Drácus Dementer: Lycanthrope


Escrita porHels
Revisada por Natashia Kitamura


Capítulo 3

Tempo estimado de leitura: 26 minutos

  Isso não estava acontecendo. Simplesmente não parece real. Enquanto estou sentada no banco desse carro, espero ansiosamente pelo momento em que vou acordar e perceber que tudo não passa de um pesadelo, e que estou segura e bem distante da Transilvânia; mais especificamente, do castelo do qual estou indo agora.
  Discretamente, solto o ar entre lábios, enquanto encaro a paisagem do lado de fora do pequeno carro. E a cada árvore que deixávamos para trás, minha ansiedade ficava cada vez mais palpável.
  Sally e Lilu, que dividem o bando de trás comigo, parecem alheias ao meu nervosismo, talvez preocupadas demais com seu próprio nervosismo. Sei melhor do que ninguém que nenhuma delas gostaria de estar nessa situação também, mas nossas más escolhas nos trouxeram até este momento.
  Depois da conversa com Héllio e do com o Padre Abel, ganhamos apenas um dia para nós nos prepararmos, nem mais, nem menos, um único dia. Dormir foi algo que eu realmente não fiz, e penso que as garotas também não.
  Levantamos muito cedo e fizemos nossas malas com as poucas coisas que trouxemos, aparentemente, nos mandariam o restante alguns dias mais tarde. E recebendo as últimas instruções de Héllio e do Padre, nós quatro nos enfiamos dentro de um pequeno e simples táxi, o único que aceitou nos levar até o Castelo do Drácula, porque parece que as lendas sobre vampiros assustam alguns dos humanos. E mesmo se algum deles não acreditar, morar em um castelo afastado te torna o tipo de pessoa incomum do qual as outras podem não querer nenhum tipo de contato. De acordo com o taxista de meia-idade, apenas os jovens e os velhos excêntricos costumam visitar o castelo no alto da colina.
  Eu torcia fervorosamente para que essa viagem de táxi fosse a mais longa possível, ou que algum imprevisto acontecesse, como um enorme meteoro vindo do céu, nos esmagando e acabando com o meu nervosismo.
  Isso era ridículo, essa maneira como estou agora. Sei que nenhum caçador da igreja em sã consciência gostaria de ir para o covil dos vampiros, mas estou passando dos limites, extrapolando a linha da racionalidade. A verdade é que durantes esses quatro anos, eu venho tentando me convencer de que deixei tudo para trás na lua de sangue, que ela foi o meu desfecho, e durante algum tempo, ela realmente foi, mas isso caiu por terra quando eu descobri que os filhos de Henry ainda estavam vivos. Agora, eu sinto que quatro anos da minha vida estão sendo jogados por uma janela, porque não passam de uma mentira. Eu sei que só conseguirei seguir, de fato, a minha vida e ficar em paz, quando eles desaparecerem. E para que isso aconteça, eu preciso juntar todo meu autocontrole enquanto estiver no castelo, para que tudo dê certo e eu me livre desses vampiros de uma vez por todas.
  O taxista estaciona o carro em frente à pequena entrada de pedra, Castelul lui Dracula, havíamos chegado. Ele retirou nossas poucas malas do porta-malas do seu táxi, e disse que se esse fosse outro lugar, ele até que levaria as malas para nós, mas como é o Castelo do Drácula, ele não faria. Wendy bem que tentou subornado com algumas notas, do mesmo jeito que fizemos para que ele nos trouxesse aqui, mas, dessa vez, não deu certo.
  E aqui estávamos, os Filhos Da Sombra, quatro garotas, sozinha, largadas em frente ao covil dos vampiros, com uma única missão que parecia impossível e muito suicida.
  Suspiro alto e me forço a me recompor, porque a hora era essa e não dava para voltar.
  Tomo a frente, pegando minhas duas malas e caminhando em direção à entrada de pedra, andando sobre as folhas caídas. Escuto os passos das garotas atrás de mim e, em silêncio, andamos pelo mesmo caminho que fizemos na noite do baile.
  Depois de passarmos pela pequena ponte e pelo enorme jardim, meu nervosismo salta dentro de mim quando começamos a subir as escadas que nos levarão até à porta de entrada do enorme castelo.
  Por alguns segundos, fechos os olhos e respiro fundo, em silêncio, assumindo o controle outra vez. Eu podia fazer. Eu conseguiria fazer isso.
  Em frente à enorme porta dupla e entalhada, coloco minhas malas no chão quando as meninas param atrás de mim, e me preparo para bater na porta, mas ela se abre antes que eu tenha a oportunidade de fazer.
  Tento conter o espanto quando vejo Skull parado do outro lado, exatamente como há quatro anos atrás. Ele não havia mudado nada, nem mesmo suas roupas pareciam diferentes.
  – Senhorita Elena, é de imenso prazer revê-la outra vez. – Com o olhar sem qualquer vestígio de emoção, e com uma mão formalmente posicionada atrás do corpo, ele fala.
  Mexendo apenas os globos oculares, Skull olha para mim e depois para as meninas.
  – Por favor, entrem. – Ele empurra a porta para dentro, nos dando espaço, depois curva seu tronco e permanece assim até que todas entremos.
  Com as malas em mãos, mais uma vez, permaneço parada do lado de dentro, e espero até que Skull tome a frente pelo hall de entrada.
  Em silêncio, nós cinco caminhamos até que estivemos de frente para o lugar repleto por pilastras e escadas curvadas.
  Blarie, de mãos dadas com Hyun, que parecia um pouco maior agora, descia uma das escadas, mas para assim que me vê. Seus olhos se arregalam levemente, e sem entender, Hyun a encara com confusão.
  Seus cabelos cor púrpura eram mais lisos e mais curtos, pouca coisa, mas o suficiente para lhe dar uma aparecia mais jovial. O seu costume por longos vestidos permaneceu intacto, e ela estava impecável como sempre esteve.
  Hyun tinha os cabelos mais longos cobrindo toda sua testa, e sua altura havia mudado muito pouco. De resto, era o mesmo garotinho de antes. Quando seus grandes olhos me encontram, diferente de Blarie, ele sorri, mas não sou capaz de corresponder.
  Mesmo estando na frente, consigo sentir a inquietação da minha equipe atrás de mim, me lembrando o que eu deveria fazer.
  Sem tempo para respirar fundo outra vez, me junto com minha coragem e dou um passo para frente, sentindo todos me olharem.
  – Taehyung, estou aqui agora... eu aceito o seu pedido! – Grito, sabendo que ele me escutaria perfeitamente de onde quer que esteja.
  Meu corpo inteiro vibra por dentro quando minha voz ecoa pelo castelo, como se fosse um grande choque de realidade que me falava "é, você realmente está nisso".
  – Skull, por favor, mostre os quartos. – Blarie diz, estática, sem nem piscar enquanto me encara.
  Skull acena silenciosamente.
  – Creio que as senhoritas gostariam de ficar sozinhas. – Aceno também, concordando com a sua afirmação.
  E assim, ele nos guia para a escada do lado oposto a que Blarie e Hyun estavam. E mesmo sem olhá-la, eu podia sentir o seu olhar me acompanhar enquanto eu subia os degraus da escada curvada.
  Depois que subirmos a escada, tento decorar o caminho do qual Skull está nos levando, mas parece um pouco impossível, tendo em vista que estávamos em um castelo. E para chegarmos até o lugar onde ficaríamos, tivemos que subir mais três lances de escadas, e tivemos que passar por inúmeros corredores iluminados por velas pesas em candelabros e castiçais. Por um momento, me sinto preparada para o pior, vendo que parecíamos nos afastar cada vez mais da entrada do castelo. Isso parecia uma emboscada?
  Meus olhos ficam atentos a cada movimento, até o mínimo deles, como o balançar das chamas das velas.
  Após subirmos um quatro lance de escadas, entramos em um corredor ao lado direito, dobrando-o para a esquerda e entrando em um novo corredor.
  Skull finalmente para de andar.
  Eu consegui contar nove portas nesse corredor, quatro ao meu lado esquerdo e cinco ao direito. O corredor tinha um fim, indicando que era o único nesta ala; uma grande parede feita com tijolos marrons, depois da última porta, me mostrava isso.
  – Conhecendo um pouco a Senhorita Elena, pensei que seria bom acomodá-las em uma área mais isolada do castelo, assim, todas poderão desfrutar de sua privacidade. – Skull diz sem esboçar emoção em sua fala, mas sem deixar de ser formal, como de costume. – Não há mais ninguém neste espaço. Podem ficar à vontade para escolherem qualquer um dos nove quartos. Espero que sejam de seu agrado, mas, se não for, por favor, me avisem e cuidarei disto.
  Aceno para Skull, entendendo.
  – Se me dão licença, preciso voltar aos meus afazeres. O jantar será servido às nove em ponto, por favor, se aprontem para isso. Pedirei que façam a melhor comida da Transilvânia esta noite. – Skull se curva educadamente, fazendo seu longo cabelo pender para frente, antes que ele saia silenciosamente, nos deixando sozinhas.
  Ainda em silêncio, nos encaramos por alguns segundos em meio as nossas malas. Lilu é a primeira a dar de ombros, indo até uma das portas do lado esquerdo e escolhendo um dos quartos.
  Ela abre a porta de madeira e coloca apenas sua cabeça para dentro do quarto, em seguida, ela se afasta, segurando a maçaneta, e nos encara com os olhos arregalados.
  – Mesmo se juntarmos todos os nossos quartos, não teremos isso aqui. – Ela ponta para a porta entreaberta.
  Curiosa, ando para perto dela e abro a porta ao lado da sua, a última porta do lado esquerdo. E assim como os de Lilu, meus olhos também se arregalam ao deslumbrarem o quarto mais lindo que já vi em toda a minha vida.
  Grande parecia um adjetivo muito pequeno para descrevê-lo. Havia uma cama de casal ainda maior da que vi naquela mansão em Upiór, com um lindo dossel rosa que ia do teto, passando pelo lençol e colcha em tons claros, até o chão. Um tapete perfeitamente branco e que parecia muito macio se estendia por cada pedaço do chão do quarto. Onde, sobre ele, havia um enorme guarda-roupas que cobria por completo uma das paredes, enquanto uma cortina da mesma cor que o dossel, se encarregava de cobrir a outra parede de frente para o guarda-roupas; as cortinas não eram tão escuras, por isso, eu consegui ver as portas de vidro que ela escondia, a varanda do quarto. Também havia uma linda penteadeira antiga, com um espelho e velas, perto da cama. Um lustre que parecia de cristal, adornado por mais velas, estava pendurado no teto. E por fim, mais uma porta, está de madeira também, provavelmente levava para o banheiro.
  – Quanto dinheiro você precisa ter pra construir um quarto desses? – Wendy pergunta enquanto tenta enxergar sobre os meus ombros.
  Mesmo que eu ainda esteja um tanto deslumbrada com o que vejo, consigo me recompor rapidamente, pedindo para que as garotas escolham de vez. E depois que elas já o fizeram, todas nós nos reunimos no "meu quarto", para que pudéssemos conversar sobre o que faríamos.
  Sally estava sentada ao meu lado, sobre a cama. Wendy estava deitada de lado, com a cabeça apoiada na mão, enquanto Lilu estava com a cabeça deitada no meu colo.
  – Eu estou com fome. – Lilu resmunga, me encarando.
  – O jantar é às nove. Você escutou. – Wendy fala, enquanto morde uma das unhas.
  – Será que devemos comer fora? E se eles colocarem alguma coisa na comida? – Sally pergunta, fazendo todas nós ficarmos em silêncio por alguns segundos.
  – Deveríamos morrer de fome então? – Lilu balança sua franjinha alaranjada.
  – Não acho que eles vão fazer isso. Como o Padre e o Héllio disseram, pelo menos, não por enquanto. Acho que os primeiros dias serão os mais tranquilos, então devemos aproveitar. – Digo.
  – Tenho certeza que eles vão usar os primeiros dias pra descobrirem por que aceitamos vir pra esse castelo. Do mesmo jeito que estamos planejando fazer. – Wendy diz, voltando a morder suas unhas.
  – Precisamos ser mais inteligentes e rápidas, não esqueçam. – Lilu fala um pouco alto, e faço um sinal para que ela abaixe o tom da sua voz. Nós estamos em um castelo repleto de vampiros, e sabemos como eles podem escutar as coisas.
  – Sim, nós precisamos ser. – Suspiro, enquanto começo a passar meus dedos pelos cabelos laranjas de Lilu, pensando exatamente sobre o que deveríamos fazer. – Pelo que me lembro, esses irmãos costumavam ser bem noturnos.
  – Sabemos que esse lance de vampiros só saírem de noite, é besteira. Isso só funcionaria para os que não têm o anel do sol. – Lilu me interrompe.
  – Sim, eu sei. Mas o que eu quero dizer, é que eles costumam sair muito de noite, então, acho que esse vai ser o momento perfeito. Depois desse jantar, nós vamos nos separar e investigar esse castelo. Precisamos nos familiarizar, conhecer, porque tenho certeza que um lugar desse tamanho, com certeza esconde muitas coisas.
  Elas assentem.
  – Mas peguem leve. Nós não temos quase nada aqui. O restante das nossas armas só vão chegar com as nossas roupas daqui uns dias.
  Com a nossa decisão precipitada, viemos para a Transilvânia com apenas básico. E como usamos alguns itens durante o baile de máscaras, não nos sobrou muita coisa, por isso, entrar em qualquer tipo de briga com esses vampiros, não era uma opção válida no momento.
  – Nós estamos contando que eles irão sair. Mas e se não saírem? – Sally pergunta, pegando um dos inúmeros travesseiros cobertos por fronhas de seda, e colocando entre suas pernas cruzadas.
  – Ei, você fala como se fossemos novatas. Somos os Filhos Da Sombra, e estivemos treinando por muito tempo. Somos tão boas quanto eles, podemos fazer isso sem que descubram. – Lilu sempre se sentia ofendida quando duvidavam da capacidade de nossa equipe, mesmo que isso viesse de uma de nós.
  Suspiro alto.
  – Vocês investigam o castelo e eu me encarrego de distrair quem ficar. Acho que já está na hora de ter alguns reencontros aqui. – Suspiro outra vez, nervosa apenas com a ideia.
  Meu dedo anular da mão esquerda acaba ficando enganchado no cabelo de Lilu, e isso se dá a porcaria do anel que estava preso no meu dedo. Com cuidado, desemaranho o cabelo, para não a machucar.
  Encaro a pedra vermelha, querendo que lasers pudessem sair dos meus olhos para derreterem esse anel. Eu não entendo porque ele não sai, nem está apertado, quero dizer, não me machuca e não parece apertado, ficava exatamente como um anel normal, no entanto, toda vez que eu tentava tirar, ele não saia.
  – Tem certeza disso? – Wendy me pergunta, encarando-me um pouco preocupada.
  Se vamos fazer isso, não posso permitir que as garotas precisem pensar em mim cada vez que fazemos algo. Eu preciso assumir o controle e mostrar que nada vai me afetar daqui para frente.
  Assinto para Wendy.
  – Vou fazer isso, porque estou louca pra ter uma conversa com o meu noivo.

***

  Depois que conversamos a respeito de nossos planos, as garotas foram para seus respectivos quartos organizarem suas coisas e se prepararem para o que viria mais tarde. E aproveitei para fazer o mesmo, foi algo rápido, não haviam muitas coisas nas minhas malas, e acho que nem vou precisar de muito, porque assim que vasculhei o enorme guarda-roupas, fiquei completamente surpresa ao encontrar uma variedade de roupas, sapatos e produtos femininos organizados e guardados.
  Talvez isso soe um pouco idiota, mas entrar nesse quarto, ver essas roupas e toda a decoração presente aqui, me fazia sentir como se eu estivesse entrando no guarda-roupa de Nárnia, mas, ao invés de sair em Nárnia, eu me sentia dentro de um filme antigo sobre vampiros. O sentimento que esse lugar e as coisas dele me traziam, era de pertencer a um mundo fictício de algum filme ilusório que explorava a empolgante e sombria lenda das criaturas que sugam sangue. E no meu caso, sei que sangue é apenas uma pequena parte disso.
  Todo o estereótipo do que é ser um vampiro exalava nesse castelo. Até mesmo aqueles que não acreditam em vampiros, com certeza pensariam nessas criaturas quando entrassem nesse lugar. Era a exata sensação que tive quando entrei na floresta de Upiór, aquela sensação de algo místico e irreal, de ser tirada do mundo real e inserida em algum conto de fadas sombrio e bastante tenebroso e mórbido.
  Após me perder em pensamentos bobos, percebi que a noite havia chego. Skull não demorou aos nos chamar para o jantar que, para minha surpresa, seria apenas as garotas e eu. Nenhum dos irmãos ou a Blarie apareceram, e quando questionei Skull sobre isso, ele me respondeu que eles estavam cuidando de seus negócios. O mordomo não me deu oportunidade de continuar com minhas perguntas, pois, logo depois, saiu da sala de jantar.
  Esta sala de jantar ficava no segundo andar, eu contei as escadas que descemos. E ela era enorme como tudo aqui. Uma mesa com tantos lugares que sou incapaz de contar, repleta pelas mais variadas comidas que enchiam os olhos de qualquer um.
  Mesmo tenho quase certeza que não haviam colocado nada na comida, eu gostaria de tê-las examinado antes, isso se não fosse por Lilu, que começou a comer antes mesmo que eu pudesse dizer qualquer coisa. E entre bandejas de prata e velas decorativas, não tivemos outra escolha a não ser acompanhar Lilu. E durante todo o jantar, tentamos não falar sobre coisas que pudessem estragar os nossos planos, estávamos sempre com os olhos e ouvidos atentos.
  Ao final do jantar, troquei um olhar significativo com as garotas, que logo entenderam. E assim que Skull nos levou de volta ao corredor dos nossos quartos, decidimos esperar alguns minutos antes de iniciarmos nossa investigação pelo castelo, para dar tempo do mordomo se afastar.
  Com isso, acabei indo tomar um rápido banho, pois ele seria do tempo ideal até que a minha equipe começasse com tudo. E como o quarto, o banheiro também era extremamente grande e deslumbrante, com um enorme espelho de corpo todo, uma pia de mármore com uma torneira antiga em formato da cabeça de uma gárgula, um chuveiro com uma ducha bem generosa e uma incrível banheira.
  Logo após meu banho, acabei tendo que usar uma das roupas que estavam no guarda-roupas, já que só trouxe roupas para combate e a roupa que usei no baile. Vesti uma longa camisola de seda branca que cobria os meus pés, e coloquei um robe de mesma cor por cima.
  Skull disse que todos estão cuidando de seus negócios, mas para o caso de algum deles voltar, eu estaria com roupas de dormir, e essa seria a minha desculpa caso eu fosse pega.
  Caminho até as longas cortinas rosas e as afasto para o lado, abrindo as portas de vidro, deixando que o vento de fora entrasse no quarto. Eu me sentia um pouco nervosa e pensar em um suposto reencontro, e mesmo que esse quarto fosse gigante, o ar parecia ter sumido por conta do meu nervosismo, por isso, preciso do vento gelado para respirar melhor.
  Entro na sacada, observando a noite da Transilvânia. A brilhante lua, era a única a preencher o céu. Eu não sei exatamente em qual direção o meu quarto fica, mas a única vista de que tenho é a de um grande jardim repleto de estatuas e de árvores altas da floresta.
  Duas suaves batidas na porta, me fazem sair da sacada e voltar para o quarto. Com os pés descalças cobertos pela camisola de seda, caminho até à porta, percebendo que não havia ninguém do outro lado.
  Saio do meu quarto e olho para os dois lados do corredor, os vendo vazios. Em seguida, vou até o quarto de cada uma das garotas, os encontrando vazios também, elas já haviam ido.
  Quando saio do quarto de Sally, percebo uma sutil e rápida sombra no final do corredor, se escondendo. E com o cenho franzido, corro de volta para o meu quarto e procuro pela faca de caça que trouxe comigo, a prendendo por dentro do robe com o cordão que estava por fora.
  Deixo meu quarto outra vez e fecho a porta, olhando com atenção para o final do corredor, não vendo mais nada. Com cuidado, começo a caminhar de forma silenciosa. Viro ao final e encaro o novo corredor, vendo a sombra correr para longe.
  Coloco minha mão por cima do robe, sentindo a faca de caça. Começo a seguir a sombra, sentindo o ar gelado preencher o corredor. Passo em frente a escada que vinha do quarto andar para este que estou, e a sombra para abruptamente de frente para uma aberta da qual eu não sabia para onde levaria.
  A sombra estava de lado e permanece desse jeito por alguns segundos, antes de virar apenas sua cabeça, fazendo dois pequenos círculos amarelado-alaranjados, como uma pedra de âmbar, brilharem em minha direção.
  Paro no lugar, com uma sensação completamente estranha enquanto sou observada pelos pequenos círculos.
  O que julgo ser um par de olhos, se desviam, e a sombra corre para dentro da abertura, sumindo do meu campo de visão. Mesmo com essa sensação, corro atrás da sombra, sabendo que, de alguma forma, eu precisava ir atrás dela. E quando alcanço a abertura, percebo que era uma escada que levava para um novo andar.
  Corro sobre os degraus iluminados por velas presas nas paredes, saindo em um novo corredor com uma janela grande no final dele. Descalça sobre o tapete vinho, começo a caminhar pelo corredor em busca da sombra que havia desaparecido.
  Haviam algumas portas aqui, mas os meus olhos não desgrudavam da grande janela. E assim que chego na metade do corredor de paredes com quadros, um arrepio percorre meu corpo quando sinto uma presença atrás de mim.
  Mais uma vez, coloco uma das mãos sobre o robe, pronta para usar a faca de caça caso fosse necessário. Em meus pés descalços, rapidamente viro meu corpo, dando um passo involuntário para trás que me faz tropeçar nos pés, mas sou apanhada por uma mão firme e grande, que não me deixa cair.
  Os olhos escuros de Taehyung me encaram com apatia, enquanto minhas mãos estavam sobre seu tronco, na tentativa de manter seu corpo longe do meu para que ele não sinta a faça de caça escondida debaixo do robe.
  – O que você está fazendo? – Seus olhos piscam lentamente enquanto ele me encara.
  Afasto sua mão do meu corpo, e me mantenho a dois passos de distância.
  – Conhecendo o lugar que vou ficar. Já que você não me mostrou nada. – Cruzo os braços, e torço para que ele acredite na minha mentira.
  – Você queria que te mostrasse o castelo? – Mesmo que sua expressão continuasse apática, eu sei que ele está fazendo isso só para me provocar.
  Limpo a garganta.
  – Skull disse que vocês saíram, que estavam cuidando de negócios, ou qualquer coisa do tipo. – Desvio o olhar por um segundo, me sentindo nervosa por estar sozinha com ele, o que era estúpido demais.
  – Eu estou cuidado de negócios. E você deveria estar dormindo. – Taehyung diz e depois se afasta, caminhando até à terceira e última porta do lado direito.
  Comprimo os lábios e o sigo, entrando atrás dele na sala que descubro ser um escritório. A iluminação do lado de dentro era baixa e havia vários livros por todos os lados, postos em duas estantes grandes e altas.
  Taehyung me olha de canto de olho sobre os ombros, enquanto caminha para trás da grande mesa de madeira.
  – Você tem um escritório agora. – Digo sem interesse, enquanto olho para todos os detalhes do lugar.
  – Eu tenho muitas coisas agora, Elena. E você é uma delas.
  Volto a encarar Taehyung, que estava encostado contra a mesa, me fitando com um pequeno sorriso insolente nos lábios avermelhados.
  Sabendo que uma carranca havia se formado em meu rosto, caminho até ele.
  – Vamos deixar as coisas bem claras. Não é porque eu estou aqui, que você vai fazer o que quiser comigo. Eu não sou sua. – Falo séria, e isso só faz o sorriso dele aumentar.
  Taehyung inclina levemente a cabeça para o lado, fazendo os fios brancos balançarem em frente aos seus olhos.
  – Estou curioso para saber o que te levou a aceitar o meu pedido. – Ele cruza os braços, com um olhar zombeteiro, completamente provocativo a sua fala.
  Ergo minha mão esquerda no ar e aponto para o anel no meu dedo anular.
  – Estou ficando aqui até conseguir tirar esse anel. Quando isso acontecer, eu vou embora.
  Taehyung encara o anel e depois a mim, se desencosta da mesa e fica bem próximo. Como sempre faço, penso em dar um passo para trás, mas, dessa vez, não o faço, não vou deixar que ele me intimide. E se ele acha isso engraçado, pois deve saber que estou falando sério.
  Ele toca a lateral do meu rosto, e depois segura uma fina mexa do meu cabelo, deslizando seus dedos até o final.
  – Você se lembra da noite em que estávamos naquele bar em Upiór, e eu te disse que quando você estava perto de mim, era um pouco mais verdadeira? – Ele pergunta, e eu franzo o meu cenho, confusa e desconfiada com sua conversa. – Eu sempre te irritei, não é? – Ele sorri, e seus olhos fitam de minha boca até os meus olhos, de forma lenta. – Acho que esse era o motivo de você ser sincera. Talvez, sua irritação te deixe mais verdadeira.
  – Por que está falando isso? – Pergunto, um pouco irritada.
  Taehyung coloca meu cabelo para trás, deixando a amostra o lugar onde eu sabia que ele havia mordido.
  – Você mudou, eu percebo isso. Está mais parecida com essa Elena irritada... eu gosto disso. – Mantendo seu sorriso, seus olhos se desviam do meu pescoço e encontram os meus.
  Afasto sua mão quando ele ameaça tocar meu pescoço.
  – E você não mudou nada. Continua o mesmo vampiro idiota de quatro anos atrás. – Não me contenho e acabo dando um passo para trás, querendo me afastar dele. – Eu só quero entender por que você me mandou esse anel.
  Taehyung arqueia as sobrancelhas, de novo, com a expressão irônica.
  – Pensei que estivesse óbvio.
  Ele se aproxima e eu recuo, e fazemos isso até que eu sinta as minhas costas contra uma das estantes. Com uma das mãos escorada contra as prateleiras, Taehyung me encara profundamente.
  – Eu gosto de você, Van Helsing.
  Eu definitivamente pude sentir o meu coração parar por alguns segundos.
  – Isso é ridículo. – Minha voz sai mais baixa do que eu gostaria. E tenho certeza que a minha expressão deve ter me entregado agora. – Nós nunca tivemos esse tipo de relação, Taehyung.
  – Nós vamos nos casar.
  – Não vamos.
  – Então por que você ainda não tirou esse anel? – Ele sorri vitorioso, me fazendo empurrá-lo para longe com o coração acelerado e com as veias cheias de nervosismo.
  Bato os pés descalços até à porta do escritório, e o encaro sobre os ombros antes de sair.
  – Nós não vamos nos casar. Isso é uma promessa.
  Saio e bato a porta, andando cheia de irritação pelo corredor.
  Gostar de mim? Ele não gosta de mim e eu sei disso. Que tipo de relação ele pensa que tivemos? Nós só nos desentendíamos, o mais perto que chegamos, foi quando eu dei para ele aquele buquê, fora isso, ele está brincando comigo e eu não vou deixar. Eu só preciso me livrar dessa porcaria de anel que não sai do meu dedo.
  Com certeza o castelo inteiro conseguiu escutar os passos pesados que dei até voltar para o meu quarto.
  – Ei, querida, vai com calma. Não faz bem dormir irritada. – Assim que bato a porta do meu quarto, a visitante que estava sentada na minha cama, diz.
  Se eu estava irritada por meu encontro com Taehyung, eu definitivamente estava fervendo agora.
  – O que você está fazendo aqui? – Pergunto, perto da porta.
  Ela descruza as pernas e se levanta da cama, vindo calmamente em minha direção.
  – Vim te dar as boas-vindas. – Com os lábios pintados de vermelho, ela sorri quando para perto de mim.
  – Boas-vindas? – Enrugo as sobrancelhas, desacreditada. – Pensei que estivesse tentando me matar. – Falo, a encarando seriamente.
  – Não guarde mágoas. Isso está no passado. E eu quero te pedir desculpas por aquela noite. Eu estava apenas defendendo o Conde, você entende, não entende?
  Como ela consegue agir dessa maneira?
  – Eu com certeza entendo. – Mesmo que sendo irônica, ela sorri como se eu tivesse aceitado seu pedido de desculpas.
  – Isso é ótimo. – Ela me abraça, me fazendo arregalar os olhos em irritação. – Companheiras não devem guardar rancor uma da outra.
  Incrédula, a encaro sem entender. E ela sorri de novo, enquanto passa uma das mãos por seus cabelos rosas, fazendo o anel de pedra vermelha que estava em sua mão esquerda, se tornar visível.
  – Somos as noivas do Drácula, querida. Em breve seremos uma família, por isso, é bom que deixemos as coisas boas entre nós duas agora. – Me encarando intensamente, ela toca meu queixo, o segurando entre os dedos, antes de aproximar seu rosto e encostar seus lábios nos meus em um selar.
  Amia se afasta e sorri uma última vez, saindo e me deixando completamente atônita dentro desse quarto, enquanto encaro um pequeno papel dobrado voar da sacada para dentro do quarto, acompanhando os movimentos das cortinas.
  Demoro alguns segundos até conseguir me mexer e ir até o papel dobrado e caído no chão. Vendo, assim que abro, a palavra Lycanthropia escrita no que parecia ser a página de um livro.

Capítulo 3
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