Capítulo 16
Tempo estimado de leitura: 15 minutos
Com nossos próximos passos decididos, acabo voltando para o quarto de Wendy, a fim de saber se ela havia acordado. E pelo caminho, acabo encontrando Hyun, tendo um tempo desde que o vi pela última vez. Esse castelo é gigante e todos aqui são vampiros, por isso, não me surpreendo de o garotinho ter sumido de vista por uns dias.
Depois de jogar fora o pequeno curativo no meu pescoço, escondido por meus cabelos, levo Hyun comigo até o quarto de Wendy, e explico para minha equipe o novo plano. O pequeno vampiro ficou atento a tudo que falávamos, mesmo que não entendesse, não saindo do meu lado ou soltando minha mão em momento algum.
Blarie acabou indo até o quarto de Wendy também, e depois de perguntar como minha irmã estava, a vampira de cabelos púrpura me informou que ontem quando ela, Jimin e Hoseok voltavam de Sibiu, acabaram encontrando Madame Dorothea, que me mandou um recado para retornar ao seu ateliê para uma prova do vestido de noiva. Como Taehyung e eu entramos em um acordo, acabo dizendo para Blarie que não era preciso ir lá, mas a vampira insistiu, dizendo que Madame Dorothea teve tanto trabalho no preparo do vestido, que o mínimo que eu deveria fazer era ir até o ateliê. Vencida por sua chantagem emocional, e após as garotas dizerem que estava tudo bem eu ir, acabo não tendo muitas opções.
Hyun acabou pedindo para ir comigo e com Blarie. E sem a permissão dos irmãos mais velhos, acabamos levando o garotinho com a gente, e seriamos apenas nós três, se não fosse por Jungkook, que surgiu assim que alcançamos o hall de entrada do castelo, perguntando aonde iriamos. Quando Blarie o respondeu, Jungkook disse que também iria, pois, segundo ele, os lobos me têm como um grande alvo e, por isso, ele iria junto, para poder nos vigiar.
Eu definitivamente não sei o que esperar desse dia, mas quero voltar para o castelo sem qualquer problema, podendo passar um tempo com a minha irmã antes das invasões nas igrejas começarem.
***
Localizado bem ao centro de Bran, não demoramos para chegar no ateliê da Madame Dorothea, que assim que me viu, logo tratou de me empurrar para dentro do pequeno provador escondido por uma cortina florida.
– Ainda faltam alguns ajustes, mas você pode me falar do que gostou e do que não gostou. – Madame Dorothea diz, enquanto arrumava as mangas do vestido em meu corpo. – Espere. – Ela ergue seu dedo no ar e se abaixa, pegando um longo véu branco que estava no chão, logo em seguida, o prendendo em meu cabelo solto. – Pronto. Agora está completo. – Ela joga as beiradas do véu sobre os meus ombros, e me encara através do reflexo do espelho.
Sem piscar, encaro com encanto o vestido que moldava meu corpo, completamente deslumbrada por cada detalhe, mesmo que ainda faltassem alguns acabamentos.
– É lindo. – Minha voz sai baixa, sem que eu consiga desviar meu olhar do meu próprio reflexo. – E-Eu não mudaria nada. – Confesso, sentindo meu rosto esquentar.
O reflexo de Madame Dorothea sorri para mim.
– Fico imensamente feliz por ter gostado. Eu realmente pensei em você enquanto fazia cada detalhe desse vestido. – Ela coloca suas mãos nos meus ombros, por cima do véu, e os aperta suavemente.
Me calo, sem saber o que dizer. Tudo que eu podia fazer era admirar esse belo vestido de noiva.
– Vamos mostrar para os outros. – Madame Dorothea se afasta e puxa a cortina para o lado, saindo do provador. Ela fica do lado de fora, esperando com um enorme sorriso, que eu saia também.
Encaro meu reflexo uma última vez, antes de sair, sem jeito, do provador.
Quando me vê, Blarie abre a boca, sorrindo abertamente. E Hyun que estava no seu colo, me encara curioso com os grandes olhos redondos bem abertos. Já Jungkook, ele não sorri, mas consigo notar seus olhos se arregalando levemente.
– Por Vlad III, você está linda, Elena. – Blarie se levanta com Hyun em seu colo, e vem para perto de mim. – Você é a noiva mais linda que eu já vi em todos os longos anos da minha vida vampírica.
– É bonito. – Hyun segura uma parte do meu véu, me encarando com seus grandes olhos.
– É bonito mesmo, não é? Não acha que combina perfeitamente com ela, meu pequeno senhor? – Madame Dorothea pergunta animadamente para Hyun, que assente em resposta.
Por um momento, encaro Jungkook, que sentado em um dos bancos do ateliê, sorri minimamente provocativo para mim.
– Agora vamos tirar esse vestido e me deixar finalizá-lo. – A vampira de cabelos presos em um firme coque, começa a me empurrar de volta para o provador.
– Você pode fazer um vestido pra mim? Com uma noiva tão bonita como a Elena, eu também quero estar bem nesse casamento. Faça alguma coisa para o Yoongi também, Dorothea. – Blarie vem apressada atrás de nós, sacudindo Hyung nos seus braços, que provavelmente se perguntava porque ela estava tão eufórica por um vestido.
***
Assim que deixamos o ateliê, Blarie insistiu para aproveitarmos o dia ensolarado. Por isso, acabamos indo para o mesmo café do qual estive com as minhas garotas. Acabamos pegando uma mesa do lado de fora, onde pudemos aproveitar a vista da Transilvânia, enquanto as pessoas transitavam pela rua de ladrilhos.
Blarie, Jungkook e eu tínhamos copos de café gelado, enquanto Hyun, uma caixinha de rosquinhas coloridas que eram mais interessantes do que nós três. Acabo sorrindo ao encarar o pequeno garotinho que tinha sua boca coberta por açúcar; acho que estou tendo o mesmo sentimento de Upiór. Ele deve passar tanto tempo preso naquele castelo.
– Então, Jungkook, já sabe da grande novidade? – Desvio minha atenção de Hyung, quando Blarie começa a falar. Ela estava sentada do meu lado.
– O quê? – Jungkook arqueia as sobrancelhas, e joga seu corpo para trás na cadeira em que estava sentado, de forma relaxada, enquanto escora um dos seus braços sobre o topo da cadeira de Hyun.
Blarie me encara esperta, com um grande sorriso nos lábios pintados de roxo-escuro.
– Parece que alguém finalmente cedeu aos encantos do Taehyung.
Pisco os olhos repetidas vezes, a encarando com descrença, mas Blarie não parece se importar.
Embaraçada, fito Jungkook, que com os olhos estreitos, pega seu copo de café e leva o canudo até sua boca, tomando um longo gole.
– Eu vi o curativo no pescoço dela. – Ele revela, sorrindo provocativo.
– Eu fiquei contente por isso ter acontecido. Você sabe o que estava perdendo. – Blarie me encara de canto de olho, enquanto a brisa do dia, balança seus cabelos púrpura. – Eu conheço muito bem esses irmãos, e tenho boas lembranças com Taehyung, não muitas, mas tenho. Então você sabe exatamente o que estava perdendo.
Meu corpo escorrega pela cadeira, e tenho vontade de me esconder debaixo da mesa. Desvio meu olhar para o pequeno Hyun, na tentativa de me sentir menos embaraçada, mas o garotinho estava alheio a tudo, concentrado em comer as três rosquinhas cobertas por açúcar.
– Somos todos adultos aqui. Não acho que nada disso seja segredo. – Jungkook ri cínico, apenas para continuar com sua provocação.
– Eu me lembro de ter tido boas lembranças com você também, Jungkook. – Blarie apoia seus cotovelos na mesa, fecha as mãos em punhos e apoia o rosto nas mãos, enquanto encara Jungkook. – É uma pena que eu esteja só para o Yoongi agora.
– Pensei que era o que você queria. – Ele arqueia as sobrancelhas para Blarie, tomando mais um gole do seu café.
– É o que eu quero. Mas posso lamentar por não ver mais o belo par de pernas que você tem dentro dessas calças. – Como se estivesse sozinha com Jungkook, Blarie flerta com ele.
Jungkook morde o topo do canudo do seu copo, passando sutilmente a língua pela ponta, antes de rir sem humor, não parecendo muito interessado nisso.
– Com licença, eu posso ajudar em mais alguma coisa? – Uma das garçonetes do café surge perto da nossa mesa, ao lado de Jungkook. Essa situação me deixou tão desconcertada que nem ao menos a vi se aproximar.
– Estamos bem, obrigada. – Blarie responde, mas a garçonete nem ao menos a encara, estava ocupada demais admirando, sem pudor, Jungkook. Os olhos dela quase brilhavam ao encarar ele.
– Se precisarmos de alguma coisa, nós avisamos. – Jungkook fala, agradecendo com um pequeno sorriso.
A garçonete assente, quase suspirando, antes de se virar e sair, voltando para o interior do café. Jungkook a acompanha com os olhos, observando seu corpo de costas.
– Você poderia ser um pouco mais discreto. – Blarie pega seu copo, agarrando-o com uma mão e o canudo com a outra, antes de beber seu café gelado.
– Não fiz nada. Ainda. – Jungkook inclina lentamente sua cabeça para trás, fazendo os fios escuros de seus cabelos penderem para trás, enquanto ele passa a mão pelos fios atingidos por alguns raios de sol.
Com uma conversa mais leve, esperamos até que Hyun terminasse de comer suas rosquinhas, para que pudéssemos pagar a conta. Blarie se ofereceu para fazer isso, e Jungkook foi com ela, enquanto decidi dar uma espiada na loja de flores que ficava do outro lado da rua.
De mãos dadas com Hyun, atravesso a porta de vidro que tilinta por meio de um pequeno sino, avisando sobre a entrada de novos clientes.
O cheiro de flores frescas invade meu olfato, e não consigo conter o pequeno sorriso que surge em meu rosto.
– Olha, Elena. – Hyun aponta para um vaso com grandes girassóis.
– São bonitas, não é? – Sorrio para Hyun, que assente, atento a todas as flores que víamos.
A loja não era grande, mas era muito bem organizada, com prateleiras e pequenos balcões com os mais variados tipos de flores. Tudo aqui era colorido, desde as flores, até as paredes e enfeites, tudo muito vívido.
Enquanto passava no meio dos baixos e compridos balcões, sinto um forte sentimento de nostalgia me atingir. Por mais que houvesse aquele grande desentendimento no final, descobrindo a verdade sobre Morgana, não posso negar que tive uns bons momentos na pequena loja à margem da floresta de Upiór.
– Eu, particularmente, gosto mais das dálias negras. Elas são grandes e exuberantes, e têm um cheiro único. – Alguém fala do meu lado, e quando me viro para olhar, acabo apertando a mão de Hyun com um pouco mais de força.
– O-O que... O que você está fazendo aqui? Está me seguindo? – Pergunto para Kihyun, que estava a apenas três passos de mim.
Por instinto, solto a mão de Hyun e o trago para perto do meu corpo, abraçando-o por cima dos ombros, como se estivesse aprisionando em um casulo.
– Claro que não, Elena. Essa é apenas uma agradável coincidência. – Kihyun sorri, enquanto aqueles olhos cor de âmbar me encaram.
Fico em silêncio e, de canto de olho, olho para a porta, percebendo que ela não estava tão longe e que seria fácil fugir com Hyun, caso fosse preciso.
– Você também gosta das flores? Eu sou fascinado por elas, a maneira como se transformam de pequenos botõezinhos em algo grande e elegante. Pena que algumas delas são letais, as mais bonitas, sempre. – Kihyun encara um vaso esguio do seu lado, tocando as pétalas azuis de algumas hortênsias.
– Quem é ele, Elena? – Hyun pergunta, enquanto ergue sua cabeça para me olhar.
Kihyun encara o garotinho, e se inclina para ficar na altura dele.
– Eu sou Kihyun. E você deve ser o pequeno Hyun, de quem tanto ouvi falar, estou certo? – O lobo pergunta, e Hyun assente, com um olhar curioso. – É um prazer finalmente te conhecer, Hyun. – Kihyun estende sua mão para o Hyun que, receosamente, retribui seu aperto de mão.
Sabendo que deveria avisar os outros, sutilmente puxo a mão de Hyun para longe da de Kihyun.
– Precisamos ir agora. – Digo, tentando não ficar tão nervosa.
Kihyun sorri.
– Tenha um bom dia, Elena. E não se esqueça de aproveitar esse maravilhoso sol. – Kihyun acena com a cabeça, parado em seu lugar.
Seguro a mão de Hyun e caminho em passos largos até à porta da loja, escutando de novo o pequeno sino quando saio. Olho para os dois lados, e quando não vejo nenhum carro, atravesso a rua de ladrilhos com Hyun. Apresso nossos passos e olho sobre os ombros antes de entrar no café, não vendo nenhum sinal de Kihyun.
Rapidamente, com os olhos, procuro pelos dois que me acompanhavam, e só encontro Blarie, que estava na fila esperando sua vez para pagar nossa conta. Hyun e eu passamos por entre as mesas e pessoas, até chegarmos nela.
– Blarie, o Kihyun está aqui. – Me aproximo de seu ouvido e falo baixo.
Ela movimenta a cabeça levemente para o lado, e me encara com as sobrancelhas franzidas.
– O quê? Onde? – Ela começa a olhar ao seu redor, procurando por entre as pessoas que enchiam o café.
– Na floricultura do outro lado da rua.
Blaria fica séria, e encara a fila em que estava, vendo que ainda havia algumas pessoas na sua frente.
– Merda! Vai chamar o Jungkook.
– Onde ele está?
– No banheiro.
Assinto, soltando a mão de Hyun e pedindo que ele fique com Blarie na fila.
De novo entre as mesas e pessoas, procuro pelo banheiro, o encontrando depois de perguntar para um dos funcionários.
Em um corredor afastado das mesas do café, encaro as duas portas, e antes de entrar, torço mentalmente para que eu não encontre ninguém além do Jungkook.
Seguro na maçaneta do banheiro masculino, a empurrando para baixo e depois empurrando a porta para dentro do banheiro. Meu corpo para na entrada do banheiro e minha mão permanece na maçaneta, quando vejo a garçonete que nos atendeu, encostada contra a pia de mármore do banheiro, enquanto Jungkook mordia seu pescoço.
– O que você está fazendo? – Pergunto afobadamente, enquanto entro no banheiro e fecho a porta para que ninguém veja. – Está louco, Jungkook? Alguém pode entrar aqui a qualquer momento.
Jungkook afasta sua boca do pescoço da garçonete, e retira sua mão direita da pia, que ele usava para prendê-la ali.
– Só estamos nos conhecendo melhor. – Ele sorri cínico, e limpa os cantos sujos de sua boca, com a língua.
Seus olhos estavam vermelhos como os de Taehyung.
– Você realmente está louco. – Rio nervosa, e me aproximo apressada deles.
– Qual o problema? – Jungkook arqueia as sobrancelhas. – Ela estava gostando.
Encaro a garçonete, que permanece estática em seu lugar, com um olhar completamente vidrado, algo que me lembrava Lydia, a garota hipnotizada de Upiór. Apesar de não se mexer, a garota mordia o lábio inferior e tinha uma estranha expressão de prazer no rosto, enquanto duas gotas de sangue escorriam por seu pescoço.
Desacreditada do que via, entro em uma das cabines e pego um pedaço de papel higiênico, usando-o para limpar o pescoço da garçonete antes que o sangue sujasse seu uniforme.
– Kihyun está na floricultura do outro lado da rua. Eu estava com Hyun, não podia fazer nada, e Blarie está presa na fila. – Falo séria, vendo que, aos poucos, o pescoço da garçonete parava de sangrar.
– É uma pena, gracinha. Mas parece que vamos ter que encerrar esse encontro. – Jungkook diz para a garçonete hipnotizada, segurando levemente seu queixo enquanto o balança.
Em seguia, ele segura o rosto dela com as duas mãos e a encara bem nos olhos.
– Esqueça tudo que aconteceu nesse banheiro. Essa marca no seu pescoço é de um inseto qualquer. Você me deu o seu número, por isso, não vai achar estranho quando eu voltar aqui procurando por você. – E dizendo isso, após hipnotizá-la mais uma vez, Jungkook lhe dá um longo selar, antes de se afastar da garçonete. – Quando Blarie terminar de pagar a conta, pegue Hyun e volte para o castelo com ela. – Jungkook encara seu reflexo no espelho, se certificando de que seus olhos voltaram ao normal. – Até mais, Elena. – De forma despreocupada e elegante, ele caminha para fora do banheiro.
Respiro alto dentro do banheiro. Fito a garçonete que, de maneira lenta, voltava ao seu estado normal.
– Você está bem? – Pergunto, encarando a pequena marca de presas em seu pescoço, tentando cobri-la com seus cabelos escuros.
Ela pisca os olhos algumas vezes e chacoalha a cabeça, antes de me encarar.
– Por que eu não estaria? – Ele me olha de cima a baixo, e depois sai do banheiro também, me deixando sozinha.
Depois de um longo suspiro, jogo o papel higiênico sujo de sangue no lixo, antes de sair do banheiro masculino.
Volto para a fila, vendo que Blarie seria a próxima a ser atendida.
– Você acha que ele pode estar nos seguindo? – Blarie pergunta assim que me junto a ela e Hyun.
– Não. – Nego com a cabeça, enquanto encaro a porta de saída do café. – Ele não perderia o tempo dele fazendo isso, com certeza mandaria um lobo qualquer, como vem fazendo. Ele estava aqui fazendo alguma coisa, eu sinto isso; mas deu a sorte de nos encontrar.
Blarie me encara séria.
– Kihyun sabe que Bran é o ninho dos vampiros, ele não se arriscaria a vir aqui sem um bom motivo. Talvez tenha vindo atrás dos vampiros que estão ajudando-o? – Ela pergunta.
– Pode ser.
Taehyung estava certo, Kihyun está tão seguro de si, que até mesmo veio pessoalmente para essas bandas de Bran. Ele está tão confiante de que tem tudo sob controle, que nem imagina que vamos fazê-lo morder o próprio rabo.
