Drácus Dementer: Lycanthrope


Escrita porHels
Revisada por Natashia Kitamura


Capítulo 28

Tempo estimado de leitura: 30 minutos

  – Vá com calma. – Jin fala, sentado do outro lado da pequena mesa redonda de ferro cinza. Ele estava com as pernas cruzadas e as mãos apoiadas no joelho, enquanto o sol cobria grande parte do seu corpo, tornando sua pele ainda mais pálida sob os raios quentes.
  Tusso algumas vezes, enquanto passo as costas da mão na boca, limpando os vestígios de sangue.
  Coloco a xícara suja com uma mistura de chá e sangue, em cima da pequena mesa que estava na sacada do quarto do Jin.
  Na noite passada, após conversar com Taehyung, nós passamos a madrugada no meu quarto, visto que o seu estava “cheio” demais. Nós dois conversamos e decidimos o que deveria ser feito em relação a Henry e os lobos. Pela manhã, encontrei Jimin, nós conversamos também e ele disse que se eu resolvesse ter esse bebê, deveria falar com o Jin, pois uma gravidez vampírica era diferente da humana. E Jin, por ser o irmão mais velho, acompanhou sete gestações de sua mãe, portanto, segundo Jimin, ele era o mais adequado para me ajudar nisso.
  – Vou pedir para Skull fazer como combinamos. Primeiro ele começa a colocar pequenas doses de sangue misturadas a chás e outras bebidas que mascarem o gosto e, conforme o passar do tempo, ele aumenta as doses até que você consiga ingerir o sangue puro, sem nada. – De forma calma, Jin explica.
  Mais uma vez, encaro a xícara vazia, pensando se um dia vou realmente ser capaz de me familiarizar com esse gosto forte e metálico do sangue. Mesmo que estivesse misturado ao chá, ainda assim, era desagradável ao meu paladar. Eu devo ter demorado, ao menos, uns vinte minutos para encontrar coragem para beber isso. Não estou mais com a igreja - se tornou um fato, mas isso não significa que seja fácil para mim, sair bebendo sangue como se fosse uma vampira, ainda mais quando parava para pensar de quem poderia ser; fiquei receosa de perguntar para Jin de onde o sangue veio.
  – Obrigada por me ajudar. – Encolho os ombros, enquanto encaro Jin.
  – Não precisa me agradecer, nós somos uma família agora. E acredite, os Draculs são leais à sua família, Elena. – Seu rosto não se altera, assim como o tom de sua voz, por isso sei que ele não estava mentindo. – Essa criança dentro de você é o nosso sangue, a nossa herança e continuidade. Algo tão importante quanto o próprio Drácula, mesmo que ela nasça de uma Van Helsing.
  Antes, eu estava completamente receosa sobre vir falar com Jin, pois ainda me recordava da primeira conversa que tivemos aqui no castelo. De todos os irmãos, ele era o que eu mais temia um julgamento ou retaliação.
  – Preciso confessar que no começo eu era contra essa união entre você e o meu irmão. – Jin faz uma pausa e encara além da sacada, a floresta do lado de fora do castelo. – Não apenas porque você é uma humana, mas porque esse tipo de união não tem um bom histórico, principalmente vindo de um Van Helsing. Talvez você não saiba disso, mas uma única vez, uma Van Helsing se uniu a um vampiro, e ela pagou por isso com sua vida, pois foi queimada em uma fogueira junto da criança que carregava em seu ventre, pela igreja.
  Não consigo esconder a surpresa ao escutar suas palavras. E, involuntariamente, minhas mãos vão até minha barriga, espalmando no lugar como se quisesse proteger o que havia ali dentro.
  – Creio que não preciso explicar o motivo da igreja nunca ter contado essa história para as novas gerações. – Jin me olha sugestivamente, e eu assinto de forma fraca e chocada. – Por isso é tão importante te proteger agora, Elena. Nós não sabemos o que eles pretendem fazer se conseguirem te capturar.
  Um fraco arrepio passa por todo o meu corpo, que se encolhe na cadeira de ferro cinza.
  – Quando soube da sua gravidez, ponderei em conversar com Taehyung sobre te manter aqui ou te entregar para igreja. – Engulo em seco. – Mas então, Jimin veio e me contou algo que mudou tudo – Jin me encara de forma séria. – Ele disse que esse anel no seu dedo, o de noivado, não sai.
  – Sim, já tentei o tirar de todas as formas. Mas não consegui. – Confesso, franzindo o cenho sem entender aonde ele gostaria de chegar com isso.
  – Algum dos meus irmãos, ou até mesmo Blarie, já te contaram o motivo desse anel não sair? – Ele aponta em direção a mão que ainda estava na minha barriga.
  Nego com a cabeça, me tornando um pouco nervosa e curiosa.
  – Todo anel de noivado do Drácula carrega um pouco do seu sangue de modo que ele reaja com o corpo daquele noivo escolhido. E uma vez que o sentimento de ambos seja recíproco, o anel não sai. Esse método é usado para evitar traições, Elena. Sabendo que o anel permanece preso no seu dedo, isso me mostra que o seu coração está verdadeiramente ligado ao do meu irmão.
  Fico completamente atônita, e enquanto encaro o anel de pedra vermelha, sinto o meu rosto esquentar nas bochechas, me deixando mais envergonhada.
  Eu realmente estou admitindo os meus sentimentos agora, mas saber que eles estavam aqui desde o momento em pisei os meus pés no castelo era completamente assombroso, e me faz pensar no que Lilu me disse sobre as coisas serem como são. Isso me mostra uma perspectiva diferente, e percebo que estava fadada ao meu presente, no minuto em que cheguei na Transilvânia.
  – Não espero que me entenda, Elena, você é uma humana. Mas eu, como um vampiro, prezo muito pela minha espécie e só estou tentando lutar por ela. Nós temos os nossos princípios e experiências, desta forma, para nós, é difícil não julgar os humanos. – Jin faz uma breve pausa para expirar alto. – Nem todos tiveram uma criação como a nossa. A nossa mãe nos ensinou sobre os valores humanos e nós aprendemos muito enquanto a observávamos, mesmo que os valores vampíricos fossem os que prevalecessem em nossa educação. Então, não pense que as coisas serão fáceis se você escolher ficar do lado do Taehyung. Mesmo sendo o Drácula, é importante conquistar a confiança e respeito dos demais vampiros e, estando com você, isso se tornará mais difícil para ele.
  – Então você quer que eu me afaste do Taehyung? – Pergunto, temerosa.
  Jin nega com a cabeça.
  – Isso é uma decisão que cabe apenas a vocês dois. Mas quero que saiba que não será imediato, pois, do mesmo jeito que é difícil para os humanos aceitarem os vampiros, será difícil para os vampiros aceitarem você, principalmente porque é uma Van Helsing.
  E no final tudo volta para o mesmo lugar: Van Helsing. Às vezes, é inevitável não pensar em como tudo na minha vida seria mais simples se eu tivesse nascido como uma humana comum em uma família comum.
  Suspiro baixo, me sentindo cansada mesmo que fosse apenas o começo da tarde.
  – Eu sei que é muita coisa para pensar, mas foque no que realmente é importante agora. Nós estamos a um passo de iniciar um grande confronto contra os lobos e até mesmo com os vampiros. – Uma suave brisa se mistura ao sol, criando a combinação agradável que faz com que os cabelos escuros de Jin balancem um pouco. – A decisão de ter um filho é eterna e não há mais volta depois. Por isso, o meu conselho para você, porque sei que ainda está confusa em relação a isso, é que continue tomando o sangue da maneira que combinamos, e quando tudo isso passar e essa briga acabar, então, nesse momento, você poderá respirar fundo e pensar com clareza em relação a essa criança. Você ainda estará no início da sua gravidez e poderá fazer o que verdadeiramente sente que deve fazer, Elena.
  De novo, Jin encara além da janela, porém, dessa vez, seu semblante se suaviza e ele parece ter um olhar perdido.
  – Te digo isso porque sei que se a minha mãe não tivesse engravidado do Hyun, ela poderia estar viva hoje. Não entenda errado, eu amo o meu irmão e sei que minha mãe não se arrependeu de ter o tido, ela não se arrependeria nem se tivesse tido mais oito filhos depois dele, ela amaria cada um. Mas o que quero que você entenda, é que um filho pode mudar completamente o seu destino, seja ele bom ou não.
  Jin estava certo em tudo que disse. Eu realmente estou com medo agora, e não consigo pensar com clareza quando tenho a igreja atrás de mim e os lobos a um passo de arruinarem tudo o que eu conheço. O fato é que, estar grávida me assusta, e pensar na hipótese de ser mãe de um vampiro era ainda mais assustador. Não sei se me sinto pronta para assumir uma responsabilidade tão grande como essa, mas também não quero tomar uma decisão da qual eu me arrependa pelo resto da vida. Então, pensar nisso quando tudo acabar definitivamente era o ideal a se fazer.
  – Obrigada, de verdade. Obrigada por tudo. – Quando Jin volta a me olhar, o encaro bem nos olhos.
  Ele não diz nada, apenas assente.
  – Agora é melhor você ir, Taehyung já deve estar te esperando... – Me levanto assim que ele diz. – Boa sorte, Elena. – Sua voz fica mais suave e consigo notar uma pequena camada de preocupação, que sei bem o motivo.
  Sorrio verdadeiramente para ele e agradeço mais uma vez antes de sair do seu escritório, encontrando quem eu menos esperava parado do outro lado do corredor, escorado na parede, de braços cruzados.
  Seus grandes olhos escuros acham os meus e, por um segundo, meu coração parece saltar.
  – Oi. – Digo após fechar a porta e me aproximar dele de forma receosa.
  – Como você está? – Jungkook pergunta.
  – Melhor do que ontem. – Sorrio fechado e um pouco sem jeito.
  Ele assente em silêncio.
  Essa é a primeira vez que o vejo depois que acordei. Me pergunto o que ele poderia estar pensando agora.
  Ficamos imersos no silêncio por alguns segundos e isso me deixava cada vez mais amargurada. Eu não aguentava nem mesmo sustentar nosso olhar.
  Olhando para baixo, fechos os olhos e respiro fundo, antes de abraçar Jungkook após sentir uma grande necessidade de fazer isso. Diferente de como foi com Taehyung, Jungkook não ponderou ao retribuir o gesto.
  – Me desculpe, Jungkook. Me desculpa. – Falo de maneira amarga.
  – Por que está se desculpando? – Ele pergunta calmamente, enquanto desliza sua mão por meu cabelo.
  – Por tudo. – Engulo a saliva quando minha voz embarga.
  Ele fica em silêncio por um tempo, em nosso abraço.
  – Você não tem motivos para se desculpar, Elena. Eu só precisava te ver agora. –Seu tom de voz era diferente, não parecia que eu estava falando como o mesmo Jungkook de sempre.
  Ele se afasta de mim, me encarando de forma profunda.
  – Pare de se culpar um pouco. Você precisa ser forte agora, por você e pelo seu filho. – Ele sorri e meu coração se aperta.
  Assinto e retribuo seu sorriso.
  Com isso, Jungkook e eu nos despedimos e eu sigo meu caminho, enquanto entro em uma bolha de nervosismo e ansiedade ao pensar no que faria hoje.
  Sem pressa, desço todos os andares, querendo que isso se tornasse lento, ao mesmo tempo em que tentava adquirir alguma coragem. Eu quase podia me sentir enjoada.
  Assim que chego no primeiro andar do castelo, escuto algumas vozes vindas da sala de estar.
  – Eu estou pedindo, por favor, cuide da minha irmã e não deixe nada acontecer a ela. – Silenciosa, me aproximo da entrada da sala, vendo Wendy falar para Taehyung, que estava sentado em uma das poltronas.
  – Não se preocupe, Wendy. – Ele estava sentado elegantemente de pernas cruzadas, e os braços estavam apoiados no alta da poltrona.
  – É claro que ela tem que se preocupar, vocês estão indo para a base da igreja. – Sally, que também estava de pernas cruzadas, sentada no sofá, balança seu pé de forma nervosa.
  – Não sei, mas eu acho que confio nele. – Lilu é a próxima a falar. Ela olha para Taehyung e depois para as garotas. – De qualquer forma, se ele estragar com tudo, eu mesma me resolvo com o vampiro. – Lilu volta a encarar Taehyung, que arqueia as sobrancelhas para ela e depois olha em minha direção. Eu sabia que ele já havia percebido a minha presença.
  – Acho que já nos metemos em brigas demais. – Digo, atraindo a atenção das garotas. – Vai ficar tudo bem. Não se preocupem. – Forço um mínimo sorriso para elas, tentando tranquilizá-las.
  Wendy se levanta do sofá. E do seu lugar, ela me olha com preocupação.
  – Eu queria ir com você, Elena.
  – É melhor que apenas eu vá, Wendy. Já estamos afundadas em confusões até o pescoço, e isso poderia ser ainda mais perigoso. – Mesmo contragosto, Wendy assente.
  – Vamos indo. – Taehyung se levanta da sua poltrona e caminha até onde estou, passando do meu lado e saindo da sala de estar.
  Encaro as garotas e suspiro.
  – Não vou demorar. Se preparem para essa noite. – Peço, e elas assentem, enquanto me observam deixar a sala e seguir Taehyung.
  Ele já me esperava na entrada do hall. Quando o alcanço, ele segura em minha mão, fitando-me bem.
  – Não se preocupe. Não vai acontecer nada. – Ele diz, antes de entrarmos no hall e caminharmos até à porta de entrada.
  Após sairmos do castelo, cruzamos todo o jardim e seguimos para fora, onde um carro preto já estava a nossa espera.

***

  Quando os pneus deslizam sobre o terreno seco, vejo através da janela do carro, uma fina camada de poeira subir, anunciando nossa chegada, e isso era o bastante para fazer a possível sensação de enjoo de antes, se tornar real agora.
  Eu já conseguia ver a pequena cabana da igreja no meio do nada. Haviam algumas pessoas do lado de fora, sentadas nos degraus de madeira e na pequena varanda. E assim que percebem o carro em que estávamos, eles param de conversar para observarem o automóvel que parava aos poucos.
  A mão de Taehyung toca a minha coxa, me fazendo olhá-lo. Ele estava um pouco sério agora, mas sei que não estava tão nervoso quanto eu. Respiro fundo, assentindo mesmo que ele não tenha dito nada e, com isso, o motorista que nos trouxe sai do carro, dando a volta e abrindo a porta do lado de Taehyung. Ele sai do carro sem pestanejar, já eu demoro alguns segundos, mas assim que o faço, sou inteiramente tomada pelo nervosismo da atmosfera de fora.
  Olho em direção à cabana a tempo de ver um garoto correr para dentro, provavelmente indo avisar alguém. Os demais que ficaram do lado de fora se tornam tensos, eu podia enxergar isso daqui.
  – Espere aqui. Nós não vamos demorar. – Taehyung diz para o motorista de quepe, que assente em silêncio e volta para dentro do carro.
  Mais uma vez respiro fundo e me coloco ao lado de Taehyung e, em seguida, começamos a caminhar juntos em direção à cabana. Porém, antes mesmo de chegarmos até ela, o garoto de antes volta correndo para fora, trazendo com ele um homem e uma mulher, ambos armados com rifles apontados para nós.
  O próximo a sair de dentro da cabana é Alef, que quando para no centro da varanda, nos encara com os olhos arregalados. Todos que estavam sentados pelos degraus e varanda, se levantam quando Taehyung e eu paramos perto.
  – E-Elena, o que você está fazendo aqui? – Alef ajeita seus óculos redondos de forma nervosa, empurrando a armação para cima.
  – Eu gostaria de falar com o Padre, Alef. – Digo, e minha resposta não parece agradar aos demais, que me encaram de forma reprovadora.
  – Primeiro você trai a igreja, e depois acha que pode voltar aqui para falar com o Padre depois dos problemas que arranjou para ele? Ainda mais trazendo esse vampiro com você.
  – Eu sempre soube que nunca deveriam ter te dado outra chance.
  Escuto tudo que eles têm a dizer, em silêncio, sabendo que não tinha direito de falar nada, pois eles estavam certos.
  – Já chega. Isso não é algo que vocês têm que decidir. O Padre escolherá se falará ou não com eles. – Alef interrompe, enquanto me olha de maneira triste. – Por favor, espere um pouco, estou indo chamar o Padre.
  – Não precisa. Já estou aqui. – A figura do Padre Alber, surge na porta, atrás de Alef, que se vira e sai do seu caminho. Por alguns segundos, o Padre nos encara severamente. – Venham comigo. – Ele diz, antes de se virar. – Não quero ninguém na cabana. Todos para fora.
  De maneira temerosa e covarde, passo por entre as pessoas da igreja, subindo os degraus de madeira e indo em direção à porta de entrada. Por um segundo, encaro Alef e ele devolve o olhar, mas não sabemos o que dizer, por isso, acabo entrando em silêncio. Uma vez do lado de dentro, percebo quando Taehyung para rente ao batente da porta, apenas olhando sobre os seus ombros, para fora.
  – Se disserem mais alguma coisa, arrancarei a língua de vocês e depois os farei comê-las. – Ele ameaça com um tom de voz sombrio, deixando todos em silêncio do lado de fora, antes de fechar a porta.
  Encaro Taehyung, mas não vou repreendê-lo, todos estamos nervosos agora, mesmo que ele demostre isso dessa forma. Um pouco à sua frente, o guio até onde lembrava que ficava a sala da cabana. Padre Albert nos aguardava, sentado no pequeno sofá de cor caramelo. Me sento ao seu lado, mas deixando um pequeno espaço entre nós, e Taehyung se senta do meu lado.
  O Padre apoia suas mãos nos joelhos cobertos pela longa batina preta, e nos encara, ainda, com severidade.
  – Então, o que vocês querem? – Seu tom de voz parecia outro e estava longe de ser o que ele usava para falar comigo antes. Era como estar diante de outra pessoa.
  Suspiro alto.
  – Padre, eu sei que nós somos os últimos que o senhor gostaria de ver agora, e eu sinto muito por toda confusão que causei ao senhor... – Faço uma pequena pausa, me sentindo amargurada. – Mas estou aqui porque as coisas são piores do que parecem.
  Ele franze suas sobrancelhas e fica em silêncio.
  – Fui sequestrada pelos lobos a mando de Henry Dracul. – Assim que o nome sai da minha boca, os olhos do Padre se arregalam e toda sua expressão muda.
  – O quê? Henry está vivo? – Ele estava completamente incrédulo. – O que mais você não me contou, Elena? – Eu podia sentir o julgamento em sua voz e isso me faz sentir um pouco culpada.
  – Henry tem um filho híbrido, Kihyun. Esse garoto foi criado por Henry com um único propósito que é servir de receptáculo para uma transmigração de almas. Henry pretende tomar o corpo do filho e se tornar o novo híbrido.
  – Está fazendo isso para assumir o comando dos lobos e dos vampiros ao mesmo tempo e evitar sua morte pela lua de sangue. – Padre completa minha fala, quando juntas as informações.
  Assinto.
  – Sim. É exatamente isso que ele vai fazer, e foi por isso que ele roubou parte da minha alma, pois pretende concretizar o exorcismo sozinho.
  – Quanto tempo faz que você foi atacada, Elena? – O Padre me encara sério.
  – Uma semana ou mais.
  O Padre suspira.
  – Ele já pode ter feito a transmigração então.
  – Não, ele não fez. – Taehyung interrompe, nos fazendo olhá-lo. – Meu pai está fraco agora, por não ser mais o Drácula, e a cada dia fica mais. Toda essa confusão que ele vem fazendo, é puramente uma distração para que ele arranje mais tempo.
  – Do que você está falando, Taehyung? – Pergunto.
  – Uma transmigração de almas requer muito poder e domínio das habilidades, por isso a sua espécie morria na maioria das vezes que tentava executar esse exorcismo, porque nem todos tinham o que era preciso, não é? – Taehyung encara o Padre, que assente. – Por estar enfraquecendo, o meu pai precisa se alimentar mais do que um Drácus em seu estado normal, porque se ele não estiver forte o suficiente para essa transmigração, então irá morrer como os Van Helsings. Caso contrário, ele poderia ter feito a transmigração no dia que roubou parte da sua alma, Elena.
  – Escutou o que ele disse, Padre? Nós estamos sem tempo, não sabemos quando Henry fará isso e pode ser a qualquer momento. E esse é o motivo pelo qual vim até aqui hoje. – Sentindo o nervosismo voltar para mim, me aproximo um pouco mais do Padre. – Henry tem os lobos, alguns vampiros e um híbrido do lado dele, além de ser o antigo Drácula. Por isso eu digo, sozinhos nem nós e nem vocês conseguirão nada.
  Os olhos do Padre se estreitam, enquanto ele mexe a cabeça de forma lenta.
  – Está sugerindo que nos juntemos? A igreja com os vampiros? Isso é indiscutível, Elena. – O seu olhar severo retorna e sua voz aumenta um pouco.
  – Padre, por favor, não é hora pra isso. Nossa condição não é boa. Não estou pedindo para que o Vaticano me perdoe ou deixe de caçar os vampiros, estou pedindo apenas uma trégua por enquanto, até resolvermos isso. Quando tudo acabar, vocês podem me caçar e me matar, se ainda for da vontade de vocês.
  – Não. Eu posso fazer isso, Elena.
  Do meu lado, Taehyung expira alto como se estivesse cansado.
  – Tanto quanto você, eu não queria essa união. Mas a situação não é das melhores, se ainda não percebeu. – Taehyung começa a dizer. – Então, ou nos ajuda nessa merda, ou os seus humanos irão direto para o inferno, porque se vocês continuarem nos atrapalhando, eu juro pelo seu Deus que eu mato cada um de vocês sem misericórdia.
  O Padre não se amedronta com as palavras de Taehyung, mas parece um pouco surpreso.
  – Padre, eu sei que o senhor pode conversar com o Vaticano. Diga que essa é nossa proposta. Estamos fazendo isso para eliminar um mal maior, pois enquanto vocês caçam os vampiros, Henry irá acabar com tudo e, com certeza, depois de conseguir o comando dos lobos e dos vampiros, ele irá atrás dos humanos e aí o senhor já sabe o que vai acontecer.
  – Estou te dando o dia hoje e o dia de amanhã para falar com o Vaticano e reunir os seus humanos, porque depois de amanhã, eu estarei indo atrás do meu pai com ou sem vocês. – Taehyung avisa, fazendo o Padre ficar em silêncio por alguns segundos.
  – Vocês já sabem onde ele está? – Encarando as próprias mãos, o Padre pergunta.
  – Não, ainda não sabemos. – Respondo.
  O Padre suspira alto e pesadamente.
  – Nunca presenciei uma transmigração de almas, isso é algo muito antigo, mas já li muito. – Ele entrelaça seus dedos sobre os joelhos, antes de me encarar. – Não basta ser um Van Helsing habilidoso, também é preciso fazer esse exorcismo em um lugar onde se teve muita absorção de magia. Lugares que serviram como cenário de batalhas místicas, por exemplo.
  Os meus olhos se arregalam e um pequeno colo de anseio surge em mim.
  – Como Upiór? – Pergunto.
  – Como Upiór. – Ele balança a cabeça em concordância. – Aquele vilarejo foi evacuado após a lua de sangue. Ele é afastado da Transilvânia, um lugar perfeito para se fazer isso sem que percebamos.
  O meu coração acelera apenas por lembrar do vilarejo e de tudo que vivi ali. Então era para Upiór que Henry e os lobos estavam indo naquele dia.
  – Vou me reunir com os meus vampiros essa noite. Elena e eu devemos ir agora e nos preparar, e você deve fazer o mesmo. – Taehyung fala enquanto se levanta do sofá. – Não se esqueça, tem um dia e meio para resolver. A cada hora que passa, meu pai se aproxima mais do seu objetivo.
  – Vou esperar sua ligação, Padre. – Digo de forma pacífica, e também me levanto. Olho uma última vez para ele, antes de começar a me afastar com Taehyung.
  – Mesmo rezando todos os dias por você, eu sempre soube que algo assim ia acabar acontecendo. – O Padre diz quando já estou de costas e prestes a sair da sala. Seu tom de voz voltou a soar familiar, e percebo sua sutil melancolia.
  Taehyung me fita e para perto da saída da sala.
  Volto a olhar para o Padre.
  – Então por que o senhor me deixou ir para o castelo? – Seu olhar vai direto para a minha barriga, deixando toda sua tristeza escondida, aparecer.
  – Porque você era a nossa única esperança, Elena.
  Nesse momento, absorvo suas palavras que parecem me atravessar de forma dolorosa e, em silêncio, me viro e saio da sala acompanhada de Taehyung, deixando para trás aquele que um dia me acolheu em Upiór quando mais precisei.

***

  – Eu estou nervosa. – Confesso.
  – Eu realmente não quero te deixar mais nervosa, mas todos já estão nos esperando lá embaixo. – Blarie diz, sentada na minha cama, de pernas cruzadas, balançando seu pé coberto pela sandália de salto debaixo do vestido.
  – Calma, nós estamos com você. Não vai acontecer nada. – Wendy segura minha mão e sorri.
  – Não se preocupe, Eleninha. Eu já estou preparada. – Lilu mostras as facas escondidas debaixo da sua blusa, fazendo Blarie a encarar com a sobrancelhas levantadas.
  Alguém bate suavemente na porta do meu quarto, antes de abri-la.
  – Precisamos de vocês lá embaixo agora. – Namjoon surge na porta, dizendo de forma calma.
  Assinto, ainda nervosa.
  Blarie e as garotas se levantam, e eu faço isso por último.
  – Espero que dê certo. – Digo baixo.
  – Vai dar. – Blarie toca meu ombro de forma confortante, antes de ir até Namjoon.
  Taehyung reuniu alguns vampiros representantes no castelo, todos já estão lá embaixo apenas nos esperando para que a reunião comece. Mas essa será apenas a segunda vez que os vejo, e a primeira vez após estar grávida. Com certeza essa gravidez não é mais segredo, e é justamente isso que mais me deixa nervosa.
  – Elena, espere. – Namjoon diz assim que me aproximo dele.
  – O quê? – Wendy pergunta do lado de fora do quarto.
  Namjoon enfia sua mão dentro de um dos bolsos das calças e puxa um pequeno relicário dourado, me entregando ele logo em seguida.
  – É pra mim? – Pergunto surpresa, e ele assente.
  Com cuidado, abro o pequeno relicário, vendo uma foto bem antiga dentro dele.
  Curiosa, Sally se aproxima e espia o relicário em minhas mãos.
  – São Raimundo Nonato? Esse não é o santo das grávidas e das crianças? – Ela olha para Namjoon, que assente de novo.
  – Era da minha mãe. – Namjoon enfia as duas mãos para dentro dos bolsos. – Ela não era do tipo religiosa, mas acreditava que esse relicário a protegia quando estava grávida.
  Encaro o delicado colar de forma fascinada, sabendo o quão precioso ele era. E, com cuidado, o coloco em torno do meu pescoço.
  – Obrigada. Vou cuidar muito bem dele. – Digo, sincera.
  – Ficou muito bonito em você. – Namjoon sorri minimamente.
  – Nós não tínhamos que ir? – Blarie coloca a cabeça para dentro do quarto, fazendo assim, todos saírem de uma vez.
  Enquanto descíamos os andares, me senti um pouco melhor, e tenho certeza que isso era por conto do relicário em meu pescoço. Se Amélia o usou em todas as suas oito gestações, sei o quão especial esse objeto é, e me sinto extremamente tocada por Namjoon ter me dado ele.
  Namjoon acabou nos levando até o salão do primeiro o andar, o local onde ocorreu o baile de máscaras que me fez vir para Transilvânia. O grande cômodo abrigava tantos vampiros que até pareciam ser mais do que os da reunião em que fui.
  Taehyung e os seus irmãos já estavam aqui, e nos esperavam próximos a porta, de modo que ficassem à vista de todos.
  – Pronto. Resgatadas. – Namjoon diz, antes de ir para perto de Hoseok.
  O salão fica em silêncio, e eu sinto grande parte dos olhares sobre mim, o que era completamente desconfortável.
  – Ela chegou. Agora já pode dizer o motivo dessa reunião, Conde. – Uma mulher que estava perto do centro do salão, diz.
  Jimin me encara e faz um gesto de cabeça para que eu me aproxime dele e de Taehyung e, completamente sem jeito, faço isso.
  – Hoje nós descobrimos o possível lugar em que o meu pai está escondido. – Taehyung diz alto para que todos escutem. – Existe uma grande possibilidade de ele estar em Upiór nesse momento.
  Os vampiros se mostram um pouco surpresos, mas permanecem respeitosamente em silêncio.
  Taehyung me encara, e eu sabia que era a minha vez de falar. Com isso, sou obrigada a engolir o meu nervosismo.
  – Eu e a minha equipe iremos antes para Upiór, com o intuito de checar se Henry está mesmo por lá. E caso não esteja, vocês podem procurá-lo em outro lugar e assim não perdemos tempo. – Digo, me sentindo menos nervosa depois falar.
  – Estamos fazendo isso para pegá-lo de surpresa. Ele está com o Hyun, então, provavelmente, pensa que não faremos nada tão cedo, por isso Elena irá primeiro, criando uma distração. – Taehyung explica.
  Assim, percebo Jin, que estava um pouco mais afastado, do lado direito de Taehyung. Ele o encarava de forma séria, e diferente das outras vezes, agora ele não diz nada, apenas deixando que seu irmão mais novo tome a frente e haja como o Drácula.
  – Alguns de vocês ficarão comigo e outros irão com ela. Então, agora, quero saber quem fará isso? – Taehyung pergunta, mas todos ficam em silêncio, se entreolhando de forma atenta.
  Um alto suspiro quebra esse silêncio, e todos vemos Yoongi dar alguns passos para frente.
  – Eu não sei o que vocês pensam, mas todos já perceberam que não há como separar esses dois. – Yoongi coloca as mãos nos bolsos e aponta com a cabeça em nossa direção. – Então é melhor se acostumarem com isso de uma vez. Eles irão se casar e ela está grávida. Desertou da igreja para ficar ao lado do meu irmão, e está sendo caçada por isso. Eu a respeito, ela é corajosa. – Ele me encara de canto de olho, sorrindo minimamente de lado para mim. – Mesmo grávida e correndo o risco de ser pega pela igreja, ela e a sua equipe estão indo para Upiór. E isso me faz pensar em como vocês é que parecem os humanos frágeis agora.
  As palavras de Yoongi tornam muitos vampiros sérios.
  – Nós estamos deixando quatro humanas que não têm nem um terço das nossas idades, tomarem a frente e serem mais corajosas. O que é isso? Nós somos vampiros ou não? Se vocês estão com medo, então é melhor voltarem para suas casas e se esconderem como malditos gatinhos assustados. Mas eu e a minha família iremos lutar até o final para reestabelecer o lugar dos vampiros. Nenhum maldito híbrido vai nos dizer o que fazer, mesmo que ele seja o nosso pai.
  – Mas Henry já foi um Drácula, ele também é um vampiro. – Alguém diz em meio ao amontoado de vampiros.
  – Henry não é mais um Drácula, e sim apenas um maldito vampiro à beira morte que pretende se transformar em um híbrido. Não se esqueçam que ele foi quem mandou matar aqueles vampiros que eram iguais a nós. – Taehyung diz, antes de rir nasalado. – Acreditem, não há ninguém que o conheça tão bem como nós. E eu posso lhes garantir que Henry III Dracul não se importa com ninguém que não seja ele mesmo, então não pensem que ele irá lutar pela honra dos vampiros.
  – E você irá lutar, Conde? Está prestes a se casar com uma Van Helsing que está grávida. O que essa criança será? Um vampiro caçador de vampiros?
  – Eu vou com ela! – Uma voz alta interrompe quem falava, me fazendo ficar completamente surpresa quando reconheço o homem que se destacou entre os vampiros. – Vocês sabem o que eu sempre pensei sobre os humanos, principalmente os Van Helsings. Entretanto, não sou um ingrato que não pode reconhecer que se não fosse por ela – o olhar intenso de Abel, encontra o meu –, nós ainda estaríamos perdidos. Vocês sabem que foi essa Van Helsing que mentiu para sua igreja e nos colocou no caminho certo. Ela foi sequestrada por Henry e tinha ali uma oportunidade perfeita para se juntar a ele, mas não fez, pelo contrário, ela quase morreu. E agora, mais uma vez, se não fosse por ela, nós nem saberíamos onde Henry está. Eu sou leal ao meu Drácula e a minha espécie, e se a Elena está mesmo disposta a se unir ao nosso líder, tudo que eu posso fazer agora é segui-la, e vocês deveriam fazer o mesmo, porque essa criança que ela carrega, um dia será aquela que guiará o futuro da nossa espécie. – De forma respeitosa, ele curva sua cabeça, me deixando totalmente atônita.
  Engulo a saliva quando sinto os meus olhos marejarem.
  – Obrigada. – Agradeço comovida, e Abel sorri satisfeito para mim, me fazendo sentir parte desse novo mundo, do qual eu entrei sem nem me dar conta. Eu era parte dos vampiros agora.

Capítulo 28
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