Drácus Dementer


Escrita porHels
Revisada por Natashia Kitamura


Capítulo 16.2 • Parte II

Tempo estimado de leitura: 24 minutos

  Assim que finalizamos nosso pequeno brinde, a porta da taverna é aberta e novos visitantes entram.
  Blarie para de dançar quando vê, e Wendy a imita por estar confusa, até se virar e encarar os quatro garotos de roupas escuras que estavam parados perto da porta fechada.
  – O que vocês estão fazendo aqui? – Blarie pergunta, se aproximando dos garotos com Wendy.
  – Você não é dona do lugar, ou é? – Jungkook pergunta, debochado, antes de passar com Taehyung e Yoongi, indo até uma das mesas.
  Jimin é o único que vem em nossa direção, deixando Blarie e Wendy paradas no mesmo lugar.
  – Oi. – Jimin me saúda, sorridente. – Você está linda.
  – Obrigada. – Sorrio de volta, me sentindo melhor por Jimin estar aqui.
  – Vocês não vieram atrapalhar, vieram? Era pra nós quatro estarmos aqui sozinhas. – O tom de voz de Amia, parecia um pouco irritado.
  – Noite das garotas? – Jimin pergunta, enquanto pega nossa garrafa de licor e o meu corpo, emprestado. – Desculpa, eu não sabia. – Ele enche o copo e toma um pouco da bebida, não se importando com seu tom de voz, que não poderia ser mais cínico. Jimin não fez nem questão de disfarçar.
  – Como que conseguiram tirar ele de casa? – Blarie pergunta, assim que se aproxima de nós, olhando de canto de olho para a mesa dos irmãos.
  – Taehyung é um morcego, esqueceu? Morcegos gostam de sair de noite. Mas foi fácil, só precisamos falar que a Elena estaria e, de alguma forma, isso foi o bastante pra fazer ele sair. Eu não entendi, mas quem é que entende o Taehyung? – Jimin coloca o copo de volta no balcão, sorrindo dissimuladamente, enquanto dá de ombros.
  Disfarçadamente, olho para Amia, que encarava Jimin com os olhos estreitos, como se quisesse entender o que ele estava dizendo.
  – Vamos todos nos sentar lá. – Jimin sugere, e estende gentilmente sua mão para mim, e quando eu aceito seu convite, ele me leva para perto dos outros irmãos.
  Não sei ao certo quantos lugares tinham ao redor da mesa retangular, mas eram muitos, e devido à maneira como se sentaram, de um lado eu tinha Taehyung, e do outro, Jungkook. E mesmo que eu não quisesse sentar ao lado de nenhum deles, julguei que me sentar ao lado de Jungkook seria mais fácil. Por isso, penso em trocar de lado com Jimin, que, por algum motivo, sutilmente me empurra para o lado direito, me obrigando a sentar ao lado de Taehyung, enquanto ele se senta ao lado de Jungkook.
  – Assim eu posso te ver melhor. – Jimin diz quando se senta do outro lado de mesa.
  Fico imóvel em meu lugar, sem coragem para olhar para o lado, querendo me levantar e sentar do outro lado, mas Amia e as meninas chegam perto da mesa, e ela se senta ao meu lado, me deixando entre ela e Taehyung. Wendy e Blarie se sentam do lado contrário, com Jimin.
  Neste momento, era como estar em uma cilada com dois predadores, um de cada lado. E isso não podia ser mais desconfortante.
  Todos ao redor da mesa ficam em silêncio, apenas se encarando, e claro, eu só olhava para frente, sem saber o que fazer.
  As duas meninas que estavam no bar, fora a gente, se levantam e saem pela porta, fazendo de nós oito, os únicos clientes da taverna.
  – Hum... o que fazemos agora? – Wendy tenta quebrar a tensão, ajeitando sua bolsa sobre seu ombro.
  – O que vocês estavam fazendo antes da gente chegar? – Jimin pergunta, entrelaçando suas mãos sobre a mesa.
  – Conversando. – Blarie responde e a mesa volta ao silêncio.
  Yoongi suspira alto.
  – Vamos beber. – Ele sugere, passando a mão por seus cabelos lisos e brancos.
  – Já sei. – Jimin fala, parecendo subitamente animado. – E se nós, fizéssemos o beijo de sangue? – Ele sorri grande e olha para seus irmãos.
  Jungkook ri nasalado, com uma expressão de insatisfação.
  – Isso não é coisa de colegial? – Yoongi apoia um de seus braços sobre o assento do grande banco curvado, ao redor da nossa mesa.
  – O que é beijo de sangue? – Wendy pergunta, com os olhos curiosos.
  – Nós nos sentamos intercalados, cada um com um copo de licor. Todos precisam beber um pouco, tentando deixar exatamente um dedo de bebida no copo, quem não conseguir, precisa beijar a pessoa sentada do seu lado direito. Não precisa ser um beijo de verdade, você entendeu. – Blarie dá de ombro, tentando ganhar um pouco de espaço entre Wendy e Jimin.
  Isso não parece uma boa ideia.
  – E por que beijo de sangue? – Pergunto um pouco baixo, e sinto que todos os pares de olhos ao redor da mesa me encaram. E dois em especiais me deixam um tanto quanto nervosa, os de Jungkook, que me observam atentos, e os de Taehyung, que mesmo não os vendo, sei que estão sobre mim.
  – Porque usamos o licor, que é vermelho como o sangue, e porque ele é um pouco mais espesso que as outras bebidas e fica mais difícil de deixar um dedo do líquido. – Jimin, ainda animado, se levanta, passando por Blarie e Wendy. – Vou buscar alguns copos e uma garrafa, enquanto isso vocês já podem ir se ajeitando.
  O silêncio paira sobre a mesa outra vez. E agora, mais do que nunca, me sinto nervosa.
  – É melhor fazermos logo, senão Jimin vai passar a noite toda insistindo. – Blarie diz, se levantando e trocando de lugar com Jungkook, ficando entre ele e Yoongi. – Elena, troca de lugar com o Taehyung. – Ela aponta em minha direção e meu corpo congela.
  Respiro fundo, e sem olhá-lo, me levanto, passando na sua frente de modo rápido, me sentando entre ele e o Yoongi.
  Quando Jimin volta com a garrafa e os copos, ele se senta ao lado de minha irmã, onde, nossa ordem final ficou: Jimin, Wendy, Jungkook, Blarie, Yoongi, eu, Taehyung e Amia.
  Jimin enche cada um dos pequenos copos e depois os empurra em nossas direções. E quando pego meu copo para que ele não escorregue para fora da mesa, percebo meus dedos gelados pelo nervosismo.
  Respiro fundo em segredo e fico em silêncio, imóvel entre Yoongi e Taehyung.
  – Vamos começar. – Jimin anuncia, olhando animado para cada um de nós.
  Aperto o copo contra os meus dedos, enquanto seguro firmemente no tecido de meu vestido, com a outra mão escondida debaixo da mesa. Todos começam a beber o licor de mirtilo, e sou a última a fazer isso, em goles lentos e tementes.
  Enquanto sinto o gosto doce do licor descendo por minha garganta, fecho os olhos e afasto o copo de minha boca, colocando-o sobre a mesa, com medo de abrir os olhos e ver o resultado.
  – Blarie perdeu a primeira rodada. – Escuto a voz de Jimin, e abro os olhos, olhando diretamente para o meu copo quase vazio.
  Tentando disfarçar minha mão que começava a tremer, levo o dedo indicador até a parte inferior do corpo, medindo o tanto de licor que ainda restava, e suspiro aliviada ao ver que havia conseguido deixar exatamente um dedo de bebida.
  – Parece que a Blarie foi a única. – Wendy diz, apoiando seu rosto em uma das suas mãos, sorrindo divertida para a garota de cabelos púrpura.
  Blarie tenta parecer normal, mas sou capaz de perceber o pequeno sorrisinho que ameaçava surgir em seus lábios pintados de salmão-claro.
  Ela olha para Yoongi, que ainda estava com um de seus braços apoiados sobre o assento do banco. Ele a olha de volta, completamente relaxado com isso. Depois, Blarie se inclina em direção a Yoongi, e coloca uma de suas mãos contra a pele pálida dele, antes de aproximar seu rosto para um longo selinho.
  Me sinto estranha ao ver isso, mas também me sinto feliz por ela, pois sei que mesmo negando, Blarie gosta de Yoongi. Nunca a vi ficar envergonhada por nenhum dos irmãos, a não ser por ele.
  – Próxima rodada. – Jungkook avisa, negando com a cabeça depois de ver o beijo de Blarie e Yoongi.
  Jimin voltar a encher os copos de todos, e tudo que posso fazer é segurar o meu com firmeza, querendo sair desse jogo, mesmo que minhas pernas e minha boca não me obedeçam agora.
  – Elena, você precisa me dar o seu copo. – Jimin sorri e todos me olham.
  Tento disfarçar, acenando com a cabeça e empurrando meu copo na direção dele, que o enche com o líquido vermelho.
  Respiro fundo de novo e pego o copo de volta. Jimin dá o sinal para a segunda rodada, e todos começam a beber o licor. Como antes, eu fecho os olhos enquanto faço isso. Coloco o copo de volta sobre a mesa, e abro apenas um olho, espiando a quantidade de licor que restou no meu copo, muito similar à da rodada anterior. Respiro aliviada de novo, e confirmo com o dedo, vendo que eu havia conseguido mais uma rodada.
  – Você perdeu de novo, Blarie. Isso não é difícil, só você está errando, por acaso está fazendo de propósito? – Jimin provoca Blarie, que arregala os olhos com descrença.
  – Eu estou jogando pra valer, Jimin. – Blarie responde rápido demais, e seu rosto fica vermelho. Mas ela poderia ter a desculpa da bebida.
  – Não é o que parece. – Amia diz, fazendo Jungkook e Wendy rirem.
  Irritada, Blarie dá um rápido selinho em Yoongi, e joga seu copo em direção a Jimin, para a próxima rodada.
  – Ei, calma. É só uma brincadeira. – Jimin ri, a encarando com divertimento, enquanto Yoongi olha para Blarie com os olhos atentos.
  – Essa vai ser a última rodada, o licor já está acabando. – Jimin avisa, quando começa a encher os copos.
  Um a um, ele empurra os copos de volta. E me sinto um pouco mais confiante, acho que sou boa nisso, consegui passar duas rodadas, e só falta uma.
  – Certo... – Jimin estreita os olhos, e nos encara com divertimento. – Última rodada antes que eu pegue mais uma garrafa de licor.
  Respiro fundo e seguro o copo. Encaro o licor, e resolvo que dessa vez não vou fechar os olhos.
  Olho para frente, e meu olhar encontra o de Wendy, que faz um sinal de positivo para mim, enquanto bebe seu licor. Assinto para ela, e levo o copo até a boca, sentindo o sabor de mirtilo e do álcool tocarem minha garganta.
  Afasto o copo e limpo meus lábios com o auxílio da língua, retirando o excesso de bebida. Olho em volta e percebo que ninguém parece ter perdido essa rodada, nem mesmo Blarie.
  – Elena. – Wendy chama, e quando a encaro, ela aponta em minha direção.
  Franzo o cenho, e depois olho para o meu copo, vendo que estava quase vazio, apenas um único resquício de licor. E eu nem precisava conferir para saber que perdi.
  Meu coração dispara instantaneamente, e todo meu corpo esfria, enquanto sinto os meus dedos suarem ao redor do copo.
  – Parece que você perdeu. – Yoongi diz, calmo.
  Blarie, ao seu lado, tapa parcialmente a boca com a mão, tamborilando seus dedos na pele pálida, enquanto me olha. Jungkook fica mais atento, com um olhar que acompanhava cada respiração que eu dava.
  – Agora você precisa beijar o Taehyung. – Jimin fala entre um sorriso que parecia compartilhado com Wendy.
  Fico parada por mais alguns segundos, sentindo meu peito subir e descer rapidamente, enquanto encaro o copo preso entre os meus dedos.
  – Eu... E-Eu... – Aperto o copo com mais força, como se pudesse quebrar o vidro.
  – Você não quer que a gente comece a gritar "beija! beija!", não é? Porque se quiser, eu posso fazer isso. – Blarie pergunta e me apresso a responder um "não" afobado.
  É só um selinho, Elena. Vai ser rápido, você pode fazer isso, mesmo na frente de todos... não, eu não posso. O Taehyung namora, isso não é certo. Eu vou pedir para sair do jogo.
  Coloco o copo sobre a mesa, atraindo a atenção de todos. Aperto o tecido de meu vestido com a mão escondida e engulo em seco. De canto de olho, tento espiar Taehyung que, claro, estava me encarando.
  A mesa fica em silêncio, esperando pacientemente pelo que eu deveria fazer.
  – Isso é ridículo. – Escuto a voz de Amia dizer, e por canto de olho, percebo quando ela se levanta do lugar e se inclina entre Taehyung, aproximando-se de mim.
  Amia coloca uma de suas mãos em minha nuca e me puxa para frente, juntando seus lábios pintados de vermelhos, aos meus lábios pintados de vermelho. Segundos depois, ela se afasta e me encara.
  – Pronto, está feito.
  – Eu não acredito. – Blarie começa a rir.
  – Isso não está certo. – Jimin contesta, enquanto eu continuo congelada em meu lugar, sem acreditar no que aconteceu.
  – Qual o problema? Foi um beijo e eu também estou do lado direito dela, então está certo sim. – Amia volta a se sentar em seu lugar, fazendo Blarie rir ainda mais, enquanto Wendy acompanha ela.
  – Vou pegar outra garrafa. – Jimin se levanta com uma feição de desgosto.
  – E-Eu preciso ir ao banheiro. – Me levanto junto com ele, e saio apressada daquela mesa.
  Pergunto para o primeiro funcionário que acho, onde fica o banheiro, e as suas instruções me levam até um corredor escuro que ficava em uma entrada ao lado do balcão de pedra. Caminho até o final do corredor, me deparando duas portas vermelhas, uma que indicava um banheiro misto, e a outra com as palavras "saída de emergência". Eu me sentia em uma situação de emergência agora, por isso, escolho a porta da minha esquerda, segurando na barra de metal que ela possuía, e com alguma força, a empurro para fora.
  Sou recebida pela noite agradável, que aos poucos se torna mais fria do que antes. Com cuidado, fecho a porta, e dou alguns passos pela pequena rua estreita com algumas latas de lixo espalhadas pelos cantos. Encaro o grande muro da casa da frente, enquanto escuto o som dos pequenos insetos e bichinhos da noite.
  Cruzo os braços e fechos os olhos, aproveitando o silêncio para pensar em como Amia me beijou para evitar que eu fizesse o mesmo com Taehyung. E tudo isso só me deixa ainda mais culpada, porque mesmo que eu não tenha uma grande amizade com ela, no final das contas, ela é a namorada dele e não eu.
  Expiro alto, passando as mãos pelo rosto, querendo ir embora desse lugar e me enfiar debaixo das cobertas, onde eu não faria mais nenhuma idiotice.
  Encaro o chão e permaneço em silêncio, escutando a porta de emergência ser aberta.
  – Está tentando fugir de mim?
  Suspiro baixo, quando escuto a voz de Taehyung. Justamente quem eu não precisava ver agora. E sem vontade alguma, me viro, o vendo parado perto da porta fechada, com as mãos para dentro dos bolsos de suas calças.
  Talvez seja só impressão, mas seus cabelos pareciam um pouco maiores que antes, todos os fios alinhados em frente aos seus olhos puxados com um olhar apático, que o deixava ainda mais... bonito. Droga! Às vezes eu me sinto irritada em como ele pode sempre parecer bonito em roupas novas. Sua aparência parece melhorar a cada dia, era assustador.
  Mas nada disso muda os fatos, as coisas são como são.
  – O que está fazendo aqui? – Pergunto.
  – Eu vim atrás de você, não está óbvio? – Ele arque as sobrancelhas.
  – Por quê?
  – Porque você não sabe disfarçar. Essa desculpinha de ir no banheiro. – Ele faz um barulho com a boca, um som de desdém.
  – Não, Taehyung. Eu quero saber por que você continua vindo atrás de mim? Você tem namorada. – Falo, colocando para fora tudo que deveria sair.
  – Namorada? – Sua voz se torna baixa, e seus olhos cerram.
  – Blarie me contou.
  – Só porque alguém te contou uma coisa, não quer dizer que isso seja verdade. – Com as mãos ainda enterradas nos bolsos e com um semblante mais rígido, ele caminha para perto de mim como uma grande sombra de roupas pretas.
  – Amia me falou tu...
  – A Amia fala muitas coisas. – Taehyung me interrompe com a voz firme e mais alta.
  Aperto meus braços cruzados e o encaro com um pouco de espanto, mas fico séria em seguida.
  – Você não precisa mentir.
  – Eu não estou mentindo. – Ele dá mais um passo para perto de mim e eu recuo, ainda com uma expressão séria.
  Isso está se tornando tenso.
  – Você quer saber o que a Amia disse depois que você foi embora ontem? – Taehyung inclina sua cabeça para o lado, fazendo o longo brinco em sua orelha, se mexer junto com os cabelos claros. – "Você está andando com crianças agora, Jimin? Essa garota é patética, ela nem deveria estar aqui. Você definitivamente precisa se livrar dela."
  Os meus olhos se arregalam, enquanto prendo minha respiração por alguns segundos.
  – E mesmo assim ela te convidou pra sair... ela até te beijou. Isso só mostra que você deveria ser menos ingênua ao acreditar no que te dizem. – Seu tom de voz sério e firme, só me deixa pior. – Se você escutar algo a meu respeito, e quiser saber a verdade – Taehyung se inclina para frente, de modo que possa encarar meu rosto –, pergunte isso pra mim.
  Encolho os ombros no lugar, me sentindo pequena diante de sua presença e palavras.
  – Me desculpe. – Com os ombros encolhidos, quase sussurro.
  Taehyung faz o mesmo som de desdém que antes e volta a sua postura normal.
  – Você não precisa pedir desculpas. – Ele desvia seu olhar, enquanto eu continuo me sentindo uma idiota por ter acreditado em tudo isso.
  Eu percebi que Amia não gostava de mim verdadeiramente, mas isso é cruel... Eu sou uma criança patética?
  – Se você vai ficar se martirizando por isso a noite inteira, tem uma coisa que você pode fazer pra compensar, em vez de pedir desculpas. – Taehyung diz e me encara com seriedade.
  – O quê? – Pergunto, um pouco mais alto, tentada a querer continuar bem com ele.
  Taehyung me olha por alguns segundos, antes de tirar suas mãos dos bolsos e usar uma delas para puxar um de meus braços cruzados, trazendo meu corpo para perto do seu. Ele passa seu braço direito ao redor da minha cintura e coloca sua mão esquerda na lateral do meu rosto, antes de se inclinar de novo, aproximando-se de mim.
  Meu corpo estava contra o seu, tão perto quanto nunca esteve antes, e o toque de suas mãos era mais gentil do que a primeira vez que nos encontramos. Ele continua aproximando seu rosto do meu, até que os cabelos que beiravam seus longos e curvados cílios, tocassem a minha testa.
  Meu coração se agita e tudo que consigo fazer é me apoiar contra os seus braços, devido a nossa proximidade. Taehyung fita diretamente os meus olhos e toca seu nariz no meu, inclinado sua cabeça para o lado de forma sutil, antes que seus olhos se tornem menores, para que depois ele me beije.
  Seus lábios gelados encontram os meus, fazendo com que meus olhos se fechem automaticamente, e meu corpo imerge nessa sensação de ter ele fazendo parte de mim.
  Acompanho seus movimentos, sentindo quando sua língua entra em contato com a minha, compartilhando o gosto de licor que tomamos mais cedo. A mão que segurava o meu rosto, desce até as minhas costas, enquanto a outra permanece na parte detrás de minha cintura, me deixando completamente junta ao seu corpo alto.
  Involuntariamente, meus dedos apertam o tecido de sua camisa preta de seda, enquanto continuamos nosso beijo de forma sincronizada, como se fosse algo ensaiado.
  O som da noite ganha um novo acompanhante, como uma sinfonia que, aos poucos, ia acrescentando mais instrumentos. Talvez o barulho de nossos beijos seja ainda mais alto do que a sinfonia da noite.
  Nosso ritmo não tinha pressa, com um beijo lento e intenso que se perpetua por mais alguns segundos, até que Taehyung se separe de mim, deixando seu rosto tão próximo que tenho vontade de beijá-lo outra vez.
  Ainda com seus braços ao meu redor, expiro fundo, enquanto encaro suas íris escuras, me sentindo completamente perdida e enfeitiçada de um jeito completamente novo. Todo esse seu jeito, não importa o quanto grosseiro ele tente ser, cada movimento de Taehyung era como uma grande aura de sedução que parecia emanar de dentro para fora do seu corpo.
  – Por que você continua fazendo isso? – Pergunto quando seus braços se afastam lentamente do meu corpo.
  Ele arqueia as sobrancelhas, também afastando seu rosto do meu, o deixando mais iluminado sobre a lua, me fazendo perceber alguns resquícios de meu batom em seus lábios.
  – Eu não deveria te beijar? Assim você me machuca. – Taehyung ri sem humor, com um olhar mais suave, retomando sua postura.
  – Você me machucou quando nos conhecemos, e agora... me beija. – Encolho os olhos, minha mania particular. Ainda tendo a sensação dos seus lábios contra os meus, e isso apenas me confunde mais.
  – Você era uma estranha que apareceu no meu quarto sem ser convidada. – Ele responde, como se fosse algo óbvio, e talvez para ele seja.
  – Você sabe que eu não fiz de propósito, eu estava procurando o Jimin... eu nunca faria aquilo com alguém. – Falo a última parte de maneira baixa.
  – Exatamente, você não faria aquilo, mas eu não sou você, nós somos diferentes. Já pensou em como as coisas seriam chatas se todos fossem como você? – Taehyung coloca suas mãos para dentro dos bolsos, outra vez.
  – Poderiam ser chatas, mas pelo menos seriam gentis.
  Ele me olha sério, como se me repreendesse.
  – Você não quer um Taehyung gentil, você quer um Taehyung que aja como você acha que eu devo agir. Isso não parece muito justo pra mim. Eu não sei o que você pensa de mim, mas eu não sou esse tipo de cara. Não é porque você passou algum tempo com o Jimin, que todos devem ser como ele.
  – Não estou pedindo pra você ser como o Jimin. – Rebato, séria.
  – Então o que você está me pedindo, Elena? – Sua voz volta a ficar firme e parece que tudo que aconteceu segundos atrás, simplesmente desapareceu. – Você deveria me agradecer, porque pelo menos quando está comigo, você consegue ser mais sincera. Passa o tempo inteiro com os meus irmãos, concordando com praticamente tudo que eles falam, e aposto que não ficou três dias na mansão por decisão própria.
  Taehyung nega com a cabeça, rindo sem humor.
  – Só nos encontramos algumas vezes, mas em todas elas, em vez de você concordar com as merdas que eu digo, você fala, nem que seja pra ser irritante. Eu sou um imbecil, mas perto de mim, você é verdadeira com o que quer, em vez de guardar tudo aí dentro.
  Ele faz um gesto de cabeça, apontando para mim.
  – Então, a pergunta que você deve se fazer é: por que eu continuou beijando o Taehyung? – Sua voz e entonação transformam a pergunta em uma grande pedra pesada, que me atinge sem deixar partes livres.
  Pisco os olhos algumas vezes, sentindo eles arderem, enquanto um nó parecia ser atado ao redor da minha garganta.
  – Eu não sei. – Respondo baixo, tão baixo que quase não me escuto.
  – Não sabe? – Taehyung ri nasalado. – Talvez você devesse pensar um pouco sobre isso. Até lá, eu esperarei ansioso pelo nosso próximo encontro, Elena.
  Sem dizer mais nada, passo ao lado de dele, e caminho até a porta da saída emergência, puxando a barra de metal e entrando de volta a taverna. Atravesso o corredor escuro e procuro por Wendy, dizendo que queria ir embora. Jimin tenta insistir para que eu fique, mas, no final, acaba se voluntariando para me levar para casa e me oferecendo sua blusa, alegando que estava frio demais do lado de fora. E sabendo que negar isso só estenderia suas insistências, acabei vestindo sua blusa que parecia elegante demais para mim.
  Me despeço de todos, recebendo um olhar estranho vindo de Jungkook, que, por agora, não era uma das coisas mais importantes dais quais eu deveria me preocupar.

***

  Wendy teve a companhia de Jimin para conversar durante nosso caminho de volta, o que evitava que eu falasse, e isso era bom, já que eu não podia pensar em mais nada a não ser no beijo que dei em Taehyung, e nas palavras que vieram depois.
  Taehyung tem razão, por que eu continuo beijando-o, depois tudo? Por que continuo insistindo em tudo isso, mesmo depois de estar decidida a me dar bem com ele e seguir em frente?
  – Chegamos. – Jimin para de andar assim que paramos na calçada da frente.
  – Obrigada. – Wendy acena para Jimin.
  – Não foi nada. – Ele acena de volta.
  – Eu vou indo na frente, enrolar a vovó. – Wendy aponta para a casa, e eu assinto.
  Quando Wendy se afasta, Jimin segura uma das minhas mãos, me fazendo olhá-lo.
  – Você está bem? Parece um pouco abatida. Tem alguma coisa que eu possa fazer por você? – Ele me observa de maneira preocupada.
  A ardência em meus olhos, retorna.
  – Você é sempre tão gentil comigo. – Pisco os olhos rapidamente, tentando afastar a ardência. – Às vezes, eu queria que todos fossem como você. Acho que é meio que egoísmo da minha parte. – Sorrio fechado, enquanto encaro o chão.
  Jimin aperta suavemente a minha mão, deslizando seus dedos pelos meus de forma terna.
  – Você não precisa desejar que as pessoas sejam iguais a mim. Cada um é especial e gentil da sua maneira, você só precisa descobrir isso. – Volto a olhar Jimin, que tinha uma expressão de compreensão. – Sabe, eu adoro ter tantos irmãos, principalmente porque toda vez que eu estou com algum deles, é um momento diferente, sempre único e incrível, da maneira deles.
  Jimin entrelaça nossos dedos, fazendo com que nossos anéis se toquem, criando um pequeno barulho.
  – Nós dois, por exemplo, somos bem diferentes, e mesmo assim nos tornamos amigos. E eu não gostaria que você fosse parecida comigo. – Jimin sorri, tornando seus olhos pequenos.
  – Obrigada. – Sorrio, verdadeiramente agradecida.
  Em silêncio, encaro nossos dedos entrelaçados que, nesse momento, representavam muito mais que um gesto, era a ligação que criamos desde que cheguei em Upiór.
  – Isso não é muito justo, o seu anel é mais bonito que o meu. – Olho para Jimin, que tinha falsa careta em seu rosto, enquanto encarava nossos anéis, e sei que ele está tentando me fazer sentir melhor.
  – Se chama Anel Da Lua. – Sorrio para mim mesma, me lembrando do dia em que a minha mãe me contou a história desse anel de família.
  – O meu se chama Anel Do Sol. Até nisso somos diferentes. – Jimin ri engraçado, me fazendo acompanhá-lo.
  – Eu acho que preciso entrar agora. – Separo nossas mãos, e começo a tirar sua blusa, mas Jimin me impede.
  – Fique com ela, isso será uma boa desculpa pra você me visitar mais rápido. – Ele sorri uma última vez, antes de acenar e se virar, indo embora pela rua de ladrilhos.
  Aperto a blusa de Jimin contra o meu tronco, como se fosse um abraço seu, enquanto vou em direção a casa de vovó, para uma longa madrugada repleta de pensamentos repletos de Taehyung.

Capítulo 16.2
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