Drácus Dementer: Lycanthrope


Escrita porHels
Revisada por Natashia Kitamura


Capítulo 33

Tempo estimado de leitura: 22 minutos

  Respiro fundo, vendo uma pequena quantidade de fumaça entrar na minha boca quando o ar quente do meu corpo encontra o ar frio da madrugada. Os meus olhos estavam atentos quando os meus pés deram os primeiros passos para dentro do vilarejo, fazendo o meu corpo inteiro imergir em uma onda nostalgia ruim encoberta por um esteiro arrepio.
  Tudo estava extremamente escuro debaixo da grande lua redonda no céu encoberto por alguns pontos brilhantes, mas minha visão de Van Helsing me ajudava a ver com clareza cada uma das casas, ruas de ladrilhos e detalhes de um lugar que um dia parecia aconchegante, e que hoje eram apenas destroços de casas deterioradas. Upiór era como uma cidade fantasma agora.
  Escolhemos atacar de madrugada, pois Abel nos informou - após observar por alguns dias, que os lobos estavam levando uma rotina “normal” aqui em Upiór. Por isso, nós nos espreitaríamos durante a madrugada, invadindo as casas e matando todos aqueles que encontrássemos, até que o nosso grande alvo viesse ao nosso encontro, de acordo com o plano.
  Uma lufada forte de vento passo na minha frente, como se cortasse minha pele com o seu ar gelado, enquanto assoviava alto, anunciando que a morte estava próxima. E nessa noite nós seríamos a própria morte, o julgamento divino, aqueles que expurgariam os detentores do pecado, mandando-os diretamente para o seu abismo particular de dor e sofrimento eterno.
  – Vamos nos dividir. Uma parte vai para este lado e a outra, para o outro. – Sussurro contra o vento gelado, enquanto olhava atenta para todas as direções. – Deste modo, conseguiremos criar uma grande confusão e eles não terão apenas um único lugar para atacar.
  Espio sobre os ombros para ver os que estavam atrás de mim.
  E assim, nós acabamos nos separando em direita e esquerda. Lilu e Abel vieram comigo para a esquerda, junto de alguns vampiros e fiéis. Meg e o restante foram com Wendy para a direita, se despedindo com um olhar carregado e um aceno de cabeça confiante vindo de minha irmã, antes que ela sumisse dentro da madrugada de Upiór.
  Os meus pés batiam silenciosamente nos ladrilhos enquanto entrávamos em uma ruazinha cheia de casa, afastada do comércio do vilarejo, que era indicado para o lado que Wendy havia ido.
  Quase que em uma fileira perfeita, paramos sobre uma calçada, diante de algumas casas com as luzes apagadas e janelas quebradas. O gramado crescia incrivelmente alto por todos os lados, a sujeira pintava as paredes das casas e o lodo escorria dos telhados rachados.
  Com um breve olhar vindo da minha parte, todos começam a se dispersar escolhendo as casas que seriam invadidas agora, uma do lado da outra. Eu conseguia sentir quão tensos todos estávamos, pois sabíamos que no momento em que invadíssemos essas casas, não teria mais volta. Isso seria um grande alerta de que Upiór estava sob ataque, despertando todas as outras criaturas que estavam adormecidas. Tentaríamos que ser silenciosos, matando como um veneno letal, mas não há garantias de que isso se estenderá por muito tempo.
  Fecho os olhos por um segundo e respiro fundo, puxando tanto ar para dentro de mim que parecia que não comportava dentro dos meus pulmões. O ar gelado esfria meu corpo por dentro, enquanto tento me concentrar em sentir o pequeno relicário que estava escondido debaixo do meu casado, torcendo com todas as forças para que hoje ele protegesse a mim e ao meu bebê.
  Pronta e completamente tensa, dou os primeiros passos em direção à casa de parede azul gasto, sendo seguida por Lilu e Abel. E os outros, em frente às outras casas, fazem o mesmo. Lilu toma a dianteira e ajoelha apenas um joelho em frente à fechadura, se concentrando em destrancar a porta com a ponta fina e afiada do seu soco-inglês.
  Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito segundos... click! A porta foi aberta.
  Lilu nos encara sobre os ombros, antes de se levantar e segurar com firmeza os dois revólveres que deixou sobre o chão para poder abrir a porta.
  – Sub tuum praesídium confúgimus, Sancta Dei Génetrix. Nostras deprecatiónes ne despícias in necessitátibus, sed a perículis cunctis libera nos semper, Virgo gloriósa et benedícta. – Em sussurros nervosos, começo a proferir a reza enquanto atravesso a porta que range baixo.
  – Amen. – Lilu finaliza minha reza com um tom de voz baixo e grave, completamente envolto em sangue quente. Os seus olhos castanhos escureceram mais, deixando bem explícito a sua necessidade de matar, como se estivesse possuída por todas as armas penduradas em seu corpo. Na maior parte do tempo, Lilu sempre tinha uma expressão jovial e divertida, sorrindo e fazendo piadas junto de Wendy, mas, em momentos como esse, ela se transformava e se tornava uma das mais perigosas entre todos os caçadores.
  Um sorriso diabólico e de lado borda seus lábios finos e bem desenhados, antes que suas pernas se flexionem em movimentos cautelosos e silenciosos como uma noite traiçoeira. Ela posiciona as armas próximas ao seu rosto, enquanto seus olhos atentos correm por cada centímetro da casa escura e sem barulho, ansiando por achar sua primeira vítima que lamentaria mil anos por ter encontrado Lilu hoje.
  A apenas um passo atrás de nós, Abel cobria a retaguarda, carregando nada além de suas habilidades vampíricas e seus olhos avermelhados que brilhavam como estrelas de dor e morte.
  Movimento os meus dedos sobre a balestra de madeira que posicionei em frente a linha do meu nariz, na mira de qualquer um que surgisse.
  Nos afastamos da porta entreaberta, andando até à sala destruída e até à cozinha amontoada de louças sujas, mas não encontramos nada. Porém, ao passar em frente a escada que levava para o segundo andar, sinto o meu corpo se arrepiar quando o ar parece mais pesado e frio, me indicando que havia alguma coisa lá em cima esperando por nós.
  – Lá em cima. – Sussurro de forma arrastada, sentindo meu rosto ficar sério.
  Lilu e Abel se juntam a mim e, assim, começamos a subir a escada, que range baixo debaixo dos nossos pés. No segundo andar, a luz da lua que atravessava a janela no final do corredor, sombreava sutilmente tudo.
  Haviam apenas quatro portas e todas estavam abertas. O meu estômago se revira em nervosismo, mas isso não me impede de começar a caminhar pelo chão de madeira, me aproximando do primeiro cômodo. Diligente como uma cobra, viro o meu corpo de frente para a porta aberta, encontrando apenas vários entulhos empilhados.
  Espio sobre os ombros, olhando diretamente para Lilu, que balança a cabeça em um sinal negativo, enquanto estava parada em frente a outra porta. Abel repete o seu gesto e então eliminamos três cômodos, restando apenas um.
  Abro sutilmente a boca em uma pequena fresta reta, deixando o ar entrar e sair com mais precisão. Tomo a frente, sentindo o calor e a frieza de Lilu e Abel atrás de mim, perto dos meus ombros. Ao fundo, vejo uma grande nuvem cobrir a lua cheia, tornando o corredor mais escuro.
  Minhas mãos cobertas pelas luvas de couro deslizam pela balestra, e os meus pés acompanham os movimentos, deslizando para o lado até que eu estivesse de frente para o cômodo de apenas uma cama, onde um rapaz de cabelos levemente grandes, cobrindo sua testa e parte dos olhos, parecia dormir. Seu peito subia e descia em um ritmo lento e calmo, enquanto os dedos apertavam sutilmente o lençol encardido que o encobria. E o que mais me chamou atenção, foi o anel de âmbar preso em seu dedo, indicando que ele era um lobo.
  Lilu e Abel param um de cada lado meu, atentos quando levanto mais a balestra, mirando-a em direção ao peito do lobo adormecido, pronta para arrancar sua vida antes que ele pudesse se dar conta do que aconteceu.
  Meu dedo indicador vai até o gatilho da balestra, mas, antes que eu tenha a oportunidade de ceifar a vida deste lobo, um grito alto e agudo rasga a madrugada, quebrando o silêncio e ecoando por todos os lados. Ele vinha de fora, de outra casa, e parecia um grito sofrido de dor.
  Os olhos cor de âmbar se abrem em um piscar, e eles pareciam mais amarelados do que costumamos ver em outros dias. Em questão de segundos, o lobo deitado abre sua boca, deixando suas presas a amostra enquanto seu corpo se transforma mais rápido do que posso acompanhar. O seu tamanho parece duplicar, ao mesmo tempo que pelos nascem por cada centímetro de sua pele, o deixando com uma aparência completamente selvagem. Unhas grandes e afiadas rasgam suas mãos e pés descalços, acompanhando o rugido que escapa de sua garganta com mandíbula igual a de um verdadeiro lobo humanoide, mostrando filetes espessos de saliva pendurados em seus dentes afiados como facas. Eu nunca vi um lobo nesse tipo de transformação antes, era completamente intimidante.
  Por um instante, recuo, dando dois passos para trás, enquanto os meus olhos se arregalam em puro espanto, e minhas mãos vacilam na balestra.
  Em um salto rápido, o lobo se põe de cócoras sobre a cama, apoiando as mãos no colchão enquanto suas unhas o rasgam com agressividade. As linhas ao redor dos olhos se estreitam e seu focinho se enruga, deixando mais a amostra suas presas, como um cachorro raivoso. Os olhos cor de âmbar que pareciam brilhar sob a luz da lua, me têm como presa, encarando-me como se eu fosse um pobre veado amedrontado pronto para o abate.
  O lobo salta em minha direção, mas seu corpo é jogado para trás, quebrando um velho gabinete quando Abel sobrevoa meus ombros, o atacando, seguido por dois tiros que acertam o lobo nos olhos, cegando-o momentaneamente.
  – Não é hora para isso, Elena. – Lilu me encara séria e arrisca. Fazendo seu tom de voz pesado me atingir como um soco no estômago, acordando-me para o que acabou de acontecer. – Não teremos outra chance.
  Suas palavras ecoam dentro de minha cabeça, enquanto acompanho com o olhar, Abel lutar contra o lobo cego, tentando contê-lo em seus ataques. Lilu parte para cima do lobo também, mas como se pudesse sentir sua presença, ele se joga para o lado, levando Abel consigo. O vampiro grunhi de dor quando as garras afiadas do lobo passam por sua barriga, deixando quatro marcas fundas e sangrentas, o suficiente para irritar Abel até os ossos, fazendo-o pegar o lobo pela cabeça, não se importando com os próximos arranhões. Abel arrasta o lobo até a única janela do quatro, quebrando o vidro com o corpo daquele que ele ainda segurava pela cabeça.
  “Não teremos outra chance!”
  As palavras voltam a ecoar na minha cabeça, mas, agora, como se fossem um grito feroz que impulsiona o meu corpo a se mexer. Minhas pernas se destravam, por isso, corro até à janela, cuja, o lobo arranhava os batentes de madeira tentando voltar para dentro do quarto, enquanto Abel se forçava a mantê-lo fora. Paro ao lado do vampiro quando o lobo arranca uma grande lasca do batente. Com o estômago agitado, ergo a balestra, mirando mais uma vez em seu peito. E agora, sem deixar que algo nos interrompa, aperto o gatilho, fazendo a flecha com ponta de prata voar como o vento, atravessando diretamente o coração do lobo, deixando para trás um considerável buraco sangrento.
  Os seus olhos âmbar se arregalam, assim como sua boca. Desta forma, aos poucos, seu corpo começa a voltar ao normal, sem mais presas, pelos ou garras. Ele virava um humano enquanto morria, mas não sou capaz de observar toda sua transformação, pois Abel solta a cabeça do lobo, que despenca do segundo andar e cai no gramado de mato alto.
  Meu corpo relaxa por um momento, despencando no chão de madeira. Solto a balestra e apoio as costas contra a parede, deixando minhas pernas dobradas.
  Abel contorce o rosto em uma feição de dor e leva a mão até as marcas de garras em sua pele.
  Enfio uma mão dentro da bota e puxo de um dos dispositivos apropriados para guardar frascos, um pequeno e cheio com a erva Anti-Parálysi. Depois do que aconteceu na invasão das igrejas, Sally projetou pequenos dispositivos acolchoados para que pudéssemos manter os frascos seguros sem que se partissem em uma briga.
  Jogo o pequeno frasco para Abel, que o pega com apenas uma mão.
  – Deveríamos usar isso apenas em situações críticas. Não podemos gastar o pouco que temos. – Ele diz em meio a mais um grunhido.
  – Acho que isso é uma situação crítica. – Digo, encarando as marcas. – Acredite, você não vai querer isso piorando. Estou falando por experiência própria. Apenas aplique logo no machucado.
  Abel me encara por alguns segundos em silêncio, antes de enfiar a pequena agulha acoplada a rolha do frasco, em um dos seus cortes, ejetando todo o líquido para dentro do seu corpo. Seu rosto se torce de novo e de novo, mas ele parece um pouco mais aliviado quando termina. Os cortes ainda estavam abertos em sua barriga, mas considerando a sua regeneração vampírica, logo a erva faria efeito e ele estaria novo em folha.
  – Espero que tenham acabado, porque acho que teremos companhia. – A voz de Lilu soa um pouco tensa, e a vejo apertar os dedos finos no batente quebrado da janela.
  Com rapidez, pego a balestra e me levanto, vendo, além da janela, algumas casas com as luzes acessas. Em especial, na que ficava do outro lado da rua, de frente para a casa que estávamos, um grupo de cinco pessoas sai correndo para a calçada. Eles encaram o corpo morto no gramado e depois seus olhos amarelados sobem um pouco mais, até encontrarem os nosso.
  – Vamos! – Abel grita e corre para fora do quarto, nos fazendo segui-lo, mas ele tinha a vantagem de voar, nos deixando um pouco para trás.
  Lilu e eu descemos as escadas o mais rápido que podemos, a tempo de ver Abel voar para fora, seguido de uma mulher que corre para dentro, se transformando em lobo e pulando em nossa direção. Apertando firme a balestra, me abaixo depois de descer o último degrau, e a mulher-lobo acaba caindo sobre Lilu, nos degraus.
  Quando penso em ajudá-la, mais um lobo surge. Não tenho tempo de atirar em sua direção, mas consigo usar a extremidade da balestra para acertar seu rosto, fazendo seu corpo cair longo para o lado. Rosnando no chão, acerto três flechadas em seu corpo, duas na cabeça e uma no peito, o matando. Outro lobo surge, e esse pula em minhas costas, cravando seus dentes em meu ombro, quase arrancando a pele.
  Grito de dor e corro de costas até nos bater contra uma parede próxima. Seus dentes vacilam em meu ombro e, com isso, consigo jogar seu corpo por cima do meu, quebrando uma pequena mesinha que tinha perto do corredor da porta de entrada.
  Disparo freneticamente até as minhas flechas acabarem. Nenhuma delas atravessou seu coração, por isso, mesmo sangrando e machucado, o lobo se levanta, rosnando lentamente para mim.
  À medida que a mordida em meu ombro latejava, sinto meu corpo ser tomado por uma onda quente que corria por minhas veias, enchendo o meu corpo de uma raiva que borbulhava. E isso me faz quebrar a balestra ao meio e partir para cima do lobo, golpeando-o incansavelmente até que sua pele sangrenta salte para fora de seu corpo, respingando sangue para todos os lados. Finalizando, pego uma das flechas caídas no chão que disparei antes, e enfio com toda força em seu peito, escutando a ponta afiada rasgar sua carne dura.
  Me levanto com a respiração descompassada e as mãos tremendo pela raiva. Estava tão imersa no sentimento que só tive tempo de escutar o disparo que passa rente ao meu rosto, acertando algo atrás de mim que cai em um baque pesado. Quando procuro, vejo mais um lobo morto e Lilu com seu revólver estendido no ar. Os seus olhos ainda estavam escuros, e seu semblante era tão séria quando o sangue que manchava as suas mãos.
  Abel surge na porta da casa, segurando no batente de forma exasperada, o sujando de vermelho. Ele nos encara de forma pesada, como se dissesse que precisávamos sair agora. E quando corremos para fora da casa, temos um vislumbre do que possivelmente seria o inferno. Não havia mais silêncio e nem calmaria, vampiros voavam por todos os lados, enquanto lobos rugiam para a lua, acompanhando os disparos que vinham de várias direções diferentes, seguidos pelos gritos de dor e o sangue que respingava em cada parte de Upiór.
  – Isso aqui perdeu o controle. – Abel avisa. – Agora será matar ou morrer.
  Os meus nervos ficam tensos e meu sangue congela, mas não me deixo amedrontar. A raiva ainda pulsava em mim, como o machucado no meu ombro. Eu não usaria a erva agora, vou esperar mais um pouco, não tenho tantos frascos assim e, a menos que eu chegue em um ponto insuportável, manterei cada um dos machucados.
  Escutando minha própria respiração alta no meio do barulho, disparo a correr, indo para a rua, desviando de tudo que via pelo caminho, deixando as minhas pernas me levaram para onde eu mais queria ir desde que coloquei os meus pés aqui em Upiór.
  Atrás de mim, Lilu atirava em qualquer um que tentasse nos parar, fosse ele lobo ou vampiro. E foi assim que conseguimos alcançar a casa no meio da rua entre tantas outras. As paredes brancas estavam completamente manchadas de preto, e todos os vasos na frente estavam quebrados, derramando a terra para fora. Todas as janelas estavam sem vidros, e o telhado tinha um grande buraco, enquanto os tijolos da chaminé que não existia mais, se espalhavam por ali.
  Solto o ar com força, e meu coração ameaça acelerar quando caminha até à porta trancada, da qual abro com um chute de sola de pé, que faz a porta se arrancar das dobradiças e pender para o lado de maneira torta. Puxo uma das pistolas presas nos coldres em minha coxa, e dessa vez não sou nenhum pouco cuidadosa ao vasculhar o lugar que me fazia arrepiar dos pés à cabeça. Era quase como se eu ainda pudesse sentir cheiro de ervas e chá.
  Eu havia retornada a casa da vovó. E dessa vez, eu gostaria do meu chá saboroso e espesso, como uma bela xícara de sangue quente.
  Os meus pés batem no chão de madeira, e Lilu para do meu lado. Nossos olhos fazem o mesmo caminho, encarando o que se escondia dentro da escuridão: no alto da escada, agachado em cima do corrimão de madeira, um par de olhos vermelhos nos fitava, tão sedentos como um Dementador pronto para sugar uma alma.
  Entorpecida e cega pelo caçador que se reverberava dentro de mim, corro escada acima enquanto atiro em direção ao vampiro, que voa e me cobre com seu corpo, nos fazendo rolar escada abaixo. Por cima de mim, ele tentava me morder com suas presas longas, enquanto eu o segurava pelo pescoço, apertando o local até que ele sinta dor. A lateral de sua cabeça de cabelos curtos, é acertada por uma poderosa joelhada que vem de Lilu, arrancando o vampiro de cima de mim.
  Ela encara o vampiro caído e manuseia sua arma na mão, a colocando de volta no coldre debaixo dos seus braços. Lilu sorri de forma cruel e provocante, erguendo suas mãos cobertas pelos socos-ingleses, antes de se lançar para o vampiro, escolhendo matá-lo não com um tiro, e sim com seus próprios punhos. Ela era mais rápida que o vento, e desviava com maestria de cada investida do vampiro, o acertando com socos, chutes e golpes perfeitamente aplicados de luta que só ela sabia fazer. Quando foi acertada no rosto, Lilu simplesmente inclinou a cabeça para o lado de lambeu o sangue que escorria de sua boca, deixando que o vampiro machucado encare seu sorriso ensanguentado como última visão antes de morrer. Ela o acerta no peito com um soco, empurrando as pontas afiadas de prata do seu soco-inglês para dentro da carne até que perfure a pele e acerte o coração. Quando Lilu puxa sua mão para fora, ela está manchada de sangue até o pulso. O corpo sem vida cai no chão de madeira e Lilu vasculha por sua roupa, tateando o corpo até encontrar o que procurava. Com um pequeno frasco de água benta e um isqueiro, ela incendeia o vampiro, assim, incinerando sua alma Dementadora.
  Ela passa a mão manchada de sangue pelos cabelos alaranjados, fazendo as duas cores se misturarem quando ela tenta ajeitar os fios para trás. Em seguida, Lilu se afasta das chamas quentes que começavam a se espalhar pelo assoalho de madeira. Ela acena com a cabeça para que saíssemos da casa, e após eu dar dois passos para me virar em direção à porta, uma vampira voa para dentro com rapidez, me segurando pelos ombros e me levando para o segundo andar, enquanto os meus pés não tocavam o chão.
  Com suas unhas afiadas, a mulher de asas aperta os meus ombros até suas unhas entrarem na minha pele, me fazendo quase gritar de dor quando elas enfincam no lugar ferido pelo lobo. Sou arremessada para dentro de um dos cômodos do segundo andar, caindo sobre uma cama que vai para o chão e se quebra com o impacto do meu corpo, me fazendo largar a pistola. Poeira e madeira saltam para cima, me acertando sem machucar. Tusso algumas vezes, e vejo a vampira vindo em minha direção mais uma vez. Rapidamente ergo os dois pés e consigo a chutar para longe, enfim me levantando da cama quebrada e percebendo onde eu estava. Era o quarto que eu costumava dividir com Wendy.
  O meu corpo se arrepia em uma nostalgia ruim, enchendo as minhas narinas com o aroma das tulipas-negras que costumávamos deixar aqui em um simples vaso sobre a cômoda. Chacoalho a cabeça, afastando as lembranças, sabendo que não havia cheiro nenhum, era apenas a minha memória escolhendo um mau momento para me atrapalhar.
  Rapidamente procuro a pistola que soltei, e assim que os meus dedos tocam a arma, a vampira volta a me agarrar, tentando me levar em direção à janela sem vidro, ao meu tempo que Lilu entra no quarto disparando diversas vezes. A vampira é acertada na asa, por isso se apressa ao voar mais rápido, nos jogando para fora quando um dos tiros de Lilu acerta de raspão a lateral da minha coxa.
  Em meio à minha dor, puxo da manga do casaco uma das facas de caça, acertando e cortando uma das mãos da vampira, que acaba me soltando. E enquanto despenco no ar, consigo ter a mira perfeita, assim, usado a arma para acertar em cheio seu coração com uma bala de prata, a fazendo cair no ar também.
  Enquanto meu corpo atravessa o ar que me rodeia, espero pela dor, mas dois braços firmes me pegam. O meu corpo se acalma e respiro aliviado quando Abel me leva em segurança para o chão, me colocando sentada sobre a grama alta da frente da casa.
  Alguns vampiros por perto se agitam para nos atacar, mas Lilu sai da casa pronta para lutar com eles, deixando para trás as chamas quentes que começavam a espalhar uma fumaça densa e cinza.
  – Obrigada. – Agradeço a Abel, enquanto deixo de lado minha pistola e faca, buscando dentro da minha bota um frasco de erva Anti-Parálysi.
  Ele me encara severamente.
  Injeto a agulha sobre o meu ombro, e fecho os olhos, sentindo a dor ardente que causava até que todo o líquido entrasse em mim. Respiro fundo quando acaba, e jogo o frasco vazio no mato.
  – Algum problema? – Pergunto, percebendo que Abel ainda me olhada de forma estranha.
  Pego minha pistola e faca de volta, e me levanto do chão, pronta para ajudar Lilu.
  – Talvez você não acredite tão verdadeiramente em mim, vi isso em seu rosto quando eu a salvei. Sou sincero quando digo que preferia que o Conde estivesse com uma vampira. Mas aprendi a respeitar sua decisão. – O encaro atenta. – Eu realmente queria me vingar de alguma forma, mas ver como os vampiros, a minha própria espécie, estavam se juntado com lobos por um propósito tão miserável, me fez ficar enjoado. E é por isso que eu estou aqui do seu lado, te ajudando, porque, no final, não importa quem se case com o Conde, eu apenas quero reestabelecer a honra dos vampiros.
  Assinto.
  – Vamos fazer assim – Checo quantas balas ainda haviam em minha pistola. – Se todos nós sobrevivermos e conseguirmos dar um jeito nesses lobos, você estará livre para me caçar até o inferno, se isso ainda for sua vontade. – Sorrio de lado para ele e, surpreso por alguns segundos, Abel acaba retribuindo o sorriso esperto, antes que, juntos, corramos em direção às criaturas que lutavam com Lilu.

Capítulo 33
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