Capítulo 35
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No meio da escuridão da floresta, consegui encontrar Lilu e, juntas, chegamos a tempo de ver uma confusão no céu, antes de Taehyung e Kihyun caírem propositalmente no telhado da mansão, fazendo um buraco no telhado ao entrarem assim, seguidos por Hoseok e Jimin.
Lilu me olha de forma dramática antes de corrermos para a mansão coberta pelo preto. Atravessamos os portões e o jardim com fontes quebradas e arbustos tão malcuidados que quase cobriam todo o chão de cimento. Nossos passos bateram pesados e altos nos degraus que nos levou até onde deveria haver uma porta de entrada, mas que hoje era apenas um grande buraco sem nada.
O hall era um caos de preto queimado e cinzas grudadas no chão do que um dia foram quadros dos irmãos. Insetos rastejavam por toda parte, enquanto desviávamos dos corpos mortos pelo chão, provavelmente dos lobos e vampiros que vigiaram a mansão para Henry. O sangue se misturava ao cheiro envelhecido, criando um odor muito desagradável.
Quando saímos do hall e entramos no espaço vazio com duas escadas, escorrego em uma grande poça de sangue, mas Lilu me segura pelo braço.
Nós duas quase nos dividimos e procuramos em direções opostas, se não fossem pelos barulhos de coisas quebrando e de gritos, vindo dos outros andares.
Nos apressamos a subir a escada da esquerda, visto que a da direta foi completamente deteriorada pelo fogo e pelo tempo. E, desta forma, Lilu e eu desviamos de todos os corpos que encontramos pelo caminho, antes de acabarmos em frente ao que um dia foi o quarto de Blarie, e que agora era um amontoado de coisas queimadas em preto. O lugar onde os nove vampiros estavam reunidos, parados em frente ao grande buraco na parede e debaixo do buraco no teto, que deixava a luz da lua entrar e iluminar o cômodo.
Kihyun estava completamente desajustado, com a respiração alta e falha, e com o corpo coberto pelo sangue, mesmo que não houvesse machucados em sua pele. Ele era feito de refém por Jungkook, que o segurava pelo braço, enquanto mantinha um olhar completamente poderoso para Henry. O homem de cabelos brancos e barba encara Jungkook e Kihyun com um grande sorriso no rosto. Suas roupas estavam partes sujas e rasgadas, mas ele também não parecia machucado.
Yoongi estava perto de Jungkook, atento aos movimentos de Kihyun, enquanto Namjoon fazia o mesmo do outro lado. Jimin estava perto de Taehyung e Hoseok, que estavam próximos ao grande buraco na parede. As mãos se Taehyung estavam cobertas de sangue, assim como os cantos de sua boca. Suas calças pretas ganharam um rasgo, mas sua blusa e capa cor vinho-escuro se mantiveram intactas.
Jin estava ao canto, entre Henry e Yoongi, com um olhar tão sério e furioso que facilmente poderia assustar alguém. Todos os irmãos, sem exceção, por mais alinhados que estivessem, pareciam que haviam saído de uma briga há pouco, e eles realmente fizeram isso, não ao ponto de matarem Henry, mas de fazerem isso de forma aparentemente intensa.
– Acho que temos visitas. – A voz de Henry estremece meu corpo. – É bom estar com você outra vez, Elena. – Ele diz sem nem mesmo me olhar, pois estava de costas para a entrada do quarto.
Todos os pelos do meu corpo se arrepiam e, de canto de olho, encaro Lilu para que entrássemos com cautela no quarto. Ela mantinha sua arma apontada para ele e tinha seus olhos atentos.
Conforme eu entrava no quarto e me aproximava de Jin, Henry foi lentamente virando a cabeça para me observar.
– Eu posso sentir o cheiro do seu sangue, e ele é único. – Henry sorri para mim. – Mas ele me parece um pouco familiar, já o senti antes em Amélia. – Seus olhos escuros se arrastam até minha barriga, me fazendo dar um passo para trás e esbarrar em Jin, que me segura com sutileza, enquanto tento tapar a visão da minha barriga com o rifle.
O olhar de Henry me liberta para encontrar o de Taehyung.
– Ela, por acaso, está grávida? – Taehyung não responde, mas Kihyun o encara com o cenho franzido, antes de rir em meio a uma tosse de sangue.
– É melhor ficar quieto agora. – Jungkook aperta o braço de Kihyun, que rosna furiosamente para ele, quase fazendo os seus rostos se tocarem.
– É exatamente por isso que você não pode ser o Drácula. – Henry continua encarando Taehyung. – Um Dracul engravidando uma Van Helsing? Você por acaso quer que ela termine como Sofia, Taehyung? Já se esqueceu que ela foi queimada viva pela igreja? – As palavras de Henry fazem Taehyung apertar as mãos em punhos tão fortes que suas unhas machucam sua pele até que o sangue escorresse.
– Nenhum de vocês aqui é merecedor do sobrenome que carregam. – A voz de Henry fica alta, ecoando pelo quarto. – Porque se fossem, já teriam matado essa Van Helsing há muito tempo. – Ele me encara de novo, agora com fúria. – Vocês são uma desonra, uma vergonha para os vampiros. Até aposto que choraram quando descobriram que fui eu quem matou Amélia. – Seu tom de voz se abaixa de forma perigosa, enquanto um sorrio vil surge em seus lábios. – Você se lembra como costumava correr para os braços da sua mãe quando se machucava, Jimin? Taehyung também fazia isso, ia chorando até Amélia, ao invés de enfrentar as coisas como um vampiro. Ela foi mesmo uma desgraça.
Taehyung quase tremia de raiva, e Jimin tinha um olhar extremamente carregado de alguém que se segurava para não explodir tudo em sangue.
– Cale essa maldita boca e nunca mais fale assim da minha mãe de novo! – Jungkook grita perto de Kihyun, apertando seu braço até seus dedos atravessarem a carne do lobo, que range os dentes em dor e irritação.
O nervosismo de Jungkook só torna Henry mais satisfeito.
– Sempre incontrolável. Particularmente, eu sempre pensei que você e Yoongi se tornariam os mais impiedosos, matando sem se importarem, mas acho que são apenas crianças mimadas por uma humana fraca.
Rápido como o vento, Yoongi se aproxima de Herny e o segura pela gola da roupa. Kihyun faz menção de se soltar de Jungkook, mas Hoseok o ajuda a contê-lo.
– Eu posso te matar agora de forma impiedosa. – Yoongi rosna as palavras perto do rosto de Henry.
– Faça isso e nunca mais vai encontrar o pequeno Hyun. – Henry sorri e os olhos de Yoongi se vidram em um vermelho que representava sua fúria.
– Vamos fazer as coisas com calma, Yoongi. – Namjoon se aproxima de Yoongi e o tira de perto de Henry.
– Você e Jin sempre foram os mais racionais, eu gosto disso. – Henry encara Namjoon, que devolve o olhar de forma severa. – Penso que ambos seriam Dráculas melhores que os outros.
– E quem você pensa que é para falar sobre ser um Drácula? – A risada sem humor de Hoseok quebra o monólogo de Henry. Hoseok inclina levemente sua cabeça para o lado, fitando o pai de um jeito completamente feroz. – Você acha que é o único que pode ser o Drácula, mas não conseguiu nem mesmo trazer metade dos vampiros para o seu lado. Eles continuam aqui, conosco, seguindo ao Taehyung, o único e verdadeiro Drácula.
Por um momento, a postura superior de Henry vacila e enxergo seus olhos de fúria em um orgulho ferido.
– Você sempre foi outro que preferia colher flores com a sua mãe, ao invés de se tornar um verdadeiro vampiro, apenas passando o tempo e vivendo como se fosse um humano fraco e insignificante. – Henry ri sem humor, dando um passo para frente. – Eu sou o único que pode fazer isso. E Kihyun é o único filho que me dá honra e orgulho. Eu o criei para ser quem é, e ele nunca ousou sequer aumentar a voz para mim como vocês estão fazendo agora. – Os olhos de Kihyun brilham diante das palavras de Henry, o encarando como se esse fosse um deus. Um mero recipiente para sua alma. – Eu farei que se arrependam de terem seguido os passos daquela humana que chamam de mãe, e os matarei como matei Amélia.
Um disparo e Kihyun pende para frente quando seu peito é atravessado pela bala de prata.
Minhas mãos tremem em torno do rifle, enquanto os meus olhos arregalados ainda pareciam horrorizados com tudo que viram enquanto Henry falava dessa forma desprezível.
O corpo de Henry paralisa, antes que ele se vire em minha direção, me encarando como se fosse o verdadeiro diabo. E, em instantes, ele tinha suas mãos ao redor do meu pescoço, quase o torcendo e, consequentemente, solto meu rifle, que cai aos meus pés, antes dele ser chutado para longe por Henry.
– O que você fez?! Eu vou te matar, humana insignificante! – Ele grita contra meu rosto, antes de ser acertado na lateral da cabeça por tiros disparados por Lilu.
– Solta ela! – Jin grita e me puxa para longe de Henry junto de Lilu, enquanto Taehyung surge como fumaça, atravessando sua mão pela barriga do pai.
– Não toque nela outra vez, seu bastardo de merda! – Taehyung movimenta sua mão dentre de Henry, causando ao pai, gemidos de dor. – Eu vou arrancar o seu coração e depois o estraçalharei, e queimarei seu corpo até que não reste nada além de cinzas. – Não era Taehyung ali atrás dos olhos vermelhos e veias saltantes. Se antes Henry se parecia com o diabo, agora penso que talvez o próprio diabo teria medo de Taehyung nesse momento.
– Você está bem? – Jin pergunta, apoiando uma mão nas minhas costas.
Assinto com as mãos no pescoço, enquanto ainda sinto a sensação das mãos de Henry aqui.
– P-Pai! Pai! Eu não morri! Ainda estou vivo! – A voz de Kihyun faz Taehyung soltar Henry.
Os olhos de Henry encaram Kihyun de forma surpresa e louca.
– Eu estou lutando! Não vou deixar que me matem tão facilmente! – Kihyun grita, enquanto seu corpo caído no chão se retorce em alguns espasmos, enquanto sangue continua minando do seu peito atingido.
Jin me solta e Lilu passa seus braços ao meu redor, me mantendo perto dela. Em seguida, Jin usa suas habilidades vampíricas para se aproximar com rapidez de Herny, o levantando do chão em um puxão.
– Nos mostre onde escondeu o Hyun, ou matamos seu precioso filho híbrido. – Jin fala com o rosto próximo ao do pai.
– Faça isso e nunca vai encontrá-lo. – Henry rosna entre os dentes. – Leve ele lá para jardim e eu lhes entregarei Hyun. Mas quero que o deixem sozinho. – Henry exige.
Ele pretende barganhar por Hyun e depois fugir com Kihyun? Isso nunca vai funcionar, porque Kihyun está morrendo e Henry está cercado.
– Levem. – Taehyung pede para os irmãos, mas sem desviar seu olhar do pai.
Jungkook encara Taehyung por alguns segundos, antes de, com a ajuda de Namjoon, ambos sumirem com Kihyun através do buraco na parede, ressurgindo segundos depois, sozinhos.
– Ele já está no jardim, agora nos entregue o Hyun. – Jin manda, mas Henry não se intimida, antes de se virar e sair do cômodo queimado.
Todos muito bem atentos e preparados caso Henry tentasse fugir, o seguimos pelo corredor até a próxima escada e, assim, depois para o terceiro andar, o lugar da mansão que menos queimou. O vampiro de cabelos brancos, caminha em direção às portas duplas quebradas, nos levando até a antiga sala de música da mansão. Em passos lentos e traiçoeiros, Henry para ao lado do piano queimado, e então ele levanta a cauda do piano, revelando entre as cordas arrebentadas, o corpo desacordado e pequeno de Hyun.
Os meus olhos se arregalam quando Henry tira o corpo desacordado de dentro do piado, o deixando de pé mesmo com as pernas moles de Hyun. Sua cabeça pende para frente e seus cabelos escuros cobrem seu rosto infantil, e seus braços caem ao lado do corpo.
– Não se preocupem, o meu garotinho só está dormindo. – Henry ri sem humor, de forma cruel.
– Nos entregue ele!
– Ainda não. – Henry interrompe Jimin quando ele faz menção de se aproximar.
Os olhos de Henry encontram os meus mais uma vez, em um olhar completamente insano e carregado.
– Eu costumo manter minhas palavras sempre. – Ele diz me encarando e, mesmo que minimamente, consigo perceber quando ele arrasta a mão livre para perto do piano, buscando por algo nas cordas. – Você deu o meu recado para o Taehyung, Elena? – Seus dedos se movimentam quase que imperceptivelmente.
– Que recado? – Namjoon me encara cautelosamente.
Os meus olhos se arregalam, enquanto um grito de terror sai da minha boca quando tanto correr até Henry, mas não chego a tempo de impedir que ele mostre o punhal de prata escondido, e acerte Hyun.
– Que eu mataria Hyun caso algum de vocês tentasse algo! – Henry grita e solta o corpo do Hyun, que vai ao chão quando tento segurá-lo. Tomada por um reflexo insano dentro de mim, puxo a faca de caça escondida dentro e cravo em Henry, mas isso não o impede de se transforme em um pequeno morcego que voa para fora da sala de música, passando pelas portas de vidro quebradas da sacada.
– Vão atrás desse maldito! Vão atrás dele agora! – Jin grita, ao se abaixar no chão e tomar Hyun nos braços.
Todos os irmãos parecem em choque, encarando o corpo ensanguentado de Hyun.
– Agora! – Jin grita de novo, com mais veracidade, tirando seus irmãos do transe. Então, Jungkook, Namjoon, Yoongi e Hoseok também voam para fora da sala de música.
Hyun tosse algumas vezes, acordando.
– Ei, pirralhinho, abra os olhos, por favor. – Lilu dá leves tapinhas no rosto de Hyun e, lentamente e com esforço, Hyun começa a abrir os olhos.
– Levem ele até a base! Sally e Alef trouxeram muitas coisas, eles podem ajudar! – Falo exasperada e Jimin, que já estava agachado também, toma Hyun dos braços de Jin.
Taehyung rapidamente retira a capa vinho-escuro que usava e coloca sobre a ferida de Hyun, tentando estancar o sangue.
– Vá depressa. – Com os olhos tão preocupados de um jeito que nunca vi, Taehyung diz para Jimin que, no segundo seguinte, sai voando da sala de música com Hyun nos braços.
Ficamos em silêncio dentro da sala, sentindo a tensão.
– Ele vai ficar bem. Sally vai ajudá-lo. – Lilu fala ao lado de Jin, que ainda estava agachado no chão.
– Ele deve ter fugido com o corpo do Kihyun. – Taehyung diz, e Jin suspira pesadamente.
– Nós precisamos ir também. Logo ele se curará e vai voltar a ter sua força. Precisamos encontrá-lo antes que faça a transmigração. – Jin se levanta do chão e começa a ir em direção a sacada, por onde provavelmente sairia. Lilu logo corre atrás dele.
Encaro Taehyung sem acreditar em tudo que estava acontecendo. Engulo a saliva de forma dificultosa e me aproximo dele, que me encara com um olhar cansaço e pesado.
– Eu preciso ir agora. – Sua voz soa baixa e ele faz menção de se virar.
– Espera! – Minha voz sai mais exasperada do que eu esperava.
O meu coração se acelera, não querendo deixar Taehyung ir. Eu estava com medo, me sentia enjoada e tonta só de pensar no que aconteceria quando ele fosse atrás do pai, caso Henry conseguisse finalizar seus planos antes que o encontrassem.
– Você precisa me prometer que vai voltar – Minha voz se embarga, quando sinto uma imensa vontade de chorar ao repassar as imagens de tudo que acabou de acontecer. – porque... porque se você voltar, eu te prometo que me caso com você. – Seguro com força em sua elegante blusa presa com um lenço de renda na frente.
Mesmo que tenha um olhar pesado e incerto, Taehyung sorri para mim e meu coração se aperta.
– Pensei que havia me prometido que não nos casaríamos. – Suas mãos vão até as minhas, as segurando com ternura e suavidade.
– Eu mudei de ideia. – Minha voz se embola e minha garganta arde. – Além do mais, você nunca me pediu realmente em casamento, então não era válido quando eu disse aquilo. – Fungo e algumas lágrimas escapam.
Mantendo seu pequeno sorriso fechado, Taehyung limpa cada uma das minhas lágrimas.
– Elena Van Helsing, você quer ser minha por toda eternidade? – O meu coração se agita e salta, enquanto minhas mãos tremem debaixo das suas.
Assinto fracamente.
– Sim, eu quero ser sua por toda eternidade. – Seu sorriso fica um pouco maior e, assim, ele aproxima seu rosto lentamente do meu, cobrindo os meus lábios com os seus, em um beijo doce e ao mesmo tempo amargo, molhado por lágrimas.
Quando ele se afasta, solto suas mãos e puxo minhas luvas de couro para fora e, em seguida, retiro o anel de pedra preta do meu dedo. Com toda a dor que sinto, volto a segurar a mão de Taehyung, deslizando o anel por um dos seus dedos livres, naquele que cabia.
– Esse é o meu anel Van Helsing, ele é uma herança de família e impede que eu seja hipnotizada, mas... essa noite, ele vai ser a promessa de que você voltará para mim. Por favor, me prometa que vai voltar com o anel, Taehyung. – Suplico em minhas lágrimas. Mas tudo que ele faz é sorrir como uma despedida, antes de beijar o anel que pus em seu dedo e se virar voando para longe de mim sem me dizer se voltaria.
Fecho os olhos e mais lágrimas escorrem. Permaneço desse jeito até sentir braços me rodearem, enquanto a cabeça de Lilu repousa em meu ombro, me permitindo escutar suas respirações curtas que indicavam que ela tentava segurar o choro.
