Drácus Dementer


Escrita porHels
Revisada por Natashia Kitamura


Capítulo 10

Tempo estimado de leitura: 20 minutos

  Abro os olhos de uma só vez, me sentindo completamente atordoada. Meus globos oculares parecem ir de um lado para o outro enquanto encaro o teto. Meu corpo parecia afundar no colchão, sendo engolido pelas dobras do lençol vermelho que cobria a cama.
  Como uma brisa sorrateira e silenciosa, um par de olhos escuros entra em meu campo de visão, acompanhado de um punhado de cabelos lisos e cheios que adornavam os grandes cílios que piscavam em minha direção.
  – Bom dia. – Hyun me saúda.
  Sinto o peso de seu pequeno corpo fazer movimentos sobre a cama. Ele estava ajoelhado ao meu lado e apoiava as mãos sobre o colhão, enquanto me olhava curiosamente.
  – Bom dia. – Respondo, enquanto levanto meu tronco, me sentando sobre a cama. – O que está fazendo aqui?
  – Tava esperando você acordar. – Ele retira suas mãos do colchão, e coloca sobre suas pernas dobradas e expostas pelos shorts escuros.
  – Por quê?
  Hyun balança a cabeça de um lado para o outro, negando freneticamente.
  – O Jimin disse que você tava aqui. O meu machucado já sarou. – Hyun estica sua perna direita e aponta para o joelho, me mostrando a pele clara e sem qualquer vestígio de cicatriz.
  – Isso é bom. Fico feliz que esteja bem. – Sorrio fechado e Hyun retribui.
  De certa forma, isso era surpreendente, quase nunca o vi sorrindo. Só quando brincamos no jardim dos fundos, a única vez.
  Analiso Hyun por mais alguns segundos, percebendo que não me livraria desta criança com facilidade. Seus olhos grandes curiosos e seu pequeno corpo sentado pacientemente de um jeito desajeitado, me indicavam isso.
  – Quantos anos você tem, Hyun?
  – Seis. – Ele ergue suas mãos no ar, me mostrando sua resposta através de dedos pequenos e gordinhos.
  Depois disso, ele volta a ser silencioso, com seu olhar em minha direção. E, sem saída, solto um suspiro, me rendendo.
  – Você quer fazer alguma coisa? – Pergunto e ele assente. – Certo. Então me espere aqui, vou usar o banheiro e já volto.
  Dizendo isso, retiro o resto do lençol que me cobria e saio da cama, caminhando até a pequena mala que Wendy fez para mim. Pego o essencial para começar e vou para o banheiro, onde me apronto para mais um dia. E com tudo pronto, me coloco diante do espelho e permaneço encarando meu próprio reflexo por algum tempo, relembrando de todo o sonho que tive. Eu até poderia ignorar e dizer que sonhos são assim mesmo, mas algo dentro de mim está me deixando inquieta, e não posso ignorar isso.
  O vermelho da pedra de aíma pendurado ao redor do meu pescoço capta minha atenção e decido que vou guardar esse colar no meu bolso. Se eu pretendo passar três dias aqui na mansão, tentando descobrir sobre todo esse mistério, serei discreta. Eu posso fazer isso.
  Respiro fundo e recolho tudo que trouxe para o banheiro, levando de volta ao quarto, onde Hyun me esperava sentado na ponta da cama com as pernas para fora. Sua pequena estatura impedia que ele conseguisse tocar o chão, por isso, suas pernas estavam balançando entre a pequena altura.
  – E o que você quer fazer? – Pergunto para o garotinho, que salta da cama assim que termino de guardar minhas roupas de dormir.
  – Eu quero te mostrar a minha boneca favorita. – Hyun ele diz, animado, se aproximando de mim.
  – E onde ela está? – Coloco as mãos na cintura, encarando a pequena criança parada na minha frente.
  Hyun agarra minha mão direita e começa a me puxar para fora do quarto. E, do lado de fora, ele me guia pelo corredor vazio, nos fazendo atravessar para o outro lado, onde ficava o seu quarto. Mas fico surpresa quando Hyun passa direto pela porta de seu quarto, indo para a que estava ao lado.
  Paro meus passos abruptamente impedindo que Hyun me levasse além daquela porta em tom vinho-escuro.
  – Nós não podemos entrar aí, é o quarto do Taehyung. – Alerto Hyun, me sentindo nervosa por estar de frente para essa porta com más recordações.
  O garotinho solta minha mão e abre a porta. Depois ele corre para trás do meu corpo e me empurra para dentro do quarto, fechando a porta logo em seguida.
  Meu corpo congela no meio do preto que cobria o quarto. E como se não bastasse a ausência de cor, o quarto era escuro, podendo muito bem esconder alguém secretamente em algum dos cantos.
  Sem se importar, Hyun caminha até a enorme cama com lençóis pretos que pareciam de seda e se abaixa a beira dela, procurando por algo escondido ali.
  Sinto as batidas de meu coração acompanharem os passos que vinham do lado de fora do corredor. O nervosismo se agita dentro de mim, me fazendo olhar em todas as direções, em busca de uma saída.
  Justo agora que eu acabei de entrar. Isso parece adivinhar.
  – Achei! – Hyun diz, puxando para fora da cama uma boneca de porcelana com vestido branco.
  Arregalo os olhos e levo o dedo indicador até a boca, fazendo um sinal para que o garotinho fique quieto. E sem entender, ele me encara, permanecendo agachado sobre o carpete vinho-escuro.
  Corro para perto de Hyun e peço que ele entre debaixo da cama. E sem me contestar, ele obedece e eu faço o mesmo logo depois.
  Ao lado de Hyun, me encolho debaixo da cama e faço, outra vez, o gesto para que ele fique em silêncio, e o garotinho parece achar graça da situação, já que sorri e repete meu gesto, enquanto segura sua boneca com o rosto manchado de vermelho, contra seu corpo deitado.
  Mais algum tempo, talvez uns dois minutos depois, a porta do quarto é aberta, e tudo que posso ver é um par de sapatos escuros e elegantes, entrarem. A porta é fechada e o silêncio engloba cada parte do quarto.
  Hyun ameaça soltar uma risadinha, e por reflexo do nervosismo, passo meu braço direito ao redor de seu corpo, tapando sua boca, tentando os deixar como estátuas.
  Os sapatos elegantes param no centro do quarto, virados para a esquerda. Outra vez o silêncio. Agora os sapatos caminham para perto da cama, parando na lateral da esquerda, com as pontas para debaixo da cama.
  Aperto meus dedos contra a boca de Hyun e tento afastar nossos corpos de modo silencioso.
  A cama se mexe, algo perece ser pego de cima dela, mesmo que eu não me lembre de ter visto nada. E isso permanece por alguns segundos, que para mim não pareciam acabar nunca. Por fim, a cama para de se mexer, e os sapatos elegantes se afastam, indo até à porta que é aberta, outra vez, levando embora o dono dos passos.
  Respiro aliviada quando estou sozinha com Hyun e retiro minha mão de sua boca.
  – Vamos esperar um pouquinho. – Sussurro para o garotinho, que assente, sorrindo.
  Com certeza, para ele, não é nada demais, talvez algo similar a uma brincadeira. Mas para mim se tratava de um esconde-esconde, onde eu não poderia ser achada.
  Hyun e eu ficamos debaixo da cama até que todo e qualquer barulho que viesse do lado de fora, sumisse. E assim, nós saímos debaixo da cama.
  – Vamos sair rápido. – Estendo minha mão para Hyun, que aceita de bom grado.
  Ainda me sentindo nervosa, caminho para fora do quarto com Hyun. E assim que abro a porta, sinto como se um ar muito forte passasse por nós, me levando diretamente para a parede ao lado da porta.
  – O que eu disse sobre entrar no quarto dos outros sem ser convidada? – Com o rosto tão próximo do meu quanto eu gostaria, Taehyung pergunta entre os dentes.
  Suas mãos estavam uma em cada lado da minha cabeça, contra a parede. Me fazendo apertar minhas mãos nervosas sobre finos ombros de Hyun, que acabou parando entre nós dois durante o pequeno tumulto.
  – Eu trouxe ela, Tae. – Hyun responde por mim, me fazendo encará-lo para ver seus enormes olhos com longos cílios, nos observando com atenção e curiosidade.
  – Você sabe que eu não gosto disso, Hyun. – Taehyung diz para o garotinho, mesmo que mantenha seus olhos contra os meus, causando arrepios em meu corpo, de maneira ruim. Algo comum quando estou perto dele.
  – Desculpa, Tae. – A voz de Hyun soa tranquila e calma. Acho que ele não percebe o que fez, de qualquer forma, ele é uma criança.
  Taehyung corre seus olhos lentamente por cada parte do meu rosto, observando-me de um jeito que parecia arrancar um pouco de toda a minha coragem inexistente.
  – Se você queria tanto conhecer o meu quarto, deveria ter pedido pra mim e não para o Hyun. – Ele estreita os olhos e abaixa seu tom de voz, se afastando e deixando que eu saísse.
  Ainda me recuperando da “surpresa” que tive, o encaro com um pouco de espanto, antes de puxar Hyun e sair pelo correr quase correndo.
  Respirando fundo inúmeras vezes, descendo as escadas que ficavam do lado esquerdo, sentindo que os grandes olhos de Hyun me acompanhavam. Ele provavelmente não pôde entender as coisas e eu nem sei como explicar, então é melhor deixarmos assim.
  Uma onda de alívio relaxa meu corpo quando chegamos no primeiro andar, longe o suficiente daquele quarto.
  Escuto algumas conversas altas vindas da grande porta ao meio das duas escadas para o segundo andar. Nunca passei além delas, mas todos parecem estarem lá, por isso, vou com Hyun até o barulho e empurro a porta dupla até que ela se abra, revelando um caminho reto e dois corredores, um para cada lado. Hyun aponta para frente, e assim seguimos reto até darmos em uma enorme sala de jantar clara com um brilhante lustre preso no teto.
  Todas as conversam param assim que chegamos e, em vez de bom dia, somos recebidos por feições de espanto e pelo silêncio. Todos que estavam ocupando um lugar ao redor da mesa, nos encaram por segundos, até que eu percebesse que Hyun e eu não éramos os alvos, e sim alguma coisa atrás de nós.
  Me sentindo estranhamente nervosa de novo, olho sobre meus ombros, encontrando Taehyung parado atrás de nós, com suas mãos enfiadas nos bolsos e sua expressão pouco interessada.
  Como ele apareceu assim? Eu não o escutei. Por acaso ele é um fantasma?
  – Você trouxe ele? – Blarie pergunta.
  Todos me encaram, esperando por minha resposta, que vem em um aceno negativo de cabeça.
  Jimin é o primeiro e quebrar a tensão, se levantando com um grande sorriso no rosto e indicando a cadeira vazia ao seu lado.
  – Tae, que bom que resolveu se juntar com a gente. Senta aqui do meu lado. – Jimin arrasta a cadeira para trás, olhando com expectativa para Taehyung, que passa por mim forma tranquila e se senta ao lado de Jimin.
  – Vem, Elena. Você pode sentar comigo. – Hoseok quase grita, me trazendo para a realidade.
  Ainda segurando a mão de Hyun, me sento ao lado do garoto sorridente e energético.
  – Deixe ela tomar café sozinha, Hyun. Vem aqui comigo. – Jin faz um gesto de mão para que Hyun se aproxime dele. E segurando sua boneca, ele corre até seu irmão mais velho, que estava sentado na cadeira central, geralmente onde um pai costuma sentar, o lugar mais importante, talvez.
  – Bom dia. – Hoseok se inclina em minha direção com seu sorriso.
  – Bom dia, Hoseok. – Sorrio fechado.
  – Você está sério, o que foi? – Blarie, que estava sentada do outro lado de Hoseok, inclina sua cabeça para frente, para poder me enxergar.
  – Não é nada, eu estou bem. – Forço outro sorriso e olho para frente, desejando não ter feito isso. Já que, devido a nossa chegada tardia, Taehyung estava sentado de frente para mim, com aqueles olhos carregados sobre mim.
  – Dormiu bem? Se sente melhor hoje? – Jimin sorri, apoiando seus cotovelos sobre a mesa, entrelaçando as mãos e apoiando o rosto sobre as mãos.
  – Sim. – Tento soar normal para que ninguém desconfie.
  – Você deveria sair mais vezes, Taehyung. É um desperdício um rosto tão bonito ficar tanto tempo escondido naquele quarto. – Blarie diz e Taehyung a encara desinteressado.
  – Você por acaso é um morcego? – Yoongi, que estava sentado perto do lado direito de Jin, pergunta, enquanto pega uma das torradas espalhadas entre inúmeras comidas distribuídas pela mesa longa e forrada com uma limpa toalha branca.
  – Provavelmente, ele é. – Jungkook, que estava ao lado de Jimin, entra na conversa. – Ele só sai de noite.
  – Ele sai, é? – Namjoon, ao lado esquerdo de Jin, pergunta, arqueando as sobrancelhas. – E sai pra fazer o quê?
  – Não sei. – Jungkook dá de ombros. – Tentei seguir ele uma vez, mas ele descobriu.
  – Deixem ele em paz. – Jimin repreende, enquanto força uma expressão séria. – O importante é que você está aqui. – Ele coloca uma de suas mãos sobre o ombro de Taehyung e sorri.
  Taehyung olha para Jimin, e assente, quase que imperceptivelmente.
  – Isso é muito bom, na verdade. Assim você pode me ajudar nos negócios da família, você sabe que precisa fazer isso. – Jin aponta uma faca suja de geleia em direção a Taehyung. Ele havia acabado de preparar algumas torradas para Hyun.
  – Não quero falar sobre coisas chatas. – Hoseok resmunga, ao meu lado, contorcendo o rosto em uma careta.
  – O que vocês vão fazer hoje? – Namjoon pergunta para Jimin.
  – Estava pensando em levar a Elena em um passeio.
  – Eu vou. – Hoseok se voluntaria, animadamente
  – Eu também. – Blarie levanta sua mão, enquanto leva um pedaço de pão até a boca.
  Taehyung volta a me encarar, sem se importar em ser discreto, o que me deixa desconfortável. Seu rosto na luz do dia se tornava ainda mais intimidante, assim como sua beleza, que chegava a ser algo estúpido.
  Percebendo que mantive contato visual demais com Taehyung, e que os demais estavam percebendo, eu pigarreio e assinto para Jimin, em concordância ao seu passeio.
  – Posso ir também? – Hyun pergunta, sentado no colo de Jin.
  – Não. – Yoongi responde seu irmão mais novo, que o encara com aborrecimento. – Você não foi convidado, pirralho.
  – Mas eu quero ficar com a Elena. – Hyun olha para Jin, completamente frustrado.
  – Deixe a Elena sair, e quando ela voltar, pode passar um tempo com você, não é mesmo? – Jin me olha e Hyun também.
  Os grandes olhos do garotinho, brilhavam de expectativa e eu não podia negar.
  – Claro. Quando eu voltar, vou ficar com você. – Sorrio para Hyun, que parece mais animado agora.
  Depois de um café da manhã muito agitado e regado a olhares de Taehyung, Jimin, eu, Blarie e Hoseok saímos no começo da manhã.
  Nós quatro pegamos um caminho diferente, era um dos lados da entrada que tinha quando se encontrava no caminho de arbustos que dava para a mansão. E, desta vez, em vez de seguirmos reto, entramos à direita, que também era um caminho composto por arbustos.
  O dia não era ensolarado, mas não era preciso um casaco. O vento às vezes era um pouco gelado, porém rápido e passageiro, nada que chegasse a ser incômodo. E debaixo do céu cinza, nós passamos pelo novo caminho de arbustos, que deu direto em um grande espaço aberto com pequenos morros verdes, tendo grande parte da floresta ao fundo. Era, de fato, uma bela vista.
  Em fila, começamos a andar entre os pequenos morros, sobre um caminho estreito de terra seca. O vento passou por cada um de nossos corpos e andamos no silêncio por longos minutos, até que chegássemos no que parecia um pequeno vilarejo montado, com pessoas andando de um lado para o outro. Uma música suave e instrumental emanava pela parte plana e cercada pelos pequenos morros, onde alguns carregavam caixotes para um lado, enquanto outros empurravam jaulas vazias para o outro lado.
  – Você pode pegar o que quiser, tudo isso é da nossa família, então não se preocupe. – Jimin me olha sobre seu ombro rapidamente, antes de voltar sua atenção para frente.
  Nós quatro andamos no meio de barracas de madeiras montadas, com pessoas vendendo todo tipo de comida. Alguns casais sozinhos ou com filhos estavam por todas as partes em frente às barracas.
  Uma pequena nuvem de vapor sobrevoava as barracas, levando com ela o cheiro de tudo que era vendido. Todos por quem passávamos cumprimentavam Jimin e Hoseok com muito respeito, e até algumas informações sobre como estavam os andamentos dos negócios, eles receberam.
  E depois de insistirem que eu experimentasse uma bebida de groselha-vermelha bem doce, nós atravessamos todas as barracas, entrando no que parecia ser a área de descarga das mercadorias.
  Jaulas estavam por todo canto... com pessoas dentro delas. Homens e mulheres usando roupas finas que pareciam ser feitas de peles de animais. Eles se contorciam dentro das jaulas, olhando atentamente para todos que passavam.
  – O que é isso? – Pergunto, agarrando na barra da blusa branca de Jimin, enquanto olho para um senhor dentro de uma das jaulas.
  Sua longa barba branca, tocava o chão devido a sua posição. E seu olhos enrugados e fundos, me seguiam como falcões.
  – São atrações. – Jimin responde, com um grande sorriso no rosto. – Não se preocupe, ele está bem.
  – Atrações? – Olho para Jimin com espanto, e logo depois sinto Hoseok passar seu braço ao redor do meu pescoço.
  – Você está no Festival De Sangue. Nosso pai sempre costumava fazer essas festas para animar os funcionários. Nós caçamos e as pessoas presas nas jaulas representam nossa colheita. Elas também fazem parte disso, à noite são soltas para a comemoração dos funcionários. De dia qualquer pessoa pode visitar, mas de noite, a festa é deles. – Hoseok explica, enquanto aponta para algumas jaulas.
  – Então, tudo isso é uma encenação?
  – Isso aí. – Blarie aparece do lado contrário, trazendo um pequeno copo marrom em suas mãos, um igual ao que eu usei para tomar a bebida de groselha-vermelha.
  – É um pouco estranho, não? – Intercalo meu olhar entre os três, me sentindo desconfiada. Algo dentro de mim parecia acender como um alarme vermelho de perigo.
  – Essas são tradições muito antigas, por isso, você acha estranho, mas com o tempo acostuma. Foi o mesmo pra nós. – Jimin gargalha de minha expressão, pedindo que continuamos nossa caminhada.
  Olho uma última vez para o senhor enjaulado, que segurava nas barras grossas e sustentava seu olhar ao meu.
  Com o braço ainda ao redor do meu pescoço, Hoseok me puxa sutilmente para frente, para que acompanhássemos Jimin e Blarie.
  Depois de nosso passeio pelo tal Festival De Sangue, nós entramos no caminho de volta para a mansão. E eu ainda me sentia inquieta quando tive a ideia de diminuir a velocidade de meus passos, deixando que os três passassem na minha frente. E, de modo sutil, retirei o colar de aíma que estava no me bolso, o vendo cintilar como uma estrela no céu. Olhei da pedra vermelha para os três de costas para mim, e depois guardei o colar de volta no meu bolso, sem que eles percebessem.

***

  Perdemos uma tarde toda neste passeio que Jimin planejou, e me sinto cansada agora, e por esse motivo foi que eu disse para os três que me acompanharam, que ficaria um pouco sozinha no jardim, apreciando as inúmeras tulipas-negras espalhadas. Mas a verdade é que, eu apenas precisava tomar um tempo para mim, antes de entrar naquela mansão e continuar com tudo.
  Encarando o começo da noite no meio desse imenso jardim rodeado pelo vento gelado, eu fui capaz de compreender que há algo muito errado com esses irmãos. E talvez eu não seja a melhor pessoa para descobrir isso. Por que eu deveria me meter nos problemas de outra família? Eu não sou enxerida e não gosto desse tipo de coisa, mas de uma forma ou de outra, eu sempre acabo nesse lugar.
  Eu tive um encontro comigo mesma, e agora sei que tudo vai além do que eu posso compreender. De alguma forma, sinto que toda a estranheza dessa família acaba se interligando comigo, e talvez esse seja o motivo que eu encontre para continuar com toda essa loucura.
  Eu conheci pessoas novas, e posso dizer que tenho um bom novo amigo como Jimin, mas quando paro para pensar em cada palavra daquele sonho que tive, me sinto receosa de estar perto dele. Essa sensação correndo por mim, algo extremamente desconfortável que me diz que eu não posso ser tão ingênua de agora em diante. Então eu penso se serei capaz de ir até o final com isso, se serei capaz de guardar tudo para mim até que eu descubra a verdade.
  Com um alto e longo suspiro, encerro todos os meus devaneios, e com o vento bagunçando os meus cabelos, sigo até a porta de entrada da mansão. Com um pouco de esforço, empurro a madeira pesada para dentro, entrando no hall enquanto caminho observando os quadros antigos pendurados na parede; outra coisa estranha, ancestrais exatamente iguais aos irmãos?
  Desvio meu olhar do último quadro quando saio do hall, a tempo de ver a porta dupla entre as escadas ser aberta por Taehyung, que logo me encontra. A porta dupla se fecha atrás dele, que mantém seus olhos em minha direção. E sentindo que sou incapaz de continuar com isso, apresso meus passos até a escada do lado direito, escutando muito bem quando Taehyung alcança a escada do lado esquerdo.
  Encolho meus ombros no lugar e seguro no corrimão dourado, escutando os meus passos acompanharem os de Taehyung por cada degrau que subíamos. De rabo de olho, tento espiar sua imagem do outro lado, percebendo que ele não se importava com a minha presença. Seu rosto estava de perfil e seu olhar era baixo, como se estivesse cansado e entediado. Seus cabelos lisos com alguns fios sobre os olhos, acompanhavam o movimento de seu corpo que subia a escada, assim como o brinco longo perdurado em sua orelha.
  Já no topo do segundo andar, entro no corredor oposto ao de Taehyung e caminho até a porta do quarto em que estou. Paro em frente à madeira em tom de vinho-escuro e seguro na maçaneta dourada, sentindo o meu interior nervoso apenas com a pequena aparição de Taehyung.
  Fica parada por alguns segundos no lugar e não consigo conter essa agitação dentro de mim, e acabo espiando Taehyung outra vez, apenas para vê-lo me encarando do outro lado do corredor.
  Meu coração dá um salto dentro de meu peito, e por impulso do meu nervosismo, abro a porta do quarto, entrando rapidamente. Encosto meu corpo contra a porta, e tateio pela parede atrás do interruptor, e assim que as luzes clareiam o quarto, posso ver Hyun sentado na ponta da cama de lençóis vermelhos, agarrado a um travesseiro que parecia ser do seu tamanho.
  – Eu tava esperando você. – Hyun diz, com os olhos grandes em minha direção.
  Me acalmo e assinto para o garotinho.
  – Eu posso dormir aqui hoje? – Ele balança seus pés que não tocavam o chão, no ar.
  – Isso não seria um problema? – Me desencosto da cama e caminho até ele, que nega com a cabeça, freneticamente.
  Suspiro.
  – Tudo bem.

Capítulo 10
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