Drácus Dementer: Lycanthrope


Escrita porHels
Revisada por Natashia Kitamura


Capítulo 25

Tempo estimado de leitura: 33 minutos

  – Vamos, Elena, está na hora de acordar. – Dedos deslizam suavemente pelo meu rosto. – Parece que estava bem cansada, não é? – Escuto seu suspiro, que me faz abrir os olhos, encontrando Kihyun agachado na minha frente.
  Ele sorri.
  – Você precisa levantar e se arrumar, hoje será um grande dia. – Kihyun desliza mais uma vez os dedos por meu rosto, mas agora eu afasto sua mão.
  Me sento no chão da cela, vendo que Amia estava a poucos metros de distância de nós.
  Kihyun me observa com atenção.
  – Sinto muito se teve um dia ruim ontem. – Ele diz, depois de analisar o estado em que eu estava. Meu corpo estava levemente suado e minhas roupas sujas, igual ao meu cabelo. – Estive fora. Amia e eu estávamos preparando tudo para a chegada do meu pai. Ele está muito ansioso para conhecer você
  – Comprei vestidos lindos para você, Elena. Até poderá escolher qual deles quer usar hoje. – Amia diz, sorrindo para mim.
  – Hoje? – Encaro Kihyun, que assente.
  – Sim, hoje. O meu pai já está chegando, e você precisa se arrumar para recebê-lo.
  Fracamente, assinto, tendo a pretensão de me levantar depois, mas Kihyun segura meu pulso.
  – Antes, eu gostaria de te perguntar uma coisa. – Ele me faz encará-lo. – Soube o que aconteceu ontem. Você gostaria de me dizer alguma coisa sobre o Hyun?
  Fico em silêncio e desvio meu olhar do seu, me sentindo ainda mais culpada hoje após um dia e uma noite sem ter notícias do pequeno garotinho.
  – Tudo bem então. Não precisa falar se não quiser. – Kihyun solta o meu pulso e me deixa levantar. – Pode ir com a Amia.
  Ainda calada e encarando o chão, caminho para perto da Amia, que coloca sua mão sobre as minhas costas e me guia para fora da cela. Kihyun fica para trás, enquanto saímos da torre, onde outro homem cuidava da porta de metal; não era o mesmo com quem briguei ontem.
  Assim que saímos, caminhamos pelo corredor, passando em frente a porta que eu sabia que era a do banheiro.
  O lugar era grande e o corredor parecia não ter um fim. Não haviam janelas aqui, apenas portas do lado direito, várias delas, todas de madeira e do mesmo jeito.
  – Aqui. – Amia para de andar e toca em uma das portas, batendo suas unhas na madeira. – Vamos entrar. – Ela arrasta sua mão até à maçaneta e a gira, abrindo a porta que dá para um quarto simples, mas espaçoso.
  Ela fecha a porta depois que entramos.
  – Venha ver os vestidos que comprei para você. – Ela segura em minha mão e me puxa para perto da cama de casal forrada por um lençol branco. Sobre ela, haviam dois vestidos, um vermelho e um preto. – Então, qual deles você gostou?
  Ele me encara, sorrindo, e eu devolvo o olhar.
  Suspiro baixo.
  – Eu não me importo.
  O seu sorriso some.
  – Certo. Você pode escolher depois. Vamos te levar para o banho então. – De novo ela segura em minha mão, agora me puxando em direção a outra porta do quarto, essa que levava para o banheiro.
  Ela não fecha a porta do banheiro, apenas a deixa entreaberta.
  – Pode tirar sua roupa. Eu já preparei seu banho. A água está morna. – Amia se aproxima da banheira branca, colocando sua mão dentro da água. – Vamos, se apresse, Elena. Eu preciso te deixar linda.
  Definitivamente estou presa em um pesadelo e eu não aguento mais.
  Respiro fundo, sentindo vontade de chorar, algo comum desde que fui trazida para esse lugar.
  Devagar e sem vontade, começo a tirar as minhas roupas sujas, até que não reste mais nada no meu corpo. Em seguida, caminho até à banheira, colocando apenas um pé para dentro, me certificando de que a água estava mesmo morna. Amia segura minha mão como se quisesse me ajudar a entrar, e isso me apressa para que eu possa soltar ela.
  Sento no fundo da banheira, deixando meu corpo coberto de água até um pouco abaixo das clavículas.
  – Estou tão animada por você. – Amia forma uma concha com suas mãos e as mergulha banheira, pegando um pouco de água e despejando nos meus cabelos. – Henry sempre foi muito respeitado entre os vampiros, por isso, é importante que você o conheça.
  Trago minhas pernas para perto do tronco e as abraço, enquanto Amia continua molhando os meus cabelos.
  – Não quer falar sobre isso? – Ela inclina sua cabeça para frente, para encarar meu rosto que estava de lado. – Hum, tudo bem, podemos conversar sobre outra coisa.
  Amia pega um frasco de shampoo que estava sobre a pequena mureta da banheira. Ela despeja uma quantidade em sua mão e depois começa a lavar os meus cabelos.
  – Sabe, a nossa conversa do outro dia me trouxe algumas lembranças. – Amia ri e inclina sua cabeça em direção ao meu rosto de novo. – Taehyung.
  Ela sorri, e a encaro de canto de olho.
  – Me recordei do tempo em que ficamos juntos. Até mesmo me lembrei de quando ele disse que gostava de mim pela primeira vez. – Quando a espuma do shampoo começa a cair na água, se desmanchando em pequenos montinhos, Amia começa a enxaguar meus cabelos. – Eu fiquei tão feliz quando isso aconteceu. Céus, acho que se eu me concentrar, consigo sentir isso de novo. – Mas não se engane, isso durou pouco, muito pouco. – Ela me encara de novo, depois de pegar um frasco de condicionador. – Logo ele apareceu com outros, e isso me deixou arrasada. Mas eu sempre soube que Taehyung era assim e eu não podia mudar quem ele era.
  Suas mãos deslizam do topo da minha cabeça até as pontas dos meus cabelos.
  – Os irmãos sempre foram cheios de pretendentes, afinal, eles são Drácus Dementer nascidos direto de um Drácula, então era normal que eles se envolvessem com muitos por aí. E penso que agora que Taehyung é o Drácula, por enquanto, é claro, isso deve ter se tornado pior.
  "Você não estava aqui quando ele escolheu suas noivas, mas posso lhe garantir que foi uma tremenda dor de cabeça. Haviam tantos querendo esse lugar, que isso tornava Olivia, Zoe e Peter grandes sortudos por terem conseguido. Pronto, terminei seu cabelo." Ela diz, pegando, em seguida, uma pequena esponja clara.
  – Eu sei que para um humano não deve ser fácil dividir alguém, vocês estão acostumados a passarem o resto das vidas com apenas uma pessoa. Mas, escute o que eu digo, se quiser ficar com o Taehyung, vai ter que aceitar isso. – Ela começa a esfregar as minhas costas com a esponja. – É inevitável, sabe. Taehyung é um vampiro muito bonito, um dos mais bonitos que já vi até hoje. E aquele jeito desinteressado dele, é isso que o torna tão charmoso. – Amia ri sozinha. – Taehyung pode até não admitir, mas ele consegue usar muito bem todos os seus atrativos. – Ela estica um dos meus braços, esfregando-o com a esponja cheia de sabão.
  "Quando se vive por séculos, as coisas começam a se tornar um pouco chatas e você precisa pensar em alguns desafios que te animem. E, com certeza, planejar um casamento com uma Van Helsing é algo muito excitante. Você só precisa torcer para que isso dure o suficiente para você não o ver te trocando por outro, como aconteceu comigo e com todos que já ficaram com o Taehyung. Querida, você está chorando? Por que está chorando? Eu disse algo que não deveria?" Amia para de me ensaboar para me encarar com olhos de quem não estava entendendo, mas eu sabia que era falsa preocupação pelas lágrimas que escorriam do meu rosto para a água da banheira.

***

  – Pronto. Você está perfeita. – Amia afasta suas mãos do meu pescoço, após colocar em mim um colar com pedras verdes. – Eu sabia que o vestido preto ficaria melhor em você. – Ela dá dois passos para trás, me encarando da cabeça aos pés.
  Permaneço em silêncio, como fiz durante o banho.
  – Vou te levar de volta para sua cela, e lá você vai esperar por Henry, tudo bem? – Ela coloca as mãos na cintura, esperando por minha resposta. – Certo, ainda não quer falar. – Ela suspira e levanta as sobrancelhas.
  Amia pega em minha mão e me conduz para fora do quarto e, em seguida, pelo corredor até à porta de metal, que tem sua passagem liberada pelo novo homem de olhos amarelados, que só para de me encarar depois que volto para a torre.
  – Sua cela vai ficar aberta, porque logo você sairá de novo. – Ela abre a porta da cela e espera até que eu entre. – Use batom vermelho mais vezes, ele fica ótimo em você. – Ela sorri e me dá as costas, deixando a torre.
  Respiro profundamente, soltando o ar de forma pesada.
  Encaro o silêncio do lugar e acabo saindo da cela e indo até à janela, onde sou recebida pelo vento e pelo calor de mais um dia ensolarado. Observo as árvores e começo a pensar em como seria esse encontro com Henry.

***

  Já era de tarde. A manhã passou devagar, enquanto permaneci sentada aqui no chão da minha cela. Qualquer mísero barulho que eu escutava me deixava nervosa de tal forma que, em alguns momentos, até o piado dos pássaros me assustava.
  Meu olhar alternava da porta para a janela, cuja eu torcia a todo momento para que Hyun entrasse voando, mas isso não aconteceu. E sinto que se algo acontecer com ele, não poderei me perdoar nunca.
  Um pequeno passarinho amarelo pousa no batente de pedra da janela, no mesmo instante em que a porta de metal é aberta em um rangido que faz meu estômago revirar de nervosismo.
  A luz do dia mal entrava na torre e, por isso, era comum que algumas partes fossem mais escuras, principalmente onde eu estava. Por este motivo, quando ele passou pela porta, não pude ver muito do seu rosto, contudo, seu corpo alto e um pouco robusto emanava uma postura furiosa de poder.
  Sinto meu coração tremer em meu peito quando, em passos lentos que me torturavam cada vez que ecoavam pela torre, ele se aproxima. E, pouco a pouco, comecei a vislumbrá-lo melhor, começando pelos cabelos brancos e longos que iam um pouco abaixo dos ombros largos.
  Quando ele para diante a minha cela aberta, meu corpo inteiro tem um calafrio, acompanhando o badalar do relógio que vem do lado de fora da torre.
  Ele estava sozinho, a porta de metal estava aberta, e quem a vigiava esperava do lado de fora. Aqui dentro éramos apenas nós dois, e isso me deixava completamente tensa.
  Os sapatos elegantes e pretos em seus pés dão os primeiros passos para dentro da cela e, em poucos segundos, ele já estava na minha frente, me fazendo cativa de suas íris escuras que carregavam um olhar sombrio que chegava a causar medo.
  – Sinto como se estivesse olhando para Amélia agora. – Ele diz com seu tom de voz grave que me lembrava o de Taehyung.
  Não digo nada, pois eu sentia que se dissesse, ele faria algo comigo.
  Ele se agacha para ficar próximo de minha altura e, em seguida, segura meu queixo, enquanto encara fixamente o meu rosto com um olhar estreito.
  – Não, você não se parece tanto assim com ela. – Segurando meu queixo, ele vira meu rosto para os lados, examinando-o bem. – Seu rosto é diferente. Só enganaria um tolo que não a conhecesse bem. Mas ambas ainda são muito bonitas.
  Ele solta meu rosto. Eu me sentia mais nervosa do que nunca.
  – Em todo caso, estou feliz por finalmente te conhecer, Elena. – Ele permanece sério, me encarando tão fixamente que me deixava cada vez mais enjoada.
   Engulo em seco, não acreditando que estava na presença de Henry III Dracul.
  – Bom, é melhor irmos, nós temos uma longa tarde pela frente para nos conhecermos um pouco mais, apesar de eu saber quase tudo sobre você. – Henry se levanta e me estende sua mão, da qual encaro enquanto mergulho em completa aflição.
  Eu não queria ir com ele, mas temo que ele possa fazer alguma coisa comigo. Nunca me senti assim perto de qualquer outro vampiro, eu realmente estava com medo.
  Fecho os olhos por um segundo e respiro fundo, tentando me controlar.
  A minha situação era ruim, eu sei, mas não posso deixar o medo ou a aflição me dominarem agora. Estou na frente do antigo Drácula, o pai daqueles irmãos, do Taehyung e, sinceramente, não sei se vou sair daqui viva, mas se existe uma pequena chance de isso acontecer, eu preciso, ao menos, ter alguma coisa para levar comigo.
  Minimamente mais calma, seguro apenas na ponta dos dedos de Henry, aceitando sua ajuda para me levantar.
  Pela primeira vez ele sorri fechado, e isso me espanta, pois era idêntico ao sorriso que Jungkook costumava me mostrar. A cada movimento ou expressão de Henry, era como se eu enxergasse um dos irmãos.
  – Vamos? – Ele me oferece seu braço, e mais uma vez preciso me tranquilizar interiormente para conseguir fazer isso.
  Temerosa, sou obrigada a passar meu braço ao redor do seu, e assim nós começamos a caminhar para fora da torre, passando pelo homem que a vigiava, antes de entrarmos no longo corredor.
  – Você já pode se sentir feliz, Elena, essas são suas últimas horas de cativeiro.
  Olho para ele, confusa e desconfiada.
  – O quê?
  Sua expressão não muda e nem seu tom de voz.
  – Já tem alguns dias que estou neste lugar, resolvendo assuntos importantes. Hoje é nosso último dia aqui na Romênia, por isso, gostaria de aproveitá-lo bem com você. – Ele responde sem me olhar, enquanto passávamos em frente a cada porta do extenso corredor.
  Não consigo controlar meu coração que, por um momento, fica ansioso. Não sei se posso acreditar no que Henry diz, mas, mais do que tudo, quero ir embora desse lugar e preciso encontrar Hyun antes.
  – Hoje é um dia muito especial, Elena, porque você vai me ajudar em algo muito grande e importante.
  – Te ajudar? – Pergunto receosa, engolindo em seco.
  Ele me espia de canto de olho e sorri de lado.
  – Você tem algo que eu quero muito, por isso foi trazida para esse lugar. Eu pedi que fizessem isso.
  A ansiedade em meu coração, se intensifica para algo ruim.
  – O que você vai fazer comigo? – Paro de andar, o fazendo parar também. Henry me encara com aqueles olhos intimidadores, me deixando completamente arrepiada em uma aflição que eu tentava não deixar transparecer, mas que estava muito difícil.
  – Tem um jardim muito bonito aqui, vamos até lá e eu te explicarei tudo. – Ele sorri de novo, voltando a andar, enquanto puxa meu braço junto com o seu.
  Nesse ponto, eu tinha certeza que ele conseguia escutar as batidas desenfreadas e ansiosas do meu coração.
  – O quanto a sua igreja e o Vaticano te contaram sobre sua origem?
  – Minha origem? Você está falando sobre os Van Helsings? – Pergunto, enquanto viramos no corredor, dando em frente a uma escadaria.
  – Sim, sobre os Van Helsing.
  – Eu sei tudo.
  Ele me encara de novo, enquanto descemos mais uma escadaria, e assim por diante até que estivéssemos no que parecia ser o primeiro andar, onde muitas mulheres e homens de olhos amarelados andavam de um lado para o outro, parecendo se prepararem para algo. Alguns deles nos olham, mas não por muito tempo.
  – Essa é uma antiga catedral construída por Santa Maria. Ela já está em desuso por alguns anos, mas se tornou um ótimo lugar para abrigar os lobos, e agora, alguns dos meus vampiros também.
  Observo os detalhes da construção de pedra com aspectos antigos e rústicos. O lugar era enorme, com gárgulas - semelhantes as que já vi no castelo - espalhadas por alguns lugares, assim como estátuas, fontes e imagens religiosas.
  Henry nos conduz para frente da catedral, em direção a uma sacada de pedra esculpida, que dava vista para um grande e colorido jardim abarrotado das mais variadas flores.
  Ele encosta suas cotas contra as pilastras da varanda e cruza os braços enquanto me encara.
  – Se você conhece tudo sobre os Van Helsing, suponho que saiba o que é uma transmigração de almas. – Ele diz, de forma calma em seu tom de voz grave.
  Desvio meu olhar, encarando o batente da varanda, enquanto tento puxar em minhas memórias o que poderia ser isso. Ao longo desses anos em que me tornei parte da igreja, estudei muito sobre os Van Helsing, Vaticano, ervas e itens místicos vampiros comuns e os Drácus Dementer, além de outras criaturas místicas, mas eu realmente não consigo me recordar sobre isso.
  – Estou apenas caçoando de você, Elena. Eu sei que você não sabe sobre a transmigração de almas. – Ele ri, nasalado e sem humor. – Poucos dentro da igreja ainda sabem sobre isso, é uma prática proibida nos dias atuais, mas que surgiu do seu povo, os Van Helsing. Venha, se aproxime e me deixe te contar uma coisa.
  Cuidadosamente vou para perto de Henry, mas mantenho uma distância segura entre nós.
  – Com o surgimento dessa nova espécie de vampiros, os Drácus Dementer, que nasceram a partir do acordo da Condessa Meredith, os caçadores comuns e os Van Helsing, morreram em grande número, pois pouco sabiam sobre essa espécie. Escute bem, Elena, quando uma nova doença surge, se demora para entender como ela age e o que pode combatê-la, e até que isso aconteça, muitos perderão suas vidas. No mundo das criaturas místicas não é diferente.
  Seguro no batente da varanda de pedra cinza e encaro o jardim florido, me sentindo especialmente nervosa sobre essa conversa.
  – Seu povo acabou desenvolvendo uma técnica muito poderosa e perigosa de exorcismo, porque estavam desesperados para eliminarem os Drácus Dementers. – O sinto me encarar e o espio de canto de olho.
  Mesmo que não soubesse aonde essa conversa chegaria, eu me sentia mal, com uma sensação ruim, como se fosse uma premonição.
  – Transmigração de almas... quando você envia uma alma para um novo corpo. – Os meus dedos se apertam no batente, arrancados umas pequenas pedrinhas da construção cinza. – Os Van Helsing, por não entenderem o funcionamento de um Drácus Dementer, enviavam suas almas para corpos de humanos mortos, em sua maioria de outros caçadores da igreja que foram exterminados pelos vampiros. E uma vez que a alma desse Drácus estava em um corpo humano sem poderes, se tornava muito mais fácil matá-lo depois que seu corpo original e vazio era destruído, é claro.
  "Como eu disse, uma técnica muito poderosa, mas que acabou sendo proibida e seu ensinamento não passou adiante, pois também era uma técnica perigosa que poderia matar seu usuário."
  Engulo em seco de novo e me viro de lado, encarando bem Henry, que tinha seu corpo coberto pela luz do sol.
  – Por que está me contando isso? Quer que eu fique contra a igreja? Eu entendo que eles fizeram isso para o nosso bem.
  Henry sorri como Jungkook, e ri como Yoongi.
  – Não quero que você se vire contra a igreja, estava apenas te explicando, pois é algo do meu interesse. E esse é o algo que você vai me ajudar.
  Sinto uma pontada em meu estômago, que sobe por meu corpo como uma corrente nervosa em forma de calafrio.
  – Como você já deve saber, o meu tempo como Drácus está acabando, eu estou morrendo. – Ele me encara bem, mas sem demonstrar nenhuma expressão de medo ou tristeza ao dizer isso. – Taehyung está roubando os meus anos de vida.
  Passos invadem a varanda onde estávamos, em conjunto a imagem de um baixo e de cabelos claros.
  – Senhor, já está tudo pronto.
  – Obrigado, Lucis. Já estamos indo. – Henry acena para ele, o fazendo sair. – Pedi que preparassem um agradável banquete para nós, Elena. Se junte a mim nele, e terminaremos nossa conversa lá.
  Mais uma vez Henry me oferece seu braço e, dessa vez, não pestanejo ao aceitá-lo, pois eu precisava saber o que ele pretendia fazer comigo, ou a minha aflição me corroeria.
  Desta vez, não subimos escadarias, permanecemos no primeiro andar e fomos em direção a uma grande porta marrom de madeira que, ao ser aberta, nos revelou uma enorme sala de jantar bem organizada, onde havia uma mesa repleta de comida.
  Não havia ninguém aqui com exceção de nós.
  Henry se sentou na ponta da mesa, na cadeira ao centro, e eu fui obrigada a sentar do seu lado direito.
  Talheres e guardanapos estavam na minha frente sobre a mesa, assim como uma taça de vidro cheia. O meu prato já estava feito, organizado com alguns tipos de grãos e carnes.
  – Nós comemos apenas por prazer, mesmo que para você isso deve parecer muito mais saboroso do que para mim. Mas, mesmo assim, adoro boas refeições. Elas nos dão a oportunidade de conversarmos e agirmos como seres civilizados, do quais não somos em grande parte do dia.
  Henry ajeita o guardanapo em seu calo, antes de pegar seus talheres.
  – Por favor, coma. – Ele faz um gesto de mão para mim, antes de experimentar um pedaço da carne em seu prato.
  – Não estou com fome. – Digo, sabendo que estava tão nervosa que não conseguiria comer, mesmo que estive sem me alimentar direito a algum tempo.
  Após terminar de mastigar, Henry coloca seus talheres ao lado do seu prato e apoia os cotovelos sobre a mesa, entrelaçando as mãos e apoiando seu rosto nelas.
  – Eu mandei você comer. – Mesmo que em tom baixo, sua voz soa intensa, de uma maneira que me arrepia, enquanto seu olhar me intimidava.
  Desvio meu olhar do seu, olhando em diversas direções, antes de pegar o meu garfo e espetar algumas ervilhas com ele, as levando até à boca em seguida.
  – Ótimo. – Henry sorri e volta a comer. – Como estava dizendo antes, vou precisar da sua ajuda na transmigração de almas.
  Me encho de medo ao querer perguntar o que ele faria com um exorcismo que permite enviar uma alma para outro corpo. Eu estava aprovada pela resposta que ele poderia me dar
  – Apesar de ser meu filho, Taehyung não tem o que é preciso para ser um Drácula, porque ele é parecido demais com Amélia. Por isso, eu preciso dar um jeito nisso
  Fecho os olhos por um segundo, tentando me controlar. A ervilha desce com dificuldade por minha garganta.
  – Algum dos meus filhos já te contou sobre como conheci a Amélia? – Ele pergunta, e tudo que consigo fazer é negar com a cabeça. – Ela foi em um dos muitos bailes de máscaras da minha família. Depois disso, nós ficamos juntos e tivemos nossos filhos. Eu gostava dela, isso é verdade, e esse foi o motivo que me fez deixar que ela os criasse. Eu era um Drácula na época, alguém muito importante e ocupado, não tinha tempo para brincar de casinha com ela e com eles.
  – E-Então vocês não moravam juntos? – Limpo a garganta, quando minha voz falha.
  – Beba um pouco do seu vinho, vai ajudar. – Ele diz e fica em silêncio, só voltando a falar depois que bebo o líquido de cor escura e sabor doce. – Nós não morávamos juntos. Eu vivia na mansão em Upiór com as minhas esposas, e ela em uma cabana isolada no meio da floresta para que pudesse criar nossos filhos do jeito certo, sem que ninguém os encontrassem. Esse foi outro motivo que me fez deixá-los com ela. Amélia sempre me obedecia, porque ela me amava, então quando disse a ela que criasse eles como vampiros até que tivessem idade o suficiente para que eu os levasse comigo, ela o fez.
  – Eu os visitava com frequência, checava se ela estava mesmo ensinando-os da maneira correta, a dos vampiros, mas também percebi que não importava o que ela fazia, visto que, só o fato deles morarem com ela, os fazia absorver sua humanidade. Foi então que eu soube que precisava fazer algo, pois os filhos que um dia deveriam me suceder e liderar os vampiros, agiam como humanos.
  Henry pega um dos outros guardanapos sobre a mesa e limpa sua boca enquanto encara além da mesa, com um olhar que parecia viajar para longe.
  – Isso foi o que me levou a passar três meses na cabana com eles, para me certificar que eu ainda conseguiria livrar os meus filhos dessa humanidade toda. – Ele sorri sem humor. – Eu estava errado, Amélia já havia os corrompido e não havia mais nada que arrancasse isso deles. E esse foi o meu maior erro, deixar que ela os criasse, pois agi como um maldito humano ao ser arrastado por um pequeno sentimento que tive por ela.
  Sem saber o que dizer, completamente imersa em sua história, dou mais um gole no vinho, minimamente.
  – Quando retornei para mansão, eu estava muito irritado, eu deveria ter um herdeiro tão bom quanto eu, um líder poderoso que não se curvaria diante de sentimentos como esses. E, em tal caso, Kihyun surgiu em minha mente. Eu sabia que precisava de um novo filho, um da qual eu não cometeria os mesmos erros. Assim eu te pergunto, Elena, o que poderia ser mais poderoso que um Drácus Dementer? – Henry me encara, e seus olhos já me davam a resposta.
  Olho para o meu prato cheio, abrindo a boca discretamente para respirar fundo.
  – Um híbrido. Eu queria um filho híbrido para ser criado por mim, sem mais humanos ou suas emoções deturpadas. – Henry dá um grande gole em seu vinho. –Eu havia abandonado Amélia e os garotos, deixei que ela ficasse com eles, pois agora eu tinha Kihyun. Mas, certo dia, ela apareceu na mansão, estava chorando e pedindo que eu voltasse para eles. – Ele ri nasalado e nega com a cabeça. – Após isso, ela acabou engravidando de Hyun, e isso me deixou tão irritado, porque eu não precisava de mais um filho como ela, por isso, a matei em seu parto.
  "Tendo mais um momento de fraqueza, acabei levando nossos filhos para a mansão, mas eu não podia mais perder tempo com eles, então forjei minha morte na guerra em Upiór contra a igreja, deixei os garotos aos cuidados do mordomo, e vim para Transilvânia criar o Kihyun no castelo, como deveria ser feito."
  Tento respirar fundo mais uma vez, me sentindo enjoada com tudo que acabei de escutar.
  – Se você não precisava de mais um filho com Amélia, então por que a deixou ter o Hyun? – Pergunto, sem encará-lo.
  Ele fica em silêncio por alguns segundos.
  – Eu a matei, e isso é tudo que importa.
  Tomo coragem para olhá-lo, e percebo em sua expressão que se um dia ele deixou que Amélia desse a luz a Hyun e não matou os irmãos porque tinha sentimentos por eles, hoje isso já não existe mais.
  – Eu te contei tudo, Elena, e agora você sabe o porquê de eu não poder deixar Taehyung enterrar a honra dos vampiros na lama, como ele vem fazendo. Só o fato dele estar noivo de uma Van Helsing já prova isso.
  – E vai colocar o Kihyun no lugar? Ele também é metade lobo, pode muito bem se virar contra os vampiros um dia, porque você sabe que mesmo que alguns deles estejam com o Kihyun, a maioria dos vampiros ainda seguem o Taehyung. – Não me contenho e cuspo toda a minha angústia para fora, o que faz Henry sorrir.
  – Você está certa, muitos vampiros ainda seguem o Taehyung, mas isso mudaria se eu estivesse no controle, você não acha?
  Franzo o meu cenho, o encarando com suspeita.
  – Você não é mais o Drácula.
  – Sim, não sou mais por conta dessa maldita maldição da lua de sangue e seus seiscentos anos. Mas eu pensei em um jeito de tapear isso, e essa é a razão pela qual você está aqui, Elena. – Henry apoia suas mãos sobre a mesa e se inclina para frente de modo que se aproxime mais de mim. – Se eu não posso mais ser o Drácula, então me tornarei alguém mais poderoso que ele e usurparei seu lugar, não só tendo de volta o controle dos vampiros, mas assumindo o controle de todas as outras criaturas místicas.
  O meu coração salta em uma única batida, enquanto meu corpo se torna gelado.
  – Para que apenas colocar Kihyun no poder, se eu posso me fundir a ele? Enviar a minha alma para o seu corpo jovem e híbrido, deixando meu velho corpo para morrer, enquanto me torno a criatura mais poderosa dentre todas. Eu serei o seu novo Deus, Elena. E as igrejas e o Vaticano passarão a rezar para mim
  Enquanto entro em total estado de choque, a porta da sala de jantar é aberta por Kihyun, que surge com um grande sorriso.
  – Pai, já está na hora de irmos. Espero que tenham aproveitado a refeição.
  Henry se levanta, retirando o guardanapo do colo e colocando na mesa.
  – Sim. Elena é uma ótima companhia. – Ele me encara, antes de começar a caminhar em direção a Kihyun.
  – Eu imagino que seja mesmo, uma pena não poder me juntar a vocês.
  Minha respiração fica um pouco mais alta, e sinto minhas mãos começarem a suar. Não consigo controlar meu corpo quando ele se levanta em um solavanco, enquanto bato as mãos com força sobre a mesa, atraindo a atenção dos dois.
  – Kihyun, você não pode ficar do lado dele! Seu pai está te enganando! Ele pretende usar o seu corpo para não morrer! – Tomada completamente pelo exaspero, falo de uma só vez, criando um grande silêncio entre nós.
  Kihyun encara Henry por um tempo, e depois a mim.
  – E eu aceitarei o meu destino com toda honra e glória. Meu querido pai e eu seremos a mais poderosa criatura. – Kihyun sorri enquanto fita Henry.
  Eu senti como se o chão tivesse desmoronado e eu fosse engolida por uma bolha escura e fria.
  – Agora, sem perder tempo, nos acompanhe, Elena. Hora da sua liberdade. – Kihyun se vira e sai da sala de jantar, enquanto é seguido por Henry, que anda calmamente. Me deixando para trás com a respiração irregular e sem acreditar em tudo isso.
  Fito a mesa, enquanto sinto o exaspero tomar conta de mim. Pego umas das facas limpas e a escondo na manga do meu vestido, antes de me afastar da mesa e ir para à saída da sala de jantar. Eu não posso ir embora desse lugar, ainda não achei Hyun.
  Henry conversava com Kihyun e Amia, perto da varanda da catedral. E, ao me ver, Amia acena para mim, antes de sair com Kihyun.
  Olho para os lados, não vendo mais as mulheres e os homens que andavam por esse lugar, tudo estava vazio e apenas o badalar de um grande relógio preenchia o ambiente.
  – Venha aqui, Elena. – Henry me encara, enquanto enfia as mãos para dentro dos bolsos de suas calças pretas sociais.
  Nervosa, vou até Henry, enquanto tento não deixar à mostra o relevo da faca na manga do meu vestido.
  – Me siga. Estou te levando em direção à liberdade. – Ele começa a caminhar em direção ao jardim da catedral e eu vou atrás, com passos cautelosos, enquanto me mantenho atenta ao que ele pode fazer.
  Em silêncio, ele atravessa todo o jardim e anda em direção as altas árvores, das quais eu conseguia ver quando estava na torre, e que cercavam a catedral.
  Não acho que Hyun tenha voltado, caso contrário, Kihyun com certeza falaria sobre isso ou teria alguma movimentação. Não parecia ter mais ninguém na catedral. E, talvez, ele possa ter se perdido aqui nessa floresta, então, eu só preciso me manter a salvo de Henry e procurar Hyun por aqui.
  – Ande mais rápido, por favor. – Sobressalto no lugar, o vendo me olhar sobre os ombros.
  Acelero um pouco mais meus passos, mas ainda continuo atrás dele e, assim, caminhamos floresta adentro por longos minutos, até que eu não conseguisse mais ver a catedral.
  O sol iluminava o caminho, e os insetos e bichos pequenos se esgueiravam por entre as muitas árvores. O ar estava seco, fazendo uma fina camada de poeira levantar toda vez que batíamos nossos pés no chão.
  Henry para de andar, me fazendo para também. Encaro suas costas largas, tensa, mas atenta.
  Lentamente, ele se vira para mim.
  – Vou te deixar aqui e você pode tentar achar o caminho de volta.
  Em silêncio, apenas assinto com a cabeça, enquanto sinto meu estômago se agitar em nervosismo.
  Henry dá um passo em minha direção e, por espanto, dou um para trás. Ele dá mais um e outro, ficando bem perto, e quando tento me afastar, ele segura meu braço, me puxando com força.
  Os meus olhos se arregalam e meu coração acelera.
  – Para que eu consiga mandar a minha alma para o corpo do Kihyun, eu preciso fazer o ritual de exorcismo, e estive estudando-o muito por todos esses anos. Mas, de toda forma, eu ainda precisaria do lado Van Helsing para conseguir fazê-lo. Então, Elena, chegou a hora que você vai me ajudar. – Henry aproxima seu rosto do meu e sorri. – Não vou te matar, não se preocupe, mas irei roubar metade da sua alma. Isso não me tornará um Van Helsing, porém, me fará ter parte da sua essência, e creio que isso seja o bastante para que eu conclua com sucesso o exorcismo do seu povo.
  Todos os pelos do meu corpo se arrepiam, e pequenos insetos parecem encher o meu estômago, em uma sensação incômoda e desesperada.
  Henry coloca uma mão atrás da minha cabeça, aproximando mais seu rosto do meu. Tento forçá-la para trás, mas ele continua pressionando para que eu faça isso, até que sua boca fique perto da minha e eu sinta um calor indescritível subir por meu corpo, indo em direção à minha boca, onde posso ver uma pequena fumaça negra começar a sair de dentro de mim e entrar na boca de Henry.
  Os seus olhos ficam em tom de vermelho vibrante, enquanto encaram os meus e, como um feitiço, não posso desviar, eu não conseguia.
  Aos poucos, meu corpo começa a perder os movimentos, por isso, começo a balançar meu braço direito até sentir a faca escorregar da manga, caindo na minha mão que, por pouco, quase não foi parar no chão. Enquanto sentia meu corpo cada vez mais fraco e lento, tento acertar a faca em Henry e, por sorte, consigo cravá-la em seu ombro.
  Henry desvia seu olhar do meu e encara o próprio ombro. Ele solta meu braço e puxa a faca de seu ombro apenas pare que, segundos depois, eu a sinta entrando na lateral da minha barriga, rasgando minha carne como se fosse papel. Meu peito infla e meu tronco se enverga para cima, mas não consigo gritar ou fazer barulho.
  Henry fecha sua boca, fazendo o restante da fumaça negra que saia da minha boca, voltar para o meu corpo. Ele me solta, fazendo-me cair no chão, enquanto tento respirar tendo muita dificuldade quando o sangue começa a encher minha boca, escorrendo para fora.
  – Obrigado por me ajudar, Elena. Foi um prazer te conhecer. Diga a Taehyung que se ele tentar algo, eu mato o Hyun. – Escuto sua risada. – Eu sabia que você o mandaria para fora da torre. Não se preocupe muito, ele está comigo, e se vocês não fizerem nada, o meu adorável garotinho vai permanecer vivo.
  Após isso, não escuto mais sua voz e nem qualquer barulho que não fosse dos chiados da minha respiração irregular.
  Puxo a faca ainda cravada na lateral da minha barriga, a jogando no chão. Me arrasto para perto de uma árvore, deixando um rastro de sangue pelo caminho, depois me apoiando a ela, tento me colocar de pé. Minhas pernas falham e meus braços fracos quase não conseguem se segurar na árvore.
  Quando finalmente estou de pé, tento caminhar. Minhas pernas tremem e meus passos eram muito lentos. Uso uma mão para me apoiar nas árvores pelo caminho, e a outra para tapar o machucado na minha barriga, enquanto sinto o sangue escorrer pelos meus dedos e pingar no chão como se fosse uma marcação que eu deixava para trás.
  O chiado da minha respiração ficava cada vez mais alto, fazendo alguns respingos de sangue voarem para fora da minha boca. A minha visão começava a escurecer, primeiro me fazendo enxergar as coisas de forma embaçada. As minhas pernas tremiam muito e meu corpo estava extremamente pesado e fraco, de uma maneira horrível. O corte na minha barriga doía muito e não parava de minar sangue, isso não era nada bom.
  Dou mais alguns passos e minhas pernas fraquejam, não aguentando mais o peso do meu corpo, me fazendo cair. Meu rosto bate contra o chão de terra, que arranha minha pele. Os meus olhos se fecham lentamente e me rendo a essa avassaladora sensação de ter as minhas forças roubadas, enquanto sinto o sangue escorrer para fora da minha boca e do machucado na minha barriga.

Capítulo 25
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