Capítulo 18
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– Parece que vocês se deram muito bem. – Comento, enquanto observo Hyun sentado do lado Wendy sobre a cama.
Ela sorri e olha para o garotinho que segurava uma boneca de porcelana.
– Ele me fez companhia ontem junto com o Skull, mas você sabe, o mordomo não fala muito. Já esse aqui... – Wendy aponta para Hyun e ri. O garotinho a encara com os olhos curiosos e acaba acompanhando sua risada.
Isso será bom. Com tudo que está acontecendo agora, Hyun passa muito tempo sozinho, apenas na companhia de Skull. Acho que será bom para ele e Wendy ficarem juntos por um tempo.
– Então sei que são a dupla perfeita, porque você fala pelos cotovelos, Wendy. – Brinco, os fazendo rir de novo.
– Bem, acho que está na minha hora. Preciso ir agora. – Me levanto da cama, colocando as mãos na cintura e encarando os dois. – Aproveitem o dia. E qualquer coisa, você me liga. – Olho para minha irmã, que assente.
Me despeço deles e saio do quarto, indo atrás de Taehyung e Jungkook. Nós somos a única equipe que ainda estava no castelo, as demais já haviam partido. Ficamos para trás porque Taehyung precisava conversar com alguns vampiros representantes, os que estavam encarregados de espiarem os supostos vampiros traidores.
Ontem, quando voltamos mais tarde, Lilu me contou que a sua equipe vasculhou três igrejas, mas não encontrou nada. Já a equipe de Sally, que chegou por último após invadirem duas igrejas, encontram ambas ocupadas por lobos; parece que sua equipe conseguiu matar todos que estavam por lá.
As notícias já estavam correndo e havia especulações entre os humanos, que suspeitavam de ataques extremistas contra fiéis da igreja. Até depois de mortos os lobos conseguiram se safar, sendo noticiados como irmãos da igreja vítimas de um atentado. Não demoraria até que a polícia começasse a investigar, buscando pelos culpados, porém, mesmo que algum morador der qualquer depoimento, não acho que nenhum de nós será caçado. Pelo menos na igreja aonde brigamos com os lobos, as casas eram um pouco afastadas e ninguém ousou sair na rua. Era de noite, tarde, e eles com certeza não terão nenhuma descrição boa de nós. Lilu assegurou que ninguém viu sua equipe também, então acho que por enquanto estamos fora de suspeitas.
Mas, todos sabem, notícias ruins correm rápido. O Padre Albert nos ligou logo cedo, primeiro ele queria saber qual era o motivo de estarmos ausentes de contato, e depois perguntou o que sabíamos sobre os ataques nas igrejas. Mais uma vez precisamos mentir. Eu acabei dizendo que estava tão surpresa quanto ele sobre as invasões, mas que eu e as garotas passamos os últimos dias no castelo, cuidando de Wendy, e esse era o motivo de não termos voltado para a base. Também disse que nenhum dos irmãos estava por trás dessas invasões, pois nos últimos dias estavam concentrados em pegar os vampiros traidores. O Padre então perguntou quem poderia ter feito isso, e como ele não sabe que as vítimas, na verdade, eram os lobos, fui obrigada a reverter o jogo a nosso favor, dizendo que tinha grandes chances de os lobos estarem por trás das mortes, já que mataram alguns dos nossos antes. Mesmo sem ver o Padre pessoalmente, apenas escutando sua voz pelo telefone, penso que ele acreditou em minhas mentiras e, com certeza, as passará para o Vaticano. De certa forma isso era conveniente. Se o Vaticano passar a depositar toda sua vontade de vingança sobre os lobos, os vampiros podem ser deixados de lado por um momento, nos dando maior liberdade para continuar com o plano.
A essa altura, Kihyun já deve saber das mortes e me pergunto o que ele fará. Por mais que seja inteligente, não acho que ele possa encontrar um novo lugar tão rapidamente para se mudar, já que os lobos devem ser muitos. Kihyun vai precisar de um novo esconderijo, por isso, enquanto ele esvazia as igrejas, essa será a nossa chance de acabar com a maior quantidade de lobos possíveis, cada vez mais diminuindo seu número de aliados, até que reste apenas ele. Sua vaidade e segurança estão sendo sua queda, pois além de estarmos os eliminando sorrateiramente, também vamos conseguir colocar o Vaticano em cima dos lobos.
Dessa vez, a vitória será dos vampiros.
– Os representantes seguiram os vampiros até outro lugar que já usamos para fazer reuniões. – Taehyung diz, e paro de encarar a janela do carro, prestando atenção nele, que estava sentado na minha frente, do lado de Jungkook.
O carro fazia meu corpo se mexer sutilmente. A paisagem do lado de fora passava como borrões.
– Dessa vez, eles viram a Amia.
Levanto as sobrancelhas.
– Esse é só mais um motivo pra desconfiarmos nela. – Digo, convicta.
– Pode ser. Nós só precisamos pegá-los fazendo alguma coisa ou se encontrando com os lobos. – Taehyung fala.
– Você não acha que hoje eles já vão estar preparados para mais invasões nas igrejas? – Jungkook pergunta para seu irmão, que assente.
– Mas eles não sabem quais igrejas iremos atacar. – Falo.
– Por isso Kihyun deve ter mandado que todas ficassem em alerta. – Taehyung apoia um dos braços sobre o banco.
– Isso não atrapalha um pouco os nossos planos? – Pergunto.
Jungkook ri zombeteiro e me encara:
– Isso só vai tornar tudo mais interessante.
Os meus machucados estavam praticamente curados hoje, por isso, estou pronta para o que viria.
***
Dessa vez, chegamos mais rápido do que pensei, as igrejas ficavam mais perto.
Fecho a porta do carro quando sou a última a sair, e os pneus logo rolam pela estrada de terra. Os grilos cantavam pela mata e a lua iluminava nosso caminho. Decidimos que todos as nossas invasões seriam de noite, pois isso evitaria que os humanos, ou qualquer testemunha, nos reconhecessem, mas acho que hoje isso não será um problema, já que essa igreja ficava em um lugar malcuidado e isolado.
Nossos passos faziam barulho sob as pedrinhas do chão seco, assustando alguns insetos.
Deixo escapar uma baixa risada nasalada quando percebo que o caminho que fazíamos era bem parecido como de Upiór, só que ao invés de arbustos fechando-o, era um mato alto e desigual.
O caminho era um pouco estreito e eu, que estava no meio, em alguns momentos andei de ombros colocados com Taehyung e Jungkook, mas isso não me incomodava, não agora, pois precisava ficar atenta a uma suposta emboscada.
Quando alguma nuvem cobria a lua, o caminho se tornava um pouco mais escuro e suspeito, deixando o barulho dos grilos nos guiarem.
Ao longe, um pequeno clarão surge. Mais alguns passos e vejo uma construção velha e abandonada no meio do nada. As árvores se afastavam e só o mato alto se fazia presente. E apesar de sua aparência miserável, o clarão vinha de dentro da igreja, indicando que tinha alguém lá dentro.
– Essa foi uma das igrejas fechadas pelos vampiros. Nós podemos entrar com você. – Jungkook explica sem me olhar, com os olhos presos na construção de tinta suja.
– Certo, então vamos. – Puxo o revólver carregado do cós da calça e o mantenho abaixado.
Nós três começamos a caminhar até a igreja, tentando ser os mais silenciosos possíveis. E assim que atravessamos as portas abertas, descubro que os clarões vinham de pequenas tochas penduradas nas paredes rachadas. O chão era sujo, assim como os bancos empoeirados, onde várias pessoas estavam sentadas, todas com as cabeças abaixadas e mãos juntas, rezando em silêncio para a grande imagem da Santa Maria pregada no altar.
Havia um único homem de pé, ele estava na frente do altar. Esse homem é o primeiro a parar de rezar, e quando nos vê, seus olhos se arregalam e ele nos encara com espanto e desconfiança.
– Q-Quem são vocês? Vieram para o culto? – Ele pergunta, atraindo a atenção de todos, que param de rezar e nos fitam por cima dos bancos.
– Desculpe, mas não acreditamos em Deus. – Jungkook diz, do meu lado esquerdo.
Taehyung faz menção de se aproximar, mas eu coloco uma mão em frente ao seu corpo, o impedindo.
– E se eles forem humanos? – Pergunto, encarando cada uma das pessoas nessa igreja velha. Todas pareciam tão assustadas.
– O quê? – Taehyung franze as sobrancelhas. – Eu sinto o cheiro, Elena.
Encaro Taehyung e depois as pessoas, ainda tendo dúvida.
– O que vocês querem? – O homem na frente do altar, pergunta.
– Nós podemos conversar? – Pergunto, dando três passos para frente, mas paro ao perceber que os olhos de todas as pessoas mudaram em instantes, ganhando aquele familiar brilho amarelado.
O semblante do homem de pé muda, se tornando severo e mal-encarado.
– Santa Maria não permite que conversemos com a escória! – O homem grita, fazendo todos nos mostrarem suas presas, subindo nos bancos e saltando por eles, enquanto vêm em nossa direção.
– Cinco anos e você continua ingênua. É melhor se desfazer dessa sua humanidade, Elena. – Taehyung fala sarcasticamente, antes de correr em direção aos lobos.
– É bom se mexer também. – Jungkook diz, segurando um dos lobos pelo pescoço quando ele tentar saltar sobre nós.
Uma verdadeira bagunça se forma dentro da igreja, com rugidos e sangue para todos os lados. E quando, ao menos, uns sete lobos vêm em minha direção, sou obrigada a disparar em todas as direções, os afastando.
Corro para a direita, agachando e deslizando meu corpo para trás de um banco, que uso como escudo para conseguir atirar em alguns lobos, conseguindo matar quatro deles.
Um dos muitos bancos é arremessado na direção de onde eu me protegia, batendo na parede e fazendo alguns pedaços de madeira caírem em mim. Sem me machucar, me levanto de meu esconderijo e pego uma das tochas penduradas na parede, antes de subir em um dos bancos e lançar a tocha em direção a um pequeno grupo de lobos que corria para me atacar. Imediatamente, seus corpos entram em combustão, queimando como papel. Muitos gritos de dor ecoam dentro da igreja, atraindo mais lobos para a cena, e quando me percebem, alguns tentam vir até onde estou com os olhos em fúria.
Corro por cima dos bancos, atirando em todos que posso, inclusive nos lobos que pegavam fogo.
Salto do último banco do lado direito e me jogo no chão, deslizando sobre a sujeira até o lado esquerdo, me afastando de alguns lobos. Troco de revólver quando a munição acaba, e me coloco de pé no banco mais uma vez, pronta para continuar, mas minha atenção é captada por uma cena que se desenrola perto de onde estou. Taehyung segurava uma mulher lobo, completamente ensanguentada, pelo pescoço, a encarando fixamente com os olhos tão vermelhos quanto o sangue, enquanto uma fumaça negra saia da boca da mulher lobo e entrava na de Taehyung. Ela sequer se debatia, não conseguia lutar enquanto sua pele perdia a cor e seu corpo se tornava magro, com os ossos grudando na pele sem gordura.
Antes que Taehyung pudesse se desfazer da carcaça sem vida e ossuda, mãos rodeiam meu tronco, me empurrando para trás, me fazendo cair no chão. Presas rosnam perto do meu rosto, e olhos de âmbar me engolem em fúria. Com a mão livre, disparo contra seu peito, antes que o lobo me acerte com suas garras.
Jogo seu corpo morto para o lado e percebo, antes de me levantar, uma pequena nuvem cinza pairando sobre mim. De pé, vejo que os corpos que ateei fogo estavam queimando os bancos e assoalho de madeira.
– Precisamos nos mandar daqui. – Jungkook alerta, se aproximando de Taehyung.
Um dos lobos se levanta em meio aos corpos mortos espalhados pela igreja, pronto para atacar Jungkook. Sem pestanejar, ergo minha arma em sua direção e atiro, o fazendo voltar para a pilha de corpos sem vida.
– Boa mira. – Jungkook movimenta as sobrancelhas. – Agora vamos.
Ele começa a correr para à saída e Taehyung o segue. Empurro alguns bancos que estavam no meu caminho e corro atrás deles, enquanto a igreja começa a ser preenchia pela fumaça e fogo.
Meus pés deslizam sobre o chão de terra, levantando poeira, e paro abruptamente de andar quando vejo uma mulher jovem e negra, de cabelos enrolados, surgir, vindo de onde haviam árvores. A cor amarelada de seus olhos, que contrastava com a pele, entrega sua verdadeira natureza.
Taehyung e Jungkook também param de andar e a mulher sorri, enquanto vem em nossa direção com passos ensaiados.
A fumaça começava a sair de dentro da igreja, se espelhando pelo ar da noite.
– Carla. – Taehyung diz, e eu o encaro com o cenho franzido.
Ele estava sério agora, até parecia um pouco nervoso, mas não como de costume.
– Oh, meu Deus! Taehyung, querido! – Carla se aproxima de Taehyung, e segura o rosto dele, dando-lhe um breve selar nos lábios. – Como é bom te ver outra vez.
Por um segundo me sinto tonta, com uma estranha sensação correndo dentro de mim, e não sei se é por conta da fumaça que pesava no ar, fazendo com que respirar se tornasse algo desagradável.
Ela se afasta de Taehyung e suas mãos escorregam para os ombros dele, sem deixar de oferecer-lhe seu sorriso, enquanto ele continuava parado, a encarando como um leão diante de um coelho.
– Quem é ela? – Jungkook pergunta, os fitando sem entender, mas com atenção.
Carla sorri para Jungkook.
– Bonito desse jeito, esse só pode ser um dos seus irmãos. – Ela se vira para Jungkook. – Eu não me importaria nenhum pouco de perder algum tempo com você também. – Carla toca o queixo de Jungkook, que sorri com escárnio.
– Taehyung e eu... hum, nós tivemos um caso, não chegou a ser um namoro, mas, com certeza, foi alguma coisa. – Ela encara Taehyung de canto de olho, e sinto uma ansiedade ruim correr pela boca do meu estômago.
Em seguida, seus olhos amarelados me encaram pela primeira vez e ela se aproxima de mim, me olhando bem dos pés à cabeça.
– Esse anel no seu dedo... – Carla fita minha mão esquerda. – Você deve ser a noiva. Elena, não é? – Ela se inclina em minha direção e sorri bem próxima ao meu rosto. – Vejo que o Taehyung continua tendo muito bom gosto. – O ar de sua risada toca o meu rosto e ela se afasta.
O barulho do fogo fica alto e estava se tornando impossível permanecer aqui com tanta fumaça. O calor das chamas já começa a transitar pelo ar.
– O que você quer, Carla? – Taehyung pergunta, a observando atentamente.
Carla arqueia as sobrancelhas para ele, colocando suas mãos na cintura.
– Quantos lobos vocês mataram lá dentro, Taehyung? Você sabe que as coisas não podem ficar assim. – Os olhos amarelados de Carla ganham intensidade, e enquanto ela fala, posso ver suas presas se alongando vagarosamente.
Rapidamente, o som do disparo atravessa a fumaça no ar, e como os pedaços da igreja, o corpo de Carla cai no chão.
Taehyung e Jungkook me encaram, enquanto meu revólver continua erguido no ar.
– Ela é um lobo igual a eles e iria no atacar. – Digo, com a respiração um pouco apressada.
Coloco a arma de volta no cós das calças, fitando o corpo que sangrava. Eu não a matei, da maneira como ela estava, eu não conseguia mirar em seu coração.
Taehyung se agacha e pega o corpo desacordado no colo.
– O que você está fazendo? – Pergunto.
– Nós vamos levá-la para o castelo.
– O quê?! – Me aproximo dele, o vendo ajeitar o corpo de Carla, que tinha a cabeça pendida para trás, em seus braços.
– A Carla para os lobos, é como os representantes vampiros para nós. Ela é alguém importante. – Taehyung respira alto e profundamente. – Talvez eu consiga descobrir alguma coisa com ela.
Fico em silêncio e Taehyung começa a andar com Carla nos braços.
– Vamos. – Jungkook, que permaneceu quieto, apenas observando, faz um gesto de cabeça para que eu o siga.
***
Taehyung colocou Carla no banco com ele, e pegou meu revólver, que apontou para a mulher lobo quando ela acordou, ameaçando atirar nela caso ela fizesse alguma coisa.
Jungkook acabou indo do meu lado, e eu conseguia perceber seus olhares atentos sobre mim, enquanto me mantive quieta até que chegássemos no castelo.
Ninguém havia retornado ainda e talvez demorassem um pouco. Minha equipe invadiu apenas uma igreja hoje, e por conta do nosso pequeno empecilho, voltamos antes do planejado.
Carla foi trancada no calabouço e passou algum tempo com Taehyung lá dentro. Eu não sei sobre o que eles conversaram, mas isso parecia ser o bastante para não me deixar prestar atenção no que Wendy e Hyun me contavam. E após minha irmã reclamar da minha falta de atenção, acabei dando uma desculpa qualquer sobre estar cansada. Eu pretendia ir para o meu quarto, mas acabei na sala de estar, sentada em um dos sofás, sentindo uma onda de ansiedade roer o meu interior.
– Está me esperando?
Me viro no sofá, vendo Taehyung atravessar a entrada da sala de estar. Ele caminha até o sofá e se senta do meu lado. Em seguida, apoia suas mãos nos joelhos e respira fundo.
– Eu a conheci há três anos. Nunca trouxe Carla no castelo, por isso, nenhum dos meus irmãos sabe dela. – Taehyung fita a grande lareira no fundo da sala. – Eu sempre achei que Carla era uma humana qualquer. O cheiro dela era comum e a cor dos seus olhos também. Não é difícil você ver olhos assim em humanos, eles não tinham a intensidade de um lobo.
Abro um pouco a boca, respirando em silêncio.
– Duas noites antes de pararmos de nos encontrar, ela se descuidou e eu pude sentir o seu verdadeiro cheiro. Nós brigamos e ela me mostrou que era um lobo. – Taehyung faz uma pequena pausa e entrelaça os próprios dedos apoiados nos joelhos. – Eu podia ter matado ela, mas não fiz isso, deixei ela ir.
– Você gostava dela? – Engulo minha respiração quando ela ameaça ficar pesada.
Taehyung me encara por alguns segundos de forma séria, mas não diz nada, e isso parece pior do que se tivesse dito algo.
– Nessa época, eu já estava tendo sonhos estranhos. Depois que Carla foi embora, eu percebi o porquê de ela cheirar como os humanos. Eu sabia que tinha algum vampiro ajudando-a.
– Por isso você me disse naquela noite que tem certeza que seu pai está do lado dos lobos?
Ele assente.
Encaro o chão, olhando para os dois lados, e encolho os ombros.
– Taehyung, você não a matou três anos atrás, mas... mas pode fazer isso agora.
Ele me encara.
– Eu não vou fazer isso, Elena. Eu já disse que ela pode me contar alguma coisa.
– Contar o quê, Taehyung? Ela é um lobo. – Engulo em seco, apertando os dentes uns nos outros. – Ela te contou alguma coisa há três anos? Por que você acha que ela contaria agora?
O encaro com fervor e ele escolhe não dizer nada de novo. Ao invés de disso, Taehyung sorri ser humor e se levanta do sofá, deixando a sala. Me levanto e vou atrás dele, mas quando saio da sala também, ele já havia desaparecido.
Volto para o sofá e me jogo deitada nele, tapando o rosto com o antebraço, enquanto expiro alto.
Qual o meu problema? Eu digo para ele para darmos um tempo nisso de casamento, mas, no segundo seguinte, estou agindo feito a louca da Amia.
Há três anos eu não fazia parte da vida do Taehyung e não tenho direito nenhum de me aborrecer pelo fato de que ele esteve com outras. Eu não fiquei assim quando conheci Peter, Zoe e Olivia, mas talvez seja porque nunca me senti ameaçada por eles, como estou me sentindo agora; eu nunca senti que Taehyung tivesse sentimentos verdadeiros por algum desses três. Mas quando ele fingiu acreditar em Amia, e agora, quando não quis me responder sobre gostar ou não de Carla, eu me tornei alguém patética.
Entenda de uma vez por todas, Elena Van Helsing, ele é um vampiro, um Drácus Dementer, o Drácula. Vocês não podem e não vão ficar juntos, então, por favor, pare de agir como uma idiota... e pare de amá-lo, por favor.
Quando foi que eu cheguei no fundo do posso e concordei que seria uma boa ideia estar aqui? Com certeza quando eu decidi vir para esse maldito país, por conta aquele maldito convite, e quando coloquei esse maldito anel que não sai do meu dedo de jeito nenhum e da qual nem sei o motivo.
Sinto uma mão gelada tocar meu braço, o tirando de cima do meu rosto.
– Está chorando? – Jungkook pergunta de pé, em frente ao sofá.
– Por que eu estaria chorando? – Afasto a mão dele, me sentando.
– Por ciúmes, não sei. – Jungkook se senta do meu lado. – Mas irritada, com certeza você está. – Ele ri provocativo.
– Eu não estou com ciúmes, Jungkook.
– Você que sabe. – Ele dá de ombros. – Eu fiquei surpreso, ela é bem bonita, você não acha? – Jungkook cruza as pernas e apoia os braços no sofá.
– Sim, ela é bonita.
Jungkook ri de novo. Ele realmente estava se divertindo com isso.
Respiro fundo e me levanto do sofá. Jungkook segura a minha mão.
– Não vai. Eu só estou brincando.
Encaro ele, que ficou um pouco mais modesto.
– Sério, Jungkook, eu realmente estou ficando cansada disso. Vou para o meu quarto. – Tento soltar sua mão, mas ele me puxa para baixo, me fazendo sentar do seu lado.
– Fica aqui, vai, Elena. – Jungkook solta a minha mão. – Não precisa se irritar por conta de ciúmes.
– Eu não estou com ciúmes. – Quase interrompo sua fala, dando ênfase.
Jungkook arqueia as sobrancelhas.
– Se você não está com ciúmes do Taehyung. Então não vai ligar se eu fizer isso. – Antes mesmo que eu tenha a oportunidade de questioná-lo sobre o que falava, Jungkook me beija.
Como sempre, me sinto completamente nervosa e espantada com o seu cinismo, quase o empurrando para longe, mas, dessa vez, algo dentro de mim, mesmo que surpreso, faz com que, pela primeira vez, eu corresponda ao beijo de Jungkook.
Involuntariamente fecho os meus olhos e, lentamente, deixo que Jungkook aprofunde nosso beijo, mergulhando meu corpo inteiro em tensão quando nossas línguas se tocam pela primeira vez. Suas mãos vão para minha cintura, e as minhas para o seu rosto, tocando os fios macios de seus cabelos que esbarravam nas laterais do seu rosto.
Seu corpo se inclina sutilmente em direção ao meu, e o percebo subir um pouco no sofá. Em seguida, meu corpo começa a ser empurrado para trás até que eu sinta as minhas costas tocarem o braço do sofá. Jungkook se coloca entre as minhas pernas dobradas, onde tive que apoiar os pés no estofado escuro.
Terminando nosso beijo, Jungkook vai em direção ao meu pescoço, cheirando o local antes de começar a beijar minha pele, deixando meu corpo alerta. Seguro em suas costas, enquanto minha boca se abre, soltando alguns suspiros baixos. Sinto seus dedos tocarem minha blusa, passando por debaixo dela e tocando minha pele. Jungkook começa a arrastar os dedos para cima, debaixo da blusa.
Quando sua língua encosta no meu pescoço, meu corpo esquenta, me fazendo arrastar as mãos para cima até os seus cabelos, mas, enquanto faço isso, com o rosto entre a curva do seu pescoço, consigo ver o anel de pedra vermelha em meu dedo anular, e todo o meu corpo se arrepia, fazendo o calor de antes virar angústia.
Fecho os olhos e respiro fundo. Coloco as mãos nos ombros de Jungkook e o empurro sutilmente para trás até que eu conseguisse encará-lo. Os seus lábios estavam avermelhados e seu olhar era intenso, bem similar ao de Taehyung.
– Acho melhor não fazermos isso. Não por esses motivos. – Falo, me sentindo envergonhada.
Jungkook me fita por alguns segundos e sai de cima de mim, se jogando sentado no sofá. Ele pende a cabeça para trás e suspira alto.
– Você vai fazer a minha noite ser longa, Elena. – Ele resmunga, me encarando de canto de olho.
Agora, sentada, encolho os ombros.
– Desculpe.
– Tudo bem. Acho que ainda posso ligar para aquela garçonete bonitinha. – Ele ri, me fazendo ter mais vergonha ainda.
– Jungkook, me desculpe, de verdade. Eu não deveria ter feito isso.
– Elena, você não tem que se desculpar. Não é como se eu gostasse de você, nós só nos beijamos. – Jungkook se inclina rapidamente em minha direção e me dá um rápido selar. – Eu deixo essa parte para o meu irmão. – Ele sorri daquele jeito dele, antes de se levantar e sair da sala.
Permaneço por alguns minutos na sala digerindo a minha própria bagunça, antes de voltar para o oitavo andar, onde parei em frente à porta do quarto do Taehyung e ponderei entrar, mas acabei indo para o meu. Eu deveria ser a última pessoa a ir lá hoje, porque, mesmo negando até o final, não posso mentir para mim mesma dizendo que não queria que fosse ele comigo naquela sala; apenas nós dois.
