Drácus Dementer: Lycanthrope


Escrita porHels
Revisada por Natashia Kitamura


Capítulo 6

Tempo estimado de leitura: 13 minutos

  Sinto algo pesado rolando sobre o meu braço, resmungo baixo de dor quando meu machucado lateja e abro os olhos, encontrando um amontoado laranja cobrindo cada parte da minha visão em um grande bolo de fios emaranhados. Suspiro, empurrando com cuidado o corpo desacordado de Lilu. Sua expressão serena não se desfez e seus olhos fechados permaneceram do mesmo jeito. Me sento, vendo Wendy deitada nos pés da cama, de maneira atravessada. Ontem de noite, depois de toda confusão e de fazer um curativo novo no meu machucado, essas duas decidiram que ficariam aqui me vigiando como se eu fosse uma criancinha em perigo.
  Silenciosa, saio da cama, sentindo um pequeno arrepio quando meus pés quentes tocam o chão gelado do quarto. Meu corpo inteiro estava suado, e a nova camisola que coloquei parecia tão molhada quanto quando a vesti sem me secar, na noite anterior. Eu me sentia pegajosa e até mesmo os meus cabelos estavam úmidos pelo suor. Antes de tomar um banho, vou atrás do meu celular, vendo que ainda eram cinco e dez da madrugada, e os primeiros raios de sol ameaçavam apontar no horizonte que espiei através das portas de vidro da sacada. Sem pretensão de acordar as garotas, e percebendo que estava sem sono, pego algumas roupas limpas e vou para o banheiro. Depois de retirar minha camisola molhada de suor, retiro o curativo que Wendy havia feito sobre meu machucado. A coloração avermelhada ao redor dos quatro cortes era ainda mais intensa que antes, e não sei se é apenas uma impressão minha, mas parece um pouco inchado também, com alguns filetes de sangue ainda manchando os gazes e a atadura.
  Foi um banho rápido e difícil, tentei limpar e lavar o machucado, mas doía tanto que quase desisti. Estava realmente feio e doloroso. Quando finalmente consegui me vestir e fazer um novo curativo, fui para frente do espelho tentar me arrumar, acabando por me surpreender com minha própria aparência: a minha pele estava sem cor, como uma doente, os meus olhos estavam um pouco fundos, e até mesmo a cor dos meus cabelos parecia opaca nesse momento. Talvez, depois que eu comer um pouco, eu me sinta e pareça um melhor. Eu deveria fazer isso, mas ainda está bem cedo, não sei qual o horário que um vampiro costuma acordar.
  Acabei decidindo dar uma volta no castelo para ver se alguém estava acordado, e se não estivesse, então eu tomaria apenas um pouco de ar do lado de fora, acho que ajudaria também. Depois de sair do meu quarto, comecei a descer todos os lances de escadas até o primeiro andar e, para minha surpresa, após perambular um pouco, acabei por encontrar uma enorme sala de estar, onde Jimin estava sozinho sob o gigantesco sofá escuro. Sentado no estofado, ele tinha as mãos apoiadas nos joelhos, enquanto encara a lareira desligada, ao fundo. A blusa de mangas longas que ele usava, estava dobrada até os cotovelos, e eu podia enxergar pequenos pontos vermelhos nas mangas.
  Seu momento sozinho dura pouco, pois ele logo sente a minha presença, virando apenas sua cabeça e me encarando sobre os ombros e sobre o sofá. Seus olhos se abrem mais, levemente, e ele fica me encarando por alguns segundos antes de se levantar e sair de perto do sofá.
  – Elena, como você está? Soube o que aconteceu, queria ter ido te ver ontem, mas achei melhor não. – Sua voz era incerta, assim como seus passos até onde eu estava.
  Jimin coloca uma das mãos atrás da cabeça, coçando seus cabelos de maneira nervosa.
  – Não se preocupe. – Forço um sorriso fechado, que não o deixa mais confortável dentro desse clima estranho.
  Seus olhos pequenos olham para os lados, como se buscasse coragem para continuar.
  – Hum... Elena... – Ele respira fundo, e volta a me encarar. – Eu só queria me desculpar por aquela briga. Você pode não acreditar, mas eu realmente te considero uma amiga. É verdade que no começo tudo não passou de interesse por você ser uma Van Helsing, mas, depois, tudo foi verdadeiro e eu apreciava mesmo a amizade que construímos.
  Tenho vontade de desviar o meu olhar do seu, mas ele parece tão verdadeiro agora que chega a me incomodar. Mas, eu nunca devo me esquecer de tudo que a igreja me ensinou sobre os vampiros serem criaturas manipuladoras. Como uma humana poderia ser amiga de um vampiro? É o mesmo que pedir que um leão e um coelho convivam em paz e harmonia. Eles se alimentam de nós, por isso, não sei se é possível criar esse tipo de relacionamento. Confesso que por muito tempo (durante os quatro anos), eu desejei que isso fosse diferente, mas todos ao meu redor me mostraram que não seria assim.
  Sem uma resposta descente para isso, apenas forço mais um sorriso e assinto. Eu até consegui notar uma pontada de desapontamento no fundo dos seus olhos, mas decidi ignorar.
  – Ontem, no meio daquela confusão toda, o Taehyung pediu pra levarem aquele homem estranho para o calabouço, eu acho. O que aconteceu com ele? – Acabo por mudar de assunto, pois dessa forma seria melhor.
  Jimin suspira pela segunda vez.
  – Ele passou a madrugada toda no calabouço. Nós estamos tentando descobrir o motivo da invasão, mas ele não diz nada. – Jimin coloca as mãos na cintura, encarando o chão de maneira cansada.
  Outra vez, fito as mangas da sua blusa, observando os respingos de sangue e imaginando os métodos que eles usaram para fazer o homem-lobo falar.
  – Então, eles ainda estão no calabouço? – Pergunto.
  – Sim.
  – Você pode me levar lá?
  Ele me encara de novo, um pouco surpreso, mas assente.
  Eu tenho tanto interesse nesse lobo quanto os irmãos, afinal, foi a mim que ele machucou e depois tentou matar. Preciso descobrir se os seus motivos para isso, são os que o Padre Albert deduziu.
  Jimin nos conduz para fora da sala de estar, e voltamos para o espaço aberto, depois seguimos pelo mesmo caminho que fiz na noite em que reencontrei Taehyung e, desta vez, consigo passar pela abertura escura que Yoongi passou naquela noite. Andando reto no escuro e virando à esquerda, acabamos em um corredor de pedra inteiramente iluminado por tochas presas nas paredes, não havia portas e nem janelas, só as tochas.
  Eu conhecia muito bem esse caminho, era o mesmo que Lilu me mostrou quando me levou até à sala de rituais e aquela outra sala secreta que, agora, julgo ser o calabouço.
  – Taehyung já estava desconfiado que alguém estava perambulando pelo castelo, mas nunca conseguiu ver nada até ontem. Nós só não entendemos como essa invasão aconteceu. – Jimin comenta ao meu lado, enquanto atravessamos o corredor de pedra.
  – Nem eu. Nós estávamos no castelo do Drácula e ele foi o último a saber. – Confesso, fazendo Jimin suspira de novo.
  – É. Algo de muito estranho deve estar envolvido nessa invasão. – Jimin diz e eu assinto, realmente concordando com isso.
  Em silêncio, traçamos o resto do caminho, indo para a sala de rituais e depois para a sala secreta, ou calabouço, que foi aberto assim que Jimin puxou um dos tijolos da parede, revelando o real intuito desse lugar.
  Preso em uma das correntes acopladas na parede, estava o homem-lobo, que tinha os olhos apertados, o corpo suado, sujo de sangue e machucado. Os seus cabelos loiros grudavam em sua testa por conta do suor, e suas roupas estavam rasgadas em várias partes. A respiração era alta, fazendo seu tronco subir e descer rapidamente. Ele estava deplorável, nada parecido com o lobo arisco da noite passada.
  Agora, com a chegada de Jimin, todos os irmãos, sem exceção, estavam no calabouço. Ambos em torno do homem-lobo, em um semicírculo, com suas mãos e algumas partes das roupas sujas de sangue também, mas, no caso deles, eu sabia que o sangue não os pertencia.
  Taehyung é o primeiro a nos encarar e, assim como ele, todos os irmãos não tinham feições amigáveis. Pelo visto, foi uma longa madrugada dentro desse calabouço. O homem-lobo é o último a nos encarar, erguendo sua cabeça com dificuldade, enquanto uma linha fina de sangue misturada a saliva, escorria de sua boca. Um horripilante e nojento sorriso se abre em seus lábios machucados quando ele me vê.
  – Vejam só, se não é digníssima futura esposa do Conde Drácula. – Sua voz carregada de desdém era falha, e ele tossia algumas vezes devido aos seus ferimentos.
  Em silêncio, e com todos os olhares voltados em minha direção, caminho para perto de Taehyung.
  – Descobriu alguma coisa? – Cruzo os braços, sentindo o ar gelado do calabouço.
  – Não. – Assim como seu olhar, a voz de Taehyung também era séria.
  – Se você quer saber alguma coisa, deveria me perguntar, bela caçadora. – O homem-lobo tenta rir, mas acaba em mais uma sessão de tosses que o faz cuspir o próprio sangue, do qual ele mira no sapato de Yoongi, que estava mais perto.
  O olhar de Yoongi se torna ainda mais carregado antes dele acertar um soco na barriga do homem-lobo, que geme e se encolhe nas correntes, cuspindo mais sangue.
  Por mais que seja uma cena violenta e esse calabouço mal iluminado esteja coberto por sangue, não me deixo impressionar. Em meus quatro anos atuando como um dos Filhos Da Sombra, aprendi a "conviver" com esse tipo de coisa.
  Passo a língua sobre meus lábios, que estavam secos, antes de dar alguns passos para frente, me aproximando do homem-lobo que ainda gemia de dor.
  – O que você veio fazer aqui? – Pergunto, sentindo, outra vez, todos me encararem.
  Espero em silêncio até que o homem-lobo lide com sua dor e me olhe. Ele pisca os olhos algumas vezes, antes de tentar sorrir, querendo continuar com a sua arrogância.
  – Não importa o que vocês façam comigo. Tudo já começou e não há como desfazer o que está prestes a acontecer. Eu só precisava dar o recado. – Ele diz, em meio a sua respiração alta que começava a fazer um baixo chiado.
  – Que recado? – Pergunto, sentindo meu corpo ficar tenso.
  – O falso Drácula deve morrer. – Mantendo seu sorriso nojento, seus olhos desviam dos meus, e mesmo sem olhar, sei que ele encara Taehyung, que deve estar se controlando para não arrancar a cabeça desse homem.
  Todos no calabouço ficam em silêncio. E mais uma risada do homem-lobo preenche o ambiente gelado.
  – Sabe qual um dos pratos preferidos de um lobo, bela caçadora? – Ele volta a me encarar e, desta vez, de uma maneira tão sinistra que quase me deixo intimidar.
  Sem dizer nada, apenas nego com a cabeça, esperando por sua resposta.
  – Um carneirinho pequeno e bonito como você. – Ele abre mais seu sorriso, o deixando largo, me mostrando suas presas, antes de impulsionar seu compro para frente nas correntes, tentando me acertar com uma mordida.
  Rapidamente, Jungkook passa um dos seus braços ao redor da minha cintura e me puxa para trás, longe do homem-lobo. Com uma velocidade que só os vampiros têm, Taehyung empurra o corpo dele contra a parede, o segurando pelo pescoço.
  – Tente fazer isso mais uma vez, e eu arranco sua pele e faço um lindo tapete, vira-lata. – Taehyung ameaça bem perto do rosto do homem-lobo, só o soltando quando Namjoon toca em seu braço como um sinal de alerta.
  Ainda atordoada com o que aconteceu, encaro Jungkook, que entende o meu olhar e me solta.
  – Obrigada. – Agradeço, ao pensar que podia ter sido machucada. Eu não sei o que aconteceu e por que não me mexi ou agi como deveria.
  Com um olhar sério, Jungkook não responde, só assente.
  – Você está bem? Não se feriu, não é? – Jimin me vira tão rápido pelos ombros que quase me sinto tonta.
  Seus olhos preocupados encaram todo meu corpo.
  – Ele não me acertou, eu estou bem.
  Jimin fecha os olhos por uns dois segundos, e respira profundamente, largando os meus ombros.
  – Alguém fique aqui o vigiando. Os outros, venham comigo. – Jin dá sua ordem em um tom tão sério, que ninguém é capaz de contestar.
  Com os olhos fervilhando de irritação, Yoongi permanece no calabouço e Jungkook também, que logo pega um dos muitos instrumentos de tortura espalhados pelo lugar. E assim que saímos, poucos segundos depois que a parede de tijolos foi fechada, os gritos desesperados do homem-lobo preencheram a sala de rituais, onde estávamos agora.
  Parada entre Jimin e Taehyung, encaro Jin, esperando que ele diga alguma coisa. Namjoon e Hoseok estavam do lado dele, tão sérios quanto.
  – Taehyung, você precisa conversar com todos os vampiros logo. Isso é uma reunião de emergência. Nós não sabemos o que os lobos querem com essa coisa de "falso Drácula", mas eles já conseguiram invadir o castelo sem que percebêssemos.
  – Jin está certo, Tae. Não é mais uma brincadeira entre vampiros e lobos, a coisa está séria. Eles machucaram a Elena. – Por mais que Namjoon tentasse manter o tom de sua voz calmo, era nítido a seriedade nos seus olhos.
  Fico em silêncio no meu canto, apenas os escutando e escutando os gritos do homem-lobo do calabouço.
  – Aproveite e apresente de uma vez a Elena para todo mundo, já está na hora de saberem. – Jin fala.
  – Se ele fizer isso, os vampiros podem se rebelar contra a nossa família e a nossa posição. – Hoseok diz apreensivo.
  – Se isso acontecer, lidaremos com os rebeldes à moda antiga. Com uma estaca no coração e fogo, porque eu ainda sou o Drácula. – Todos ficam em silêncio, encarando Taehyung de maneira tensa.
  Os irmãos assentem, mostrando total respeito pela posição que Taehyung exerce sobre todos.
  Ainda sem dizer uma palavra, sinto o meu machucado pulsar, e levo a mão até o local, apertando com força de maneira involuntária, tentando amenizar a dor.
  – Elena, o que foi? Você está bem? – Jimin pergunta, quando cambaleio para o lado e me escoro levemente contra seu corpo.
  Fecho os olhos quando o machucado pulsa mais uma vez, e quando volto a abri-los, minha visão embaça de uma vez, me fazendo enxergar borrões. Me seguro em Jimin quando minhas pernas falham, apertando com força o tecido de sua blusa. Penso que posso cair a qualquer momento, mas sinto braços me rodearem, me pegando no colo. Solto a blusa de Jimin quando quem me segura, começa a andar para longe dele. Meu corpo se torna mais leve, e meus braços e cabeça pendem para baixar, no exato momento em que eu desmaio.

Capítulo 6
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