Capítulo 11
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Ιουλίου
Mais uma noite sem dormir.
Desde que saí do castelo, tive que continuar colocando em prática tudo que eu precisava fazer. E claro, os lobos não deram descanso, eles não fariam isso fácil. As coisas estão acontecendo de uma maneira muito rápida, e eu preciso acompanhar esse ritmo se quiser encontrar o pequeno lobinho no pote de ouro no final do arco-íris.
Como combinado com Blarie, depois que eu saísse do castelo, eu não voltaria até que ela me desse um pequeno passe livre de que todos haviam saído. E para que tudo desse certo, fui para o lugar mais afastado do castelo que eu conheço: a base da igreja. De qualquer forma, eu precisava resolver isso também, as garotas e o Padre estavam me esperando.
No dia anterior, quando vim para a base do Padre, todos nós conversamos sobre o novo corpo. Dessa vez, a vítima dos lobos foi uma garota de cabelos curtos chamada Aleah. Eu não a conhecia, apenas a vi algumas vezes aqui na base. E como nos outros três corpos, no de Aleah também havia uma palavra entalhada: 4 Ιουλίου.
O Padre Albert já tinha enviado a foto do corpo de Harris para o Vaticano, e eles foram rápidos ao enviarem de volta a tradução. Aparentemente, Μαρία significava Maria, e sabendo que Πίτουρο, a palavra de Olivia, significava Bran, nós temos Maria e Bran como pistas.
Isso não faz muito sentido agora, mas, talvez, depois que o Vaticano enviar a tradução da palavra que estava em Peter e em Aleah, as coisas comecem a fazer sentido. Definitivamente, tudo vai se juntar e nós vamos alcançar os lobos. Pelo menos, era isso que eu pensava até o começo dessa manhã, quando Wendy recebeu uma ligação de um número desconhecido, que veio a ser da Madame Dorothea, que pediu para que fossemos até sua loja apenas para encontrar o corpo morto de Zoe e mais uma palavra.
Com tudo que aconteceu ontem, eu não pude ir encontrar Zoe, e estava pensando em fazer isso hoje, mas parece que não tive tempo, mais uma vez, os lobos foram mais rápidos. Madame Dorothea não sabe como isso aconteceu, ela diz que deixou Zoe escondida no ateliê, e quando foi vê-la essa manhã, encontrou a garota morta e a janela aberta. Eu pedi que ela mantivesse isso em segredo ou tudo estaria acabado para os vampiros. Sei que assustei ela mais do que deveria, mas essa informação não podia sair por aí, apenas aqueles envolvidos no meu plano deveriam saber. E Jimin foi um deles. Blarie estava encarregada de conversar com ele depois que eu saísse do castelo, porque eu sabia que apesar de tudo que passamos, ele ajudaria e pensaria como nós duas. Depois que Blarie me enviou uma mensagem dizendo que Jimin estava disposto a ajudar, eu pedi que ele ficasse de olho no ateliê da Madame Dorothea, onde, parece que durante a noite ele viu algum tipo de movimentação suspeita nas redondezas e se afastou do ateliê para investigar e, provavelmente, foi nesse momento que Zoe foi morta. Eu penso que existe uma grande hipótese de que Jimin foi seguido, e dessa maneira descobriram onde Zoe estava e que, por fim, ele foi distraído para que eles pudessem matar mais um vampiro. Eu lamento que ela esteja morta, mas sei também que sua morte nos aproximou mais do real significado do recado dos lobos.
Após fotografar a palavra entalhada no torso de Zoe, deixei Jimin cuidando do corpo dela, já que ele teria que manter isso escondido dos seus irmãos até que nós finalizássemos nosso plano.
Voltei para base do Padre e passei para ele a imagem de Zoe, e agora tínhamos três palavras em processo de tradução no Vaticano, e enquanto esperei lá pela resposta deles, recebi uma mensagem de Blarie, finalmente me enviando meu passe livre daquele dia. Com a desculpa de que precisava tomar um banho e trocar minhas roupas, me despedi do Padre por hora, e voltei com a minha equipe para o castelo, sabendo exatamente o que eu deveria fazer.
***
Ao retornar, apenas Blarie, Hyun e Skull estavam no castelo, porque, aparentemente, Amia convenceu Taehyung a iniciar uma caça por Zoe e, por este motivo, os irmãos e ela estavam reunidos com os outros vampiros. Eu sabia que isso aconteceria, que ela não deixaria de tentar induzir Taehyung como se ela fosse o Drácula, mas eu só precisava de um momento sozinha nesse castelo para começar a colocar em prática o que planejei.
Aproveitei o momento no castelo para dizer à minha equipe que precisávamos investigar o quarto de Amia, pois eu estava desconfiada das atitudes dela. E já sabendo qual era o quarto da Amia (informado por Blarie), levei as garotas até o ambiente repleto de estátuas de gárgulas e seda vermelha, para que vasculhássemos tudo. E foi dessa maneira que eu encontrei, dentro de um pequeno porta-joias, o anel da mulher-lobo que eu havia pegado e escondido no meu quarto. Ele era a isca e Amia mordeu direitinho, agora eu só precisava puxar o anzol.
– Então... ela tirou isso do seu quarto? – Lilu pergunta, encarando o anel que eu segurava. Ela estava tão perto que seu rosto quase encostava na pedra amarelada.
– Sim. Eu peguei esse anel daquela mulher-lobo, iria levar ele para o Padre. Mas como eu disse, discuti com a Amia antes e sai irritada do castelo, e esqueci de levar o anel.
– Como ela sabia que esse anel estava no seu quarto? – Wendy me encara surpresa.
– Ela provavelmente fez a mesma coisa que estávamos fazendo agora. Aproveitou que você passou a noite longe do castelo e mexeu nas suas coisas. – Sally diz e eu assinto.
Era exatamente isso que eu precisava que ela fizesse.
– Mas por que ela escondeu esse anel? – Wendy respira fundo e faz uma cara pensante.
– É o que nós precisamos descobrir. – Respondo.
Lilu é a próxima que respira fundo, se afastando de mim e do anel, se colocando ao lado de uma das pequenas estátuas em pequenas pilastras de gesso, que havia no quarto de Amia. Ela tenta apoiar seu braço ali, mas acaba empurrando a pequena gárgula de gesso, que cai e se espatifa no chão.
Sally bufa.
– Parabéns, Lilu, agora ela com certeza vai saber que estivemos aqui. – Sally encara Lilu com reprovação.
– Foi sem querer. – Lilu retruca, indignada, com um pequeno bico nos lábios.
Estreito os olhos, e caminho para perto de outra das pequenas estátuas, a pegando e retirando de cima da pilastra, antes de encará-la por alguns segundos e jogá-la pelo ar em direção à parede onde a grande cama de casal com lençóis de seda estava, fazendo ela se partir em vários pedaços que caem no colchão.
– Você está louca? Quer que ela descubra que estivemos aqui? – Wendy me encara aflita e eu sorrio para ela.
– Eu não ligo. – Falo, e Lilu ri alto. – Essa é a sua chance de se vingar, Wendy. Você está no palácio da Amia. – Indico com os braços o quarto ao meu redor.
Os olhos da Wendy se arregalam levemente, e depois ela encara os próprios pés, conflituosa sobre o que fazer.
– Você pode me emprestar a sua faca? – Wendy encara Sally, que sem entender, retira do cós de suas calças, sua faca de caça, entregando para ela.
Em silêncio de novo, minha irmã caminha até à cama suja com pedaços de gesso, parando na ponta dela. Wendy crava a faca no colchão e traça uma linha até o começo onde os travesseiros estavam, criando um barulho de pano rasgando.
Lilu ri mais uma vez e leva sua mão até à boca. Sally caminha para perto de outra estátua.
– Vocês todas enlouqueceram. Isso vai dar uma baita de uma confusão, mas eu também não gosto dela. – E com essas palavras, Sally derruba mais uma das estátuas, deixando apenas duas.
– Nossa vez! – Lilu fala empolgada, e retira do cós, um revólver que ela joga em minha direção, em seguida, correndo até à cama e subindo no colchão rasgado, ela pega um dos travesseiros e o ergue no ar, longe do seu corpo, e sorri para mim com expectativa.
Com aquele familiar sentimento de estar fazendo algo que não deveria, destravo a arma e atiro inúmeras vezes contra o alvo, fazendo as plumas do travesseiro voarem e vários buracos o enfeitarem. Lilu grita empolgada e joga o travesseiro no ar, antes de começar a pular na cama, saltando cada vez mais alto. E tomando um grande impulso para cima, ela ergue suas pernas e cai propositalmente sentada, fazendo a cama ir para o chão quando o peso do seu corpo se choca contra o colchão, causando um barulho ainda mais alto quando a cama quebra.
Por um momento, nós quatro nos encaramos e rimos, antes de nos espalharmos pelo quarto, destruindo tudo que podemos, desde rasgar as roupas da Amia até quebrar seus perfumes e porta-joias. Quando Wendy entra no banheiro, os barulhos se tornam mais altos, e quando vou ver o que ela estava fazendo, rio surpresa ao notar que ela atirou na banheira.
Eu sei que estamos fazendo muito barulho, mas Blarie vai cuidar de tudo para que Skull não nos interrompa ou Hyun venha espiar.
Encaro uma cadeira vermelha estofada, e vou até ela, usando suas pernas douradas para quebrar os vidros de todas as janelas, que se estilhaçam com facilidade.
Wendy sai do banheiro e corre em minha direção, me segurando como uma posição de dança, começando a me rodopiar no quarto em uma dança imaginaria, enquanto nossa música de fundo era tudo que Sally e Lilu destruíam. E quando nossa dança termina, encaro o belo estrago que fizemos no quarto de Amia e, de imediato, me sinto completamente ansiosa por sua chegada e para a cartada final do meu plano.
Espero que ela goste da nova decoração, porque foi tudo muito bem planejado.
***
Já havia se passado algumas horas desde nossa bagunça. Eu havia pedido para que cada uma das garotas ficasse em seus quartos, porque eu lidaria sozinha com o que estava por vir. Sendo assim, aqui estava eu, sentada na beirada da minha cama, com os pés propositalmente escorados no alto da penteadeira, esperando por Amia.
Eu passei e repassei tudo que eu fiz e ainda teria que fazer, e a cada segundo deixado para trás, eu torcia para que esse plano desse certo, porque ele pode ser, finalmente, um norteador para que comecemos a entender toda essa bagunça.
Me mantive calma durante todas as horas que passaram, e eu sabia que a tarde já havia chego; eu podia ver isso através das portas abertas da varanda. O sol brilhava, mas não era quente o suficiente para incomodar, não havia qualquer sinal de vento e brisa, tudo estava calmo e silencioso, apenas esperando que tudo isso fosse jogado para longe quando o momento chegasse. E ao ver a porta do meu quarto sendo aberta e fechada por uma vampira de cabelos rosados, eu sabia que esse momento terminaria agora.
Os seus olhos estavam estreitos e sua feição era séria, ela estava irritada e isso era visível. Suas mãos agarravam o tecido de seu longo vestido salmão, tentando controlar sua irritação ao me ver; ela tentava esconder isso, mas não conseguia. Sua postura era tensa, deixando seu corpo rígido o suficiente para parecer uma estátua como aquela que quebrei.
– Elena querida, por que fez aquilo no meu quarto? – Amia reúne todas as suas forças para sorrir, mesmo que o canto de seus lábios trema.
– Do que você está falando? – Levanto minhas sobrancelhas e cruzo os braços.
Amia desvia seu olhar do meu, e pisca os olhos alguns vezes, de forma rápida, como se isso fosse um tique em um acesso de raiva que ela tentava conter.
– Você mesma disse que não queria mais joguinhos, por isso, é melhor ser sincera. – Ela volta a me encarar. – Eu sei que foi você quem fez aquilo no meu quarto... com as minhas coisas.
– Eu realmente não sei do que você está falando, mas não acho justo me acusar de algo sem ter provas. – Falo calmamente.
A mandíbula de Amia fica tão rígida quanto o resto de seu corpo, e eu sei que ela está apertando os dentes.
– Nós tivemos um pequeno desentendimento ontem e eu te pedi desculpas. – Ela frisa bem sua fala, como se eu devesse ter esquecido tudo só porque ela se “desculpou”. – Você sabe que me ameaçou, e agora o meu quarto aparece simplesmente detonado. Por favor, haja descentemente como uma noiva do Drácula e assuma sua responsabilidade. Estou te dando algumas horas para arrumar a bagunça que você fez.
Ela me dá as costas, querendo sair do quarto, mas eu não facilitaria isso, eu apenas comecei.
– E quem é você pra me dizer como eu devo agir? Amia, a grande noiva do Drácula que, em vez de ajudar, está o empurrando para dentro de um grande buraco negro. – Minhas palavras fazem seu corpo paralisar no lugar e seus dedos apertarem outra vez seu vestido.
Ela se vira lentamente, ainda com o corpo tenso e postura rígida.
– O que você está insinuando, querida? – Mais uma vez ela tenta forçar um sorriso, mas dessa vez não consegue.
Rio nasalado e aperto os meus olhos, encarando bem Amia, que estava caindo direitinho na minha armadilha.
– Talvez o Taehyung e os irmãos dele estejam tão desesperados para descobrirem quem está por trás dos lobos, que não percebam o que você está tentando fazer. Mas eu consigo enxergar as coisas com clareza. – Descruzo os meus braços e pego o anel que estava ao lado do meu corpo, sobre a cama. Ergo ele para que Amia veja. – Não me subestime só porque eu não sou uma vampira com mais de mil anos, Amia. Você tem agido como se, na verdade, fosse o Drácula, dando ordens e tirando os irmãos do caminho certo toda vez que eles tentam descobrir alguma coisa. É tão fácil colocar a culpa em alguém e depois matá-lo, assim ele não estará aqui pra se defender e você pode inventar mais mentiras.
Os olhos de Amia ganham um brilho diferente, algo muito parecido com o que vi em na Lua de Sangue, na noite em que ela tentou me matar.
– Você está insinuando que eu estou do lado dos lobos? – Ela pergunta entre os dentes apertados uns nos outros, e dá um passo para frente.
– Não, Amia, eu não estou insinuando. – Calmamente, retiro os meus pés da penteadeira e me levanto da cama. – Estou me certificando disso agora. Eu acredito que esse traidor seja você. Do contrário, por que você continuaria tentando colocar os irmãos contra os outros vampiros, fazendo eles se matarem? – Jogo o anel de pedra amarelada em sua direção, que cai perto de seus pés cobertos pelo vestido.
O lábio inferior de Amia, pintado com um batom escuro, treme, e seus olhos piscam rapidamente como antes, enquanto seus dedos, lentamente, soltam o tecido do vestido.
– Eu deveria ter te matado naquela maldita noite. – Amia rosna baixo, em um tom de voz ameaçador e parcialmente mais grosso, me encarando de forma mortífera.
– E por que não matou, Amia? – Pergunto, levantando minhas sobrancelhas, a fazendo tremer de fúria em seu lugar. – E o mais importante: o que te impede de fazer isso agora? O Taehyung? – O sorriso que dou ao terminar de provocá-la, é o suficiente para desestabilizá-la, a fazendo transformar seus olhos em furiosos pontos vermelhos, enquanto suas presas se alongavam, junto das asas que se formam entre seus braços e tronco.
Eu questão de segundos, seu corpo literalmente voa em direção ao meu, onde ela tem suas mãos posicionadas para frente, me empurrando com força contra a penteadeira que cai no chão comigo quebrando tudo que havia sobre ela, inclusive o espelho.
– É assim que você pretende me matar? Vai precisar de um pouco mais que isso. – Rio para provocá-la, sentindo uns pequenos cortes espalhados pelo meu corpo, causados pelos objetos da penteadeira. Isso não me incomodaria agora.
Enquanto me levanto do chão, Amia segura um dos lados da penteadeira e a quebra, usando a parte solta para perfurar minha barriga. Meu corpo se curva para frente, e uma grande quantidade de sangue começa a escorrer pela minha boca, pingando no chão e sujando o impecável tapete branco. A dor me faz fechar os olhos por alguns segundos à medida que ela queimava minha pele e se estendia por cada parte do meu corpo, pulsando em torno do pedaço da penteadeira que estava grudado na minha carne.
Isso doía para um inferno. Realmente doía. Espero que o Senhor me perdoe por isso.
Com um pouco de dificuldades, endireito meu corpo e seguro na ponta da penteadeira partida, puxando-a para fora da minha barriga, enquanto escuto um barulho agoniando de atrito contra a minha carne. Gemo de dor e respiro fundo quando solto o objeto sujo com meu sangue.
Amia não me dá chance alguma, e acerta meu rosto com as costas de sua mão, me fazendo cambalear para o lado. Em seguida, possuída por sua raiva, ela começa a destruir tudo que encontra em meu quarto, quebrando desde o guarda-roupas até a cama. No meu lugar, em silêncio, observo tudo, torcendo para que nenhuma das garotas apareça agora, precisarei delas daqui a alguns minutos, mas não agora.
Quando sente que já causou estragos o suficiente, Amia se vira em minha direção mais uma vez, me encarando como se pudesse me matar através de suas íris vermelhas. Com o corpo imerso em dor, rio mais uma vez, tendo que colocar uma das mãos sobre o machucado em minha barriga assim que ele dói devido ao movimento que meu corpo faz ao rir.
– Você fez um ótimo trabalho aqui. Eu me pergunto o que o Taehyung vai achar disso quando eu contar tudo pra ele. – Sem pressa, limpo o sangue que ainda escorria da minha boca, enquanto vejo Amia se enfurecer cada vez mais.
E sendo tão rápida quanto antes, ela voa em minha direção mais uma vez, me segurando pela gola da camiseta, antes de me lançar com força em direção à porta, que se parte com o impacto do meu corpo, fazendo minhas costas e partes da porta partida, baterem contra a parede do outro lado do corredor. Apoio meus braços no chão do corredor para tentar me levantar, mas eles tremem, meu corpo estava muito machucado e fraco nesse momento, por isso, apenas me viro e encosto minhas costas na parede, ficando meio sentada e meio deitada, vendo, lentamente, Amia caminhar dentro do meu quarto, com o intuito de vir até onde estou.
E como eu planejei e torci para acontecer, finalmente as garotas começam a surgir. Talvez, o barulho dentro do meu quarto não tenha sido tão alto, mas, com certeza, uma porta se partindo e um corpo se espatifando na parede do corredor era barulho o suficiente para atrair a atenção. Sally é a primeira a sair, arregalando os olhos e vindo correndo em minha direção. Wendy e Lilu saem de seus quartos quase que ao mesmo tempo, se tornando tão chocadas quanto Sally, mas antes que elas tenham a oportunidade de se juntarem a ela, Amia atrai a atenção de todas quando aparece no corredor.
– Ela fez isso com você?! – Sally pergunta em uma fala apressada, tentando me tocar, mas quando faço uma careta de dor, ela recua.
Amia me encara com fúria, e Wendy olha dela para mim, completamente atônita. Lilu volta para o seu quarto.
– Acho que vou precisar das suas ervas... – Me auto-interrompo com uma pequena crise de tosse. – Você pode preparar algumas?
– Eu não posso deixar você aqui assim! – Sally encara Amia sobre os ombros.
– Vai ficar tudo bem. Confie em mim, por favor. – Observo com atenção Amia, que a qualquer momento iria me atacar de novo.
Claramente perturbada com tudo isso, Sally acaba assentindo e correndo até seu quarto.
– Invoco-nos agora, todos os meus falecidos irmãos! Ajudem-me a conter esta besta do inferno! – Wendy grita, imobilizando o corpo de Amia. Depois, ela se abaixa e pega uma das lascas da porta partida e usa a madeira para acertar Amia inúmeras vezes, até que seu rosto ganhasse alguns machucados e estive coberto pelo próprio sangue.
Isso apenas a deixa com mais raiva, fazendo Amia gritar estridente enquanto mostra suas presas. Seus machucados se curavam instantemente, mas Wendy parecia decidida a machucá-la duas vezes mais rápido, causando mais um corte antes mesmo do antigo se curar.
Aos poucos, Amia fica cada vez mais possessa, começando a conseguir se libertar do exorcismo de paralisia da Wendy, que recua alguns passos quando ela consegue mexer os braços.
Com passos altos e apressados, Lilu sai correndo do seu quarto e pula nas costas de Amia, a prendendo pelo pescoço enquanto encosta uma arma em sua cabeça, que ela dispara sem pestanejar, causando não só o barulho do disparo, mais uma grande macha de sangue que suja a parede por perto. Amia grita e seu corpo cambaleia para o lado até bater na mancha de sangue, onde, no mesmo momento, ela lança o corpo de Lilu por cima da sua cabeça, a jogando no meio do corredor a poucos metros de onde eu estava caída e com e com muita dor.
Wendy encara Amia com os olhos nebulosos, de um jeito que nunca vi antes. E acompanhando mais um tiro que Lilu dispara contra Amia, Wendy a acerta com um chute no estômago que a leva para o chão. Ela tenta subir em cima de Amia, mas é jogada na direção de Lilu, caindo sobre o corpo pequena dela.
Amia aproveita esse momento para me ter como alvo mais uma vez, vindo em minha direção e me puxando para cima por um dos braços. Fecho os olhos devido à dor dos meus machucados, que é seguida de mais intensidade, à medida que seus dentes se enterram em minha pele, entre o pescoço e ombro. Sua boca sugava com fervor o meu sangue, o que dura segundos, pois seu corpo é brutalmente puxado para longe do meu, quase me fazendo cair no chão de novo, se não fosse por Blarie, que me segura. Após me apoiar nela, que me encara com preocupação e certo receio, percebo que ela não é a única aqui. Taehyung foi o responsável por tirar Amia de perto de mim, e ele a encara do mesmo jeito que encarou aquele homem-lobo que ficou preso no calabouço.
– O que diabos você fez, Amia?! – Hoseok grita, surgindo no final do corredor junto com Jin.
Lilu e Wendy se levantam do chão, ainda atentas à Amia.
Sem desviar seu olhar de Amia, Taehyung caminha até ela que, ainda fervendo em fúria, também se levanta do chão.
– Por que você estava mordendo ela? – O tom de voz de Taehyung era mais ameaçador do que o de Amia quando estávamos no meu quarto.
– Porque já está na hora de tirar essa patética caçadora daqui! Você não percebe isso, Taehyung?! Essas coisas só estão acontecendo porque você a enfiou nesse castelo! Nós vamos continuar afundando enquanto ela estiver aqui! – Amia grita, encarando Taehyung raiva.
– Qual é, vamos lá, conte a verdade, Amia. Você está doida para ser a única noiva do Taehyung, e é por isso que está tentando acabar com todos nós. Você surta e depois me ataca, enquanto me acusa sem ter nenhum tipo de prova.
Blarie continua me encarando com receio, e sei que para ela é difícil trair alguém que esteve tanto tempo do seu lado. Mas se eu estiver certa, a traição de Amia é muito maior e, definitivamente, levaria a morte de todos aqui.
– Maldita! Maldita! Maldita! – Amia se descontrola e tenta me atacar de novo, mas Taehyung a impede, prendendo seu corpo na parede com brutalidade.
– Já chega, Amia! – E pela primeira vez, Taehyung grita, sem paciência. – Eu quero que você pegue as suas coisas e saia do castelo. Passe a noite em algum lugar até se acalmar. – Ele solta Amia, que arregala os olhos, o encarando com descrença.
Em uma pequena cortina de fumaça negra, Jin surge perto dos dois.
– Taehyung está certo, Amia. Você precisa esfriar sua cabeça longe daqui por um tempo. – Jin fala.
– Eu não acredito que você prefere ficar do lado de uma maldita caçadora, ao invés de me escolher. – Encarando Taehyung sem piscar, Amia fala entre os dentes, antes de empurrá-lo para trás, fazendo Hoseok surgir próximo deles também, pronto para apartar. – Essa foi a última vez que você isso comigo, Taehyung. A última. – E com essas palavras carregadas e os olhos cheios de fúria, Amia se transforma em um pequeno morcego e voa para fora do corredor, nós deixando para trás.
Jin suspira, e diz que vai atrás de Skull para que ele arrume a bagunça que Amia fez. Ele pede que Hoseok o siga. Taehyung se aproxima de mim, querendo saber como estou, e eu digo que ficarei bem, que as garotas vão cuidar de mim e que depois nós conversamos, pois agora eu precisava muito descansar um pouco. Blarie me ajuda e diz que tenho razão, e a contragosto, Taehyung nos deixa também. Por fim, peço que Blarie vá atrás de Jimin para que coloquemos em prática a parte final de nosso plano, e isso acaba deixando Wendy e Lilu confusas.
E após Blarie sair também, Wendy e Lilu me levam até o quarto de Sally, que estava apressada correndo de um lado para o outro, enquanto preparava porções de ervas e pegava todos os kits para primeiros socorros. Ela me encara apreensiva, e eu sabia que ela deveria ter escutado tudo que aconteceu. Peço que Lilu feche a porta do quarto, enquanto Wendy me ajuda a sentar na cama de Sally.
– Vou tirar sua camiseta. – A garota de cabelos curtos e pretos, diz e, em seguida, começa a puxar minha camiseta para cima, com cuidado.
As três me encaram preocupadas quando veem o machucado em minha barriga.
– O que foi isso, Elena? Eu pensei que ela estava nervosa pelo que fizemos no quarto dela, mas que história é essa de plano?
Sally toca a machucado em minha barriga com uma pequena gaze e eu gemo, mordendo o lábio inferior para comprimir a dor.
– Hyun me contou que a Amia não estava com ele e nem com a Blarie no dia do primeiro ataque dos lobos. Depois, ela começou a agir de forma estranha, sempre dando um jeito de fazer com que os irmãos desconfiassem dos outros vampiros, colocando uns contra os outros. Então, eu comecei a desconfiar.
Sally começa a limpar o meu machucado, tentando ser o mais suave possível em seus toques.
– Como os lobos sempre sabiam onde estávamos e como eles conseguiam invadir esse castelo com tanta facilidade? Era óbvio que alguém estava ajudando e, com certeza, era alguém daqui de dentro, porque antes disso, não vi os irmãos tendo tanto contato com os outros vampiros para eles saberem o que eles sempre estavam fazendo.
– Você acha que a Amia é quem está do lado dos lobos? – Wendy pergunta, e eu assinto.
– Mas eu não podia dizer nada sempre provas. Ela mora com eles por anos, e eu sou uma Van Helsing. Eu precisava de provas. Por isso, no segundo ataque dos lobos, quando eu peguei aquele anel da mulher-lobo pra mostrar para o Padre, eu tive uma ideia depois de conversar com a Blarie.
Sally começa a espalhar uma pequena quantidade de pomada de erva no meu machucado.
– Blarie também estava achando estranho todas essas atitudes da Amia, e foi aí que eu consegui convencer ela a participar do meu plano.
– E que plano era esse? – Sally me encara depois que termina. Ela pega um rolo de atadura e começa a enrolar ao redor da minha barriga, cobrindo o machucado.
– Quando os irmãos voltassem para o castelo, eu iria comentar sobre o anel, ele era uma isca. Então, eu iria brigar com a Amia, dizendo que me vingaria dela de algum jeito, e depois sairia do castelo, voltando só no dia seguinte, dando oportunidade pra que a Amia fosse atrás do anel da mulher-lobo.
– Se ela estivesse do lado dos vampiros não teria motivos pra pegar o anel de um lobo. – Wendy liga os pontos, e arregala os olhos, nos encarando com espanto.
– Sim. Eu precisava saber se ela se interessaria pelo anel, por isso, sugeri que fossemos vasculhar o quarto dela. – Sally finaliza o curativo, e passa a cuidar dos meus outros machucados, esses menores e em formato de cortes. – Eu já pretendia destruir o quarto da Amia, Lilu só apressou as coisas. – Encaro a garota de cabelos alaranjados, que sorri sem graça. – Eu precisava fazer algo que a deixasse irritada ao ponto dela ir atrás de mim, pensando que essa atitude fosse o começo da minha vingança.
– Mas por que você queria que ela fosse atrás de você pensando que a bagunça no quarto foi vingança? – Lilu pergunta, se sentando sobre os joelhos e se aproximando mais.
– Porque nesse momento, eu iria contar pra ela que tinha suspeitas, eu sabia que isso a tiraria do sério de vez. E quando ela fosse pra cima de mim, eu deixaria ela me bater à vontade porque isso só faria Taehyung ficar mais irritado com ela, já que o que eu queria, era tirar a Amia desse castelo e ver se as coisas começavam a dar certo com ela longe. Se a Amia for mesmo uma traidora, os lobos pararão de prever nossas ações sem ela por perto para contar tudo.
Quando Sally termina, a agradeço e visto minha camiseta rasgada de volta.
– Blarie conversou com o Jimin e ele entrou no plano. Aceitou não contar para os seus irmãos sobre a Zoe e a morte dela até que descobríssemos a verdade. Ele também estava encarregado de seguir a Amia quando ela saísse do castelo para ver se ela se encontraria com alguém suspeito ou fosse pra algum lugar suspeito.
– Não acredito que você pensou em tudo isso e não nos contou. – Wendy me encara descrente.
– Você é um gênio, Eleninha. – Lilu me abraça pelo pescoço, sem se importar que estou machucada.
– Desculpe, Wendy. Só não contei nada porque a reação de vocês precisava ser convincente o suficiente para que ninguém desconfiasse do que eu queria fazer. – Suspiro fundo, causando uma pequena pontada no meu machucado. – Não temos noção do quanto os lobos sabem, mas eles estão atacando de todos os lados e a todo momento. Nós não podíamos mais nos dar ao luxo de continuarmos perdidos no meio disso tudo. E descobrir se Amia é mesmo uma traidora nos colocaria de volta ao jogo, porque assim finalmente poderíamos ter estratégias que os lobos não saberiam.
– E se no final das contas ela não for uma traidora? – Sally me pergunta, arqueando uma sobrancelha.
– Se ela não for uma traidora, também teremos vantagem. Tudo que a Amia fez até agora não ajudou em nada, muito pelo contrário. – Falo sincera, sabendo que existe a possibilidade dela não ser a informante dos lobos, e sim só alguém sem caráter. De qualquer forma, tenho certeza que as coisas podem mudar com ela fora do castelo.
Encaro o anel de noivado preso no meu dedo anular, algo que se tornou tão "comum” que às vezes esqueço que estou usando-o. Parece que sou a única noiva que sobrou, mas, diferente das outras, eu realmente estou disposta a ajudar o Taehyung nessa luta contra os lobos. Pensarei em nós dois e, no final, quando tudo isso acabar, apenas nesse momento, nós lidaremos com as nossas diferenças, porque há algo muito mais importante e perigoso do que o casamento entre uma humana e um vampiro. E por mais que isso faça o meu interior se revirar como milhões de insetos caminhando dentro dele, estarei com Taehyung a partir de agora, e assim como estou fazendo comigo mesma, o forçarei a tomar suas próprias decisões, deixando de lado tudo que os outros esperem que ele faça. Já está na hora de eu agir como uma verdadeira Van Helsing e ele, como o verdadeiro Drácula.
