Drácus Dementer: Lycanthrope


Escrita porHels
Revisada por Natashia Kitamura


Capítulo 5 • Parte I

Tempo estimado de leitura: 22 minutos

  Sinto um incômodo no meu braço esquerdo, e contorço meu rosto por isso. Uma pontada ardida vibra em meu braço e sinto o local latejar. Com o rosto ainda contorcido, abro os olhos, vendo o dossel rosa pendurado no teto. Mais uma ponta no meu braço esquerdo, e sou obrigada a me levantar, apoiando o peso do meu corpo nos cotovelos, mas, basta fazer isso para que a dor fique ainda maior. Encaro meu braço esquerdo, ainda coberto pelo lençol branco da cama, vendo uma grande mancha vermelha, e eu reconhecia muito bem esse cheiro, era sangue. Rapidamente, empurro o lençol para baixo, vendo, agora, em meu corpo descoberto, quatro grandes cortes em meu braço esquerdo. Com cuidado, toco o machucado com a ponta dos dedos, os afastando depressa, pois o simples e leve toque fazia doer mais.
  Quatro riscos grossos e fundos na minha pele, que pareciam ser feitos por unhas bem afiadas. A carne vermelha estava sangrenta e exposta, e toda a pele ao redor dos cortes, estava com uma coloração avermelhada.
  Apressada, me levanto da cama e saio correndo do meu quarto, indo direto para o quarto de Wendy. Abro a porta com exaspero e corro até à cama onde minha irmã dormia.
  – Wendy, acorda! – De joelhos na cama, começo a chacoalhar seu corpo.
  De maneira sonolenta, minha irmã abre os ombros. E deitada de lado e de costas para mim, ela me fita sobre os ombros com apenas um dos olhos abertos.
  – O que foi, Elena? – Ela pergunta com a voz rouca de sono.
  – Wendy, olha isso! – Viro meu braço em sua direção, e quando ela vê os cortes em meu braço, abre o outro olho e arregala os dois.
  – O que é isso? Como você se machucou? – Com os cabelos completamente despenteados e com uma expressão preocupada, Wendy estende sua mão para tocar meu machucado.
  – Não faz isso. – Desvio meu braço. – Não dá pra tocar, está doendo muito.
  Tentando acordar de uma vez, Wendy pisca os olhos várias vezes, olhando do meu machucado para o meu rosto.
  – Isso é o que eu estou pensando? – Wendy engole em seco.
  Assinto, tendo o mesmo tipo de sentimento que minha irmã.
  – Lobo. – Digo e, em seguida, sinto uma fisgada no machucado, me fazendo fechar os olhos e soltar um baixo gemido de dor.
  – Eleninha, vai se arrumar depressa. Vou acordar as meninas e todas nós vamos atrás do Padre Albert. – Com um olhar perturbado, Wendy me encara.
  Sem contestar, saio de sua cama e ela também. Volto para o meu quarto e faço o melhor que posso para me arrumar sem sentir muita dor. As garotas não demoram ao aparecerem no meu quarto, e Lilu parece ser a única admirada com meu machucado, e precisei brigar com ela pelo menos umas duas vezes para que ela não tocasse nos cortes.
  Por sorte, não encontramos muitas pessoas pelo caminho, apenas avisei Skull que precisava sair e, em silêncio, ele assentiu. Nós descemos a colina do castelo e fomos para centro da cidade, e lá pedimos um taxi que nos levaria até à saída da cidade, onde a base do Padre estava montada.

***

  Provavelmente uns cinquenta minutos dolorosos depois, o taxi finalmente estacionou no nosso ponto. Assim que pagamos o taxista, nós quatros seguimos pela beira de uma estrada de terra até que encontrássemos uma pequena cabana de madeira no meio do nada. Seria muito arriscado pedir que o taxista nos deixasse na porta da cabana, isso arruinaria nosso disfarce. E confesso que foi a caminhada mais angustiante da minha vida, eu não conseguia me concentrar em mais nada que não fosse os cortes.
  Tomando a frente, Wendy bate algumas vezes na porta da cabana que, para minha surpresa, é aberta por Alef, que nos recebe com um grande sorriso.
  – Sem tempo, Ciclope. Nós precisamos ver o Padre agora. – Wendy praticamente invade a cabana, entrando primeiro e deixando Alef com uma feição de desaprovação para trás, enquanto ajeitava seus óculos.
  Lilu balança os olhos e ergue as mãos no ar, como se disse para Alef "você sabe como ela é". Sally entra logo em seguida e eu sou a última.
  – Bom te ver outra vez, Elena. – Alef volta a sorrir gentil, e toca meu braço com sutileza.
  Movimento meu ombro para baixo quando seu toque faz os cortes doerem.
  – Algo de errado? – Alef me olha confuso, enquanto fecha a porta da cabana.
  – Meu braço está machucado. – Respondo entre uma careta de dor.
  – Me desculpe, eu não queria... – Alef toca meu braço de novo. – Me desculpe! Me desculpe, Elena!
  – Tudo bem. – Aceno com a cabeça e saio apressada antes que ele toque no meu braço de novo.
  A cabana não era muito grande, mas várias pessoas andavam de um lado para o outro, e muitas armas estavam em evidência por todos os lados. Vou até à sala do lugar, encontrando Padre Albert sentado sobre um pequeno sofá, enquanto escutava o que Wendy falava. Sally e Lilu estavam de pé do lado dela.
  Quando sente minha presença, o Padre me encara sério.
  – Elena, venha aqui e me deixe ver isso. – Padre Albert indica o lugar vago no sofá.
  Me sento no sofá de cor caramelo e, com muito cuidado e lentamente, começo a dobrar a manga da minha blusa que, agora, percebo estar com alguns pingos de sangue; eu bem que tentei vir com uma blusa escura, mas não parece ter sido o suficiente. Respiro fundo e tento engolir a dor quando sinto que uma parte da blusa grudou nos cortes.
  – Isso não são marcas de garras? – Alef se aproxima e aponta para o meu machucado.
  Padre Albert encara os cortes por alguns segundos, antes de suspirar.
  – Só um lobo poderia fazer um machucado como esse. – O Padre nega com a cabeça, apoiando suas mãos sobre os joelhos cobertos pela batina preta.
  – Você não viu quem fez isso em você? – Alef pergunta.
  – Não. Quando eu acordei, isso já estava no meu braço.
  – E o que vamos fazer agora? – Lilu pergunta, se sentando sobre o braço do sofá, perto da Wendy.
  O Padre Albert suspira outra vez
  – Nosso maior erro foi ter focado grande parte do treinamento de vocês, apenas nos vampiros. – O Padre encara o chão. – Já tem muito tempo que os lobisomens não causam problemas, e acho que foi isso que acabou nos fazendo deixá-los de lado. Vocês são caçadoras de vampiros e monstros, deveriam ter se aprofundado mais sobre outras criaturas além dos Drácus. Vou ligar para o Vaticano e reportar o que está acontecendo. Também irei atrás de ervas que irão te ajudar com esse machucado, Elena. E quero que Sally venha comigo. Você é a especialista em ervas e itens místicos, precisa se atualizar rapidamente sobre isso. – O Padre diz e Sally assente, sem contestar.
  – Mas o senhor tem ideia do porquê eles estão atacando agora, depois de tanto tempo? – Alef pergunta, examinando meu machucado.
  – Todos sabem que a briga entre os vampiros e os lobisomens é antiga. E o fato de a Elena estar noiva do Drácula, sendo uma Van Helsing, com certeza deve ter feito com que eles se sentissem ameaçados em relação à sua posição no meio das criaturas místicas. Isso é tudo que consigo pensar agora, se tiver outro motivo, não faço a menor ideia. – Padre Albert coça seu rosto, sobre a barba branca que começava a nascer.
  – E como eles sabem que a Elena está noiva do Drácula? – Sally pergunta, e franze o cenho.
  – Essa resposta é algo que precisamos descobrir rápido, antes que eles façam mais alguma coisa. Poderemos usar isso contra os vampiros depois. – Padre nos encara de maneira preocupante, nos fazendo perceber a gravidade das coisas.
  Se tudo já parecia difícil lidando só com os vampiros, agora, com a suposta aparição dos lobos, tudo estava prestes a piorar.
  – Por hora, Alef vai preparar alguma coisa que ajude na sua dor, pelo menos, um pouco, até que Sally e eu voltemos com a erva certa para curar seu machucado. Seremos rápidos.

***

  Após uma longa manhã na base do Padre Albert, Wendy, Lilu e eu retornamos para o castelo. Alef enfaixou meu braço depois de passar uma pomada nos meus cortes, ajudando um pouco com a dor, como Padre Albert pediu. Ao menos agora eu conseguia mexer melhor meu braço sem querer arrancá-lo fora.
  Já no castelo, tive infelicidade de ver Amia antes de todos, e ela logo me lembrou do nosso pequeno compromisso. E com um grande suspiro mental, disse a ela que só iria me arrumar. Wendy até tentou me convencer a ficar, depois de encarar Amia de uma forma tão ameaçador que pensei que as duas iriam brigar. Mas, quando Amia se foi, disse a Wendy que precisava fazer isso e que não podíamos mais perder tempo. Tive uma pequena ajuda de Lilu, que arrastou Wendy para a sala de jantar com o pretexto de que precisava comer ou iria desmaiar.
  Depois de me vestir e pegar meu celular, percebi que acabei esquecendo de mostrar para o Padre as fotos que tirei. No meio de toda essa confusão, parecia impossível. Mas assim que ele voltar, farei isso.
  Debaixo do céu acinzentado da tarde da Transilvânia, com uma leve brisa, Amia e eu saímos do castelo, lado a lado, e seu braço enlaçado ao meu. Antes eu gostaria de cortar o meu braço, mas agora, queria arrancar o dela. Eu simplesmente não consigo entender como ela pode agir dessa maneira tão falsa depois de tentar me matar, e o pior é que sou obrigada a me deixar levar por isso, porque é a minha missão.
  Descemos a colina do castelo e depois ela me mostrou alguns lugares da cidade, como, bares, lojas de doces, de roupas e toda essa porcaria que seria muito mais agradável na companhia de qualquer outra pessoa que não fosse ela. Por fim, seguimos pelas ruas de ladrilhos como Upiór, porém, de uma maneira mais moderna, até uma pequena loja envidraçada de madeira de dois andares. Uma grande placa de madeira ilustrava os dizeres “Madame Dorothea”. E sem se importar em bater, Amia entrou na loja, me puxando para dentro também. Ela retira o longo casaco que cobria seu vestido e o pendura no cabideiro dentro do pequeno hall, antes de subirmos uma escada de madeira para o segundo andar. O primeiro andar era simples, como se fosse uma casa, mas este, o segundo, era totalmente semelhante a um ateliê de costura, com manequins, espelhos e tecidos para todos os lados.
  Haviam duas garotas de aparência jovens sentadas sobre um banco de veludo vermelho com detalhes dourados. Ambas tinham expressões entediadas, e a garota com o rosto apoiado contra a palma de uma das mãos, especialmente me chama atenção, ela parecia familiar.
  – Elena, quero que conheça Olivia e Zoe, nossas outras duas companheiras. – Amia estica seu braço, apontando as duas garotas, enquanto sorri abertamente.
  As feições entediadas logo mudam, e elas me encaram com interesse. A de cabelos vermelhos se levanta e se aproxima de mim.
  – Muito prazer, sou Olivia. – Ela me segura pelos ombros e me dá um beijo na bochecha.
  Era essa que estava com Taehyung ontem.
  – A humana... – Escuto uma voz atrás de mim, e quando olho sobre os ombros, vejo a garota de cabelos curtos e loiros me rodear, enquanto me analisa. Eu nem a vi se levantar.
  Sendo a que sobrou de nome, Zoe, aproxima seu rosto do meu pescoço.
  – Você tem um cheiro muito bom. – Ela diz perto da minha orelha. – Espera. – Zoe recua seu rosto do meu pescoço, e ainda parada atrás de mim, ela afasta meu cabelo. – Isso é incrível. Você viu essa marca, Amia? – Zoe ri, e vira meu corpo cuidadosamente em direção à Amia. – Já sabemos quem é a predileta do Drácula.
  – Parece que teremos que nos esforçar mais, se quisermos um pouquinho de atenção. – Olivia também ria, antes de cobrir minha marca com meu cabelo de volta.
  Amia sorri sem mostrar os dentes enquanto arqueia as sobrancelhas, se afastando.
  – Dorothea! – Ela chama, andando entre os manequins.
  Uma mulher alta e bem magra, com os cabelos presos em um coque bem apertado e com uma fita métrica ao redor do pescoço, surge detrás de uma cortina florida que tinha no canto do ateliê.
  – Elena, essa é Madame Dorothea. Por anos, ela é quem costura os vestidos das noivas do Drácula, é uma tradição de família, sua mãe e sua avó também fizeram isso. – Amia coloca as mãos na cintura e sorri satisfeita ao ver a mulher.
  Dorothea vem em minha direção e pega na minha mão direita, beijando-a e deixando a marca do seu batom vermelho na minha pele.
  – Estou encantada em finalmente te conhecer, Elena. – A mulher sorri de um jeito estranho. Ela era a definição de impecável, sua aparência era de alguém que parecia estar arrumada o tempo todo. – Gostaria de tirar suas medidas para começar a fazer o vestido de noiva mais bonito que você já viu em toda sua vida.
  – Nada disso, Dorothea. Vamos começar comigo. – Amia se aproxima de nós duas.
  – Você pode esperar um pouco, Amia. Eu estive muito ansiosa por esse momento com a Elena. – E antes que eu possa fazer qualquer coisa, Dorothea me puxa pela mão até uma cortina florida.
  Pelos ombros, ela me posiciona de frente ao espelho que tinha do outro lado, fechando a cortina atrás de nós.
  – Vou tirar suas medidas. – Ela sorri para mim através do espelho, antes de pegar a fita métrica ao redor do seu pescoço, e começar a medir meu corpo.
  – Hm... você não precisa anotar isso? – Pergunto, depois que ela mede os meus braços e vai para a meu busto.
  – Não se preocupe, tenho uma boa memória. – Ela responde sem me olhar, concentrada em enrolar a fita ao redor do meu tronco. – Você tem uma bela tatuagem aqui. – Dorothea puxa para trás, sutilmente, a gola da minha blusa, espiando dentro dela.
  Fico em silêncio. Não era necessário explicar, ela sabia o que essa tatuagem significava.
  – Você não é a primeira humana que faz um vestido para se casar com um Drácula, mas, com certeza, é a primeira Van Helsing. E precisa saber, isso nunca acaba bem. – Outra vez, através do espelho, ela me encara, agora, de maneira significativa e com as sobrancelhas levantadas.
  Eu não pretendo consumar isso, era o que eu queria dizer para ela.
  – Estou curiosa para saber como uma caçadora de vampiros resolveu casar com o Drácula, mas não é da minha conta. Minha obrigação é apenas te deixar linda. – Ela se levanta, depois que se abaixou para medir minhas pernas. – Mas não será uma tarefa difícil. – Dorothea aperta uma das minhas bochechas. – Acabamos. Por favor, chame a Amia para mim.
  Ainda em silêncio, saio de trás da cortina e caminho até o banco vermelho onde as três estavam sentadas.
  – Sua vez. – Digo para Amia, apontando sobre os ombros para trás.
  Ela levanta animada do banco e vai pelo mesmo caminho que eu vim.
  – Já tiramos nossas medidas, estávamos só esperando vocês. – Olivia diz e se afasta, deixando um espaço vago entre ela e Zoe para que eu me sente.
  – Por que tanta questão disso? – Pergunto, depois de me sentar entre elas.
  – Vamos dividir o mesmo marido, acho que devemos nos conhecer antes de passarmos a eternidade juntas. – Olivia deita sua cabeça no meu ombro direito, enquanto tenta me encarar. – Você definitivamente tem o melhor cheiro que eu já senti em toda minha vida. – Sem afastar sua cabeça do meu ombro, ela a arrasta, encostando a ponta do seu nariz no meu pescoço.
  – Realmente entendo porque Taehyung te escolheu. – Zoe toca meu cabelo, enrolando seu dedo indicador em uma mecha loira. – Muitos vampiros não gostam dos humanos, ainda mais se forem como você, um caçador. Mas, eu, particularmente, não me importo com nada disso. – Ela aproxima seu rosto do meu, tão perto que eu se virasse um pouco para o lado, nossos rostos se tocariam.
  – Acho que estamos indo um pouco rápido demais, não acham? – Inclino meu tronco para trás, me afastando delas por um momento.
  – Como quiser. – Zoe ri, se sentando normalmente de novo.
  – Nunca é rápido demais para o amor. – Olivia sorri para mim, e coloca uma das mãos na minha coxa.
  – Tudo bem, Olivia, nós podemos fazer isso depois. – Forço um sorriso fechado e seguro em sua mão, a tirando da minha coxa.
  – Apreciem a noiva do Drácula. – A voz da Amia chama nossa atenção, antes dela afastar a cortina florida para o lado e sair de lá usando um enorme vestido de noiva.
  – O vestido é bonito. – Zoe comenta, do meu lado.
  – Claro que é. Estive planejando ele durante anos. – Amia vai em direção a um dos muitos espelhos do ateliê, e fica se admirando. – Eu estou perfeita, exatamente como sabia que ficaria. – Seu olhar para o próprio reflexo, ela superior, e o sorriso completamente prepotente. – O que acha, Elena querida?
  – Você já disse tudo, Amia. Está perfeita. – Sorrio para ela que, mesmo sabendo que estou sendo falsa, fica satisfeita com o que eu digo.
  – Tem alguma coisa em especial que queira no seu vestido, Elena? Um tecido, uma joia, renda? – Dorothea pergunta, assim que sai de trás da cortina também.
  – Não. Estou deixando isso nas suas mãos. – Não é como se eu me importasse com esse vestido ridículo. Eu nem vou me casar de verdade.
  – Comece a aprender um pouco comigo, Elena. A esposa de um Drácula tem tanto controle quanto ele para comandar os vampiros, ela precisa ser o braço direito dele. E uma boa aparência muda tudo. Você pode ser respeitada só pela maneira como se veste. E no nosso casamento, irei mostrar a vocês três como se deve fazer. – Os olhos de Amia medem cada parte do seu corpo pelo reflexo, ela estava tão deslumbrada que me enjoava.
  Quando a megalomania da Amia acaba, Dorothea faz mais algumas perguntas sobre os vestidos e depois nos libera. Olivia e Zoe nos acompanharam porque, aparentemente, elas tinham algum compromisso com Amia, que até me convidou, mas neguei assim que meu braço voltou a doer; acho que o efeito da pomada está passando.
  Depois de pegar seu casaco no cabideiro e vesti-lo, Amia abre a porta, nos fazendo dar de cada com um garoto de cabelos pretos e pele pálida, que estava sentado em frente a porta da loja, fumando um cigarro.
  – Ah, Peter. – Amia diz sem muito interesse.
  – Você sumiu. – Zoe fala, saindo da loja e segurando por alguns segundos, a mão que o garoto de olhos escuros, estende.
  – Veio fazer seu terno? – Olivia pergunta, depois de dar um beijo na bochecha de Peter.
  – Sim. Estava esperando vocês saírem. – Ele responde, enquanto solta a fumaça do cigarro entre seus lábios, lentamente.
  – Essa aqui é a última noiva. – Amia aponta para Peter, e a encaro confusa.
  Ele se levanta, jogando o cigarro no chão e o apagando em uma pisada.
  – Espero que não se importe em dividir o Drácula comigo, gracinha. – Ele sorri e toca a ponta do meu nariz com o dedo, antes de entrar na loja da Madame Dorothea.
  – É, estamos todos aqui. – Amia diz com desdém e fecha a porta da loja, antes de sairmos pelas ruas da Transilvânia.

***

  Enquanto as três noivas saiam para seu compromisso, eu voltei para o castelo, sendo recebida por Lilu e Wendy, que estavam completamente eufóricas. Elas me levaram até o porão-não-porão que Lilu encontrou e que Blarie a levou, o lugar dos sacrifícios, que era exatamente como a garota de cabelos alaranjados me descreveu: um grande símbolo vermelho no chão, velas e estátuas de gárgulas e um enorme vitral colorido de fundo, bem parecido com os que encontramos nas igrejas. Mas, o mais surpreendente de tudo isso, foi Lilu me contar que enquanto estive fora, ela trouxe Wendy até esse lugar e as duas acabaram por encontrar uma passagem secreta, onde uma das paredes de tijolos se moveu assim que puxaram um destes tijolos. E, desta forma, acabamos em um lugar ainda mais estranho que o anterior, do qual era escuro e iluminado por tochas nas paredes que estavam apagadas nesse momento. Também haviam algumas correntes presas nas paredes e alguns instrumentos pontiagudos e potes pequenos de sangue por toda parte.
  Não ficamos muito tempo ali, não poderíamos correr o risco de sermos pegas, mas sabíamos muito bem para que servia aquele lugar. Provavelmente, os humanos eram drenados naquela sala, até sua última gota de sangue. Já que um Drácus se alimenta de alma, penso que sequestravam os humanos, tiravam o máximo de sangue que podiam e quanto este pobre coitado estava à beira da morte, eles simplesmente ceifavam sua vida.
  Acho que tive o suficiente por um dia, todas essas coisas que vi e descobri hoje estavam enchendo minha cabeça, e a dor no meu braço não estava ajudando. Nós iriamos repassar tudo ao Padre assim que ele voltasse com Sally, mas, agora, tudo que eu preciso é de um longo banho que relaxe meu corpo. Wendy disse que compressa de água quente talvez ajude na minha dor, por isso, a banheira seria perfeita.
  Na caída da noite, depois de enchê-la com muita água quente, prendo meu cabelo e entro na banheira, deixando apenas minha cabeça para fora recostada contra a borda na banheira. Todo o estresse acumulado no meu corpo parece ir embora junto com a água, e o ambiente calmo e silencioso do banheiro ajudava muito. Fecho os olhos e respiro fundo e alto, mandando para fora todos esses problemas que corria por minhas veias. A água quente realmente ajudou um pouco na dor, mas eu ainda a sinto, bem lá no fundo da minha carne, ardendo de uma maneira que me deixava irritada algumas vezes.
  Completamente imersa neste pequeno momento de paz, onde só existe a Elena, sem igreja ou vampiros, sinto uma grande mão espalmar meu rosto e empurrar minha cabeça para baixo, fazendo meu corpo escorregar na banheira e imergir na água. Abro os olhos quando uma segunda mão agarra o meu pescoço, me prendendo no fundo da banheira. Exasperadamente, começo a me debater dentro da banheira, enxergando através da água agitada por meus movimentos, a imagem desfocada da pessoa que tentava me afogar; eu não conseguia ver com clareza, a água não permitia, e a falta de oxigênio no meu corpo começa a deixar minha visão ainda mais embaçada, deixando a amostra apenas o âmbar que brilhava do lado de fora da banheira. Quase sem ar nos pulmões, agarro com força as mãos que me prendiam e aperto minhas unhas contra sua pele, antes de torcer seus pulsos, fazendo quem quer que seja, finalmente, me soltar.
  Levanto meu tronco de uma vez, tossindo incessantemente a água que invadiu meu interior, enquanto tento desesperadamente encher meus pulmões com ar. E com o peito subindo e descendo de forma rápida, seguro nas bordas na banheira e olho ao redor no banheiro, não vendo nenhum sinal de quem fez isso comigo, apenas a porta entreaberta do banheiro.
  Apressadamente, saio da banheira, tendo que me segurar na parede mais próxima quando perco o equilíbrio pela falta de ar. O machucado em meu braço dói em uma pontada, e acabo levanto a mão involuntariamente até o lugar, gemendo de dor ao sentir meu próprio toque. De forma lenta, me arrasto até o robe de seda que trouxe para o banheiro, o vestindo e amarrando bem para mantê-lo fechado, não me importando se estava completamente molhada.
  O tecido gruda em meu corpo e meu cabelo começa a molhar o robe quando caminho até à porta, voltando para meu quarto, tendo os olhos atentos para ver se encontrava alguém. Sem sucesso, tudo estava silencioso e vazio.
  Começo a ir até à porta do quarto, mas paro assim que sinto uma forte presença atrás de mim. Em seguida, sinto um toque sobre meu ombro, uma mão que me vira.
  Fecho os olhos por alguns segundos, me acalmando quando vejo Taehyung.
  – Você está bem? – Ele me encara desconfiado.
  – Sim. – Coloco uma mão na testa e fecho os olhos, expirando alto.
  Quando volto a abrir os olhos, vejo que o olhar de Taehyung é estreito. Seu semblante sério examina todo meu corpo, enquanto ele inspira alto, como se farejasse algo. Ele puxa o lado esquerdo do meu robe para baixo, e preciso segurar uma parte para que o meu seio não fique de fora.
  As pupilas do Taehyung dilatam quando ele encara o meu machucado.
  – Tranque esse quarto e não saia daqui. – Ele diz e passa por mim com o intuito de sair do quarto.
  Por um segundo, a imagem do seu corpo de costas fica embaçada, e outra pontada arde no meu machucado, me obrigando a colocar a mão sobre ele de novo. Fecho os olhos com força quando a dor se torna insuportável, fazendo minhas pernas cederem e meu corpo cair fraco no chão.

Capítulo 5
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