Drácus Dementer: Lycanthrope


Escrita porHels
Revisada por Natashia Kitamura


Capítulo 31

Tempo estimado de leitura: 10 minutos

  Já havia mais ou menos uma hora e meia que havíamos desembarcado em Chensa, e mais ou menos quarenta minutos que, de fato, entramos em Upiór. Tudo dentro de mim se retorcia em saltos de ansiedade que estavam quase me enlouquecendo. Quando as rodas do carro impulsionaram o veículo para passar diante uma grande plana velha que dizia “Bem-vindo a Upiór", foi inevitável não me sentir assim. Eu odiava esse tipo de emoção, penso que quase não existe nada pior do que estar ansioso por algo, mesmo que seja por algo bom. A emoção em si, é horrível e deixa nosso corpo em um estado incomodamente frenético.
  Na frente do carro que nos levava, haviam mais dois, e atrás, apenas um. Eu sabia que o sexto carro já havia chego na base, pois nós também estávamos quase lá, eu já conseguia ver. A estrutura de madeira não era muito grande, parecia tão velha que dava a impressão que desabaria. A vegetação alta ajudava a camuflar a base solitária no meio do grande terreno, não a deixando tão evidente, o que era bom.
  Logo reconheço Abel, que estava parado dentro da pequena varanda da base, encostado ao lado da porta aberta por onde o pequeno grupo de Filhos da Sombra que chegaram no sexto carro, entravam arrastando suas mochilas e baús. Alguns vampiros estavam juntos a Abel, espalhados pela varanda e em frente à base. Assim que cheguei em Chensa, liguei para Abel para avisar e, por isso, eu sabia que ele estava ali justamente nos esperando.
  O veículo balança um pouco, fazendo uma pequena curva enquanto entra no terreno áspero que fazia barulho debaixo das rodas, nos sacolejando levemente. Os três carros da frente param lentamente, e o de trás segue o mesmo caminho, parando logo após o nosso carro.
  Respiro fundo quando escuto Sally abrir a porta do lado direito, deixando o carro seguida por Lilu, que estava no meio. Na frente, Wendy sai da porta do carona, e o garoto que nos conduziu até aqui sai da porta do motorista. Encaro a base através do vidro insulfilmado uma última vez, antes de sair do carro também.
  Meus pés pisam no chão de terra e folhagem, e observo bem tudo ao nosso redor, não vendo nada além da estrada e da vegetação malcuidada. Os fiéis da igreja já saíam dos outros carros, recolhendo tudo que trouxeram nos porta-malas. Alef ajudava alguns, conduzindo todos até à entrada da base, onde os vampiros esperavam.
  – Aqui. – Wendy me entrega a minha mochila e uma grande bolsa de mão.
  Agradeço com um aceno de cabeça e ajeito tudo sobre os ombros, e quando as garotas também estão prontas, juntas caminhamos em direção à base, passando na frente dos fiéis que nos esperaram.
  Bato meu pé no primeiro degrau de madeira, deixando minha perna dobrada para apoiar a bolsa de mão sobre ela. Abel se desencosta da parede de madeira e se aproxima, ficando no topo da escada de quatro degraus.
  – E então, os lobos estão mesmo aqui em Upiór? – Pergunto, e todos ao nosso redor ficam em silêncio, prestando atenção.
  Durante a breve ligação que fiz a Abel, ele não me contou nada, por isso presumi que os lobos realmente estavam aqui, caso contrário, ele não nos faria perder tempo vindo para um lugar esquecido.
  Abel assente, antes de falar.
  – Os lobos e alguns vampiros estão se abrigando nas casas abandonadas do vilarejo. – Ele cruza os braços abaixo do peito de sua blusa verde-escura. – Mas eu não vi Henry, Amia ou qualquer um que tenha as características do híbrido que você descreveu. Porém, ao sobrevoarmos a floresta, percebemos um grande número de vampiros vigiando a antiga mansão, o que indica que provavelmente eles estão ficando lá.
  – Mas o lugar não pegou fogo? – Sally surge do meu lado e me encara confusa antes de olhar para Abel.
  – E é justamente por isso que esse é o lugar perfeito para se esconder. – Abel completa, e eu assinto em concordância.
  – Pelo menos umas três ou quatro vezes por dia, humanos são levados para a mansão, e penso que isso seja para alimentar Henry e o deixar mais forte para a transmigração.
  Sinto os fiéis da igreja ficarem tensos ao meu redor.
  – Lamentavelmente, isso não é de todo mal. – Suspiro alto e com pesar. – Pelo menos já sabemos que ele ainda não fez a transmigração. Mas teremos que ser rápidos agora, justamente por não sabermos quando Henry fará isso.
  – Certo, então vamos começar a nos preparar agora, pessoal. – Alef diz um pouco atrás de mim, com a voz alta para que todos escutem, antes de começarem a se mexerem e entrarem aos poucos para a base velha de madeira.
  – Você já avisou o Taehyung? – Pergunto para Abel, enquanto subo os degraus de madeira com as garotas.
  – Espero que você faça isso. – Ele responde e eu assinto. – Vou levar os vampiros para fazer mais uma ronda, nós avisaremos se virmos alguma coisa suspeita ou estranha.
  – Se revezem, vocês também precisam descansar, estão fazendo isso já tem um dia inteiro. – Wendy fala para Abel ao passar por nós.
  Abel assente em silêncio, antes de sair com os outros vampiros.
  Quando se vão voando pelo céu da tarde como morcegos, eu entro na base. O lugar cheirava a mofo e poeira tão fortemente que fazia o meu nariz coçar. A cabana tinha dois andares, mas, mesmo assim, ainda era pequena demais, e tenho certeza que não haviam camas para todos, na verdade, nem para metade de nós. Contudo, tenho certeza que conseguiremos nos ajeitar aqui por alguns dias, pois estávamos apenas de passagem.
  Minha equipe e eu arrastamos nossas coisas para o segundo andar após espiarmos o primeiro, do qual alguns fiéis já começavam a montar os preparativos juntos de Alef, que coordenava tudo.
  Atravessamos um pequeno corredor que rangia debaixo dos pés e acabamos entrando no único quarto que ainda estava vazio. Havia uma cama de lençol encardido, uma cadeira velha de balanço com teias de aranha, e uma cômoda rachada com uma janela suja de fundo.
  Sentindo meu corpo cansado pela viagem, me jogo sobre a cama que levanta uma acinzentada camada de poeira quando me sento no colchão fino que me deixava sentir as vigas de madeira da cama. Wendy senta do meu lado direito e Sally do esquerdo, e Lilu se senta no chão, se enfiando entre as minhas pernas, apoiando seu queixo sobre a minha coxa.
  – Acho que você deveria fazer aquilo agora. – Wendy diz e me olha de forma significativa. – Você comeu pouco no avião, e não vi você colocando aquilo na comida. Agora precisa pensar em outro também. – Sua voz era quase um sussurro, como se ela tivesse me contando um segredo, enquanto seus olhos vão até a minha barriga.
  Logo entendo o que ela quer dizer, e sei que minha irmã tem razão. Durante todo o voo e nas paradas, não quis pegar nenhum dos frascos com sangue que Taehyung me deu para que eu trouxesse nessa viagem. Mesmo tendo aceitado a minha condição e escolhido o meu lado, eu ainda temia pelos fiéis da igreja se me vissem ingerindo sangue.
  – Acho que está na bolsa. Você pode pegar pra mim? – Pergunto para Lilu, que assente e se arrasta pelo chão sujo até a bolsa deixado aos pés da cadeira de balanço. Ela a abre e vasculha por alguns segundos, até puxar um pequeno e transparente frasco cheio do líquido viscoso e vermelho.
  – Isso é tão estranho. – Lilu comenta após me entregar o frasco.
  – Eu sei. – Abro os olhos para ela, concordando.
  Puxo a pequena rolha marrom-clara, deixando que odor leve do sangue invada o ar.
  – Acho que tenho uma garrafa de água na mochila, se quiser. – Wendy oferece, mas nego com a cabeça.
  – Tudo bem. – Falo e encaro o frasco por alguns segundos, antes de levá-lo até à boca, virando todo o líquido para dentro. O sabor forte preenche cada canto da minha boca quando toca minha língua, descendo rápido e fácil por minha garganta.
  – E então... como é? – Sally pergunta, enquanto me encara de forma curiosa.
  – Tão ruim quanto parece. – Respondo em meio a uma careta de desaprovação.
  Sinto um leve enjoo em consequência ao sabor forte e metálico, então inspiro e expiro algumas vezes, esperando a sensação ir embora.
  – Não sei se posso me acostumar com isso. – Confesso, colocando de lado o frasco, sobre a cama.
  As garotas assentem.
  – Estou nervosa. – Sally nos encara após ficarmos alguns segundos em silêncio. – Estou mais nervosa do que fiquei na lua de sangue.
  – Eu também. – Wendy suspira alto.
  Escolho ficar em silêncio, pois também estava nervosa, mas não acho que seja bom intensificar tudo que estamos sentindo agora. Sei o quanto voltar a Upiór está mexendo conosco, por isso, acho que o melhor a se fazer agora é dar um tempo para que possamos digerir e nos preparar para tudo que estava por vir.
  – Eu só sei que não posso morrer agora que estou quase namorando. – Lilu fala de forma pesarosa, suspirando longamente.
  Franzo o meu cenho e troco olhares com Sally e Wendy.
  – Quase namorando com quem? – Sally pergunta de forma zombeteira.
  – Com o irmão mais velho e bonitão. – Lilu responde de forma despreocupada, inclinando sua cabeça para trás para nos encarar, encostando os fios alaranjados entre as minhas pernas e barriga.
  – Você gosta mesmo dele? Eu achei que só estava provocando, como sempre faz. – Mesmo que mantivesse o tom zombeteiro, Sally estava um pouco surpresa.
  Lilu dá de ombro.
  – Não sei, acho que sim. Ele é bonito, organizado, fala bem e sabe dar ordens como nenhum outro vampiro.
  – Pensei que odiasse ordens. – Comento, admirada e levemente espantada.
  Lilu parece pensar por alguns segundos, mas dá de ombros de novo.
  – Acho que o Hoseok está mais interessado em você. – Wendy fala, antes de dar um leve peteleco na testa de Lilu.
  Ela resmunga e faz uma careta, antes de esconder a testa com a mão.
  – Talvez eu esteja um pouco interessada nele também.
  Arregalo minimamente os olhos, achando graça de suas falas, pois eu me sentia escutando uma adolescente.
  – Você não o odeia? – Pergunto.
  – Você não pode ficar com dois vampiros, Lilu. – Sally diz, fazendo Lilu a encarar como se estivesse ultrajada.
  – Por que não? A Elena ficou com dois vampiros. E eu não odeio o Hoseok, ele apenas me irrita muito, porque não me deixou matá-lo na lua de sangue. Mas até que ele é bem bonitinho quando paro pra pensar.
  Wendy se desmancha em risadas e Sally a acompanha, enquanto o meu rosto esquenta nas bochechas.
  – Não é a mesma coisa, Lilu! – Me apresso em minhas palavras. – Eu não fiquei com os dois!
  – Mas você não beijou o Jungkook também? Não precisa negar, Eleninha. Aqueles irmãos são vampiros, mas sabemos que são lindos também. – Ela fala de forma calma como se me consolasse, mas apenas me deixa mais envergonhada.
  – Pelo jeito, no final, seremos as duas solitárias. – Sally caçoa em meio a uma risada.
  – Então acho que devemos ficar juntas. – Wendy passa o seu braço pelos ombros de Sally, a puxando para perto.
  – Acho que devemos fazer isso mesmo. – Elas riem juntas de toda a cena que Lilu criou, enquanto eu nego fracamente com a cabeça e acabo me entregando aos risos também, me sentindo mais relaxada e pronta para isso nesse momento.
  – Continuem com as besteiras de vocês. Eu vou mandar uma mensagem para o Taehyung agora. – Digo, e puxo o celular guardado no bolso traseiro das minhas calças.
  Assim que eu enviasse essa mensagem, o nosso plano oficialmente começaria; o expurgo dos lobos.

Capítulo 31
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