Drácus Dementer


Escrita porHels
Revisada por Natashia Kitamura


Capítulo 12

Tempo estimado de leitura: 20 minutos

  Já tem algum tempo que estou sentada na ponta da cama, encarando um ponto qualquer e pensando em como seria meu último dia nessa mansão. Pelas minhas contas e memória, vovó deve voltar amanhã, por isso, irei embora ao amanhecer.
  Quando tenho a oportunidade de ficar sozinha neste quarto coberto pelo vermelho, tento colocar todos as minhas ideias em ordem. Não fui capaz de descobrir grandes coisas, mas passei a reparar melhor nos hábitos estranhos dessa família, e já posso dizer que estou formulando uma hipótese para tudo isso. Ela parece louca quando penso, mas preciso tentar, nem que seja para ter uma resposta que desmentirá minha hipótese. Por isso, assim que eu sair desta mansão, já sei aonde devo ir e a quem procurar.
  Acho que durante esses dois dias e três noites que estive nesse lugar, eu tentei a tudo custo reprimir esse tipo de pensamento, afinal, não seria possível que fosse real, essas coisas não existem, não é? Na verdade, eu não sei, talvez as loucuras de Wendy finalmente estejam me afetando.
  Desconstruir toda uma verdade e passar a acreditar em um mito, isso não era uma tarefa fácil, já que nossa primeira saída é sempre buscar uma resposta lógica, a mais fácil e confortável. Para uma criança, não seria tão difícil acreditar em histórias como essas, então, por que para os adultos era?
  Cansada de embolar meus pensamentos, decido que tratarei disso depois, quando for embora; por agora, eu apenas seguirei com o meu dia.
  Depois de me arrumar, saindo das roupas de dormir, vou para fora do quarto, atravessando o corredor vazio, para depois descer até o primeiro andar que, estranhamente, estava silencioso demais.
  Caminho até a cozinha, mas não encontro ninguém, então decido procurar na sala de estar e na sala de jantar, sem ter nenhum vestígio. E não sabendo onde todos poderiam estar, retorno para a sala de jantar e me sento em uma das inúmeras cadeiras ao redor da grande mesa que estava repleta por diferentes comidas. Observo por alguns segundos o que pegar, antes de escolher uma redonda e vermelha maçã. Puxo para perto uma faca próxima e começo a cortar a maçã em pequenos pedaços que facilitassem meu café da manhã.
  Com a mão esquerda, apoio a metade da maçã entre os dedos, e com a mão direita, posiciono a faca na base da fruta, fazendo um pequeno corte que, lentamente, desço pela extensão até alcançar a parte baixa. E sem conseguir conter a pressão que fiz na faca, acabo por acertar a porta de meu dedo polegar.
  Solto a faca – que ganhou uma coloração de vermelho vibrante – sobre a mesa.
  – Droga! – Examino meu dedo, vendo que o corte não era grande e nem profundo.
  Uma gorda gota de sangue ameaça escorrer.
  Deixo a maçã sobre a mesa também, enquanto olho em volta, em busca de algum guardanapo ou algo que me ajude a estancar o corte.
  – Elena! Você está bem?!
  Sobressalto em minha cadeira e olho assustada para a porta de entrada da sala de jantar, vendo Jimin parado enquanto me olha com preocupação. E atrás dele, seus irmãos e Blarie, com exceção de Hyun e Taehyung, espreitavam para tentar entender o pequeno alvoroço que Jimin causou.
  – Não é nada, eu só cortei meu dedo. – Assim que respondo Jimin, todos ali presentes me olham de forma estranha, com mais preocupação do que um corte deveria ter.
  Jimin sai de perto da porta e se aproxima, mantendo seus olhos presos em meu dedo machucado. Os que ficaram para trás, encaram a cena com ânsia de expectadores concentrados.
  Um arrepio corre minha espinha, me fazendo desconfortável sobre o olhar de Jimin, que parecia bastante interessado em me ajudar.
  – Não é nada. – Escondo minha mão atrás do meu corpo. – É sério, Jimin. Eu estou bem. – Tento soar firme e convincente, mas ele continua vindo em minha direção.
  – Se ela disse que está bem, é porquê está. – Blarie entra na sala de jantar e caminha até Jimin, o puxando pelo braço e o arrastando até a porta, antes de enxotar todos os outros.
  Longe dos olhares dos irmãos, respiro aliviada, completamente atônita com toda essa comoção por um simples corte. Até então, eles nem sequer deram sinal de vida, e agora, simplesmente adivinham que eu me machuquei? Não.
  – Hm, vamos ver examinar esse machucado. – Blarie se aproxima, soando em seus sapatos de salto.
  Ela para ao lado de minha cadeira e se abaixa em sua saia longa de renda, antes de pegar minha mão esquerda e analisar meu corte, que, por sinal, já havia deixado uma pequena quantidade de sangue sujar minha pele.
  Blarie encara meu dedo e aproxima seu rosto do corte, tocando meu polegar com seus lábios pintados em um rosa-cereja-claro. Ela suga a pequena quantidade de sangue em meu corte, antes de afastar seu rosto com uma expressão surpresa. Ela me olha por um segundo, e depois volta a encarar o corte, parecendo cada vez mais espantada.
  – Eu não vou morrer, vou? – Brinco, a encarando com confusão.
  Ela me olha mais uma vez, antes de se levantar alvoroçada, se virando e indo em passos agitados até à porta.
  – Vou buscar um band-aid. – Sua é ofegante em suas últimas palavras, antes de sair da sala de jantar, me deixando sozinha e confusa.
  Fico olhando para a porta aberta e depois para o meu dedo, enquanto assimilo todos os fatos dos últimos minutos desde que me cortei.
  Chacoalho a cabeça para organizar meus pensamentos, e me levanto, decidida a ir até à cozinha para lavar meu corte, que ainda sangrava, mesmo que pouco.
  Saio da sala de jantar e faço meu caminho até a cozinha, não encontrando ninguém além do silêncio anterior. Vou direto para a pia e abro a torneira, colocando meu polegar debaixo da água corrente que, de forma rápida, leva embora qualquer vestígio de sangue que havia no meu corte.
  Solto um suspiro, me sentindo cansada, e desligo a torneira, procurando por um pano de prato para secar minha mão. E depois de fazer isso, deixo a cozinha, retornando para a sala de jantar, onde tenho uma surpresa ao encontrar um visitante inesperado.
  Paro meus passos assim que vejo a figura alta de Taheyung, sentado na mesma cadeira que eu estava antes. Ele usava a faca da qual eu me cortei e sujei de sangue, para passar um pouco de geleia em uma torrada.
  – O que foi? – Ele pergunta, me pegando de surpresa ao me fitar.
  Me sinto nervosa com sua voz e engulo em seco, apontando para a faca que ele segurava.
  – Essa faca... ela. – Engulo em seco de novo, tentando me acalmar.
  Taehyung olha para faca, enquanto dá uma mordida na torrada com geleia de cor roxa.
  – Você quer ela? – Ele ameaça jogar a faca em minha direção, e levando os braços involuntariamente como defesa.
  Ele ri sem humor da minha reação, e volta a se concentrar nas torradas, da qual ele pega mais uma.
  Seguro em minhas próprias mãos, e temente, me aproximo dele, sentando em outra cadeira, deixando o espaço de uma cadeira entre nós. E sem se importar comigo, ele repete todo o processo de passar a geleia em mais uma torrada, antes de comê-la, deixando que o barulho do pão tostado se partindo em sua boca, preenchesse o silêncio entre nós.
  – O que foi? – Taehyung suspira alto, e volta a me encarar.
  – Não é nada... eu só estou surpresa em te ver aqui. – Respondo em tom baixo.
  – Eu moro nesse lugar. – Ele arqueia as sobrancelhas.
  – Eu sei. – Falo de forma quase inaudível.
  Taehyung dá a última mordida na torrada, fazendo seu maxilar muito bem delineado, se movimentar.
  A camisa vermelha que ele usava estava aberta por alguns botões, revelando o colar fino ao redor do seu pescoço, como da vez em que nos encontramos na floresta. E o anel em seu dedo médio contrastava muito bem com a cor de sua camisa e de seus lábios comprimidos em uma linha fina, enquanto mastigava a torrada.
  Seu rosto estava de perfil, e cada traço era suave, como se fosse desenhado a mão, cada proporção muito bem distribuída, que combinavam perfeitamente com o delicado brinco longo, em sua orelha com mais dois furos. Eu não podia ver as pequenas pintas em seu rosto, mas podia ver seu cabelo quase branco, caído desalinhadamente sobre o topo de seus olhos... E eu acho que estou reparando demais.
  – Taehyung... – O chamo de forma tão baixo que, por um momento, penso que ele não escutou, mas assim que se vira para me olhar, depois de limpar suas mãos, tenho certeza que estou errada.
  Respiro fundo e encolho os ombros, tomando coragem para continuar.
  Não sou uma das pessoas mais extrovertidas o mundo, mas a maneira como me sinto contida perto dele, chega a ser patético.
  Suas íris escuras prestam atenção em mim, esperando que eu fale de uma vez o que queria.
  – Eu acho que me tornei amiga do seu irmão... – Olho para os cantos da mesa, me sentindo cada vez mais nervosa e sem coragem. – Será que nós não poderíamos nos dar bem... pelo Jimin?
  Engulo em seco pela terceira vez, temendo a resposta que viria. Eu até mesmo já podia imaginar facas e torradas voando para todos os lados, enquanto Taehyung me ameaça de alguma forma.
  – Claro.
  Por um segundo, sinto como se meu corpo parece por dentro, e logo depois, o espanto e a surpresa me atingem, e olho para Taehyung completamente perplexa.
  – O-O quê? – Espantada, analiso sua expressão apática, tentando ver se ele estava brincando comigo.
  – Eu disse: claro. – Ele se levanta, colocando suas mãos para dentro dos bolsos de suas calças. – Nós podemos fazer isso. – Ele sorri fechado, sem qualquer emoção. E, em seguida, deixa a sala de jantar.
  Ainda atônita, preciso de mais alguns segundos, sozinha, para tentar entender como isso pôde ser tão fácil.

***

  Quando finalmente volto ao meu estado normal, tento comer mais alguma coisa antes de sair da sala de jantar e procurar por alguém, especificamente Jimin. Mas, para minha má sorte, ele parece ter evaporado como fumaça no ar e Namjoon é o único que encontro.
  Ele estava no jardim, parado ao lado da grande fonte em formato de gárgula, e parecia admirar as tulipas que enfeitavam partes do jardim.
  Com cuidado, me aproximo dele, que logo nota minha presença e sorri amigável.
  – Como está o seu dedo? – Ele pergunta, assim que paro ao seu lado, observando as tulipas de cor escura, plantadas de forma organizada e bonita.
  – Estou bem. – Sorrio para ele, que assente. – Blarie disse que pegaria um band-aid, mas até agora não voltou.
  Namjoon ri, mostrando suas covinhas.
  – Ela é assim mesmo. – Ele passa a mãos pelos cabelos desgrenhados pelo vento fresco do dia, ainda cinza.
  Ao seu lado, percebo o quão alto ele é, talvez, o mais alto dos irmãos.
  – Vocês se dão muito bem, não é? – Tento começar uma conversa, sem jeito.
  Namjoon parecia tão calmo, sempre tão sereno quanto alguém poderia ser.
  – Nós somos uma família. – Ele sorri de novo. – Mas se está falando sobre ter visto ela beijando o Jungkook ou coisa do tipo... é, nós nos damos muito bem. – Sua voz é tranquila, assim como seu olhar divertido.
  Meus olhos se arregalam e sinto meu rosto quente.
  – N-Não... não foi isso que eu quis dizer! Não! – Abano as mãos no ar, de um lado para o outro, completamente exasperada.
  Namjoon ri.
  – Você é fofa. – Ele coloca uma de suas mãos sobre o topo da minha cabeça, bagunçando meus cabelos de leve.
  – Eu-Eu vou procurar o Jimin. – Me viro com pressa e, com passos rápidos, quase corro para dentro da mansão, sabendo que Namjoon provavelmente deveria estar rindo de mim outra vez.
  Quando entro do hall, respiro aliviada, me perguntando qual dos dois, Blarie ou Jungkook, contou isso para Namjoon. Será que os outros também sabiam?
  Cubro meu rosto com as mãos, pensando na possibilidade deles me acharem uma pervertida.
  Com um suspiro, passo por todo o hall de entrada, indo até à escada do lado esquerdo. Eu procuraria por Jimin no segundo andar, e se não o encontrasse, iria até o terceiro.
  De forma lenta, enquanto deixo minha vergonha para trás, subo cada um dos degraus até chegar no topo do segundo andar, onde vejo Blarie curvada sobre uma das portas dos quartos. Uma fresta estava amostra, e ela parecia espiar quem quer que fosse.
  Em passos silenciosos, me aproximo da garota de cabelo cor púrpura e olho sobre seus ombros, vendo um pequeno vestígio de Yoongi dentro do quarto de porta entreaberta.
  – O que você está fazendo? – Pergunto, e o corpo de Blarie salta no lugar.
  Ela se vira com exaspero, e me encara com os olhos grandes, como se fosse pega fazendo algo que não deveria.
  – Você estava espiando ele? – Pergunto outra vez, percebendo que ela não responderia a minha primeira pergunta.
  – O-O quê?! Não! – A voz dela sai alta, e ela logo se arrepende, tapando a boca com as mãos antes de baixar seu tom de voz, enquanto suas bochechas ganham um tom rubro. – Não estava espiando ninguém. Quem faz isso é só você.
  Sinto meu rosto esquentar outra vez.
  – Por que você estava espiando ele? – Tento voltar o foco de nossa conversa para ela, não querendo passar por essa situação novamente.
  – Pare de falar besteiras, eu não estava espiando ninguém. – Blarie segura meu braço, e me puxa para longe da porta.
  O semblante dela se torna sério, com suas bochechas vermelhas. Eu nunca a vi com vergonha antes, na verdade, eu nem conseguiria imaginar.
  A porta do quarto é aberta por completo, e Yoongi para rente ao batente, enquanto segurava na maçaneta.
  – O que vocês estão fazendo? – Yoongi pergunta, nos encarando através de seus olhos pequenos e puxados.
  – Nada! Não é nada! – A voz de Blarie sai alta outra vez, e seu rosto se torna mais vermelho do que antes.
  – Então qual o motivo dessa barulheira toda? – Yoongi aperta os olhos, com um olhar cético.
  – Ela foi pegar um band-aid pro meu dedo, e não me achou porque eu estava no jardim. Por isso ela gritou quando eu subi. – Respondo.
  – Isso! – Blarie balança a cabeça, repetidas vezes, em um sinal de concordância.
  – Hm... – Yoongi não parece ter acreditado. – De qualquer forma, eu não ligo. – Ele sai do quarto, fechando a porta. – Blarie, preciso que você fique de olho no Hyun, nós teremos uma reunião agora. – Yoongi caminha para perto e, pelo canto de olho, percebo Blarie agarrar no tecido de sua saia, com nervosismo.
  – Tudo bem. – Ela força um sorriso. – Onde ele está?
  – Na sala de música. – Yoongi aponto sobre seus ombros para o final do corredor, e passa por nós, indo até à escada que levava para o primeiro andar. E assim que ele some degraus abaixo, Blarie suspira ao meu lado.
  A encaro com desconfiança, mas ela não fala nada.
  – Vamos. – Blarie diz, antes de caminhar até o final do corredor.
  Sigo seus passos, mantendo meu olhar desconfiado. E assim, chegamos na escada para o terceiro andar.
  – Você por acaso gosta dele?
  Minha pergunta faz Blarie parar na metade dos degraus para me olhar sobre os ombros, com espanto.
  – Eu não gosto dele, pelo menos, não dessa maneira que você está insinuando. – Sua voz sai esganiçada.
  – Gosta sim. – Rebato, e o rosto dela volta a ficar vermelho.
  – Eu não gosto.
  – Então por que ficou tão nervosa?
  Blarie abre a boca para responder, mas se limita a se virar e subir o restante dos degraus, passando pelo corredor do terceiro andar em passos rápidos e pesados.
  Ao alcançar a sala de música, vejo que Hyun estava sentado no banco do piano, apertando todas as teclas de uma vez, criando um barulho alto e desafinado. Algumas de suas bonecas estavam espalhadas pelo chão.
  – Ei, seu irmão não vai gostar disso. – Blarie se aproxima de Hyun, com um tom de voz mais controlado.
  Ela puxa o garoto do banco preto e acolchoado, o pegando no colo.
  – Cadê o Jimin? – Hyun pergunta.
  – Ele está ocupado agora.
  – Que reunião era essa que o Yoongi falou? – Pergunto, e Blarie me olha com um pouco de nervosismo, ainda.
  – São sobre os negócios da família. Às vezes, eles se reúnem no escritório do Jin pra conversar sobre como as coisas estão.

***

  Passamos o resto da manhã e toda tarde dentro desta sala de música, conversando e brincando com Hyun. Blarie já não estava mais nervosa comigo, e não tocamos no nome do Yoongi depois disso.
  Essa reunião estava demorando mais do que eu imaginava, e nem pudemos sair da sala de música, já que Hyun não deixava. Ele quis passar cada segundo aqui, tentando tocar o maior número de instrumentos que podia, mesmo que não levasse jeito para coisa.
  No final das contas, não foi tão ruim assim. Mesmo presa dentro dessa sala, tive conversas agradáveis com Blarie, e claro, brinquei com Hyun, que parecia ser a única pessoa não-estranha nessa família.
  Blarie me contou sobre Skull ser um empregado silencioso, e que mesmo ela e os irmãos quase não o viam na mansão, mas que ele sempre aparecia quando alguém precisava de algo, como se tivesse um sexto sentido de trabalho. Ela também disse que algumas empregadas aparecem por aqui às vezes, para ajudar Skull a limpar tudo, já que essa mansão era gigante. Mas elas não vêm com muita frequência.
  – Eu tô com fome. – Hyun resmunga pela terceira vez.
  Ele, que estava sentado no colo de Blarie, cruza os braços e a encara de forma séria, o que era fofo.
  Blarie suspira e se levanta com ele nos braços.
  – Vou levar Hyun na cozinha, senão ele vai morrer de fome, não é? – Blarie olha para o garotinho, que assente freneticamente.
  – Tudo bem. Acho que vou ficar aqui mais um pouco, esperando o Jimin. – Falo, e Blarie acena com a cabeça, antes de sair da sala de música com Hyun.
  Estico meus braços no ar e espreguiço meu corpo, antes de me levantar do banco acolchoado. Recolho todas as bonecas espalhadas de Hyun e as deixo sobre o banco, antes de caminhar até as portas abertas e de vidro da sacada. Paro rente a elas, e o vento agradável do começo da noite me saúda. Fecho os olhos e aproveito a sensação, me sentindo bem com o frescor gelado tocando minha pele e balançando suavemente os meus cabelos.
  – O que você está fazendo aqui?
  Abro os olhos instantaneamente quando escuto a voz grave de Taehyung, e quando encaro sobre os ombros, vejo ele parado ao lado do piano.
  – Eu estava com a Blarie e o Hyun. – Respondo, mas ele fica em silêncio, e isso se perpétua por alguns segundos, apenas com seu olhar atento sobre mim, o que começava a me deixar nervosa. – Eu já estou saindo. – Aviso, e abaixo o meu olhar, me afastando da janela para sair.
  Preciso passar ao lado de Taehyung e do piano, e isso só aumenta meu nervosismo. Então, respiro fundo e seguro em minhas próprias mãos, passando apressadamente.
  Taehyung segura um pulso esquerdo, e com seu reflexo rápido e ágil, ele vira meu corpo, me encostando contra o piano tão rápido quanto eu posso entender.
  Arregalo minimamente os olhos e respiro rápido, agora completamente nervosa.
  Seus dedos dedilham meu pulso, de forma suave, sem apertar como ele fez da primeira que nos vimos. Taehyung dá dois passos para frente, ficando extremamente perto de mim, com sua altura de sobrepondo contra a minha.
  O ambiente da sala de música parecia ter ficado mais escuro, e o vento gelado que entrava, preenchia a sala com um barulho agitado, igual a minha respiração.
  Taehyung usa sua mão livre para levá-la até meus cabelos, afastando uma mecha para longe de meu rosto, com o auxílio das costas de seu dedo indicador. Seus olhos observam cada ponto do meu rosto, enquanto ele se curva em direção ao meu pescoço, inspirando o local profundamente.
  Sinto seu nariz roçar na pele de meu pescoço, e meu corpo inteiro paralisa. Lentamente, ele afasta o rosto, voltando a colocá-lo de frente para o meu. E, outra vez, estando tão perto, posso enxergar com perfeição cada uma das pequenas pintas em seu rosto.
  – Você precisa me deixar ir. – Falo, sentindo meu coração pulsar tão forte que tenho medo que ele também sinta isso.
  – Por quê? – Taehyung arrasta seu olhar de minha boca até as minhas íris.
  – Pare de me intimidar. – Meu peito começa a subir e descer de forma descompassada.
  – Você me acha intimidante? – Ele inclina sua cabeça levemente para o lado, enquanto seus dedos dedilham mais uma vez meu pulso.
  – Nós combinados que nos daríamos bem, Taehyung. – Seguro na borda do piano com minha mão livre, apertando-o com força.
  – Eu não estou fazendo nada desagradável dessa vez, Elena. – Ele sorri, fechado, antes de aproximar lentamente, seu rosto do meu.
  Seu tronco se curva para frente e Taehyung se abaixa. Seus dedos dedilham sobre minha pele e seu rosto se torna tão próximo que sinto nossos narizes se tocarem. Minha respiração fica irregular e meu corpo inteiro se revira por dentro.
  Taehyung encara os meus lábios, enquanto se aproxima mais, e depois volta sua atenção para os meus olhos, como se falasse algo através desse contato visual. Ele sorri mais uma vez e tudo o que consigo fazer agora, é fechar os olhos com força, esperando de forma temente e ansiosa, pelo que ele faria.
  O vento uiva dentro da sala em torno de nós dois e do piano. Seus dedos se arrastam por meu pulso e depois se afastam, me fazendo apertar o piano com ansiedade. Meu peito continua subindo e descendo com rapidez, e a demora de Taehyung só me deixava ainda mais nervosa e enjoada.
  Espero e espero por mais longos segundos, até tomar coragem para abrir os olhos e perceber que eu me encontrava sozinha na sala de música: só eu, o vento e o piano de cauda.

Capítulo 12
0 0 votos
Classificação do artigo
Inscrever-se
Notificar de
guest
0 Comentários
mais antigos
mais recentes Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários
Todos os comentários (0)
×

Comentários

×

ATENÇÃO!

História NÃO RECOMENDADA PARA MENORES ou PESSOAS SENSÍVEIS.

Esta história pode conter descrições (explícitas) de sexo, violência; palavras de baixo calão, linguagem imprópria. PODE CONTER GATILHOS

O Espaço Criativo não se responsabiliza pelo conteúdo das histórias hospedadas na sessão restrita ou apontadas pelo(a) autor(a) como não próprias para pessoas sensíveis.

Você não pode copiar o conteúdo desta página

0
Adoraria saber sua opinião, comente.x