpo, e abro os braços para recebê-lo melhor e me refrescar.
  Observo cada arbusto grande e robusto, quando entro para o caminho que logo me levaria até à mansão e, por alguns instantes, me concentro em toda beleza natural que essa floresta exibia. Não importa se é a primeira ou a décima vez, todas elas sempre parecem mágicas quando trilho esse caminho, tudo aqui parece mais vivo que o normal, mais brilhante e bonito, era como estar andando pelo jardim de um conto de fadas.
  Sem delongas, os traços gloriosos da mansão começam a surgir como linhas traçadas em uma folha branca. Sua construção é sempre a mesma, ela nunca muda, e mesmo assim, é sempre surpreendente vê-la parada e escondida dentro dessa floresta.
  Passo ao centro dos portões abertos, caminhando para dentro do jardim bem cuidado, vendo o vento balançar cada tulipa ou pequeno ramo de folha. A fonte de gárgula funcionava perfeitamente ao centro do jardim, jorrando uma pequena quantidade de água de sua boca de pedra; ao passar do lado dela, toco a ponta de meus dedos na água caída da parte terra inferior, sentindo meus dedos quentes se refrescarem com a temperatura da água.
  Balanço minha mão e a seco no vestido, saindo de perto da fonte e indo até os degraus que me levariam até à porta de entrada da mansão.
  Subo cada um deles com passos arrastados e sem pressa, e uma vez de frente para a porta de madeira grossa e entalhada, seguro na aldraba com as duas mãos e o bato contra a porta três vezes, que se abre sozinha. Coloco uma parte de minha cabeça para dentro, espio o interior vazio da mansão e resolvo entrar.
  Empurro um pouco mais a porta, e passo meu corpo pela fresta. Encosto a porta e começo a andar pelo hall, tomando algum tempo para reparar nos quadros antigos pendurados nas paredes, me lembrando de como foi estranho vê-los na primeira vez. E hoje, depois de toda a estranheza que me aconteceu, não seria uma loucura pensar que, talvez, as pessoas nas fotos não fossem parentes antigos, e sim, que são os próprios irmãos. Se estou considerando acreditar em vampiros, isso deveria servir como um incentivo.
  Depois de passar por todo hall, paro ao centro da entrada, olhando para as duas escadas para o segundo andar.
  – Estou na cozinha. – Uma voz feminina que reconheço ser de Blarie, chama ao meu lado esquerdo.
  Vou até à cozinha, encontrando Blarie parada perto do balcão, onde um pequeno e redondo pote de vidro guardava muitas cerejas, todas elas banhadas e uma calda avermelhada.
  – Quer uma? – Blarie pergunta, levando uma das cerejas até sua boca, a segurando pela haste e fazendo com que algumas gostas da calda avermelhada caíssem sobre o balcão limpo.
  – Não, obrigada. Na verdade, eu vim devolver essa blusa para o Jimin. – Respondo, e os olhos de Blarie vão em direção a blusa que eu segurava sobre os dois braços.
  – Ah, o Jimin... – Ela faz um som nasalado, e depois come mais uma das cerejas.
  – Ele não está? – Ando para perto dela.
  – Ele está sim, um pouco ocupado agora, mas está. Você pode esperar aqui comigo, acho que o Jimin não vai demorar.
  Eu também não queria demorar, Wendy está me esperando e disse que estava com fome, e eu sei como ela pode ser irritante quando não tem o que quer. Mas se Jimin não vai mesmo demorar, acho que posso esperar por alguns minutos.
  – Tudo bem.
  Blarie empurra o pequeno pote de cerejas em minha direção, mas nego outra vez. Eu realmente não estava querendo isso agora.
  – Você ficou três dias sem aparecer por aqui, acho que é um recorde, não lembro direito. – Blarie comenta, puxando o pote de volta para perto.
  – Bem, eu não moro aqui. Acho que não preciso visitar todos os dias.
  – Mas nós gostamos muito da sua presença, então não seja tímida, pode vir aqui todos os dias se quiser.
  Ela faz um gesto de mão – com seus dedos que seguravam a pequena haste da cereja – antes de comê-la.
  Não respondo Blarie, apenas fico em silêncio, observando o pequeno pote com cerejas.
  – Você é do tipo contida, não é? Eu já percebi. Só queria dizer que já nos acostumamos com você por aqui, é como parte da família já.
  – Vocês costumam colocar todos as pessoas que passam as férias em Upiór, dentro da família?
  Blarie para de pegar cerejas, e me encara com as sobrancelhas arqueadas.
  – Só as que são especiais, como você. – Ela sorri.
  – Eu não acho que sou especial.
  Blarie cruza os braços e os apoia contra o balcão, fazendo a parte da frente de seu longo vestido preto e de mangas, tocar o chão.
  – Com certeza você é. – Ela abaixa sua cabeça, a deitando de lado sobre os braços cruzados. – Você tirou o Taehyung da caverna dele, isso é incrível, acredite no que eu digo.
  Fico em silêncios por alguns segundos, absorvendo lentamente suas palavras, medindo o tamanho do impacto que elas podem ter sobre mim.
  – O fiz sair do quarto para se irritar, essa é a única razão. – Falo sem grandes emoções.
  – Mas ainda é valido. – Blarie levanta sua cabeça e descruza os braços, apoiando as mãos sobre o balcão para poder se inclinar em minha direção. – E também, você não pode me enganar assim. Eu percebi quando Taehyung saiu logo depois de você, quando estávamos no bar. Vocês ficaram um tempão seja lá onde estavam.
  Blarie sorri abertamente, mostrando seus dentes alinhados e brancos.
  Desvio meu olhar e tento conter meu constrangimento ao lembrar daquele momento que não acabou do jeito que começou.
  – Se você não quer me contar o que aconteceu, tudo bem, porque eu posso imaginar muitas coisas.
  Arregalo minimamente os olhos, e penso em uma resposta para sua impertinência, mas sinto que se eu tentar me explicar, as coisas ficaram mais sem jeito do que já estão.
  – Talvez nós devemos falar sobre como você gosta de beijar o Yoongi. – Seguro firme a blusa de Jimin contra meu corpo, torcendo para que minha estratégia de mudar de assunto dê certo.
  – Isso não é uma novidade, eu já beijei o Yoongi muitas vezes. – Blarie para de sorrir e cerra os olhos, me encarando com suspeitas.
  – É uma novidade quando você beija alguém que gosta.
  O olhar de Blarie rapidamente muda para indignação, acompanhando sua nova feição.
  – Eu não gosto dele! – Sua voz aumenta e ela bate as palmas de suas mãos contra o balcão escuro.
  – Gosta sim. – Rebato em tom e feição normais.
  Não era tão legal estar do outro lado, não é, Blarie?
  – Você pode calar a boca? Eu estou tentando dormir, mas essa casa se tornou barulhenta. Eu não posso ficar lá em cima e nem aqui embaixo.
  A voz grave de Taehyung preenche o ambiente, e quando espio sobre os ombros, o vejo entrar na cozinha usando calças pretas largas, uma blusa de botões com quase todos eles abertos, revelando grande parte de seu tronco, enquanto o colar de cordão brilhante e fino ao redor de seu pescoço, se deitava suavemente sobre seu tórax levemente definido.
  Os cabelos loiros – quase brancos – estavam desgrenhados, tapando algumas partes de seus olhos puxados, mas que agora, estavam muito pouco abertos como um olhar entediado e sonolento.
  Com os pés descalços, ele caminha em nossa direção, parando entre nós duas para pegar uma das cerejas no pote de vidro. Tento encarar fixamente o balcão, uma vez que ele era muito mais alto que eu, e seu tronco escondido por apenas três botões presos ficava tão próximo de minha visão.
  Ele parece especialmente bem agora, e isso me incomoda muito, toda essa maneira como eu sempre acho que ele se destaca no meio dos irmãos, mesmo que tenha sido o menos receptivo comigo. Talvez eu seja amargurada, pois, mesmo depois de pedir uma trégua, eu continuo remoendo nosso primeiro encontro.
  – São quase seis horas, Taehyung. – Blarie fala, entediada.
  Mantenho meus olhos no balcão escuro, vendo apenas a sombra da sua mão pegar outra das cerejas.
  – E qual o problema? Eu posso dormir a hora que eu quiser, não posso?
  – Já acordou de mau humor, foi? Talvez a nossa visitante especial te anime um pouco.
  Paraliso em meu lugar com a fala de Blarie, pois sei que Taehyung deve estar me olhando agora, eu sinto isso.
  – O que tem de especial nisso? Ela vem aqui sempre. – Taehyung fala em tom apático, e isso é o bastante para cutucar minha impaciência, me fazendo olhá-lo – diretamente – pela primeira vez.
  Enquanto coloca outra cereja na boca, ele mantém seu contato visual comigo e, por isso, posso ver quando uma pequena gota da calda que acompanhava a fruta, ameaça escorrer por sua boca, o obrigando a limpá-la com a língua que havia ganhado uma coloração avermelhada.
  Em silêncio, torço para que Blarie nos interrompa nem que fosse com um comentário impertinente, mas o que tenho, é outro tipo de salvador.
  Aos risos, Jimin entra na cozinha, acompanhado por uma garota de longos cabelos escuros e pele rosada em um vestido branco de verão. A princípio, penso não conhecer a garota, mas quando seus incrivelmente olhos azuis encontram os meus, sinto uma estranha sensação de déjà vu.
  – Elena? O que está fazendo aqui? – Jimin pergunta assim que me vê, caminhando em minha direção com a garota de olhos azuis no seu encalce.
  – Vim devolver. – Estendo sua blusa, mas Jimin não pega.
  Taehyung suspira e se afasta, passando ao lado da garota sem cumprimentá-la. Ele começa a caminhar para fora da cozinha.
  – Ah, sim. Eu já havia me esquecido. – Espero por um dos seus amáveis sorrisos, e o que recebo são lábios comprimidos em uma linha reta. – Eu preciso levá-la até à porta, você pode deixar isso no meu quarto, por favor? – Jimin coloca uma das mãos sobre as costas da garota, que permanece me observando.
  No meio desse clima estranho que entrou na cozinha com Jimin, tudo que eu faço é forçar um sorriso fechado e assentir.
  – Obrigado. – Jimin acena rapidamente com a cabeça, e se vira, pegando na mão da garota e saindo com ela.
  Olho para Blarie que ainda estava perto do balcão. Ela dá de ombros.
  Com essa sensação estranha dentro de mim, saio da cozinha e vou para as escadas do segundo andar, tendo a surpresa de encontrar Taehyung nos degraus. Ele subia tão lentamente que eu facilmente poderia alcançá-lo.
  Respiro fundo e começo a subir a escada, passo por passo, sempre tentando deixar dois degraus de distância entre mim e Taehyung, que logo nota. Segurando o corrimão dourado, ele me olha sobre os ombros largos.
  – Eu prefiro morder durante a noite, então não se preocupe. – Ele fala, me fazendo parar no degrau que estava.
  Taehyung cerra os olhos e sorri cinicamente.
  – Mas acho que poderia começar a fazer isso durante o dia também. – Com essas palavras que me deixam instantaneamente nervosa por dentro, ele volta a olhar para frente e subir os degraus.
  Sem mais gracinhas, ele segue na frente pelo corredor e eu atrás. Taehyung entra em seu quarto e fecha a porta sem me olhar.
  Respiro um pouco mais aliviada e vou para porta de Jimin, que estava entreaberta, por isso, tudo que faço é empurrá-la para dentro. O branco e amarelo saltam de todos os lados e, especialmente, seus lençóis bagunçados me chamam a atenção. Nas poucas vezes que estive aqui, tudo parecia organizado e muito bem alinhado, e agora, a cama parecia tão revirada quanto uma noite de pesadelos.
  Ainda mantendo a blusa de Jimin contra o meu corpo e, em passos hesitantes, caminho até à cama, observado todo aquele emaranhado branco. Por alguma razão, olhar para isso e pensar no que pode ter acontecido me incomoda, eu me sinto um pouco rejeitada, talvez. Depois de nossa última conversa, minha amizade com Jimin pareceu ser algo que me fazia querer levar isso para uma vida toda, mas agora, tudo que tenho é um sentimento de ser substituída por alguém que vai além de uma amizade.
  Parada de frente para a cama bagunçada, me sinto patética por esses sentimentos, mas meus olhos não podiam me obedecer agora. E talvez o motivo seja algo maior, já que com minha atenção voltada para os lençóis, sou capaz de notar alguns pequenos pingos de sangue espalhados por todo o branco, algo que você não notaria se estivesse muito longe.
  Completamente duvidosa sobre fazer isso ou não, estico uma de minhas mãos até o lençol, tocando uma das gotas de sangue, vendo o vermelho manchar meu dedo.
  Um arrepio ruim corre minha espinha, me fazendo jogar a blusa preta sobre a cama, para poder sair apressada do quarto. Fecho a porta, e caminho rapidamente pelo corredor, descendo os degraus na intenção de me afastar do que possa ter acontecido naquele quarto.
  Quando estava prestes a descer o último degrau, Blarie sai da cozinha e se oferece para me levar até à porta.
  – Jimin conheceu essa garota no caminho de volta, depois de te deixar em casa, no dia que saímos. Eu não sei muito sobre isso, mas eles têm se tornados bem próximos nos últimos três dias... tente não ficar muito chateada com isso. – Blarie sorri compreensiva, parada ao lado da porta aberta.
  Me despeço com um aceno de cabeça e a deixo para trás.
  Durante todo o caminho até à loja de vovó, não vi nenhum sinal de Jimin ou da garota de olhos azuis que conheci na igreja. Não sei onde eles estão, mas não me sinto bem com isso.

***

  – Estava muito bom, a senhora é a melhor. – Wendy se esparrama na cadeira, parecendo mais do que satisfeita.
  – Nada deixa a vovó mais feliz do que ver as minhas crianças de barriga cheia. – Vovó sorri amorosa e se levanta da cadeira, começando a recolher os pratos sujos e vazios.
  – Eu comi tanto que preciso descansar agora.
  – Pode ir descansar então. – Vovó ri e Wendy se levanta, saindo da cozinha, mas sei que tudo isso não passa de uma desculpa para não ajudar na limpeza do jantar.
  – Estava bom mesmo, eu pude sentir o gosto da Erva-Verde. – Comento, me levantando por último, para ajudar vovó.
  – Desde que voltei de viagem, Wendy tem reclamado de como estava enjoada de comer Erva-Verde, então eu não usei mais. A nova Erva-Verde que trouxe tem um gosto diferente, mas ela passou mal quando comeu nos seus bolinhos. – Vovó coloca a pequena pilha de pratos dentro da pia. – Eu já estava com saudades desse tempero, por isso coloquei hoje. E estou feliz que ela não tenha percebido.
  Vovó ri, enquanto abre a torneira.
  – Deixe isso comigo, você pode subir e descansar também. Já tomou conta da loja hoje.
  Penso em insistir, mas ainda me sinto cansada, então agradeço vovó com um beijo na bochecha e saio da cozinha.
  No corredor do segundo andar, escuto um barulho estranho vindo do meu quarto. Apresso meus passos para ver e, quando chego no quarto, escuto o barulho da descarga. Me aproximo da porta aberta, onde Wendy estava de pé em frente a privada, com o corpo um pouco inclinado para frente.
  – Você está bem? – Pergunto, preocupada.
  Wendy se vira para mim com o rosto pálido.
  – Sim, eu estou. Acho que comi demais, não se preocupe. – Ela responde com tom de voz normal e passa por mim, saindo do banheiro.
  Me aproximo da privada, vendo através do assento levantado, alguns vestígios de sangue na água que ainda balançava.
  – Wendy, você vomitou sangue?! – Volto para o quarto, exasperada.
  – Fala baixo, não quero que a vovó escute. – Wendy se deita na cama, tapando os olhos com o antebraço.
  – Como não quer? Você vomitou sangue, Wendy. Isso não é normal. – Vou para perto da cama em passos apressados.
  – Eu já disse que estou bem. Se você contar pra vovó, ela vai querer me mandar para casa. – Wendy suspira, sem tirar o antebraço do rosto. – Por favor, não conta pra ela.
  Fico em silêncio, encarando o corpo deitado de minha irmã, completamente preocupada com isso. Em seguida, saio do quarto e vou atrás de vovó, dizendo que Wendy comeu demais e que por isso, está se sentindo enjoada e indisposta, com algumas dores internas. Vovó rapidamente prepara um chá de Erva-Laranja, e pede que eu dê para Wendy, avisando que depois que terminasse de arrumar a cozinha, ela cuidaria de minha irmã.
  Retorno para o quarto com uma xícara fumegante de chá, parando ao lado de cama. Wendy afasta o antebraço que tapava seus olhos e me encara sem entender.
  – O que é isso? – Ela pergunta, ainda deitada.
  – Chá. Eu disse para vovó que você está indisposta. – Estendo a xícara em sua direção e Wendy faz uma careta.
  – Eu não quero chá de Erva-Verde, é isso que está me enjoando tanto. A vovó coloca essa erva em tudo. – Wendy resmunga como uma criança.
  – Não é Erva-Verde. Agora anda, toma isso logo, Wendy. Eu não estou brincando, ou você toma ou eu conto a verdade pra vovó. – Falo séria e Wendy percebe que não era um blefe.
  Ela se senta sobre a cama e pega a xícara fumegante. Wendy encara o líquido alaranjado por um tempo, assoprando a fumaça para longe, antes de bebericar e fazer uma feição de desgosto.
  Permaneço ao seu lado até que ela termine o chá.
  Já é a segunda vez que Wendy passa mal desse jeito, mas é a primeira vez que ela vomita sangue. Só vi isso acontecer com o Jimin, e foi logo depois que ele comeu Erva-Verde também. E com tudo isso, é impossível não lembrar do que li no livro de Caleb, sobre vampiros passarem mal com essa erva. Eu já estou de olhos mais abertos para a família de Jimin, cogitando na ridícula hipótese de que vampiros existem, mas a minha irmã? Isso não faz sentido, não pode fazer... porém, tem toda a sua mudança de comportamento recentemente, que só me deixa mais desconfiada.
  Wendy não pode ser uma vampira.

Capítulo 18
0 0 votos
Classificação do artigo
Inscrever-se
Notificar de
guest
0 Comentários
mais antigos
mais recentes Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários
Todos os comentários (0)
×

Comentários

×

ATENÇÃO!

História NÃO RECOMENDADA PARA MENORES ou PESSOAS SENSÍVEIS.

Esta história pode conter descrições (explícitas) de sexo, violência; palavras de baixo calão, linguagem imprópria. PODE CONTER GATILHOS

O Espaço Criativo não se responsabiliza pelo conteúdo das histórias hospedadas na sessão restrita ou apontadas pelo(a) autor(a) como não próprias para pessoas sensíveis.

Você não pode copiar o conteúdo desta página

0
Adoraria saber sua opinião, comente.x