Capítulo 5.2 • Parte II
Tempo estimado de leitura: 8 minutos
Respiro fundo e abro os olhos, encarando o dossel rosa. Tudo que aconteceu me atinge de uma vez, e me sento apressada sobre a cama, vendo meu quarto vazio e silencioso; a porta do banheiro estava fechada, e a da sacada aberta, revelando a noite do lado de fora.
Apreensiva, saio com cuidado da cama e vou até o guarda-roupa, abrindo-o e vasculhando pelas minhas armas. Pego o primeiro revólver que encontro e o destravo.
Os meus ouvidos captam sons baixos de passos, me fazendo virar em direção ao barulho.
– Inferno! Eu podia ter atirado em você, sabia. – Grito, irritada com essa mania de Taehyung de aparecer nos lugares como um fantasma. Ele estava parado na saída da sacada para entrada do quarto.
Que o Senhor perdoe minhas palavras.
– Você está melhor? – Lentamente ele se aproxima, tendo o vento que vinha da sacada aberta, balançando sua roupa preta e cabelos esbranquiçados.
– Sim, me sinto melhor. Eu dormi por muito tempo?
– Não muito. – Ele para na minha frente e coloca as mãos dentro dos bolsos. – Você pode guardar isso de novo. – Ele aponta com a cabeça para o revólver que eu segurava.
– Por que eu guardaria? – Esse maldito machucado que arde para um inferno, está me deixando de muito mau humor.
– Eu estou aqui agora, Elena. – Taehyung diz, sério.
– E eu não estou pedindo pra você me proteger. Eu posso fazer isso sozinha. – Devolvo o olhar sério, mas ele não se intimida.
– Não te mova. Amarro-te agora, immunda spiritus! – A voz de Wendy grita do lado de fora do quarto, me fazendo encarar com surpresa a porta fechada.
Corro até ela, abrindo-a de supetão para ver Wendy parada no meio do corredor. Lilu estava bem ao lado dela, com os olhos atentos e mal-encarados.
Ela me olha assim que me percebe.
– Situação crítica?
– Situação crítica. – Lilu apontando as duas pistolas que segurava, uma em cada mão, para frente.
Taehyung surge atrás de mim assim que um rosnado preenche o corredor. E vinha do homem suspenso no ar. Seus olhos cor de âmbar estavam cheios de fúria, enquanto ele mostrava as longas presas como se fosse um animal selvagem. Seus pés não tocavam o chão, e seus braços estavam presos contra o próprio corpo, e sua cabeça era a única coisa que ele conseguia mexer.
– Queime no inferno! – Wendy grita, com a mão estendida, fazendo todos escutarmos um barulho estranho de ossos estalando ao mesmo tempo, em que o homem de olhos amarelos, ruge como uma fera.
Taehyung empurra sutilmente meu corpo para o lado e sai do quarto, indo até o homem, do qual ele segura pelo pescoço, apertando-o.
– O que você está fazendo no meu castelo? – Taehyung pergunta de uma maneira totalmente intimidante, enquanto o homem tenta se livrar do que o sufocava.
Percebendo que o homem não conseguia falar devido à força que Taehyung usava para apertar seu pescoço, ele o solta, fazendo seu corpo cair no chão. O homem tosse um pouco, e seu cabelo loiro balança junto com sua respiração alta.
– Aproveite seu reinado enquanto pode, porque logo você vai morrer, falso Drácula. – O homem sorri com desprezo para Taehyung, antes de tentar correr para o final do corredor, sendo impedido por Hoseok, que surge como em um passe de mágica.
– Vai a algum lugar? – Hoseok sorri para o homem, que para abruptamente e se vira, percebendo estar em uma encruzilhada.
Ele franze o rosto e mostra seus dentes outra vez.
– Você! – Lilu grita e encara Hoseok.
– Isso não é uma boa hora pra perguntar. Mas vocês se conhecem? – Wendy fita Lilu de forma tensa.
– Ela tentou me matar na mansão em Upiór, na lua de sangue, não é mesmo, bonitinha? – Hoseok sorri para Lilu, que aponta suas armas para ele.
– Lilu, essa não uma boa hora. – Entro no corredor, a encarando apreensiva.
Irritada, Lilu volta a apontar suas armas em direção ao homem de olhos amarelos, que tenta se aproveitar da situação para fugir pelo lado aposto. Pulando na parede como as pernas e mãos, igual a um cachorro, para se desviar de Taehyung e tentar entrar no meu quarto.
Lilu atira em direção ao homem, mas ele desvia, então ela salta para cima dele, o prendendo em um Hadaka Jime, enquanto encosta uma arma na cabeça dele.
– Quietinho agora, lobinho. – Lilu força seu braço quando o homem começa a se debater.
– Vocês acham que me pegaram?! Eu não estou sozinho, seus idiotas! Tem muito mais! Nós vamos acabar com vocês! – O homem começa a rir de força descontrolada, tentando se livrar do braço e da arma de Lilu.
– Acho que não. Essa não é a sua noite de sorte.
Olho na direção contrária, vendo Yoongi e Namjoon parados perto de Taehyung.
Yoongi segurava pelos cabelos, uma cabeça ensanguentada, que ele joga em direção ao homem.
– Diga oi para o seu amiguinho.
Os olhos do homem se arregalam, e ele começa a se debater com mais força.
– O que aconteceu? – Calmamente, Taehyung se vira para Namjoon, que estava com as mãos sujas de sangue.
– Nós matamos a maioria. Jungkook, Jimin e Jin foram atrás dos que fugiram.
– Onde está a Blarie? – Yoongi pergunta, olhando ao redor.
– Com o Hyun. A Amia deve estar junto. – Hoseok responde, se aproximando deles.
– Rápido, Wendy, faz alguma coisa. Acho que ele comeu a ração hoje. – Lilu resmunga, e quando volto a encará-la, percebo que ela está com dificuldades em manter o homem preso.
Inundado por fúria, ele segura o pulso de Wendy, afastando a arma da sua cabeça. Tento correr para ajudá-la, mas um tiro é disparado em minha direção, acertando em cheio meu ombro. Meu corpo vai para trás pelo impacto e esbarra em alguém, e mesmo sem ver, consigo reconhecer o toque de Taehyung quando suas mãos rodeiam minha cintura.
– Elena! Eu não queria, a culpa foi dele! – Lilu grita, um pouco aflita.
Gemo de dor e me solto de Taehyung. Enfio dois dedos no buraco da bala e a puxo para fora, jogando o projetil no chão.
– Isso doeu pra valer. – Falo irritada, sentindo o sangue minar do buraco. – Isso realmente doeu! – Quase grito, erguendo meu revólver e disparando contra a cabeça do homem de olhos amarelos.
Lilu fica imóvel no lugar, segurando o homem desacordado nos braços, o encarando descrente.
– Isso foi muito nojento. – Ela joga o corpo mole no chão, e limpa seu rosto com respingos de sangue.
– Você está bem? – Wendy se aproxima, preocupada.
– Se com bem, você quer dizer com muita dor, então, sim, eu estou bem. – Coloco uma das minhas mãos sobre o ombro atingido, e começo a mexê-lo em movimento circulares.
– Você matou ele, Elena. Como vamos descobrir alguma coisa agora? – Lilu diz, se aproximando também.
– Se não é no coração, ele não morre. – Yoongi responde.
– Tirem ele daqui e levem para o calabouço. – Taehyung fala para seus irmãos, que assentem e vão em direção ao corpo desacordado do homem de olhos amarelos.
– O que vocês vão fazer? – Wendy pergunta para Taehyung.
– Uma pequena festinha quando ele acordar. – Taehyung sorri sórdido, antes de segurar minha mão e me puxar de volta para o quarto, sem se importar com os outros.
Ele fecha a porta, nos deixando sozinhos no meu quarto.
– O que é? – O encaro em meio a uma careta de dor.
– Você precisa descansar agora, e eu preciso ver esse machucado. – Ele fala calmamente. Sem perder a paciência em momento algum, mesmo tendo um lobisomem em seu castelo.
Por mais que eu saiba que esses irmãos conseguem se controlar bem perto do sangue humano, eu não vou deixá-lo examinar os meus machucados. Já corri riscos demais por um dia.
– Eu sou uma Van Helsing, Taehyung, não vou morrer. – Caminho até à cama e jogo meu revólver no colchão, antes de me sentar nele.
– Nem pense que vai ficar sozinho com ela, bonitão. – Lilu chuta a porta e entra no quarto. – A cavalaria chegou. – Ela vem e se senta do meu lado, me abraçando como tem mania, mas me afasto quando ela aperta os meus machucados.
– Se um dia eu morrer, a culpa é sua. – Resmungo no meio de um suspiro de dor. – E a Wendy?
– Foi pegar você sabe o quê no quarto da Sally. – Lilu sussurra para mim, como se Taehyung não pudesse escutar isso.
– Você deveria passar a noite no meu quarto, Elena. – Taehyung se aproxima de nós duas.
– Sem convites imorais. Ela acabou de levar um tiro. – Lilu estende uma mão no ar, e me abraça com a outra, desta vez, com cuidado.
– Ela é minha noiva e eu estou tentando protegê-la. – Taehyung suspira.
– Não se preocupe. Eu vou cuidar muito bem da Eleninha. Agora xô! Vai embora, morceguinho. – Lilu faz um gesto com as mãos para que Taehyung saia do quarto.
Ele fica parado no mesmo lugar, me encarando.
– Eu estou bem, Taehyung. É sério... obrigada por isso. – Forço um mínimo sorriso fechado, que não era falso, e isso o tranquiliza.
Taehyung assente em silêncio e sai do quarto. Em alguns minutos, Wendy não demora ao trazer uma pasta de Erva-Laranja para o meu buraco de tiro, mesmo sabendo que amanhã eu já deveria estar curada disso. Na realidade, esses machucados não são minhas preocupações no momento, e sim, o que aquele homem disse.
