Capítulo 13
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Se eu dormi por três horas seguidas essa noite, foi muita coisa. Eu sentia meu corpo inteiro cansado, e meus olhos ardiam um pouco, mas eu simplesmente não podia dormir, na verdade, eu não conseguia. Minha cabeça ficava revivendo cada detalhe do meu pequeno encontro com Taehyung, dos seus dedos dedilhando meu pulso, do seu nariz tocando meu pescoço, da sua presença, da sua proximidade, de tudo. Eu não sei o que aconteceu comigo ou o porquê de eu me sentir assim. De todos os irmãos dessa mansão, ele foi o mais desagradável e, mesmo assim, eu continuo pensando nele, na maneira da qual eu imaginei que ele me beijaria. Eu realmente esperei por isso? Nem quando Jungkook chegou a me beijar, eu fiquei desta forma. Eu me sinto tão boba.
Repetindo o que já era um hábito para mim, suspiro, enquanto fecho minha pequena mala que eu havia colocado sobre a cama.
Já que não consegui dormir, levantei antes do amanhecer, e decidi arrumar as minhas coisas e me preparar para ir embora. Não tenho nenhum relógio, mas não deveria passar das dez horas da manhã. Eu estou apenas esperando que todos despertem, para que eu me despeça e volte para minha realidade, a realidade onde eu encontraria algumas respostas, espero.
Encaro o vidro limpo da janela, avistando o dia nublado do lado de fora. As folhas das árvores não balançavam, mas isso não me impedia de achar que o tempo era frio e, por este motivo, peguei todas as roupas que pareciam mais quentes.
Escuto alguns burburinhos do lado de fora do quarto, indicando que alguém já havia acordado. Então, me levanto da cama e pego minha mala, indo em direção à porta que abro sem pressa e, uma vez do lado de fora, acabo por escutar uma voz familiar.
– Wendy? – Encaro o corredor vazio de forma surpresa.
Apresso meu passo, alcançando com rapidez a escada da esquerda. E do topo, confirmo minhas suspeitas ao ver Wendy parada na saída do hall, conversando com Jimin.
Começo a descer os degraus, sentindo que o ar parece mais frio do que no segundo andar.
– Olha só quem acordou. – Jimin é o primeiro a me notar. – Bom dia, Elena.
– Bom dia. – Sorrio para ele, me aproximando dos dois.
– Eu senti saudades. – Wendy me recebe com um abraço exagerado.
– Então por que não veio me ver? – Finalizo nosso abraço, e a encaro.
– Me desculpe, Eleninha. A loja teve um bom movimento esses dias, e eu não queria entrar nessa floresta de noite. Mas eu estou aqui agora, vim te buscar. – Ela sorri, puxando a mala de minhas mãos.
Jimin ri, enquanto nos observa.
– Onde está o seu colar? – Wendy segura seu próprio colar, que cintilava.
Involuntariamente, levo minha mão até o pescoço.
– Eu tirei ele, mas deve estar na mala... eu acho. – Abaixo meu tom de voz, não tendo certeza se o guardei na mala, de fato.
– Quer ir dar uma olhadinha? Eu te espero aqui. – Wendy pergunta, e eu assinto, antes de me virar e correr de volta em direção à escada.
Subo os degraus quase de dois em dois e refaço meu caminho pelo corredor. Paro em frente à porta do quarto que me abrigou pelos últimos dias, e seguro na maçaneta, girando-a e empurrando a porta para dentro. Entro no quarto e solto a porta, que fecha lentamente sozinha, ficando encostada.
Olho para a cama arrumada em que estava antes, e decido que começarei por ela. Me aproximo do lençol vermelho e tateio por ele, pensando que talvez o colar possa ter se camuflado no meio da cor.
– Está atrás disso?
Viro de uma vez, assustada, procurando pelo dono da voz, que estava ao lado da porta do banheiro, com uma de suas mãos para dentro de um dos bolsos das calças pretas, enquanto a outra, prendia meu colar entre os dedos.
– O que você está fazendo aqui? – Pergunto, nervosa.
– Eu moro aqui, já disse. – Taehyung faz um som nasalado de desdém.
– Eu preciso do colar pra ir embora. – Digo, e Taehyung arqueia as sobrancelhas.
Logo depois, ele estende sua mão para frente, esperando que eu fosse pegar o colar. Fecho os olhos por alguns segundos e respiro fundo, completamente cansada e nervosa.
Meu corpo se torna ansioso quando dou o primeiro passo em sua direção, e depois outro, sucessivamente até que eu chegue perto de Taehyung. Estico minha mão para pegar o colar e ir embora, mas ele recua seu braço, levando o colar para perto dele.
– Taehyung, por favor. – Peço, me sentindo derrotada.
– Você só precisa pegar ele. – Taehyung balança o colar de um lado para o outro.
Forço minhas pernas a darem mais alguns passos em sua direção, ficando mais perto do que eu gostaria. Eu mal pude superar a noite passada, e agora isso. Eu definitivamente estou enlouquecendo aqui.
Encaro Taehyung, que tinha uma expressão apática e postura relaxada, sem se mexer. Respiro fundo outra vez e, de novo, estico minha mão para pegar o colar no mesmo instante em que ele coloca o braço para o lado, afastando o objeto de mim.
Taehyung curva seu tronco, como na noite passada, e aproxima seu rosto do meu. Meu coração salta e me sinto completamente apreensiva nesse momento. Ele abaixa o braço, o deixado ao lado do corpo, e mantém a outra mão para dentro do bolso. Seus olhos se conectam com os meus por segundos, antes deles escorregarem para baixo... até a minha boca.
Nossos narizes se tocam levemente, e Taehyung inclina sutilmente sua cabeça, aproximando mais seu rosto do meu, de modo que eu sinta sua boca roçar na minha em um toque superficial, mas que é o bastante para me transformar em uma pilha de nervosos. E, nesse momento, as batidas de meu coração pareciam martelar em meus ouvidos, enquanto meu estômago se revirava por completo, corroído por ansiedade.
Taehyung fita uma última vez meus olhos, me tornando apreensiva, para no segundo seguinte, selar sua boca contra a minha. Era como se as minhas pernas fossem falhar agora, e quando vejo Taehyung fechar os olhos, eu quase entro em desespero. Eu deveria afastá-lo, mas eu não posso, e nem mesmo sei o porquê.
Com os lábios pressionados contra os meus, sinto quando a ponta de sua língua passa, de leve, por minha boca. E sem conseguir conter isso, acabo por deixar que ele inicie um beijo. Onde, de forma automática, meus olhos se fecham lentamente e, timidamente, abro minha boca, sentindo sua língua tocar a minha, fazendo meu estômago se revirar de novo.
Sua boca era macia e fazia tudo com naturalidade, com Taehyung começando a conduzir os movimentos, sem parecer ter pressa. O beijo começa a fazer alguns sons baixos, e não contenho o suspiro que me escapa, sentindo minhas bochechas esquentarem por isso. E sendo algum tipo de resposta, lentamente, Taehyung continua por mais algum tempo, me causando o primeiro arrepio a cada vez que sinto sua língua se entrelaçar com a minha, de um jeito que eu nunca senti antes.
Devagar, ele começa a diminuir a sincronia de nossas bocas, as afastando de maneira arrastada enquanto roça seus lábios avermelhados e molhados contra os meus.
Completamente envergonhada, abro os olhos a tempo de ver Taehyung fazer o mesmo. Suas íris escuras encontram as minhas, antes que ele endireite sua postura, afastando seu rosto.
Em silêncio, Taehyung estende o calor em minha direção.
Com o corpo completamente congelado no lugar, demoro alguns segundos observando seu rosto, antes de conseguir me mexer e, hesitantemente, tentar pegar o colar de sua mão.
Seu olhar sobre mim era atento; era como se Taehyung não quisesse perder nenhum movimento que eu fazia, mesmo que fosse apenas o ato de respirar.
Com as mãos um pouco suadas pelo nervosismo, aproximo minha mão da sua. Dessa vez, ele deixa que eu pegue o colar que cintilava com muita intensidade.
Aperto o cordão do colar entre os dedos, e olho para Taehyung mais uma vez. A sensação era estranha, como se seus olhos arrancassem cada parte de mim, sem que eu pudesse suportar. E, por isso, sem dizer nada, me viro e saio apressada do quarto, passando pelo corredor e correndo nas escadas.
– Você demorou. – Wendy resmunga, assim que volto ao primeiro andar.
– Aconteceu alguma coisa? Seu rosto está vermelho. – Jimin me encara preocupado.
– Eu estou bem, deve ser o frio. Vamos? – Olho para Wendy, forçando um sorriso, enquanto pego em seu braço e a arrasto para dentro do hall.
– Eu levo vocês até a porta. – Jimin faz menção de nos seguir.
– Não precisa. – Outro sorriso forçado. – Muito obrigada por tudo, Jimin.
– Não se preocupe, você pode voltar sempre que quiser. – Com um olhar confuso, Jimin acena, se despedindo.
– O que foi? – Wendy sussurra, enquanto arrasto ela, pelo hall.
– Nada.
***
Suspiro alto assim que saímos da floresta e paramos em frente à loja fechada de vovó.
– Vovó me mandou uma mensagem, vai chegar na hora do almoço. Ela disse que não precisamos abrir a loja hoje.
Encaro a fachada rosa com letreiro, pensando em fazer agora o que decidi na mansão, antes que vovó voltasse, talvez depois seja mais difícil.
– Você pode ir na frente? – Pergunto, e Wendy franze o cenho.
– Você não vem?
Nego com a cabeça.
– Eu preciso passar em um lugar antes... sozinha. – Respondo, e a feição de Wendy se torna séria.
– Elena, aconteceu alguma coisa?
– Depois eu te conto, eu prometo. Não vou demorar. – Falo, e saio na frente de minha irmã, sem dar tempo para ela tentar mais algumas perguntas.
Me afasto de Wendy até que não possa vê-la, e forço minha memória para que eu me lembre do caminho que precisava fazer. E depois de perder alguns longos minutos, tendo que parar para pedir algumas informações, eu finalmente estava diante da loja de madeira com emblemas enigmáticos.
Inspiro profundamente, sabendo que precisava fazer isso. Então caminho até a entrada, passando pela porta, que anuncia a minha chegada com o tilintar de um sino.
As familiares paredes pretas preenchem minha visão, assim como os demais objetos espelhados pelas paredes e balcões de vidro.
– Bom dia. – O garoto de pele bronzeada e cabelos escuros saúda, saindo de trás de um dos balcões. – Eu me lembro de você. – Ele para na minha frente, e cruza os braços.
– Eu e minha irmã já estivemos aqui antes. – Enfio uma de minhas mãos dentro do bolso das calças. – Compramos isso. – Puxo o cordão preto para fora do bolso.
– O colar de aíma, claro. – Ele acena. – Mas então, no que posso te ajudar agora? Quer alguma coisa específica?
– Na verdade... eu não vim comprar nada dessa vez. – Encolho os ombros. – Eu gostaria de conversar com você.
O cenho do garoto se franze.
– Você pode me falar um pouco mais sobre esse colar? – Pergunto, receosa. E um semblante confuso aparece no rosto do garoto.
Ele pega o colar de minhas mãos, olhando para a pedra vermelha.
– O que sei, é que essa pedra foi criada pra identificar vampiros. Dentro dela deveria ter uma pequena quantidade do sangue de um vampiro, que reagiria com o sangue dentro do corpo do vampiro, fazendo a pedra brilhar. Mas essa aqui é falsa. – Ele me entrega o colar de volta.
– Como você sabe que é falsa?
A cada pergunta, o semblante do menino se tornava menos confuso e mais desconfiado.
– Como já devo ter dito, encontrei algumas dessas pedras enterradas no quintal da minha casa. Meu pai, que fundou a loja, disse que eram falsas e que as pedras de aíma foram extintas há muitos anos, nos tempos medievais.
Olho discretamente em volta, como se quiséssemos me certificar de que ninguém escutaria nada, mesmo que estivéssemos sozinhos dentro dessa loja.
– E... E se eu te dissesse que ele funciona? – Fico um pouco apreensiva sobre seu olhar, esperando ansiosa por sua resposta. – Eu vi esse colar brilhar algumas vezes.
– Deve ter sido o reflexo da luz ou coisa do tipo, porque essa pedra é falsa. – Ele diz confiante.
Desvio meu olhar, encarando o balcão, onde o livro que vi da outra vez, continuava no mesmo lugar.
– Esse livro está à venda? – Me aproximo do balcão de vidro, tocando com a ponta dos dedos, as folhas amareladas e gastas do livro antigo.
– Não. – O dono da loja se apressa para perto, pegando o livro antes de mim. – Era do meu pai. Eu só uso ele como guia da loja, e também, tem um bocado de páginas faltando. – O garoto fecha o livro de capa vermelha com o título "Drácus Dementer", que acompanhava o desenho de um castelo em dourado.
– Esse livro é só sobre vampiros? – Tento me aproximar.
– Sim. Mas por que você está tão curiosa de repente? – O garoto afasta o livro, enquanto tem seu olhar desconfiado e atento.
Suspiro.
– Você acredita em vampiros, não acredita? – Pergunto, e ele assente. – Eu não posso afirmar nada, mas ultimamente... eu não sei, eu conheci algumas pessoas um pouco estranhas e talvez...
– Você acha que eles podem ser vampiros? – Seu olhar se torna de espanto.
– Mais ou menos. Não é como se eu tivesse visto algum deles matando alguém ou mordendo pescoços... mas eles são estranhos.
– Você já disse isso. – O garoto abraça o livro, segurando-o com firmeza.
– Eles são muito silenciosos, às vezes parecem que surgem nos lugares como fumaça. E tem a cor da pele, eles são muito pálidos também, mas podem andar no sol, então não sei. – Suspiro de novo.
– Vampiros podem andar no sol desde que tenham anéis especiais que os protejam. O nome disso é "anel do sol" e costuma ser passado de geração em geração.
Meus pensamentos parecem dar um nó, e não posso me impedir de lembrar do anel de família que os irmãos, e até mesmo Blarie, têm.
– O que mais você sabe? Isso que disse até agora não pode constituir alguém como vampiro.
– Os olhos. – Aponto para os meus próprios olhos. – Os olhos deles, às vezes tenho a sensação de estar presa em um contato visual, alguma coisa que dura segundos, parecido com um olhar intenso.
– Vampiros têm a habilidade de hipnotizar humanos.
Rio nasalada.
– Isso soa como coisa de filme. – Confesso.
– Foi você quem me procurou dizendo que conhece vampiros. – O garoto arqueia as sobrancelhas.
– Sim. – Desvio o olhar, me sentindo boba por toda essa cena. Não sei se vir até aqui foi uma boa ideia. – É melhor esquecermos isso, acho que preciso de um chá de Erva-Verde pra acalmar os meus pensamentos.
O garoto franze o cenho, voltando a ficar sério, enquanto abre o livro e começa a folheá-lo.
– Eu acho que já li alguma coisa sobre isso. – Ele fala, passando o dedo pelas letras de traços grossos.
– Alguma coisa sobre o quê? – Pergunto, confusa.
– Erva-Verde. – Seus olham continuam fixos nas páginas amareladas. – Aqui! – Ele me olha e se aproxima, deixando que eu visse o desenho de algumas folhas que eu conhecia muito bem. – "Existe uma terceira categoria de ervas, as mágicas, estas, com propriedades acessadas apenas por aqueles que, de fato, têm conhecimento de suas propriedades místicas." – Ele lê o trecho em voz alta, e depois vira a página. – Esse tipo de erva faz muito mal pros vampiros.
– O quê?! – Pego o livro de suas mãos e leio as linhas outra vez, não acreditando nas palavras escritas.
Eu até poderia dizer que tudo aqui era mentira, se eu não tivesse visto com os meus próprios olhos Jimin passar mal. E ainda me lembro de como todos eles evitam essa erva, isso não pode ser só uma coincidência... pode?
– O que mais você tem aqui sobre vampiros? – Folheio as páginas com exaltação, e o garoto, outra vez, toma o livro de minhas mãos.
– Cuidado. Assim você vai estragar. – Sua voz e seu olhar, eram de repreensão.
– Me desculpe. – Expiro alto, passando a mão pelo rosto. – Escute, eu preciso ir agora, mas será que podemos nos ver depois? Eu preciso saber mais.
– Eu não sei se o que tem nesse livro te interessaria, tudo aqui é generalizado, mitos que todos dizem sobre os vampiros. – Ele dá de ombros, mas quando nota meu semblante desapontado, suspiro derrotado. – Mas, se é tão importante pra você, eu posso dar uma olhada nas coisas do meu pai e ver se encontro algo interessante, ou quem sabe, as páginas que estão faltando.
– Obrigada! Muito obrigada! – Sorrio, aliviada.
– Caleb.
Franzo o cenho.
– O meu nome é Caleb.
Sorrio de novo.
– O meu é Elena. Muito obrigada pela ajuda, Caleb. Eu voltarei depois. – Me curvo rapidamente, agradecida. E Caleb assente.
Depois, me viro e vou em direção à saída da loja com a cabeça completamente pesada, mas com uma ponta de esperança para descobrir tudo e saber se eu beijei um vampiro hoje.
***
Como pensei achei mais cedo, o tempo realmente estava frio e sem vento, mas o suficiente para me fazer andar com as mãos dentro dos bolsos da blusa de frio.
Durante todo o caminho de volta para casa, tentei pensar em uma resposta óbvia para tudo isso, algo mais racional, mas era impossível, principalmente, depois de os últimos acontecidos. Eu era boba por cogitar na hipótese de que criaturas sugadoras de sangue existem? Provavelmente.
– Você chegou! Onde estava? – Vovó surge da cozinha, sorrindo e vindo me abraçar.
– Fui na feira, queria ver se ainda tinham aqueles bolinhos de nozes que eu comi com Wendy, mas não achei. – Respondo, assim que me separo de vovó. – Bem-vinda de volta.
Vovó sorri, agradecendo com um aceno de cabeça.
– Espero que não tenham tido muito trabalho na loja por minha causa. – Ela ri. – Eu trouxe muitas coisas, venha ver.
Vovó segura em minha mão e me leva para a cozinha, onde vários caixotes pequenos estavam espalhados pela mesa e pia.
– Olha, Elena. É muita Erva-Verde. – Wendy puxa para fora do caixote, algumas pequenas mudas de ervas.
Meu corpo fica rígido, enquanto encaro as folhas esverdeadas.
– Essas são especiais. Sebastian e eu conhecemos um senhor que estava tentando misturar algumas ervas, até que saiu essa. – Vovó pega uma das mudas da mão de Wendy. – O gosto e o cheiro são mais fortes. Quero que vocês experimentem. – Ela devolve as mudas para o caixote.
– Tudo isso são ervas? – Pergunto, me aproximando de um caixote lacrado, com o nome "Erva-Amarela" escrito na tampa.
– Não. Eu também trouxe algumas sementes de flores novas. – Vovó responde empolgada, e eu apenas assinto. – O que foi? Você parece um pouco desanimada.
– Só estou cansada. – Sorrio.
– Então vá descansar um pouco, querida. Deixe que eu cuido do resto. E você também, Wendy, vá com a sua irmã. – Vovó retira todas as mudas das mãos de Wendy, e fecha o caixote de Ervas-Verdes.
Me viro e saio da cozinha, escutando os passos de Wendy atrás de mim. E, em uma pequena fila, nós duas subimos para o segundo andar, indo direto para nosso quarto que tinha um ar quente e perfumado.
– Eu adoro esse cheiro. – Wendy anda até o vaso de flores que estava sobre a cômoda e cheira as pétalas escuras.
As tulipas-negras estavam intactas, como se tivessem sido colhidas hoje, algo estranho para uma planta, que mesmo estando em um vaso com água, deveria começar a perder, ao menos, seu cheiro.
Wendy se afasta das flores e vai até à cama, se jogando sentada sobre o colchão.
– Agora pode ir me contando o que aconteceu mais cedo. – Ela cruza as pernas, balançando a que estava por cima.
Respiro alto e vou até minha irmã, sentando ao seu lado.
– Eu meio que acho que acredito em vampiros agora. – Confesso, esperando que sua reação seja exagerada, como sempre, mas tudo que Wendy faz, é me encarar confusa.
– Vampiros? É sério, Eleninha? – Ela ri alto.
– Eu pensei que você acreditasse. – Estreito os olhos, a observando com atenção.
– É, mas eu pensei melhor sobre isso, e agora eu concordo com você. Vampiros não existem. – Wendy sorri, enquanto continuam balançando sua perna, o que era incômodo de se ver.
Decido não insistir, já que não tenho uma prova concreta além das minhas especulações e observações. E decido que não seria sensato contar para Wendy sobre o meu sonho também, pelos menos não antes de entendê-lo melhor.
– E o seu anel? Já achou ele? – Mudo de assunto, querendo deixar toda essa história louca que eu inventei, de lado por um momento.
– Não, eu acho que perdi mesmo. Estranho, não é?
