Drácus Dementer: Lycanthrope


Escrita porHels
Revisada por Natashia Kitamura


Capítulo 17

Tempo estimado de leitura: 25 minutos

  – Já está pronta, Eleninha? – Lilu abre a porta do meu quarto. Ela já estava arrumada.
  Assinto, enquanto termino de amarrar minhas botas.
  Me afasto da cadeira de veludo que usei para apoiar o pé e vou até à cama, examinando bem, uma última vez, o que eu levaria: dois revólveres carregados com balas de prata, uma estaca de prata, um pequeno frasco com erva Anti-Parálysi e um terço. Escondo os revólveres no cós detrás das calças, a estaca dentro de uma bota, o frasco na outra e, por fim, coloco o terço.
  Era isso. As invasões as igrejas da Transilvânia estavam prestes a começar. E eu, como boa pecadora que me tornei, estarei liderando uma pequena equipe composta por dois vampiros; Taehyung e Jungkook.
  Seguro na cruz pendurada na ponta do terço, dando-lhe um beijo, de olhos fechados.
  – Que o Senhor me perdoe e guarde a minha alma, me redimindo de todos os pecados profanos que tenho cometido. In nomine Patris, et Filii, et Spiritus Sancti. Amen. – Sussurro para mim mesma e solto a pequena cruz, antes de caminhar para fora do quarto, sem saber o que me esperava do outro lado.
  Em silêncio, Lilu e eu fomos para o quinto andar, direto para o quarto de Wendy.
  – Estou pronta. – Sally diz assim que entramos no quarto. Ela estava abaixando a camiseta de Wendy, provavelmente verificando o machucado dela.
  – Como se sente? – Me aproximo da cama, sentando por um momento. Pego em uma das mãos de minha irmã.
  – Eu estou bem, Eleninha. Não se preocupe tanto. – Wendy sorri, me fazendo sorrir também.
  Depois de dois dias e meio, ela estava cada vez melhor e logo voltaria ao normal.
  – Estou levando o meu celular. – Aponto para o interior da minha jaqueta. – Qualquer coisa, me liga. É sério, Wendy.
  Ela revira os olhos, e ri.
  – Eu vou ficar bem. – Wendy coloca mais ênfase em sua fala. – Mas e você, como está?
  – Eu?
  Ela assente.
  Suspiro alto.
  – Nervosa. Acho que com um pouco de medo. – Confesso.
  – Medo do quê? – Wendy pergunta.
  – Nós vamos invadir igrejas. Isso não parece certo.
  – Eu concordo com a Elena. – Sally se manifesta. – Uma coisa é mexermos com os nossos superiores, e outra é mexermos com o Senhor. As igrejas são os templos do Senhor.
  Lilu, que foi para o lado de Sally, engole em seco. Ela também parecia um pouco incomodada com isso agora.
  – Escutem, vocês três – Wendy nos faz olhá-la com atenção – o Senhor sabe o motivo de estarmos fazendo isso. Ele sabe que precisamos fazer. E não acho que irá nos castigar, porque continuamos lutando pelos humanos.
  Ficamos em silêncio.
  Acho que as palavras de Wendy me confortam um pouco. Ela está certa, estamos fazendo isso para evitar que os de má fé assumam o poder.
  – É melhor irmos agora. – Digo, e me inclino em direção a Wendy, beijando sua bochecha. – Por favor, me prometa que se alguma coisa acontecer, você vai me ligar.
  – Eu prometo. – Ela sorri. – Agora vão lá dar um banho naqueles cachorrinhos sujos.
  Me levanto e me junto a Lilu e Sally.
  – Que o Senhor proteja e guarde vocês três. – O nosso "amém" vem sem pestanejar e uníssono.
  De volta ao corredor, descemos mais alguns andares até que chegamos no primeiro, mais especificamente, na sala de estar, onde todos já nos esperavam. O lugar que virou nosso ponto de encontros e reuniões.
  – É isso, hora de partir. – Jin anuncia, de braços cruzados ao lado de Taehyung, e perto de Hoseok. Ele parecia um pouco tenso.
  – Cada equipe já tem sua lista de igrejas, e todos já sabem o que fazer. – Jin continua, e todos assente, antes de, aos poucos, começarmos a deixar a sala de estar.
  Penso em esperar por Taehyung, mas Jimin e Blarie se juntam a mim e as garotas, e acabo indo com eles até o lado de fora do castelo.
  Há dois dias atrás, quando Jungkook seguiu Kihyun, ele acabou encontrando um pequeno grupo de lobos reunidos em um bar de Bran. Como esperado, Jungkook brigou com eles, e até conseguiu matar alguns, mas os outro fugiram, provavelmente, indo atrás de Kihyun, que desapareceu como a brisa daquele dia. Não espero encontrar Kihyun hoje, até porque ele é ótimo em ocultar-se como mágica, mas eu realmente espero pegar alguns lobos e reduzi-los a pó. Já passou da hora de quitarmos nossa dívida com eles, em nome de todos aqueles que morreram.
  Com todos fora do castelo, nos separamos na entrada, em três carros com: Lilu, Hoseok, Jin e Jimin; Sally, Yoongi, Blarie e Namjoon e; comigo, Taehyung e Jungkook.
  Me sento no banco de frente para os dois irmãos. Não acho que seria agradável me sentar do lado deles.
  Taehyung estava de pernas cruzadas, com as mãos apoiadas sobre um dos joelhos. Ele usava uma blusa de seda vermelha e calças pretas. E assim, como Taehyung, Jungkook também estava de pernas cruzadas, mas com os braços apoiados no topo do banco escuro do carro. Ele estava completamente trajado de preto.
  Jungkook observava a paisagem do outro lado da janela, enquanto Taehyung me encarava.
  Levanto minhas sobrancelhas para ele, como se pergunta "o que foi?", e ele sorri fechado, me fazendo desviar o olhar por sentir meu rosto esquentar um pouco.
  – Estamos quase pegando alguns traidores. – A voz de Taehyung me faz olhá-lo. Ela também atrai a atenção do Jungkook.
  – Os seus vampiros descobriram alguma coisa? – Pergunto, e Taehyung assente.
  – Eles encontraram alguns vampiros escondidos em Târgu Mureș. Parece que estavam escondidos em um lugar que já usamos para fazer a sectă de sânge.
  – Vamos fazer algo? – Jungkook pergunta para Taehyung, que nega.
  – Ainda não. Os vampiros só os viram lá, nada que comprove que estão do lado dos lobos. Mas é suspeito, já que nunca nos reunimos nos mesmos lugares.
  Abro um pouco mais os olhos, em surpresa.
  – Não é um plano nada ruim se esconder em lugares onde vocês não iriam mais procurar. – Digo, e Taehyung assente.
  – Sim. Por isso pedi que eles continuassem vigiando esses vampiros, sem que eles percebam. Precisamos descobrir o motivo de estarem ali.
  – E são muitos? – Jungkook se mexe sobre o banco do carro, que sacolejava um pouco, virando-se para o seu irmão.
  – Aproximadamente vinte. Mas isso foi o que eles viram naquele momento. Pode haver mais.
  Jungkook bufa, soltando o ar de forma pesada pelo nariz.
  – Deveríamos simplesmente ir lá e dar um jeito nisso.
  Apaticamente, Taehyung encara seu irmão.
  – As coisas não funcionam assim, Jungkook. Acredite, eu queria tanto quanto você matar um por um, mas não podemos começar mais uma briga, já nos basta esses malditos vira-latas.
  Jungkook devolve o olhar de Taehyung, e eles ficam se encarando por alguns segundos, sem dizer nada.
  – Eu posso esperar pra matar alguns. No final, vai compensar. – Jungkook sorri para Taehyung.
  Estou longe de ser uma santa, e sei que já matei alguns vampiros, mas, apenas vampiros, e isso para que eles não matassem os humanos. Não era a melhor parte de mim, ou algo que me desse prazer em fazer, mas esses dois sentados na minha frente, nem ao menos se importam. São em pequenos momentos como esse, que o peso da origem da qual viemos, cai sobre mim; a nossa visão de mundo e o quanto vale uma vida.

***

  O luxuoso carro preto estaciona na entrada de uma rua de pedra protegida dos dois lados pelas paredes das casas.
  Saímos do carro, sendo recebidos pela noite silenciosa. Já era tarde. Nossa viagem foi ainda mais demorada do que da vez em que Taehyung e eu fomos encontrar Kihyun.
  Assim que Taehyung e Jungkook se juntam a mim, um de cada lado, o vento gelado, mas fraco, da noite, nos atinge. Escuto o barulho do carro atrás de nós se afastando, e sei que o motorista de Taehyung estava fazendo isso para não levantar suspeitas, ele precisava se esconder.
  Cruzo os braços, enfiando as mãos para dentro da minha jaqueta preta, e olho para os dois vampiros, esperando que um deles indicasse o caminho.
  Taehyung faz um gesto de cabeça e começa a caminhar pela rua estreita. Jungkook e eu o acompanhamos. Nossos passos ecoavam toda vez que batiam contra as pequenas pedras quadradas do chão, se misturando ao zumbido que vinha de alguns postes de luzes.
  Quando saímos da ruazinha, viramos à esquerda, e eram poucas as casas que tinham as luzes acesas. Esse era o horário que todos costumam dormir ou passar algum tempo na sala de estar assistindo filmes com tudo apagado, talvez um filme de terror. Sentados sobre seus sofás, ou deitados em suas camas, mal sabem eles que o verdadeiro terror estava espalhado por essas ruas, escondidos nas igrejas.
  Conforme íamos virando em mais ruas, tudo começou a ser coberto por uma fina camada de névoa que parecia se arrastar no chão, até subir para frente das construções, nos permitindo enxergá-las apenas quando nos aproximávamos.
  Aperto meus braços cruzados e encolho meu corpo dentro da jaqueta, engolindo em seco quando lentamente, enquanto atravessávamos a névoa, algumas sombras começam a ganhar forma como o de uma cruz no alto de uma simples igreja.
  Paramos a poucos metros dela, em uma distância segura para os vampiros que estavam comigo.
  Pelo canto dos olhos, percebo quando Taehyung vira sua cabeça em minha direção.
  Respiro fundo, soltando ar pela boca, que sai como fumaça.
  – Não está com medo, está? – Jungkook me encara, sorrindo daquele seu jeito provocador.
  Não o respondo, apenas começo a dar alguns passos para frente, me afastando deles. De forma nervosa, minha respiração começa a misturar-se com o barulho dos meus passos, os únicos acordados nessa noite.
  Tudo o que havia perto da igreja estava apagado, sem uma mísera alma penada nas ruas. Passo por debaixo de outro poste de luz que zumbia como os outros, e subo na calçada da igreja, parando diante o caminho de cimento que levava até a porta de entrada.
  Procuro em meu pescoço, o terço, agarrando-o quando o sinto.
  – Per signum crucis, de inimicis nostris libera-nos Deus noster. In nonime Patriset Fílii et Spitiui Sancto. Amen. – Sussurro e começo a caminhar em direção à entrada da igreja.
  Paro em frente à porta dupla de madeira. Encosto minhas mãos nela e tento empurrá-la para dentro mas, como já era de se esperar, estava trancada. Respiro um pouco alto, sentindo meu corpo frio pelo vente. Me abaixo e puxo para fora de uma das minhas botas, à estaca de prata. Coloco a ponta da estaca bem ao meio da porta dupla, no vão entre elas, e faço força como se usasse um pé de cabra, até que eu escute um pequeno estalo e algumas lascas de madeira saltarem.
  A porta abriu.
  Pisco repetidas vezes os olhos e guardo à estaca de madeira na bota. Espio sobre os ombros, vendo Taehyung e Jungkook pertos da calçada da igreja, me observando.
  Puxo o máximo de ar que posso e olho para frente, puxando um dos revólveres do cós das calças. Volto a tocar a porta, a empurrando lentamente. Ela se abre em um rangido agudo, revelando a escuridão do lado de dentro.
  Com os lábios entreabertos, sempre tento puxar todo ar na tentativa de me acalmar um pouco.
  Quando os saltos quadrados das minhas botas tocam o solo sagrado que fora profanado agora, um eco corre pelo interior da igreja. Passo meu corpo todo para dentro, e encosto a porta, não querendo que a luminosidade da rua entregue a minha chegada.
  Ergo meu revólver em frente ao rosto e deixo meus olhos atentos. Apesar de eu saber que aqui dentro estava bem escuro, tenho vantagem por ser uma Van Helsing.
  Tento tornar meus passos os mais silenciosos que posso, enquanto começo a andar por entre as duas fileiras de bancos. Vou me aproximando de cada um deles para me certificar de que não havia ninguém escondido debaixo dos bancos. E quando termino de examiná-los, paro de costas para o altar, tendo apenas uma opção de caminho. Vou para o lado direito, em direção ao confessionário. Abro a porta pintada de marrom, mas o lado de dentro estava vazio. Mesmo assim, entro no confessionário e começo a procurar por alguma passagem secreta.
  Solto o ar pesadamente pelo nariz e saio do confessionário.
  Volto por onde vim e paro diante o altar, encaro a grande cruz com a imagem do meu Senhor e faço o final da cruz.
  – Me perdoe por isso. – Digo, antes de andar por entre os bancos.
  Puxo a porta de entrada e saio da igreja.
  – O que você achou? – Jungkook pergunta, enquanto guardo meu revólver e caminho até eles.
  – Nada. Não tem nada aqui. É só uma igreja comum, sem lobos.
  Jungkook não parece muito feliz com isso, Taehyung tampouco, mas ainda temos uma longa noite pela frente e, talvez, passemos a madrugada toda estourando igrejas.
  – É melhor irmos antes que nos vejam. Isso com certeza vai virar notícia amanhã. – Taehyung aponta para a porta arrombada da igreja.

***

  Dessa vez, o motorista nos deixou mais perto. O carro estacionou a uma quadra de distância da próxima igreja, ficando escondido em um beco com muitas latas de lixo.
  Enquanto caminhávamos em direção à construção branca, percebo que essa igreja não fica tão próxima das casas quanto a outra. Ela parecia um pouco solitária.
  – Essa é uma filial da Santa Maria. Os lobos que frequentavam ela costumavam se passar por humanos. – Taehyung explica depois que atravessamos a rua.
  – Pensei que os vampiros haviam fechados todas as igrejas dos lobos.
  Taehyung me encara de canto de olho.
  – Eles fecharam. Mas atualmente essa igreja é apenas dos humanos. Então tem uma grande chance de alguns deles estarem aí, por isso, tome cuidado. – Mesmo que sua expressão pareça um pouco apática, por esse mesmo motivo o encaro como se fosse uma boba, assentindo.
  Eles param de andar.
  – Não machuque esse seu rostinho lindo. – Jungkook diz e, quando o encaro, ele sorri.
  Ele realmente não tinha jeito. Aceno para Jungkook e começo a andar em direção à segunda igreja.
  Mesmo com o alerta de Taehyung, não me sinto tão nervosa quanto da primeira vez, por isso, apresso os meus passos. Rapidamente percorro todo caminho até a entrada. Seguro no puxador fina da maçaneta e lentamente o empurro para baixo para não causar barulho.
  Estava trancada.
  Como fiz na primeira igreja, uso a estaca de prata escondida na minha bota para abrir a porta. Quando consigo, volto a pegar meu revólver e faço um sinal para Taehyung e Jungkook antes de entrar.
  Igual a outra, essa igreja também estava escura, mas era um pouco maior que a anterior. Uma grande imagem de Santa Maria estava no altar e, provavelmente, alguns humanos nem devem saber quem essa mulher foi de verdade.
  Com o revólver bem posicionado em frente ao rosto, começo a andar por entre as fileiras de bancos. Quando a luz da noite, do lado de fora, se encontrava com os vitrais coloridos da igreja, ela projetava diferentes tons sobre os bancos e isso me ajudava a enxergar um pouco melhor.
  Chego à frente da igreja e me viro para imagem de Santa Maria; a vendo assim, nem se parece com um lobo ou alguém ruim.
  Me arrepio como se o vento tivesse rodeado meu corpo, mas não havia como o vento de fora entrar. Era aquela sensação de frio que eu conhecia muito bem.
  Algo se arrasta do lado esquerdo, me fazendo virar com rapidez, enquanto aponto minha arma na direção do barulho. Não vejo nada, mas continuo sentindo o frio e tudo dentro da igreja parece escurecer como um filtro, como a primeira vez que tive isso em Upiór, no quarto da Morgana.
  O ar fazia um pequeno barulho toda vez que saia da minha boca. Com cautela e atenta, começo a caminhar em direção ao barulho, mas, em instantes, sinto o chão gelado quando meu corpo é derrubado por alguém que salta em minhas costas. Uso a mão esquerda para não bater o rosto no chão, apertando o revólver com força para não o soltar durante a queda.
  – Quem é você? – A pessoa que estava sentada nas minhas costas pergunta, enquanto tenta empurrar meu rosto contra o chão.
  Minhas mãos acabam ficando esticadas para frente.
  Vejo alguém sair debaixo de uns dos bancos do quais eu estava prestes a investigar. Os seus olhos amarelados brilham na escuridão como se fossem enfeites de natal.
  O lobo corre em minha direção, tentando puxar o meu revólver no mesmo instante em que mais dois lobos surgem perto dos bancos.
  Meus dedos se apertam tanto ao redor do revólver, que ficam vermelhos. Começo a debater meu corpo até que eu o consiga virar, vendo a mulher lobo que me prendia no chão.
  Acerto o cano do resolver na sua testa e a empurro para trás. No momento em que consigo me levantar, sinto minha perna ser mordida, e quando olho para baixo, vejo o mesmo lobo de antes, com seus dentes cravados na minha bota como se fosse um animal.
  Grunho em irritação e os outros dois lobos, antes escondidos, partem para cima de mim.
  Disparo três vezes contra eles e consigo acertar um, mas não no coração, porém, o suficiente para afastá-lo por alguns segundos.
  O homem que me mordia aperta suas presas, criando pressão sobre o tecido da bota. Sinto quando o frasco de Anti-Parálysi se parte em pequenos pedaços que escorregam por minha bota até o solado.
  Atiro em sua cabeça e seu corpo cai desacordado no chão, mas eu sabia que não estava morto. Uma grande poça de sangue se forma no lugar e um pequeno buraco surge no topo da sua cabeça, entre os cabelos curtos.
  A mulher lobo salta outra vez sobre mim, passando suas pernas ao redor da minha cintura e seus braços ao redor do meu pescoço.
  – Se não é uma vampira, então é caçadora. – Ela rosna perto no meu pescoço, enquanto suas unhas passam um pouco acima do meu busto, deixando alguns arranhões ali.
  Respiro fundo e rápido devido a dor, e começo a correr - com ela pendurada em mim - até à porta da igreja, tentando conter a dor que sentia toda vez que pisava nos cacos de vidro dentro da bota. Meu corpo se choca contra a porta e caio com a mulher lobo, quando somos atingidas por um dos bancos.
  Ela sai de cima de mim e rola para o lado, irritada por ter sido atingida também.
  Os dois lobos que sobraram voltam a me atacar, e um deles me levanta pela jaqueta, me pendendo no ar. Com um pouco de dor, aperto com força meu revólver, que não soltei. O homem de olhos furiosos bate meu corpo contra a porta, a abrindo e me lançando para fora.
  Esses malditos lobos não iriam ganhar essa noite.
  Enquanto meu corpo voa para fora da igreja, consigo mirar meu revólver em sua direção. E parado na entrada da igreja, acerto o lobo bem no peito. Ele cai de joelhos e eu de costas.
  – Peguei você. – Jungkook diz, quando seus braços rodeiam meu corpo e não me deixam cair na rua.
  – Eles são quantos? – Taehyung olha de mim para a entrada da igreja.
  – Agora, três. – Me apoio nos braços de Jungkook para ficar de pé.
  – Como você está? – Taehyung me encara sério.
  – Bem. Se preocupe em fazê-los sair.
  – Não vai ser um problema. – Jungkook aponta sobre os meus ombros e quando acompanho seu braço estendido, vejo que o outro lobo empurrava para o lado o corpo morto, saindo correndo da igreja, tomado pela raiva.
  Taehyung sai na frente, o derrubando no chão quando ele sai do terreno sagrado da igreja.
  – Rápido, Elena, não temos tempo. Os tiros foram altos demais. Não vai demorar até que a polícia chegue aqui. – Jungkook alerta, passando do meu lado.
  Ele espera pela mulher lobo, que sai da igreja também.
  Olho em volta percebendo que algumas casas ao longe haviam acendido suas luzes, mas ninguém saiu para ver o que estava acontecendo.
  Passo correndo perto de Jungkook, que havia iniciado uma briga com a mulher lobo. Tento voltar para a igreja, mas o lobo do qual atirei na cabeça surge na porta, se apoiando nela enquanto tinha uma mão na cabeça, parecendo meio tonto. Miro meu revólver em sua direção e quando disparo, percebo que as balas haviam acabado.
  Resmungo e corro para cima dele, o chutando para dentro da igreja. Ele cai no chão, parecendo recobrar a consciência. Puxo a estaca para fora da bota e tento acertá-lo, mas ele rola para o lado, fazendo a estaca prender seu braço no chão.
  Ele rosna de dor e alguém grita do lado de fora para que ele peça ajuda e chame os outros lobos.
  O homem lobo usa meu pé para chutar minha perna, me fazendo cair com um joelho no chão. Ele tira a estaca do braço e se levanta, correndo para fora da igreja. Saco meu segundo revólver escondido e me apresso até à entrada da igreja, conseguindo o acertar com um tiro nas costas, ele cambaleia e me próximo, o derrubando com um chute nas costas. Quando seu rosto bate no chão, disparo três vezes aonde eu sabia que acertaria seu coração.
  – Temos que ir. – Enquanto ainda tinha o revólver apontado para o lobo morto, sinto Jungkook rodear meu corpo outra vez, mas agora com apenas um braço, me puxando para longe.
  Nós três corremos, deixando quatro lobos mortos para trás, enquanto passávamos em frente às casas despertadas. Apressados, entramos no carro escondido no beco e o motorista arranca o veículo com rapidez, nos levando para longe da bagunça que fizemos.
  Suspiro alto dentro do carro e tiro minha bota esquerda, vendo meu pé manchado de sangue. Apoio minha perna esquerda sobre a direita, vendo vários pedaços de cacos de vidro enterrados na minha pele. Tiro um deles, mas dói para um inferno agora que toda adrenalina sumiu do meu corpo.
  O banco afunda do meu lado, quando Taehyung senta perto de mim. Com as sobrancelhas franzidas, ele observa os cortes na sola do meu pé.
  – Não! Não toca! – Seguro sua mão, quando ele faz menção de encostar no meu pé. – Está doendo muito.
  – Como isso aconteceu, Elena? – Taehyung suspira.
  – Eu não deveria ter colocado um frasco de vidro dentro da bota. – Encolho os ombros, sentindo meu pé latejar.
  – Estique ele sobre o banco e tente não se mexer. – Jungkook sugere.
  Assinto, fazendo o que ele pediu.

***

  O caminho de volta foi preenchido por meus grunhidos de dor toda vez que o carro sacolejava. Jungkook não disse mais nada e Taehyung não saiu do meu lado o tempo todo, me observando como se eu fosse passar mal ou algo do tipo.
  Quando o carro estacionou na frente no castelo, joguei os cacos de vidro que estavam dentro da bota, fora, e a vesti de novo. Me apoiei em Taehyung e ele me ajudou, depois de se oferecer para me carregar e eu negar, pois seria muito constrangedor. Ele também quis me acompanhar até o quarto, mas o grupo de Lilu já havia retornado e estava na sala de estar, por isso falei para Taehyung que fosse lá. Ele era o primeiro que precisava saber do que aconteceu; também pedi que ele dissesse para Lilu escutar tudo e depois vir me contar.
  Ele não parecia muito feliz por ter que fazer isso, mas acabou indo.
  – Porcaria. – Suspiro, depois de subir o primeiro degrau e sentir uma dor horrível.
  – Precisa de ajuda?
  Olho sobre os ombros, vendo Jungkook se aproximar.
  – Não, tudo bem. Você deveria estar com os seus irmãos. – Digo, enquanto tento subir mais um degrau.
  – Eles podem me contar depois o que descobriram, o Drácula não sou eu. – Jungkook aparece do meu lado, se vira de costas e agacha um pouco. – Suba nas minhas costas.
  – O quê?
  – Vou te levar para o seu quarto. Eu bem que me ofereceria pra te carregar no colo, mas o Taehyung já levou um fora, por isso, suba nas costas.
  – Não, Jungkook, tudo bem. É sério.
  Ele me encara sobre os ombros.
  – O que foi? Eu só vou te levar para o quarto. Se fosse o Jimin, você provavelmente deixaria. – Ele arqueia as sobrancelhas.
  Fechos os olhos e suspiro, antes de passar meus braços por seu pescoço. Ele se levanta e me segura pelas dobras das pernas e, com facilidade, começa a subir as escadas enquanto me carrega.
  O meu pé doía menos desse jeito, mas, em compensação, eu sentia meu rosto bem quente, e agradeço por ele não poder me ver agora.
  Inspirando o cheiro doce do seu perfume e vendo seu cabelo balançar enquanto andava, ele subiu todos os andares até que estivéssemos no oitavo. Jungkook abriu a porta do meu quarto e me colocou no chão.
  – Obrigada. Eu vou no banheiro cuidar disso. – Um pouco sem jeito, aponto para a porta do banheiro, não esperando por sua resposta, pois me viro e vou mancando até lá.
  Quando fecho a porta, suspiro de novo, me sentindo aliviada por estar sozinha. Procuro o kit de primeiros socorros e depois vou para perto da privada, me sentando sobre a tampa fechada. Tiro as duas botas e apoio o pé esquerdo sobre a perna direita e, com a pequena pinça que havia no kit, começo a remover todos os cacos de vidro enterrados na minha pele. Preciso parar algumas vezes, pois doía muito.
  Eu resmunguei tanto nesse banheiro, que tive que pedir perdão por tantas blasfêmias.
  Após retirar todos os cacos de vidro, limpo os cortes e enfaixo pé. Em seguida, fico de frente para o espelho, examinando os arranhões acima do meu busto; não eram fundos, mas ardiam um pouco. Vou apenas limpá-los e depois passarei um pouco de Anti-Parálysi, antes que fique pior.
  Ajeito tudo que baguncei dentro do banheiro, jogando os algodões sujos de sangue no lixo e guardando o kit de primeiros socorros.
  Deixo o banheiro encarando meu pé, vendo que agora eu conseguia pisar melhor, apesar de ainda doer.
  Meu corpo tem um pequeno sobressalto quando ergo meus olhos em direção à minha cama, vendo Jungkook sentado nela.
  – Você me assustou, Jungkook. O que está fazendo aqui ainda? – Paro na frente dele e ele se levanta.
  – Eu precisava saber se você realmente iria ficar bem. – Ele diz, inclinando um pouco sua cabeça para o lado, fazendo alguns fios de seus cabelos tocaram a pequena argola em sua orelha.
  – Eu já te disse que está tudo bem. Não precisa se preocupar. – Falo sincera.
  Jungkook aperta os olhos, deixando seu olhar cerrado. Depois, com o dedo indicador, ele toca o topo da minha blusa, a abaixando um pouco em direção ao meu busto.
  – Tem certeza? Parece doloroso. – Ele olha para os arranhões em minha pele e depois para o meu rosto, que ameaça esquentar de novo.
  O que há de errado comigo esses dias? Por que eu me sinto tão facilmente envergonhada como a Elena boba de Upiór?
  – E-Eu vou dar um jeito nisso. – Afasto seu dedo da minha blusa debaixo da jaqueta, e coloco minha mão sobre o local, tampando o machucado.
  Jungkook sorri provocativo e enfia as mãos para dentro dos bolsos. Ele inclina seu tronco para baixo, deixando seu rosto na altura do meu.
  – O que foi? Eu só quero ajudar. – Ele diminui seu tom de voz
  Prendo a respiração por seu rosto estar tão próximo do meu. E engulo em seco pelo nervosismo.
  Seus olhos escuros caem sobre minha boca, e meu coração dá um pequeno salto de nervosismo. Jungkook aproxima mais um pouco seu rosto do meu, mas para quando falta apenas centímetros para que se toquem...
  – É melhor... você ir, Jungkook. – Falo, com as batidas do coração incomodas. – Eu estou bem.
  Por um segundo, meus olhos vão até seus lábios também.
  Ele assente e se afasta, me fazendo respirar aliviada.
  – Nos vemos depois então.
  Pisco os olhos algumas vezes, acenando com a cabeça.
  Jungkook sai do meu quarto e eu me jogo na cama, afundando minha cabeça entre os travesseiros.

Capítulo 17
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