Capítulo 10
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Εκκλησία
Respiro fundo, soltando alto o ar pela boca. Me remexo sobre a cama, sentindo algo quente do lado esquerdo: um braço. Com certeza, o braço de uma das garotas, provavelmente Wendy ou Lilu. Preguiçosamente, abro os olhos e, lentamente, começo a me virar para a esquerda, tendo uma pequena surpresa ao encontrar um corpo mais alto do que o de Wendy e Lilu.
Sangue e cortes preenchiam cada canto da minha visão matinal, me fazendo saltar da cama espantada. Meus pés enroscam no lençol e acabo caindo sentada no chão. Com os olhos arregalados, meu tronco sobe de desce com rapidez, enquanto encaro espantada o corpo que sujava minha cama com o líquido vermelho.
Atenta e assustada, olho para os lados, não encontrando nada além do silêncio no quarto. Apressada, me levando do chão e me aproximo da cama, e quando faço menção de tocar o corpo desacordado, percebo que parte do meu braço esquerdo e tórax estão sujos com o seu sangue. Me sentindo receosa, toco a pele ainda quente do pescoço de Peter, não sentindo seus batimentos e, em seguida, faço mesmo com seu pulso, também não sentindo nada. Ele estava morto, e pelo calor que ainda emanava de seu corpo, não faz muito tempo que isso aconteceu. Seu sangue ainda estava fresco e sua pele ainda não havia começado a endurecer.
Múltiplos cortes cobriam seus braços e até mesmo rosto, desfiguravam sua aparência que antes era impecável, enquanto no seu tronco havia uma palavra em grego entalhada na carne, como foi com Olivia e Harris. E fora os vermelhões de seus machucados, sua pele era mais pálida do que de costume, e também haviam manchas escuras debaixo dos seus olhos, indicando que ele não passou por boas coisas enquanto esteve no calabouço.
Não podendo fazer mais nada por ele, corro até o meu guarda-roupas e começo a vasculhar pelas minhas armas, pegando um dos revólveres. Depois, na ponta dos pés, começo a andar e vasculhar cada canto do quarto, sempre mantendo meus olhos atentos a qualquer coisa. Não encontro nada, nenhum sinal ou sombra de quem fez isso com Peter e o colocou na minha cama. Descalça, corro para fora do meu quarto, enquanto a camisola que eu usava, balançava com os meus movimentos. Abro a porta e espio o corredor vazio, indo para o meio dele e ficando de costas para a parede e de frente para o final aberto. Com a arma bem posicionada em minhas mãos, começo a bater nas portas dos quartos das garotas, e preciso fazer isso mais de duas vezes até que uma delas acorde. Sally é a primeira, abrindo a porta enquanto coça os olhos, que logo se arregalam ao me verem.
– Elena?! O que aconteceu?! Você está bem?! – Com um olhar preocupado ela se aproxima, me segurando pelos ombros, sujando suas mãos de sangue enquanto me examina atrás de algum machucado.
– Tá tudo bem, Sally. O sangue não é meu. – Falo, olhando dela para o final do corredor, não querendo perder o foco da minha atenção. Quem fez aquilo com Peter ainda pode estar aqui.
Ela arregala os olhos, me encarando assustada.
– Dá uma olhada no meu quarto. – Indico com a cabeça, e ela assente antes de correr para lá.
Continuo batendo nas outras portas, e Wendy é a próxima que sai para o corredor, com os cabelos bagunçados e pijama amassado. Antes que a minha irmã possa me perguntar qualquer coisa, Sally sai do meu quarto afobada, me encarando com preocupação.
– O que está acontecendo? – Wendy olha de mim para Sally, assombrada.
– Lobos. – Respondo, e engulo em seco, apertando os dentes uns nos outros.
Wendy também arregala os olhos.
Sally corre até à porta do quarto de Lilu e entra para acordá-la. Wendy permanece parada no lugar, com um olhar preocupado.
Lilu sai do quarto segurando dois revólveres, com Sally em seu encalce. Parando atrás da garota de cabelos alaranjados bagunçados, Sally levanta a blusa do seu pijama de seda, relevando uma faca de caça dentro de uma capa de couro.
– Desde que nos mudamos pra esse castelo, não durmo mais desprevenida. – Ela releva, enquanto retira a capa de couro que escondia a lâmina da faca, e a joga para dentro do seu quarto.
Após todas verem o corpo morto de Peter no meu quarto, minha equipe entende o que estava acontecendo nesse momento. E, por isso, nos reunimos outra vez ao centro do corredor, prontas para caçarmos um lobo dentro do castelo do Drácula.
Em formação e atentas a tudo, tentando manter uma visão trezentos e sessenta de tudo ao nosso redor. Começamos a andar descalças pelo corredor. Tudo ainda estava silencioso, e o nosso andar não parecia guardar qualquer tipo de presença, por isso, descemos. No quarto andar, tudo estava um pouco mais escuro e igualmente silencioso. Apenas movimentando os lábios sem fazer barulho, indico que deveríamos ir até à virada do corredor do quarto andar e procurar por lá. E assim que o fazemos, virando à direita, meu corpo é trazido para perto da parede, me fazendo destravar a arma que segurava, enquanto Lilu apontava as suas para a pessoa que me puxou.
– Blarie?! – A encaro surpresa, falando um pouco alto, e ela tapa minha boca por alguns segundos.
Lilu suspira, e abaixa seus revólveres, enquanto Wendy e Sally relaxam.
– Vocês também perceberam, não é? – Ela pergunta, me soltando e nos encarando.
– Que tem mais um lobo infiltrado aqui? Sim. – Wendy responde.
Blarie expira alto.
– Alguns minutos atrás eu estava cuidando do Hyun, escutei um barulho do lado de fora do quarto dele e fui ver o que era, e tenho certeza que vi de relance um homem estranho. – Ela coloca as mãos na cintura enquanto explica. – Fui atrás do Skull e pedi que ele escondesse o Hyun para que eu procurasse esse homem. Eu realmente já estava começando a pensar que era coisa da minha cabeça, porque nenhum de nós sentiu o cheiro de alguém desconhecido. Mas aí vocês aparecem desse jeito. – Blarie aponta especificamente para mim onde estava sujo de sangue.
Assinto, mostrando que entendi.
– Blarie... eu acordei com o corpo morto do Peter do meu lado. – Minhas palavras fazem seus olhos se arregalarem.
– O quê?! O Peter? – Ela dá um passo involuntário para perto de mim. – Alguém invadiu o castelo e matou ele? Eu não posso acreditar que isso está acontecendo. – Seus olhos castanhos parecem se perder em descrença por um momento.
– Como vocês não perceberam isso? Onde estão os outros vampiros desse lugar? – Sally pergunta de forma exaltada.
– Foram na nova reunião que o Taehyung pediu pra fazer. Eles iriam conversar com os outros vampiros sobre o que aconteceu com a Olivia, e Amia insistiu em ir junto, ela está realmente decidida a participar disso. Eu estava cuidando do Hyun, e Skull estava preparando o café da manhã. Ele é o único mordomo que fica em tempo integral no castelo.
– Um castelo desse tamanho e quase ninguém vigiando? Qual o problema de vocês? – Lilu bufa alto, parecendo um pouco irritada.
– Nós nunca pensamos que os lobos invadiriam o Castelo do Drácula. – Também ficando um pouco irritada, Blarie rebate.
– Certo, isso não uma boa hora pra discussões. Blarie, você já olhou o calabouço? – Pergunto.
– Não. Ainda não consegui ir lá.
– Então é isso que precisamos fazer agora: vamos nos dividir. – Digo. – Wendy e Sally vão para o calabouço. Nós não sabemos se eles atacaram a Zoe também. E se caso isso não tenha acontecido, tirem ela de lá e a escondam em algum lugar seguro, bem longe desse castelo.
– Nós não conhecemos a Transilvânia. – Sally fala.
– Ela conhece e pode ajudar vocês nisso. Mas se caso ela também estiver morta... – Suspiro ao pensar nessa hipótese, sabendo que a morte de Peter e a talvez morte da Zoe, é inteiramente culpa do plano idiota da Amia, que fez com que os irmãos os prendessem no calabouço tentando descobrir o motivo da morte de Olivia. Se os dois não estivessem nesse castelo, talvez ainda estivessem sãos e salvos. – Se juntem a nós três.
Sally e Wendy assentem.
E como se estivessem esperando apenas o momento certo, nos espiando de longe, escutamos um barulho de passos do outro lado da virada do corredor, por onde viemos. Depois de trocarmos olhares atentos e significativos, nós cinco vamos em direção ao barulho, a tempo de vermos uma sombra correr escada abaixo.
Em um piscar de olhos, o corpo de Blarie se transforma em um pequeno morcego que voa com rapidez atrás da sombra, enquanto eu e minha equipe corremos para escada.
– Não te mova! Amarro-te agora, immunda spiritus! – Wendy grita do alto dos degraus quando Blarie pousa na frente do homem que estava de costas para nós, impedindo que ele fugisse.
Com uma mão estendida em direção ao homem, Wendy, lentamente, desce os degraus, e nós a acompanhamos.
– Quem é você? – Blarie pergunta, assim que seu corpo antes transmutado em morcego, volta ao normal.
O homem de cabelos escuros e longos, rosna para ela.
Cautelosamente e com a arma estendida em direção ao homem-lobo, contorno seu corpo até ficar do lado da Blarie. Wendy se junta a nós, Lilu cuida das laterais e Sally fica atrás.
– Encontraram o nosso pequeno presentinho? – O homem-lobo de olhos amarelados, sorri, mostrando suas longas presas, enquanto tenta se soltar do exorcismo de Wendy, conseguindo mexer apenas seu pescoço. – Aquilo é o que vai acontecer com cada uma de vocês.
– Quem te mandou? – Blarie dá um passo em direção a ele, com uma feição severa.
– O verdadeiro líder. – O homem-lobo continua sorrindo, cuspindo suas palavras com escárnio. O que dura pouco, pois seu corpo é levemente impulsionado para frente, seguido de uma grande quantidade de sangue que escorre por sua boca, causando uma sucessão de engasgos.
– Sabe o que é isso? O seu pulmão. E sabe do que a minha faca é feita? De prata. – Sally fala perto do ouvido do homem-lobo. – Espero que aproveite o nosso pequeno presentinho. – Sally puxa a faca de caça que cravou nas costas dele, e mais sangue escorre de sua boca aberta.
– Obrigado por sua ajuda, meu querido irmão. Por favor, descanse em paz agora. – Ao dizer essas palavras, Wendy liberta o homem-lobo do exorcismo, fazendo seu corpo cair de joelhos.
Blarie o segura pelos cabelos escuros, puxando sua cabeça para trás, antes de curvar seu corpo e estender sua mão em direção ao torço do homem, atravessando seu peito com uma das mãos.
– E esse é o seu coração. – A garota de cabelos púrpura, puxa o órgão pulsante e cheio de sangue para fora do peito do homem, o matando de vez.
Blarie joga o coração no chão, e limpa sua mão na própria roupa.
– Ele não está sozinho. – Ela diz, encarando o chão com os olhos estáticos. – Estou escutando alguma coisa lá embaixo.
– Sem perder tempo: Wendy e Sally vão atrás da Zoe agora. – Falo alto e em alerta, e as duas começam a correr escada abaixo.
Lilu, Blarie e eu as seguimos, apenas nos separando quando chegamos no terceiro andar. E ali tentamos nos tornar silenciosas para pegar o próximo intruso desprevenido.
De volta a mais um corredor, Blarie fala que precisamos descer mais. E os barulhos estranhos que, aos poucos, se tornavam altos, confirmam as suspeitas dela, indicando que nosso próximo alvo estava no segundo andar.
– O quarto do Hyun. – Blarie fala baixo e de forma estremecida, fazendo meu coração dar um pequeno salto nervoso ao pensar no que poderia ter acontecido ao garotinho.
Com a adrenalina e ansiedade correndo nas veias, descemos para o segundo andar, e Blarie nos leva para um corredor cheio de portas, indicando uma que estava fechada e era da cor marrom-escuro. E uma vez que estamos próximas, Blarie, sem qualquer aviso prévio, chuta a porta, a abrindo, e Lilu que estava logo atrás, dispara duas vezes para dentro do quarto, acertando em cheio a mulher de cabelos acinzentados que tinha um braço em torno do pescoço de Hyun.
Com as pernas feridas, a mulher se coloca de joelhos, dando oportunidade para que Hyun corra para perto de Skull. O mordomo estava a alguns metros de distância, com os olhos vermelhos e mãos sujas de sangue. Ele recebe o pequeno garotinho nos braços, o escondendo atrás de suas longas pernas. Hyun também estava com os olhos vermelhos, e mostrava pequenas presas, como as de um pequeno filhote. Por detrás das pernas de Skull, ele observava com atenção a mulher ajoelhada, como um pequeno gato arrisco que estava pronto para atacar.
– Vocês estão bem? – Blarie pergunta quando entramos no quarto.
– Sim, Senhora Blarie. Me desculpe, eu não protegi o pequeno Hyun como deveria. – Por um segundo, Skull no encara, e essa foi a única vez que vi uma expressão em seu rosto magro e marcado pelos ossos faciais: decepção.
– Do que você está falando, Hanson? Olha só pra você, dá pra ver que você lutou até o final pelo pirralhinho. – Lilu diz, deixando seus revólveres na mira da mulher que rosnava de dor.
Lilu está certa, o sangue nas mãos de Skull não estão ali atoa, é possível ver alguns hematomas na mulher-lobo. E se Skull também teve alguns, eles já se curaram, deixando apenas alguns rasgos em seu uniforme.
– O seu amiguinho já morreu e você vai ser a próxima. – Lilu posiciona seus dedos nos gatilhos das armas, mas antes mesmo que ela tenha oportunidade de atirar de novo, a mulher se levanta, e mesmo sangrando consegue atacar Lilu, a empurrando e fazendo com que ela erre o tiro. Em seguida, por não ter sido ferida por balas de prata, ela consegue correr em direção à janela fechada, se jogando contra o vidro que se parte em vários pedaços, enquanto pula para fora do castelo. E sabendo que não poderia deixar ela escapar, corro atrás da mulher-lobo, saltando do segundo andar do castelo. Meu corpo se choca contra o gramado do quintal dos fundos, me fazendo soltar o revólver pelo impacto. Meu corpo inteiro vibra de dor, mas sei que vou sobreviver, sou uma Van Helsing e preciso fazer o meu trabalho agora. Ignorando o latejar que parecia vir diretamente dos meus ossos, me levanto e olho em volta, vendo um pequeno rastro de sangue no chão. Começo a segui-lo arduamente como uma trilha que me levaria até o baú de ouro, mas, na realidade, acabei no cemitério dos vampiros, perseguindo um lobo. Eu conseguia vê-la, o rastro de sangue me mostrou, mas seu corpo machucado se tornava lento à medida que subíamos a pequena colina escondida nos fundos do castelo. Mesmo que isso não a mate, Lilu fez um belo estrago nas suas penas, e toda sua agilidade de lobo estava ficando em segundo plano.
Forço as minhas pernas a correrem mais rápido, e a cada segundo me aproximo mais dela. E quando a mulher-lobo começa a subir os estreitos degraus que levavam até a cripta dos Dráculas, atiro em sua panturrilha direita, a fazendo cair nos degraus. Deitada, ela começa a se arrastar para cima, deixando uma grande poça de sangue para trás. Mais um tiro em sua outra panturrilha e ela para de se arrastar. Pela sua blusa suja com a poeira da terra, a puxo para cima, subindo o restante dos degraus antes de lançar seu corpo em direção a cripta, a fazendo se chocar contra as pedras da construção, que ganham uma pintura com seu sangue. Me aproximo dela e a levanto do chão pelo colarinho de sua blusa, antes de retirar o anel preso em seu dedo médio e encarar bem seus olhos amarelados.
– Preste bem atenção, eu vou te deixar ir embora viva, mas só porque eu quero que você envie o meu recado para quem está por trás disso. – Bato suas costas contra a construção de pedra da cripta. – Os vampiros e os Filhos da Sombra liderados por Elena Van Helsing vão caçar cada um de vocês. Nós aceitamos o seu convite, então, é bom que vocês se preparem para o pior.
Ela franze as sobrancelhas e rosna para mim como um cachorro e, em seguida, tenta me morder. E sem pensar duas vezes, a jogo em direção ao penhasco que havia na beirada da colina, sabendo que ela não morreria com a queda floresta adentro, mas, com certeza, ganharia boas fraturas.
Encaro o anel de coloração amarelada por alguns segundos e, em seguida, escuto alguns barulhos de passos.
– Por que você deixou ela fugir? – Me viro em direção à voz de Lilu, a vendo parada no topo da escada, com as mãos sobre os joelhos, tentando recuperar o fôlego.
– Porque os lobos também precisam saber que não estamos brincando. – Falo séria, e Lilu assente.
– Blarie foi atrás do Taehyung. E ela não vai demorar, você sabe, ela pode voar. Melhor nos prepararmos para o que vai vir quando eles voltarem.
***
E tudo parecia ser exatamente igual à noite anterior, mais uma vez, estávamos reunidos na grande sala de estar para conversar sobre o que aconteceu nessa manhã turbulenta.
Depois de jogar a mulher-lobo do penhasco da cripta, Lilu e eu voltamos para mansão, esperando Blarie retornar com Taehyung e os outros irmãos. Por um breve momento, fui atrás de Hyun e Skull para me certificar de que tudo estava bem, também aproveitei para conversar com Skull a respeito da invasão, mas ele não tinha muito a dizer, realmente parece haver algo que impede que os vampiros sintam o cheiro dos lobos, o que estava tornando tão fácil e frequente essas invasões no castelo.
Enquanto Skull se encarregava de arrumar a bagunça que deixamos pela mansão, acabei me voluntariando para olhar Hyun e, dessa forma, acabei o levando para o meu quarto, já sabendo que precisava tirar algumas fotos do corpo de Peter para mostrar ao Padre. E para minha surpresa, ao pegar meu celular para fazer isso, acabei recebendo uma surpresa; mais um anexo do Padre Albert, mais uma vítima e mais uma palavra: Δύση. Eu não sei exatamente que horas acordei e quanto tempo nosso confronto com os lobos durou, mas o horário da mensagem do Padre era recente, indicando que o ataque não aconteceu só no castelo, os lobos estavam reproduzindo o que fizeram no dia anterior, o que apenas reforça nossa teoria de que eles querem passar uma mensagem o mais rápido possível e nós precisamos decifrá-la sem demoras.
Para que nada fosse suspeito, levei Hyun para o quarto de Lilu, e pedi que ela tirasse as fotos do corpo de Peter e fosse imediatamente para a base do Padre Albert saber sobre essa nova vítima da igreja. Eu iria permanecer no castelo e esperar a chegada dos irmãos para ficar por dentro do que eles fariam e se já descobriram o significado da palavra entalhada no corpo de Olivia; não podemos perder nada. E durante o tempo que fiquei no quarto de Lilu com Hyun, Sally e Wendy voltaram ao castelo, ambas me informaram que Zoe ainda estava viva e que acabaram a levando para o ateliê da Madame Dorothea, a pedido dela mesma, pois, segundo Zoe, aquele seria um lugar seguro para ela se esconder e se curar de todos os machucados que ganhou enquanto esteve no calabouço aos cuidados de Amia. Acabei enviando as duas para a base do Padre também, porque sei que ele vai precisar de ajuda agora, e acho que posso lidar com os problemas dos vampiros por aqui.
Assim que os irmãos e Amia voltaram para o castelo, e após me limpar e trocar de roupa, deixo Hyun aos cuidados de Skull para me reunir na sala de estar, onde estou agora sentada entre Blarie e Jimin, enquanto aquele familiar e sombriamente tenso silêncio, pairava sobre todos nós.
Esses irmãos estavam bravos, realmente zangados, principalmente Taehyung, que nesses últimos dias vem me lembrando o Taehyung que conheci quando cheguei em Upiór, mas, dessa vez, não vou julgá-lo, afinal, ele tem todos os motivos para estar assim.
Pelo que foi conversado aqui nessa sala, a reunião não foi das melhores, já que os vampiros parecem estar em uma cilada, um beco sem saída, não sabendo como devem agir, já que os lobos, aparentemente, estão prevendo cada passo que eles dão, além de estarem mais perto do que imaginam. Ao que parece, a segurança em torno da Transilvânia foi reforçada, e mais vampiros foram convocados a se mudarem para esse lugar, e a varredura continua até que eles achem nem que for uma mísera pista sobre o que os lobos estão tentando fazer.
Também descobri que os vampiros já sabem sua palavra, que significa: Bran. Os irmãos não são fluentes ou tão bons em grego, já que isso é especialidade dos lobos, mas eles sabem reconhecer algumas palavras e letras, e ao levar isso na reunião com os outros vampiros, eles descobriram o significado, e agora terão que fazer o mesmo com a palavra entalhada em Peter. Os irmãos também se irritaram um pouco ao não encontrarem Zoe no calabouço, e depois de conversar com Blarie a sós, nós acabamos mentindo, dizendo que os lobos devem ter a levado; porque assim como eu, Blarie não acha que Zoe esteva envolvida nisso, e dizer que ela está, na verdade, escondida no ateliê, pode gerar uma retaliação muito grande para o seu lado, levando em conta como os irmãos estão irritados com essa situação que os lobos os colocaram. Eu só não posso esquecer de passar no ateliê o quanto antes para conversar com Zoe e pedir que Madame Dorothea possa manter qualquer visitante afastado da sua loja, preferencialmente Amia, para que ninguém saiba do paradeiro de Zoe.
– Eles esperaram até que nós saíssemos pra atacar... está mais do que claro que realmente há alguém do lado dos lobos. Esse seria o único jeito dos lobos anteciparem tudo o que fazemos e sempre saberem quando atacar. – Namjoon diz, sentado no braço do sofá com as pernas cruzadas, enquanto mantém uma mão perto do queixo, tendo um olhar franzido para o enorme tapete vinho no chão.
Hoseok, que estava de pé perto de Jungkook, suspira com uma expressão realmente cansada.
– É como eu disse, vocês só precisam acreditar em mim. – Amia cruza seus braços, ao lado de Taehyung. – Vocês não estão levando a sério o fato de eu ter pedido que trouxessem Peter e Zoe para o castelo.
– Nós os trouxéssemos para o castelo, Amia. Acho que estamos te levando a sério. – Yoongi fala com um tom de voz irritado, parecendo sem paciência para tudo isso.
– Mas não basta só trazê-los para o castelo e me deixar arrancar um dedo ou dois até que um novo nasça no lugar. – Amia encara Yoongi com rigidez, com o queixo erguido. – Vocês realmente não percebem o que está acontecendo aqui? – Ela se vira para encarar todos, acabando na frente de Taehyung, como na cena da noite anterior. – Você é o Drácula, deveria ser o primeiro a enxergar isso.
Taehyung franze as sobrancelhas em uma mescla de expressões que desafiava Amia a continuar, mostrando que isso seria um caminho perigoso. Ela logo percebe e abaixa sutilmente os ombros, desmanchando um pouco sua pose de superioridade.
– Eu mantenho o que eu disse, Taehyung. Uma das suas noivas está trazendo a ruína para o seu castelo. Tudo que aconteceu na primeira reunião me deixou desconfiada, por isso, sugeri que você trouxesse aqueles dois para cá. E agora Peter é morto e Zoe sumiu.
Os meus olhos se arregalam levemente quando percebo a expressão de Taehyung mudar, sabendo que ele, aos poucos, estava acreditando nas palavras de Amia.
Zoe não está com os lobos, ela está escondida, mas se eu revelar seu paradeiro, Taehyung nunca vai acreditar nela e ela acabará como o Peter.
Disfarçadamente, sinto Blarie tocar minha mão sobre o assento do sofá, em seguida, agarrando três dos meus dedos, os apertando levemente. Ela era a única que entendia o meu nervosismo nesse momento, e sei que esse sutil toque é uma mensagem para que eu me mantenha calma e mantenha em segredo o que fizemos.
– Eu não acho que você está certa, Amia. – Digo alto, atraindo a atenção de todos para mim.
Amia me encara com as sobrancelhas arqueadas.
– Você precisa parar com isso. Desde ontem tudo que você fez foi apenas colocar os vampiros contra os vampiros. – Me levanto do sofá, e Blarie tenta agarrar minha mão e me puxar para baixo, na tentativa de me impedir. – Olivia e Peter estão mortos, e isso é exclusivamente culpa dos lobos. Presa aqui no castelo, mais especificamente, no calabouço que você jogou eles, a Zoe só se tornou um alvo muito fácil. Mas agora que ela sumiu, tudo que você está tentando fazer é jogar a culpa nela, porque é o mais fácil.
Taehyung presta toda atenção em mim, enquanto Amia aperta os cantos dos olhos, não parecendo se agradar com o que eu digo.
– Eu também acredito que existe alguém ajudando os lobos, mas esse alguém não é Zoe. Presta bem atenção em tudo que está acontecendo, você realmente acha que esse é o momento certo pra jogar os vampiros contra eles mesmos? – Encaro ela por alguns segundos, antes de desviar meu olhar até o Taehyung. – Como ela disse, você é o Drácula, e deveria ser o único a tomar suas próprias decisões. Já matou um vampiro na frente de todos e quase começou uma briga com a sua própria espécie por conta de um casamento com uma Van Helsing. Então, não se esqueça, Taehyung, os lobos não são os únicos que estão de olho em você, os vampiros também estão e só querem um pequeno motivo pra se voltar contra sua família. E com toda essa história de "falso Drácula", é melhor você fazer as coisas do jeito certo ou vai acabar com mais inimigos do que gostaria.
Quando termino de falar, todos ficam em silêncio, me observando; eu podia sentir os olhares, mas a única coisa que me importava agora era o par de olhos castanho-escuros que me encara com uma pontada de surpresa, como se eu tivesse os libertado de um feitiço que os cegava.
– Não me leve a mal, querida. Mas você não deveria se meter nos assuntos dos vampiros, nós sabemos exatamente o que devemos fazer. – Amia dá as costas para o Taehyung e se vira para mim. – Afinal, você mais do que ninguém deve ser levada como uma suspeita. – Ela sorri com escárnio. – Uma caçadora de vampiros Van Helsing que "misteriosamente" aceitou o pedido de casamento de um Drácula? Isso definitivamente te coloca no topo da lista. Mas fiquei quieta por todo esse tempo por pura consideração, porque eu gosto de você. Mas acho que não dá mais para fingir que essa possibilidade não existe. Se não foi a Zoe que trouxe os lobos para dentro do castelo, portanto, quem foi, Elena?
– Você está brincando com a minha cara, não é? – Pergunto baixo, entre um riso sem humor e irritado.
– Ei, Amia, eu sei que essa situação é um saco, mas você está indo por um caminho perigoso agora. – Jungkook diz, a encarando com uma expressão fechada.
– O quê? Vai defender a caçadora também? Vocês sabem que colocar a Elena e a gangue de malucas dela dentro desse castelo, foi o maior e pior erro de vocês. – Amia fala alto, tentando ser o centro de tudo isso, enquanto tem um olhar de desgosto para mim. – Eu não sei o que você pretende fazer ao manter ela aqui, Taehyung. Mas esteja ciente que a culpa é toda sua por trazer a maldição dos vampiros para a Transilvânia. Já pensou que ela é o único motivo dos lobos te chamarem de falso Drácula? Se os vampiros souberem disso, você vai ter a sua rebelião com certeza. – Mesmo estando de costas para Taehyung, ela o provoca e sustenta seu olhar unicamente em minha direção.
– Qual é o seu problema?! Você viu o que os lobos fizeram comigo! – Falo tão alto que quase grito. O meu sangue fervia.
Jimin se levanta rapidamente do sofá, seguido por Blarie, e ambos me seguram pelos braços.
– Você está passando dos limites, Amia. Isso não é legal. – Hoseok fala, encarando dela para mim, de um jeito preocupado.
– Você está viva, não está? – Amia arqueia uma sobrancelha; e mais um sorriso de escárnio.
– Chega, Amia! Não foi para isso que nos reunimos aqui. – Jin toma a frente, já que tudo que Taehyung faz, foi ficar calado. E por mais que Jin esteja tentando acabar com tudo isso, seu olhar não me passa segurança, e eu sei que, assim como Taehyung, ele também deve estar acreditando na Amia.
– Não dê atenção para o que ela está falando. – Jimin fala baixo.
– Vou tirar você daqui um pouco. Vai ser bom. – Blarie diz, e Jimin assente para ela, soltando meu braço antes que ela me leve para fora da sala de estar.
Assim que saímos, me solto dela e começo a caminhar na frente, apressada.
– Aonde você vai? – Blarie pergunta logo atrás de mim.
– Pra algum lugar bem longe desse castelo idiota.
– Elena, não deixe o que ela disse te irritar.
Paro de andar quando fico de frete para o hall, e encaro Blarie sobre os ombros.
– Ela estava tentando me fazer parecer a vilã. Eu acho que tenho o direito de ficar irritada.
Blarie suspira alto e caminha até onde estou.
– Elena.
E antes que ela tenha a oportunidade de me dizer qualquer coisa, Amia surge do mesmo lugar pelo qual passamos, vindo logo atrás de Blarie.
– Amia, dá um tempo, não vai começar outra briga, por favor. – Blarie fala para ela.
– Eu não vim atrás de vocês para brigar, eu quero me desculpar. Não foi nada legal o que eu disse lá na sala.
Isso é realmente sério? Ela acha que eu vou cair na sua conversinha?
– Vamos deixas as coisas às claras, Amia. Chega desse seu joguinho.
Ela para a quatro passos de distância, e Blarie se posiciona de lado, ponta para entrar no meio.
– Claro, é isso que eu gostaria de fazer.
– Você tentou me matar uma vez, e depois pediu desculpas dizendo que fez aquilo pra proteger o Drácula. E agora tenta me culpar pela invasão dos lobos, e tenta se desculpar mais uma vez? Desculpa, mas não sou idiota de acreditar nesse seu papo de boa vampira.
– Você não acha que estou sendo verdadeira? – Ela pergunta em uma falsa expressão de surpresa.
Bingo.
– Não importa o que eu acho. Só quero que você saiba que as coisas não vão ficar assim. – Falo, determinada.
– Você está me ameaçando, Elena querida? – Ela sorri e inclina minimamente sua cabeça para o lado, enquanto arqueia as sobrancelhas.
– Entenda como quiser, Amia querida.
Blarie logo se coloca entre nós duas e pede para Amia sair, mas eu me viro e entro no hall, deixando as duas para trás, porque quem estava de saída, era eu.
Antes de abrir a porta de entrada do castelo, sorrio discretamente, satisfeita por tudo estar saindo como eu havia planejado com Blarie assim que ela foi me chamar no quarto de Lilu. Depois de deixar Hyun com Skull, nós conversamos por alguns minutos sobre tudo isso, e eu sabia exatamente o que eu tinha que fazer, e ela me ajudaria nisso. Os lobos estão na frente, então, já está na hora de alcançarmos, e se o Taehyung não consegue agir como o Drácula agora, eu vou dar uma pequena ajudinha, afinal, é isso que uma noiva deve fazer.
Δύση
