SEXTO CAPÍTULO
Tempo estimado de leitura: 30 minutos
Portsmouth, New Hampshire, 22 de Dezembro de 2024:
%Ágata% caminhava pelas ruas tranquilas de Portsmouth, com o ar gelado do inverno preenchendo seus pulmões. O vento carregava o cheiro de pinho e café, mas ela mal notava os detalhes ao redor. Sua mente estava presa na noite anterior, no momento em que tudo ao seu redor parecia ter parado, deixando apenas ela e %Taehyun%. O beijo ainda estava fresco em sua memória, uma mistura de calor e confusão que fazia seu coração disparar cada vez que pensava nele.
Quando chegou à livraria, já viu a luz acesa e, pela vitrine, o perfil de %Taehyun% organizando algo nas prateleiras. Ela respirou fundo, ajustando o cachecol ao redor do pescoço, tentando afastar os pensamentos antes de entrar.
— Bom dia, %Ágata%! — %Taehyun% a recebeu com um sorriso caloroso assim que o sino da porta soou. Ele parecia transbordar energia, como se a noite anterior tivesse tido um efeito completamente diferente nele.
— Bom dia. — Ela respondeu, mais reservada, caminhando até o balcão e pousando a bolsa ali.
Ele a seguiu com o olhar enquanto ela tirava o casaco, mas %Ágata% se mantinha concentrada em qualquer coisa que não fosse ele. Precisava manter o controle.
— Você tá bem? — %Taehyun% perguntou, inclinando a cabeça, curioso com a atitude dela.
— Ótima. — Respondeu rapidamente, tentando parecer ocupada ao verificar o calendário no balcão. Mas sua mente estava em tumulto.
Depois de alguns instantes de silêncio, ela não conseguiu mais evitar. Se queria manter a sanidade, precisava de respostas. Virou-se para ele, os olhos firmes nos dele:
— Aonde você está ficando?
%Taehyun% arqueou uma sobrancelha, surpreso pela pergunta direta.
— Você ouviu. Aonde você está ficando? E quanto tempo vai ficar? — Ela cruzou os braços, tentando manter a postura firme, mas o coração batia mais rápido do que deveria.
Ele desviou o olhar por um momento, coçando a nuca.
— Bom... Eu tô num lugar temporário, nada muito fixo.
— Isso não é uma resposta. — %Ágata% estreitou os olhos.
%Taehyun% deu de ombros, soltando uma risada leve.
— Certo, tô numa pousada aqui perto. Quanto tempo vou ficar? Isso... depende.
Ele a olhou nos olhos, e o sorriso brincalhão deu lugar a algo mais sério.
%Ágata% sentiu o calor subir ao rosto, mas não desviou o olhar. Ela abriu a boca para dizer algo, mas nada saiu. %Taehyun% sorriu novamente, mas desta vez com um ar de desafio, como se soubesse exatamente o que ela estava pensando.
— Não se preocupe. Eu não sou um problema tão grande assim, sou?
— Isso... ainda está para ser decidido. — Ela respondeu, virando-se para começar a organizar alguns papeis no balcão.
Enquanto ela tentava voltar ao trabalho, %Taehyun% permaneceu encostado no balcão, observando-a com um sorriso de quem sabia que estava exatamente onde queria estar.
%Ágata% suspirou profundamente, tentando organizar os pensamentos e, principalmente, o coração. %Taehyun% continuava ali, olhando para ela com aquele sorriso tranquilo que parecia ter o poder de desarmá-la completamente. Incapaz de aguentar o peso daquele olhar por mais tempo, ela pegou uma pequena pilha de papeis que havia deixado organizados no balcão.
— Aqui. — Disse, entregando-os para ele enquanto mantinha a expressão séria. — Os papeis da sua contratação finalmente ficaram todos prontos.
%Taehyun% ergueu as sobrancelhas, surpreso.
— Minha contratação? Então é oficial? — Ele pegou os papeis, examinando-os com um sorriso divertido.
— Oficial só se você assinar. — %Ágata% respondeu, cruzando os braços.
Ele folheou os documentos, parecendo prestar atenção em cada detalhe, mas o sorriso não abandonava seu rosto.
— Sabe, isso é interessante... Eu nem pedi esse trabalho.
— Mas você agiu como se já fosse seu desde o primeiro dia. — Ela retrucou, arqueando uma sobrancelha.
%Taehyun% deu uma risada baixa e balançou a cabeça.
— Touche. — Ele apoiou os papéis no balcão e olhou para ela. — Onde eu assino?
%Ágata% puxou uma caneta de um dos potes no balcão e a estendeu para ele.
— Aqui, aqui e... aqui. — Disse, apontando os campos necessários.
Ele assinou sem hesitar, entregando os papéis de volta para ela com um movimento exagerado, como se estivesse entregando algo grandioso.
— Pronto. Agora eu sou oficialmente seu funcionário. — Disse com m tom brincalhão, mas os olhos brilhavam com algo mais profundo.
%Ágata% pegou os documentos e os colocou em uma pasta, tentando ignorar o calor que subia por seu rosto mais uma vez.
— Espero que você seja tão eficiente quanto parece.
— Vou fazer valer a confiança. — Ele respondeu, inclinando-se levemente sobre o balcão, os olhos fixos nos dela.
Ela desviou o olhar, ocupando-se em guardar a pasta em uma das gavetas.
— Bem, tem algumas caixas novas na sala dos fundos. Você pode começar por lá.
%Taehyun% soltou um suspiro dramático.
— Mal contratado e já sendo mandado pro trabalho pesado...
— Bem-vindo ao mundo real, %Taehyun%. — Ela respondeu, e um pequeno sorriso escapou antes que pudesse impedir.
Ele riu e saiu em direção à sala dos fundos, deixando %Ágata% com a sensação de que tinha acabado de perder mais uma pequena batalha para ele.
%Ágata% sentou-se atrás do balcão, respirando fundo enquanto pegava novamente os papeis da contratação que %Taehyun% acabara de assinar. Era um gesto automático, quase uma desculpa para desviar o pensamento do sorriso dele e, principalmente, do que acontecera na noite anterior. Mas, ao reler as assinaturas, algo chamou sua atenção.
Era de origem asiática, isso era óbvio, mas também não era completamente estranho para ela.
"Kang", ela murmurou para si mesma, franzindo o cenho enquanto os dedos passavam pelas letras no papel. Aquilo parecia familiar, mas não conseguia exatamente lembrar de onde.
Foi então que um pensamento surgiu em sua mente, algo enterrado no fundo de suas memórias. Seu avô. Houvera uma época, anos atrás, quando ela era adolescente, em que ele havia ficado meses fora em uma viagem misteriosa. Ele mencionava constantemente
"negócios importantes" em outro país, mas nunca fora muito claro sobre o que estava fazendo ou onde exatamente estava.
Na época, %Ágata% achara que era apenas mais uma de suas excentricidades — seu avô sempre fora um homem enigmático, com histórias que pareciam saídas de um livro de aventuras. Mas agora, aquele sobrenome fazia algo dentro dela se acender. Será que havia alguma conexão?
Seu coração acelerou, e as perguntas começaram a se acumular na sua cabeça. Será que %Taehyun% tinha algo a ver com aquela viagem? Com aquele período em que o avô dela esteve
"desaparecido"?
%Ágata% fechou os papeis com força, tentando acalmar a mente.
"Isso é coincidência", tentou dizer a si mesma. Mas algo dentro dela sussurrava o contrário. E era um sussurro insistente.
❄️❄️❄️
O restante do dia transcorreu em um ritmo curioso, repleto de pequenos acontecimentos que continuavam a reforçar o estranho magnetismo que parecia cercar %Taehyun%. A livraria estava novamente cheia, com clientes entrando e saindo como se houvesse algo especial naquele lugar. Mais uma vez, parecia que o universo conspirava para fazer o dia ser movimentado e proveitoso.
%Taehyun% ajudava com uma facilidade impressionante, seja atendendo os clientes com sua calma cativante ou reorganizando as estantes de forma impecável. %Ágata%, por outro lado, tentava ao máximo focar no trabalho, mas a presença dele era uma constante distração.
Por volta das 18h, o último cliente deixou a loja. O sino da porta soou, ecoando na livraria vazia. %Ágata% começou a apagar as luzes do salão principal enquanto %Taehyun% ajeitava os últimos livros que haviam sido desordenados durante o dia.
Quando os dois se encontraram no centro da loja, as sombras das prateleiras ao redor pareciam criar uma bolha de intimidade entre eles.
Eles se encararam por alguns segundos, um silêncio cheio de expectativa se instalando. %Ágata% respirou fundo, tentando ignorar o nervosismo que sentia crescer.
— Preciso que você desça comigo até o porão — disse ela finalmente, quebrando o silêncio com uma voz firme, embora um pouco hesitante.
%Taehyun% arqueou uma sobrancelha, um leve sorriso puxando os cantos de seus lábios.
— Finalmente pronta para enfrentar seus medos?
Ela revirou os olhos, cruzando os braços.
Ele assentiu, seguindo-a em direção à porta que levava ao porão. O ar ao redor parecia carregar algo mais do que a simples promessa de descer aquelas escadas; havia um peso, uma sensação de que aquela noite traria respostas... ou ainda mais perguntas.
%Ágata% girou a chave da pesada porta que levava ao porão, sentindo o coração acelerar. %Taehyun% estava logo atrás, observando com curiosidade, mas sem dizer uma palavra. Ao empurrar a porta, um cheiro de madeira antiga e papel envelhecido escapou do espaço abaixo.
A escadaria de madeira rangeu sob seus passos, e a luz fraca da lâmpada pendurada no teto revelou um ambiente repleto de caixas, livros e móveis antigos. O porão era uma cápsula do tempo, um lugar que parecia ter permanecido intocado por décadas.
— O que exatamente estamos procurando? — %Taehyun% perguntou, encostando-se em uma das estantes, com os braços cruzados.
%Ágata% não respondeu imediatamente. Seu olhar percorreu o ambiente até que encontrou um pequeno baú de madeira com ferragens desgastadas no canto mais distante. Era um item que ela lembrava vagamente de sua infância, mas nunca havia tido coragem de abrir.
— Isso — respondeu ela, apontando para o baú.
Com a ajuda de %Taehyun%, ela arrastou o baú para o centro do porão. O ar parecia mais pesado, como se o ambiente guardasse segredos antigos. %Ágata% se ajoelhou, passando a mão pela superfície marcada pelo tempo. O baú tinha um cadeado enferrujado, mas a chave estava pendurada em um prego na parede ao lado.
Ela inseriu a chave no cadeado, que abriu com um estalo seco. Lentamente, levantou a tampa, revelando um amontoado de documentos, fotografias, cadernos e objetos pessoais que pertenciam ao avô.
%Ágata% pegou uma fotografia que estava no topo da pilha. Era uma imagem do avô em uma paisagem montanhosa, cercado por homens de diferentes origens. Seu olhar se fixou em um detalhe: um jovem entre eles, com traços familiares.
Ela ergueu a fotografia na direção de %Taehyun%, o coração batendo mais forte.
— Esse é você? — ela perguntou, a voz carregada de incredulidade.
%Taehyun% se aproximou, inclinando-se para ver a fotografia. Ele franziu o cenho, mas não pareceu surpreso.
— Não exatamente. Esse é meu pai — respondeu ele, a voz baixa, quase um sussurro.
A revelação fez o ar ao redor parecer eletrizado. %Ágata% começou a vasculhar os outros itens no baú, encontrando cartas e anotações que mencionavam viagens, descobertas e até mesmo enigmas que o avô dela havia deixado para trás.
— Meu avô sempre foi um homem misterioso, mas ele nunca falou sobre nada disso. E agora você aparece, sabendo coisas que nem mesmo eu sabia sobre ele. — Ela encarou %Taehyun%, com uma mistura de desconfiança e curiosidade.
Ele deu um passo para trás, colocando as mãos nos bolsos.
— Há muitas coisas que ainda não posso dizer, %Ágata%. Mas o que você está encontrando aqui... talvez te ajude a entender por que estou aqui.
O olhar de %Taehyun% era sincero, mas enigmático, como se ele carregasse um peso que não podia compartilhar completamente.
%Ágata% voltou sua atenção para o baú, encontrando um caderno de capa dura. Ao abrir, percebeu que as páginas estavam repletas de anotações em uma caligrafia familiar: do avô. Algumas páginas traziam esquemas detalhados, símbolos que pareciam antigos, e referências a algo que ele chamava de
"A Porta". — O que é isso? — murmurou, mais para si mesma do que para ele.
%Taehyun%, no entanto, se aproximou novamente, observando os desenhos com atenção.
— É o que você precisa descobrir — respondeu ele. — E, %Ágata%, talvez eu seja a única pessoa que pode te ajudar.
Ela o encarou, hesitante, mas sabia que ele tinha razão. As peças do quebra-cabeça estavam se revelando, e ela estava mais envolvida do que jamais imaginou estar.
%Ágata% fechou o caderno com um movimento firme, sentindo o peso do cansaço acumulado se intensificar. Ela encostou as costas contra uma das velhas estantes, os olhos se fechando enquanto tentava acalmar os pensamentos. A pressão de desvendar os mistérios do avô, a presença constante de %Taehyun% e as emoções conflitantes a estavam desgastando.
— Então pare de fazer joguinhos e enigmas — ela disse, com a voz firme, mas carregada de frustração. — Me ajude, então. Eu estou cansada!
— Eu não estou tentando dificultar as coisas para você, %Ágata% — disse ele, a voz baixa, mas cheia de sinceridade. — Só... não é tão simples quanto parece.
Ela abriu os olhos, encarando-o com determinação.
— Simples ou não, eu preciso entender tudo isso. Meu avô me deixou algo que não faz sentido algum, e você parece saber mais do que diz. Então, se você está aqui para me ajudar, faça isso. Sem mais rodeios.
%Taehyun% assentiu devagar, os lábios se curvando em um pequeno sorriso, quase imperceptível.
— Está certo. Sem mais enigmas — respondeu ele. — Mas você tem que prometer que, o que quer que a gente descubra, você não vai fugir disso.
— Fugir? — ela arqueou uma sobrancelha, sentindo uma pontada de desafio surgir. — Eu não sou de fugir, %Taehyun%.
Ele se levantou, estendendo a mão para ajudá-la a se erguer.
— Ótimo — disse ele, com um tom mais leve. — Porque isso é só o começo.
%Ágata% aceitou a mão dele, levantando-se com um suspiro. Apesar de estar exausta, havia algo no olhar dele que a fazia acreditar que, juntos, poderiam desvendar os segredos que a assombravam.
Ela permaneceu de pé, ainda segurando a mão de %Taehyun% por um instante a mais do que deveria. Quando percebeu, soltou-a rapidamente e cruzou os braços, tentando esconder o turbilhão de emoções que crescia dentro de si.
— E agora? — perguntou ela, tentando soar prática, mas a voz saiu mais suave do que pretendia.
%Taehyun% não respondeu de imediato. O silêncio entre eles era pesado, carregado por algo que nenhum dos dois parecia disposto a nomear. Ele deu um passo à frente, diminuindo a distância entre eles, o que fez %Ágata% recuar levemente até sentir as costas pressionadas contra a velha estante.
— %Ágata%... — %Taehyun% começou, a voz baixa e cheia de hesitação, mas ao mesmo tempo firme. — Eu quero que você saiba que, por mais confuso que tudo isso seja, eu estou aqui com você. Não apenas por causa das pistas, ou do seu avô...
Ela engoliu em seco, os olhos presos nos dele, como se procurasse a verdade nas palavras que ele dizia.
— Então por quê? — perguntou, quase num sussurro.
%Taehyun% ergueu a mão, hesitando por um breve instante antes de pousá-la de leve na lateral do rosto dela.
— Porque eu quero estar aqui. Com você.
O coração de %Ágata% parecia bater tão alto que ela teve certeza de que ele poderia ouvi-lo. Era insuportável a forma como %Taehyun% estava tão perto, a voz dele tão próxima, o calor que emanava dele.
— Você é insuportável, sabia? — ela murmurou, tentando manter o controle, mas os lábios dela curvaram-se num sorriso involuntário.
— Isso é um elogio? — ele provocou, sorrindo de volta, mas com os olhos ainda fixos nos dela.
Antes que ela pudesse responder, %Taehyun% inclinou-se lentamente, e ela não recuou. O espaço entre eles desapareceu, e seus lábios finalmente se encontraram novamente. Diferente do beijo na praça, este era mais profundo, cheio de intensidade e urgência, como se ambos soubessem que estavam ultrapassando um limite que não teria volta.
%Ágata% sentiu as mãos de %Taehyun% em sua cintura, a puxando suavemente para mais perto, enquanto os dedos dela se apoiavam no peito dele, sentindo o ritmo acelerado de seu coração, que parecia espelhar o dela. Quando finalmente se afastaram, ambos estavam sem fôlego, mas o olhar que trocaram dizia mais do que qualquer palavra poderia.
— Você vai me deixar ainda mais confusa, sabia? — ela disse, a voz quase um sussurro.
— Talvez eu esteja aqui para fazer você encontrar as respostas certas — respondeu ele, sorrindo de forma enigmática.
Ela revirou os olhos, mas não conseguiu conter um pequeno sorriso. Mesmo que sua mente estivesse cheia de perguntas, naquele momento, tudo parecia fazer um pouco mais de sentido.
%Ágata% respirou fundo, tentando se recompor depois do beijo. Ela se afastou alguns passos, buscando uma distância segura para organizar os pensamentos que corriam soltos em sua mente.
— Certo... — disse ela, voltando a si. — Se você está aqui para ajudar, então vamos começar de verdade. Nada de enigmas, %Taehyun%. Apenas respostas.
Ele assentiu, com um sorriso mais contido dessa vez.
— Combinado. Vamos desvendar isso juntos.
Ela puxou um caderno de anotações e espalhou os papéis e pistas que tinham encontrado até agora sobre uma mesa improvisada no porão. Havia fotos antigas, cartas, um mapa que parecia indicar locais na Ásia e alguns recortes de jornais amarelados pelo tempo.
— Isso aqui... — ela apontou para o mapa. — Meu avô esteve nessas cidades. Algumas delas estão marcadas com datas. O que isso significa?
%Taehyun% inclinou-se sobre a mesa, observando o mapa com atenção.
— Ele pode ter deixado algo nesses lugares, ou encontrado algo importante. Você mencionou que ele ficou sumido por meses, certo?
— Sim, ele dizia que estava em uma "expedição histórica", mas nunca dava detalhes. Minha mãe sempre achou que era apenas uma desculpa para fugir dos compromissos familiares — respondeu %Ágata%.
Ela pegou uma das fotos e olhou para o homem sorridente ao lado de algumas figuras desconhecidas, provavelmente colegas de viagem. Ao virar a foto, havia uma anotação no verso:
"Jinju, 1986. O começo de tudo." — Jinju... — ela murmurou, sentindo o peso da palavra. — Você conhece esse lugar?
%Taehyun% hesitou por um instante, mas então respondeu:
— É uma cidade na Coreia do Sul. Histórica, cheia de mistérios. Eu estive lá uma vez. Pode ser o ponto de partida para entendermos mais.
%Ágata% encarou %Taehyun%, buscando sinais de sinceridade. Ele parecia genuíno, determinado a ajudá-la.
— E você? — perguntou ela. — Como você sabe tanto sobre isso? Por que parece tão...
envolvido?
%Taehyun% respirou fundo, desviando o olhar por um momento antes de encará-la novamente.
— Porque meu avô e meu pai conheceram o seu pai. Eles trabalharam juntos em algum momento. Eu descobri isso há alguns anos e, quando comecei a investigar mais, tudo me trouxe até você.
As palavras de %Taehyun% eram um misto de revelação e mistério, mas havia algo nítido em seu tom:
verdade.
— Então, estamos ligados por algo que nem entendemos direito ainda... — %Ágata% disse, pensativa.
— Exatamente. E, se quisermos descobrir a verdade, vamos ter que juntar todas as peças.
Eles passaram o restante da noite analisando as pistas. %Taehyun% ajudava a decifrar as anotações mais complicadas, enquanto %Ágata% fazia conexões entre os documentos. Aos poucos, o quebra-cabeça começava a fazer sentido: o avô de %Ágata% parecia ter estado em busca de algo que ele considerava valioso, não apenas historicamente, mas pessoalmente.
— Isso aqui... — %Ágata% apontou para uma das anotações no caderno. — Ele menciona
"a chave para o legado". Será que ele estava falando de algo literal?
%Taehyun% segurou o caderno, analisando as palavras.
— Pode ser. Ou talvez seja uma metáfora. O que quer que seja, acho que estamos no caminho certo.
%Ágata% sentiu uma nova onda de determinação. Pela primeira vez, não estava sozinha nessa busca, e, com a ajuda de %Taehyun%, as respostas pareciam mais próximas do que nunca.
%Ágata% e %Taehyun% se concentraram nas anotações e nos papéis espalhados pelo porão. Ela escrevia rapidamente em um bloco de notas encontrado em uma das estantes antigas, enquanto ele organizava os documentos de forma mais metódica, separando por temas e datas.
— Então... — %Ágata% começou, enquanto anotava algo. — Se a frase "a chave para o legado" não for literal, talvez seja algo que ele achava que eu deveria continuar. Uma espécie de missão inacabada.
%Taehyun% concordou, inclinando-se para olhar uma das cartas.
— Faz sentido. Ele claramente queria que você encontrasse isso, o que quer que seja. Essas cartas, mapas... foram todas deixadas para você.
Ela parou por um instante, apoiando o queixo na mão, pensativa.
— Mas por quê? Por que eu? Minha mãe nunca se interessou por essas coisas, é verdade, mas... Ele nem sabia se eu teria paciência para isso.
%Taehyun% deu de ombros, com um sorriso leve.
— Talvez ele soubesse que você é exatamente a pessoa certa.
%Ágata% bufou, mas não conseguiu conter um sorriso de canto.
— E você, o que acha? Vamos encontrar algo importante?
Ele a olhou, sério por um instante.
— Acho que estamos mais próximos do que imaginamos.
O tempo parecia ter passado sem que percebessem. A pilha de papéis organizados por %Taehyun% agora fazia sentido, e as anotações de %Ágata% começavam a formar um padrão. Eles trabalharam em silêncio por um bom tempo, com apenas o som das canetas e do farfalhar de papéis preenchendo o ambiente.
Foi %Taehyun% quem notou primeiro.
— O quê? — %Ágata% olhou para ele, surpresa. — Não estou, não.
— Está sim — ele insistiu, apontando para ela com uma expressão divertida. — Isso é o que acontece quando você tenta vencer o cansaço.
— Não estou cansada — ela disse, mas bocejou novamente, traindo suas palavras.
Ele riu, e o som preencheu o espaço abafado do porão, trazendo um pouco de leveza ao momento.
— Certo, acho que é um sinal de que precisamos parar por hoje — ele sugeriu.
%Ágata% olhou para o caos organizado à sua frente e hesitou.
— Mas estamos começando a fazer conexões importantes...
— E você vai fazer conexões ainda melhores depois de uma boa noite de sono — %Taehyun% respondeu, firme mas gentil. — Isso é um processo, %Ágata%. Não precisamos resolver tudo de uma vez.
Ela soltou um suspiro, percebendo que ele estava certo.
Ele começou a recolher alguns papéis mais soltos, organizando tudo cuidadosamente.
— Amanhã podemos continuar de onde paramos. E prometo trazer café para você estar bem acordada.
%Ágata% sorriu de leve, enquanto ele guardava o caderno de anotações.
— Tudo bem. Mas se você não trouxer café, eu mando você embora.
Ele riu, balançando a cabeça.
Subiram as escadas juntos, apagando as luzes do porão antes de fecharem a porta. Quando saíram da livraria, o ar frio da noite os envolveu, e %Ágata% sentiu a exaustão bater de vez.
— Vai direto para casa? — perguntou ele, enquanto trancava a porta principal.
%Ágata% ajeitou o cachecol no pescoço, sentindo o vento gelado da noite.
— Vou, sim. Já está tarde.
%Taehyun% hesitou por um instante, antes de sugerir:
Ela virou o rosto para ele, a expressão suavizada pelo cansaço.
— Não quero insistir, mas... é tarde, e o clima está pesado. Você sabe, nunca se sabe quem pode estar por aí.
%Ágata% suspirou, ponderando. Dessa vez, o cansaço e talvez um pouco da presença dele venceram sua resistência habitual.
— Tá bom, %Taehyun%. Mas só dessa vez, não se acostume.
Ele abriu um sorriso satisfeito.
Os dois começaram a caminhar lado a lado pelas ruas quase desertas da cidade. A conversa fluía de forma natural, com %Taehyun% fazendo observações ocasionais sobre as ruas e as casas ao redor. %Ágata% percebeu que ele tinha um jeito peculiar de transformar o silêncio em algo confortável, como se não fosse necessário falar o tempo todo para se sentir à vontade.
— Sabe, você é teimosa — ele comentou com um tom descontraído, enquanto viravam uma esquina.
— E você é intrometido — ela rebateu, mas sem qualquer hostilidade na voz.
— Talvez seja mesmo. Mas, convenhamos, você precisa de alguém para te lembrar de descansar de vez em quando.
Ela riu, balançando a cabeça.
— Acho que você só quer uma desculpa para não me deixar sozinha.
O tom leve da conversa dissipava o frio da noite, e %Ágata% se pegou relaxando mais do que imaginava. Quando chegaram à porta do prédio onde ela morava, ela parou e se virou para ele.
— Obrigada por me acompanhar.
%Taehyun% colocou as mãos nos bolsos, inclinando levemente a cabeça.
Por um instante, o silêncio caiu entre eles, mas não era desconfortável. Era cheio de algo que %Ágata% não sabia explicar, mas sentia profundamente.
— Boa noite, %Ágata%. Durma bem.
Ela subiu as escadas, ainda sentindo o peso do olhar dele enquanto abria a porta do de casa. Ao entrar, um pequeno sorriso escapou, e ela não pôde deixar de admitir que, dessa vez, a companhia dele tinha sido exatamente o que precisava.
❄️❄️❄️