Capítulo 24
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Meu corpo deitado sobressalta do chão quando sou atingida por alguma coisa muito gelada. Rapidamente me sento, sentindo meu corpo e cabelo incrivelmente molhados.
– Finalmente acordou.
Assustada, olho ao meu redor, vendo o homem que vigiava a porta de metal parado do lado de fora da minha cela, segurando um balde de alumínio que pingava.
– Cadê o garoto? – Ele pergunta, fazendo-me despertar após me sentir completamente confusa sobre o que aconteceu.
Mais uma vez olho ao redor, procurando alguém dentro da cela ocupada apenas por mim.
Não só pela água gelada, mas também pela sensação ruim que me assola, meu corpo se arrepia. Hyun ainda não havia voltado, e já era manhã de outro dia.
Passo a mão por meu rosto molhado, tentando secá-lo de forma nervosa.
– Eu não sei. – Respondo, sincera e perdida.
O homem solta o ar pelo nariz de forma pesada.
– Onde está o garoto? – Ele bate o balde de alumínio nas barras da cela, criando um alto barulho desagradável.
Pisco os olhos rapidamente várias vezes e o encaro.
– Eu já disse que não sei. Não estou mentindo.
Seus olhos amarelados parecem irritados. Então, ele joga o balde contra as barras da cela e sai da torre, batendo com força a porta enferrujada de metal.
Fecho os olhos e expiro profundamente.
As gotas de água escorriam por mim e caiam no chão, formando uma pequena poça de água.
Olho por entre as barras em direção à janela, vendo o azul do céu, enquanto escutava o piado de alguns pássaros que voavam em frente a janela.
Fechos minhas mãos, fazendo meus dedos escorregarem pelo chão duro de pedra. Puxo o ar para dentro o máximo que posso, enquanto peço a Deus para que Hyun esteja bem, pois eu já me arrependida de ter pedido que ele saísse daqui.
Talvez ele não tenha encontrado nada, por isso, ainda não voltou. Pense positivo e tudo dará certo, Elena.
Enquanto imerjo em preocupação, por um segundo me lembro do sonho ruim que tive e de como eu estava nele. Eu ainda conseguia sentir todas aquelas sensações correrem dentro de mim e era horrível. Me ver daquela forma, como uma vampira, era tenebroso, algo ainda mais assustador do que quando vi pela primeira vez a marca dos Van Helsing surgindo nas minhas costas. De toda forma, esse sonho ruim apenas reforçou o que eu já tinha em mente; que nunca me transformaria em uma vampira. Nunca.
A porta de metal é aberta, e aquele homem de olhos amarelados se aproxima da minha cela outra vez, agora carregando dois baldes e um esfregão. Ele coloca tudo no chão e abre a porta da cela.
– Vem para fora. – Ele faz um gesto de cabeça, me encarando sério.
Em silêncio e atenta ao que ele poderia fazer, me levanto do chão molhado e caminho até onde ele estava, do lado de fora da cela. Encaro os dois baldes, vendo um cheio de água com um escovão boiando dentro dele, e o outro com uma mistura de água e sabão.
– Isso vai te ajudar a lembrar aonde o garoto está. – O homem lobo empurra o esfregão em minha direção. – Lave tudo, e é melhor fazer o que eu digo, se não quiser arrumar problemas por aqui.
Com um olhar carregado, ele se vira e sai da torre, me deixando sozinha com um esfregão, um escovão e dois baldes para limpeza.
Suspiro alto, sentindo os meus olhos arderem. Eu estava cansada, com fome, com frio e preocupada com Hyun. Estar presa aqui era como viver um pesadelo do qual nem sequer podia tentar fugir, pois precisava esperar Hyun voltar e me contar em que parte da Romênia estávamos, mesmo que, no fundo, eu soubesse que provavelmente era bem longe da Transilvânia, onde todos estavam.
Sem ter escolhas, pego os dois baldes e o esfregão, e os levo para perto da janela. Os ponho de canto e depois coloco minhas mãos sobre o batente de pedra, observando a paisagem do lado de fora. O dia estava lindo, havia um sol brilhante, um céu azul, um vento agradável, o som dos pássaros, o cheiro puro das árvores e, no fim das contas, eu estava presa em uma torre fria, escura e silenciosa, vigiada por lobos e vampiros.
Encaro as muitas árvores cheias, que preenchiam cada parte da minha visão, não me deixando ver nada além das suas folhas e galhos.
– “O Senhor, pois, é aquele que vai adiante de ti; ele será contigo, não te deixará, nem te desamparará; não temas, nem te espantes.” – Sopro ao vento, um dos meus versículos favoritos, torcendo para que ele leve minhas palavras até o pequeno Hyun, seja lá onde ele estiver e o que estiver fazendo agora.
Me afasto da janela e pego balde com água e sabão, despejando um pouco sobre o chão, e depois pego o esfregão e passo-o por toda parte perto da janela. Esfrego cada centímetro de chão que vejo pela frente, tornando isso a minha ocupação do momento, para que eu consiga deixar de lado, ao menos por um segundo, toda a minha preocupação.
Aos poucos, o esfregão ganha uma coloração escura, não tanto quanto achei que se sujaria, mas, ainda sim, deixa a água preta.
À medida que ia avançando, enquanto limpava o chão da torre que, mesmo sendo um espaço pequeno, os meus braços começaram a arder, e tive que parar algumas vezes quando isso se tornava incômodo demais.
Assim que termino de limpar cada pedaço do chão, vou para minha cela e limpo ali dentro. E seguidamente me ajoelho diante as barras da mesma; com o auxílio do esfregão, começo a limpar todo óleo impregnado nas barras. Eu tiraria tudo que conseguisse, pois, desta forma, quando Hyun voltasse, ele não iria se preocupar em tocar as barras e se machucar de novo, porque eu já vou ter dado um jeito nisso.
A cela era muito alta, então limpei até onde o meu braço alcançou, mas, de qualquer forma, Hyun é uma criança, então não tocaria em nada muito alto.
Eu não sei quanto tempo levei para limpar tudo isso, mas quando terminei, deitei meu corpo por alguns minutos no chão da cela, respirando fundo, ao menos quatro vezes, enquanto sentia o meu corpo doer de exaustão.
Quando me sinto um pouco melhor, me levanto do chão e recolho tudo que usei, levando os baldes e o esfregão para perto da janela, onde perdi algum tempo apenas observando o lado de fora, o lado da liberdade.
Como será que estão todos no castelo? E a minha irmã, será que ela conseguiu sair da cama e voltar ao seu estado normal? Torço para que sim, ao mesmo tempo que me sinto culpada por saber que ela deve estar tão atribulada agora. Wendy mal se recuperou e teve que lidar com essa confusão que eu me meti, mais uma vez.
E aqueles irmãos, eles devem estar tão preocupados com Hyun. Se os conheço, principalmente Taehyung, o castelo deve estar um completo caos. Mas espero que Jimin e Blarie consigam acalmar tudo por lá.
– “Esforça-te, e tem bom ânimo; não temas, nem te espantes; porque o Senhor teu Deus é contigo, por onde quer que andares.” – Sussurro mais um versículo, desta vez para mim mesma, pois estava precisando disso mais que nunca.
Seco os meus olhos quando algumas lágrimas ameaçam escorrer. Respiro fundo, tentando reconstruir todos os meus sentimentos e organizá-los de forma menos agoniante.
Ao fundo, ouço a porta de metal ser aberta de novo, mas permaneço do mesmo jeito, parada em frente à janela.
Os passos pesados caminham para perto de mim, até que param, acompanhando um badalar que parecia ser de um relógio, vindo de fora.
– Eu limpei tudo. – Digo, enquanto me viro em direção ao homem lobo, que estava próximo, a apenas alguns passos. Ele segurava uma pequena bandeja com um pão e um copo com leite.
Seus olhos amarelados observam cada canto da torre, desde o chão até a cela, antes de voltarem para mim.
– Acho que você esqueceu essa parte. – Ele diz, sorrindo de um jeito maldoso, para depois virar a bandeja, fazendo o pão cair no chão e o leite se espalhar por todos os lados, sujando o que eu já havia limpado.
Fecho os olhos, respirando fundo, enquanto sinto os meus olhos marejarem mais uma vez. Engulo a saliva junto com o choro e abro os olhos novamente, vendo de canto de olho, o esfregão perto de mim.
– Onde está o garo... ugh! – Um grunhido de dor interrompe sua fala, quando pego o esfregão, parto ao meio e o acerto no abdômen.
– Por que você não o procura no inferno? – Com uma mão, seguro a madeira partida, e com a outra, seco as lágrimas no meu rosto.
Com força, puxo o esfregão para fora do seu abdômen e o homem lobo cambaleia, apoiando-se na parede, enquanto sua mão tenta estancar o sangue que pingava no chão.
Com os dentes apertados uns nos outros, ele me encara completamente tomado pela raiva, vindo em minha direção com exacerbo. Suas unhas se alongam para que ele consiga me atacar, mas uso o esfregão quebrado para afastá-lo. O homem lobo segura no esfregão, tentando empurrá-lo em minha direção, me obrigando a virar nossos corpos, o colocando contra a janela. Ele aperta o esfregão, que começa a estalar, enquanto racha, mas isso não me impede de usá-lo para empurrá-lo para trás, fazendo o tronco do lobo se deitar no batente da janela e sua cabeça pender para fora da mesma.
– Você não acha que já teve o bastante? – Pergunto, encarando a ferida em seu abdômen, que ainda sangrava.
Ele não responde, apenas rosna entre os dentes, tentando me afastar de perto dele.
Suspiro e solto o esfregão, o libertando.
– Sai daqui. – Peço.
Ele ainda me encara com raiva, mas não diz nada.
– Anda. Sai daqui logo. – Falo séria e, diante de um olhar raivoso misturado a uma expressão de dor, ele se afasta de mim e depois sai da torre.
Encaro minhas mãos, que se sujaram de sangue um pouco, assim como os respingos em minhas roupas. Depois, encaro a sujeira que se formou no chão e suspiro de novo, antes de pegar o pão e voltar para dentro da minha cela, enquanto me pergunto se um dia vou voltar a ter dias bons.
